HISTÓRIA DA CARRIS

Tracção Eléctrica: a novidade à 90 anos

Há 116 anos, em Novembro, desceram os primeiros “americanos” às ruas de Lisboa. Eram carruagens movidas por tracção animal que se deslocavam sobre carris. A primeira linha então aberta ao público estendia-se entre a estação da linha férrea do Norte e Leste (Stª Apolónia) e o extremo do aterro da Boa Vista (Santos). Os direitos para a implantação deste novo sistema de transporte denominado Viação Carril e Vicinal e Urbana a Força Animal tinham sido obtidos, em janeiro do mesmo ano, pelo escritor Luciano Cordeiro (Sousa) e seu irmão Francisco Cordeiro de Sousa, diplomata.

Em 14 de Fevereiro de 1873, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou o trespasse daquela concessão para uma empresa com o nome de Companhia de Carris de Ferro de Lisboa, constituída, no ano anterior, no Rio de janeiro.

Ao fim de 12 meses de exploração a companhia já dispunha de 29 500 metros de linha assente, 54 carros em circulação e 422 cabeças de gado.

No entanto, apenas em Maio de 1876 a Carris se torna exclusivamente portuguesa, sendo legalmente reconhecida como sociedade anónima. Um ano depois a Câmara outorga à companhia Carris um contracto provisório em que estabelece o prazo de 99 anos para a exploração das linhas existentes e a construir. É então fixado um regime tributário especial, indica-se a comparticipação das receitas de exploração e acorda-se na entrega à Câmara, findo prazo de concessão, de todas as linhas e de todo o material fixo e circulante.

Este contracto torna-se definitivo em 1888, no mês de Abril.

Nove anos depois, em 25 de Junho de 1897, a Câmara Municipal de Lisboa e a Carris assinam um novo contracto com vista à substituição do sistema de tracção animal então utilizado, pela tracção eléctrica. por “condutores aéreos nas linhas que explora e nas que está obrigada a construir...”.

No ano seguinte a Carris obtém o privilégio exclusivo da utilização da tracção eléctrica no espaço por ela explorado. Em 7 de Julho de 1899 a companhia, tendo em vista a transformação do sistema, contrata a firma Weinher, Beit & Cª a cedência, por arrendamento de todos os seus edifícios, linhas e material, obrigando-a a cumprir, os contractos assinados com a Câmara e a pagar o passivo, juros e amortizações da Carris e, ainda, um juro de seis por cento às suas acções.

A Weinher, Beit & Cª cede, no dia 27 de Julho, à Lisbon Electric Tramways Limited (LETL) todos os direitos e obrigações assumidos pelo contracto. Um relatório desse mesmo ano refere ter sido acordado entre as duas companhias que os corpos gerentes da Carris continuariam a explorar as linhas por conta da LETL, sendo esta responsável pelos encargos provenientes da modificação estabelecida.

Os trabalhos de modificação e assentamento de linhas de instalação da rede aérea e de construção da central eléctrica destinada a fornecer energia para o novo sistema começam, finalmente, em 1900.

Um ano depois é inaugurado o serviço de eléctricos e, em Novembro de 1905, a LETL assume a exploração do elevador do Carmo, procedendo à sua electrificação 12 meses depois.

Vinte e um ano passam.

Em 1926 a Carris adquire a Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa (NCAML) todos os seus bens, valores, direitos e obrigações. Ficam, assim, integrados na sua rede, ascensores e linhas que lhe pertenciam, como os ascensores da Graça, Estrela, Glória, Lavra e Bica.

1940 é o ano da Exposição do Mundo Português. De forma a assegurar o transporte dos visitantes a Carris adquire seis autocarros da marca AEC, modelo Regent MK II que, em 1944, iriam inaugurar o serviço de autocarros.

Em três décadas as transformações ao nível da organização da vida social lisboeta apontam para uma mudança também no domínio dos transportes. A 21 de Dezembro de 1973 é rescindido o contrato de arrendamento da concessão da Carris à LETL. Simultaneamente é efectuado com a Câmara Municipal um contrato de renovação da concessão pelo prazo de 50 anos. O património da carris é substancialmente aumentado por diversos imóveis e pelo estabelecimento industrial afecto à exploração do serviço público de transportes urbanos. A companhia fica, assim, com o direito de explorar por mais 50 anos uma nova concessão de transportes colectivos urbanos utilizando eléctricos, autocarros e ascensores.

Mas a renovação da frota de autocarros é considerada cada vez mais urgente. Em 1974 é aberto concurso público para o fornecimento de 200 viaturas carroçadas em Portugal. No último trimestre de 1975 a empresa Auto Sueca inicia a sua entrega, No fim do ano, a Carris dispõe já de 75 autocarros. No mesmo ano, o capital não estrangeiro da companhia é nacionalizado e anuncia-se a nomeação de uma comissão administrativa para a sua gerência.

Em 1980, a LETL vende à companhia o lote de acções que eram sua propriedade.

Expresso, 21 de Janeiro de 1988