CASTELO DE MONTEMOR O NOVO

A recuperação do Castelo de Montemor-o-Novo não passará ela própria de um sonho?

O Castelo de Montemor-o-Novo é uma unidade natural, equilibrada e pontuda por edifícios e ruínas, porém num estado geral de degradação e abandono.

Todo o conjunto é ignorado ao fim de 782 anos de vida, dada pelo foral de D. Sancho I em 1203. Um local onde outrora palpitava a vida, é hoje marginalizado porque condicionalismos históricos e sociais tornaram o arrabalde, extramuros, fulcro das actividades. a vila baixa foi-se sedimentando...e quem não conhece Montemor-o-Novo de uma agradável paragem em viagem?

A vila voltou cotas ao seu berço e ao passado ali materializado. Há que proceder-se a uma recuperação com neutralização de todo o espaço-castelo. Todo o conjunto é classificado Monumento Nacional desde 1951 e, há que dignificar tão elevada designação: abrindo os edifícios ao público, criando estruturas de apoio, em suma, há que vivificar o Castelo.

O Castelo, pela sua localização, silhuetas das ruínas e carácter, tem um inegável valor paisagístico. Em contrapartida, no seu interior, envolvido pela imensa planície alentejana, as descobertas vão-se sucedendo...

Atentos aos elementos arquitectónicos, arqueológicos e naturais, vemos surgir a defesa ligada às muralhas (séc. XII-XIII) com os seus cubelos e torres com as suas portas bem protegidas. a Torre do Relógio (séc. XII-XV) “ex-Libris” da Vila, é de raiz dionisina e sofre remodelações e enriquecimentos no reinado de D. Manuel I. Este rei deu 2º foral á vila intramuros com o objectivo de favorecer os seus habitantes e evitar o despovoamento para o arrabalde, porém não o conseguiu. a Torre de Santiago (séc. XIII) de cariz medieval, é a única em bom estado, num lança de muralha restaurada na década de 50, no entanto está fechada. a Torre do Anjo (sec. XIII) de carácter pitoresco está muito arruinada.

Um símbolo do poder local, Paço dos alcaides (séc. XII) é uma imponente ruína, na zona mais elevada e está ligada a factos importantes da História de Portugal. Ali se realizaram as Cortes, foram instituídos os Estudos Gerais por D. Dinis e D. Manuel despediu-se de Vasco da Gama antes da viagem para a índia.

a vida activa está patente nos edifícios de carácter funcional e nas construções de carácter civil que constituem todas as ruínas desprotegidas. A cisterna da Praça é um edifício quinhentista de agradáveis proporções, mas de acesso difícil

O Castelo é, também, marcado pelo sagrado. As igrejas, polarizadoras de agregados populacionais, abundavam no velho burgo e agora estão injustamente abandonadas e fechadas. Da igreja de N. S. da Vila (séc. XIII) só resta uma pequena ruína. a Igreja de Sta. Maria do Bispo (séc. XIV) a mais imponente, não é mais que um enorme portal gótico com enriquecimentos manuelinos e umas paredes que cercam um espaço de semeadura. a Igreja de S. João Baptista (séc. XIV) é gótica com outras reminiscências e o seu interior nunca conseguimos visitar. A Igreja de S. Tiago é gótica (séc. XIV) tem características locais e situa-se num terreiro onde se fizeram recentemente arranjos exteriores para atrair a população. Finalmente o convento de N. S. da Saudação (séc. XIV), reinado de D. Manuel I, tem uma volumetria muito rica, harmonioso jogo de telhados e com um aspecto austero, sóbrio e conventual, esconde muitas fontes de interesse. a sua igreja, de uma nave, é um exemplar de arquitectura clássico-barroca.

Em todos estes edifícios há uma constante: o Abandono. São monumentos de uma misteriosa passagem entre a vida e a morte” in Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar.

O convento é um mundo. O claustro fascinou-nos, é um exemplar de arquitectura erudito-popular, atribuído a um arquitecto da Casa-Real e é um verdadeiro exemplo de arquitectura portuguesa. Desprezadas, encontramos manifestações artísticas de toda a ordem, do esgrafito ao azulejo, da talha ao fresco maneirista.

Percorrendo o inóspito e hóstil convento os cheiros perturbam-nos, os morcegos assustam-nos e a tristeza invade-nos. O convento dominicano, extinto no séc. XIX, deu lugar a um Asilo de meninas cujo encerramento deixou devoluto o edifício.