AUDIE MURPHY

Audie Murphy, o herói norte-americano

O soldado mais condecorado do Exército dos Estados Unidos

Os aspectos épicos da guerra constituem o cenário glorioso para feitos heróicos. Há sempre soldados dispostos a forjar uma lenda pelo preço duma façanha. São os únicos nomes e apelidos que sobressaem da inumerável lista de anónimos combatentes.

A incrível história protagonizada pelo soldado Audie Murphy na frente europeia durante o conflito responde na perfeição ao estereotipo cinematográfico do herói norte-americano. A sua vida acabaria por servir de argumento a filmes e torná-lo-ia numa autêntica estrela de Hollywood.

FILHO DE RENDEIRO

Nasceu em Kingston, Texas, a 20 de Junho de 1924, no seio de uma família humilde de rendeiros. O seu pai, Emmett Murphy, um apanhador de algodão, conseguia com muito custo ganhar o imprescindível para alimentar os seus nove filhos.

Assim que foi possível, Audie começou a ajudar nas tarefas do campo. Quando tinha treze anos, o seu pai abandonou a família: “Simplesmente, desapareceu das nossas vidas, nunca voltámos a saber dele”, lembraria Murphy anos depois.

Da noite para o dia, Audie tornava-se no chefe da família, e via-se obrigado a deixar de estudar para ajudar na granja, mantendo a sua mãe e irmãos.

Em 1941, com dezasseis anos, morre a sua mãe, e os seus três irmãos pequenos são internados num orfanato. Audie decide mudar-se para Greenville, Texas, onde trabalhará numa oficina de reparações de transístores.

Quando em 7 de Dezembro de 1941 os países do Eixo declaram guerra aos Estados Unidos, Murphy tenta alistar-se de qualquer forma. Recusado nos Marines e nas Forças Aerotransportadas devido à sua pouca idade, será finalmente aceite na Infantaria.

Durante a sua estada em Fort Meade, onde leva a cabo o seu período de instrução, os seus companheiros põem-lhe a alcunha que o acompanhará em toda a sua vida “Boy-Face” (“Cara de Miúdo”).

Só em 1943 Murphy será colocado na frente, concretamente no Norte de África, como elemento de reserva de uma companhia de Infantaria. O seu verdadeiro “baptismo de fogo” teve lugar nas operações de desembarque na Sicília, onde foi severamente admoestado pelo seu tenente por disparar sobre dois oficiais italianos surpreendidos pela patrulha de Audie.

Poucos dias depois adoeceu com malária. Apesar disso termina a campanha com divisas de cabo no uniforme.

Já na Península italiana participa em missões de reconhecimento na zona de Monte Lungo e em Rotondo, preparando emboscadas às tropas alemãs.

Antes de se efectuarem os desembarques em Anzio, Murphy realiza um período de preparação de assaltos anfíbios, durante os quais sofre uma recaída de malária. Dando entrada com mais de quarenta graus de febre num hospital de campanha, em cerca de uma semana reincorpora-se na frente com o posto de primeiro-sargento.

CHEFE IMPROVISADO

Mais tarde leva a cabo diversas operações na área de Cisterna e Sessano. A sua unidade, a companhia B do I Batalhão, sofreu numerosas baixas nestas missões e Murphy teve que assumir um comando superior ao seu posto.

No início de Maio de 1944, Murphy e os seus homens beneficiam de uma licença até que tenha lugar o desembarque no sul de França - operação Anvil - onde se destacará novamente pela sua coragem e valentia.

Uma das acções mais temerárias protagonizadas por Murphy teve lugar nesta campanha, depois de morrer junto dele o seu amigo Brando. Completamente só e armado com uma metralhadora alemã MG42 fez frente e inutilizou vários carros de combate germânicos.

Poucos dias mais tarde, quando realizava trabalhos de “limpeza” em Cleurie, tomou sozinho várias posições inimigas, resgatando numa acção de tremenda audácia o comandante do seu batalhão, desaparecido com quatro dos seus homens.

FERIDAS TERRÍVEIS

A heróica façanha, porém, custou-lhe um preço elevado, ao ficar ferido por um franco-atirador, que acabou por matar. Evacuado para um hospital de retaguarda, dias depois tiveram de extirpar-lhe mais de dois quilos de carne infectada da sua perna por causa da gangrena.

Só em 45 Murphy regressará à frente, voltando a cair, ferido por fragmentos de metralha.

Em 26 de Janeiro de 1945 Audie recebia a Medalha de Honra do Congresso dos Estados Unidos, a mais alta condecoração concedida pelo Exército do norte-americano.

Encarregado posteriormente de funções de ligação, ao conhecer a morte do seu capitão Hoga, apresentou-se na frente para tomar parte na que seria a sua última acção de guerra, desobedecendo a ordens.

Audie Murphy regressou aos Estados Unidos em Junho de 45. Na sua terra natal foi recebido com todas as honras e o seu rosto foi capa da revista “Life”, um mês mais tarde.

No pós-guerra, a sua vida foi levada ao cinema, e ele próprio transformou-se numa estrela de Hollywood, pela mão do actor James Cagney, chegando a protagonizar mais de quarenta filmes.

A sua vida, habituada ao perigo, foi ceifada por um acidente de aviação, ao cair o aparelho em que viajava na montanha de Brush, em Virgínia, a 28 de Maio de 1971. O seu cadáver foi enterrado com as honras militares máximas, em 7 de Junho, no cemitério de Arlington - onde actualmente descansam os restos mortais do presidente Kennedy -, mesmo em frente do túmulo do soldado desconhecido.

A sua autêntica colecção de medalhas recebidas por Murphy são a melhor prova do valor deste verdadeiro “herói norte-americano”. O soldado mais condecorado do Exército norte-americano foi laureado com as seguintes distinções: Estrela de Bronze, Cruz de Serviços Distintos, Estrela de Prata, Legião de Mérito, quatro Corações Púrpura, Medalha de Operações na Europa com sete estrelas de batalha, Insígnia de Combate de Infantaria, Insígnia de Perito de Infantaria e Cruz Francesa de Guerra, assim como a Cruz de Cavaleiro da Legião de Honra, máxima condecoração gaulesa, que lhe foi entregue em 1948.