PARTILHA DE ÁFRICA

PARTILHA DE ÁFRICA

A partir de 1870, nações recém-construídas, como a Alemanha e a Itália, entraram na competição pela partilha do continente africano, ao lado da França e Inglaterra. A característica desse novo processo de descolonização consistia em transformar África em mercado de produtos industrializados das nações europeias e fonte de abastecimento de matérias-primas, bem como de produtos alimentares. Leopoldo II, da Bélgica, em 1851, escrevia: “Como a História ensina que as colónias entram em boa parte para aquilo que compõe o poder dos Estados e a sua prosperidade, diligenciamos para construir uma, por nossa vez.” Assim, não a Bélgica mas também os outros países industrializados se apressaram em assegurar ou conseguir possessões no continente negro. Em 1884/85 realizou-se a Conferência de Berlim, que se encarregou de ditar as normas para a partilha de África:

1) toda a tomada de posse deveria ser comunicada imediatamente às potências signatárias da acta de Berlim;

2) a anexação de territórios só seria válida se a potência interessada tivesse autoridade suficiente para fazê-la respeitar pelas demais;

3) toda a potência europeia estabelecida na costa teria direito ao seu respectivo Hinterland, até defrontar-se com outra zona de influência, ou outro Estado organizado.

Esse tratado era um convite aos países signatários para se lançarem em conquistas desenfreadas, e por ser bastante omisso, não evitou infinitas querelas entre os novos conquistadores. Em decorrência, a África ficou assim dividida:

França - Aumentou o seu controle sobre a Tunísia, manteve a Argélia, confirmou o seu protectorado de Marrocos, conquistou parte do Saara, ligando a África francesa do norte ao sul. Na costa ocidental, os postos costeiros do Senegal e da Guiné foram ponto de partida para a posse do respectivo interior, o mesmo ocorrendo com a Costa do marfim e Daomé (actualmente Benim); conquistou as margens do Níger e o Chade até chegar ao Sudão egípcio. Na tomada desses territórios, os franceses cometeram lamentáveis excessos de violência contra os nativos. A África equatorial francesa originou-se da exploração do interior da costa do gabão, conquistando uma enorme extensão territorial, inclusive a bacia do Rio Congo. A ilha de Madagáscar foi anexada pela França graças à sua desistência de Zanzibar para a Inglaterra. Na região oriental, ocupou antes da construção do Suez, Obok, a baía de Tadjurah, o sultanato de Gobad e Ambado e o do Djibuti.

Bélgica - Leopoldo II apossou-se do Congo, criou a Associação Internacional Africana, que visava combater o comércio de escravos e, posteriormente, a Comissão de Estados do Alto Congo. Portugal reivindicou os seus direitos históricos sobre o estuário do Rio Congo; a Inglaterra prontificou-se como mediadora e conseguiu a desistência de Portugal, em troca da livre navegação do rio.

Inglaterra - Construiu um império considerável, formado por Gâmbia, serra Leoa, Costa do Ouro, Nigéria, União Sul-Africana, incluindo a antiga colónia do cabo e as ex-repúblicas boeres do Natal, Orange e Transvaal, os protectorados da Basutolândia, Bechuanalândia, Suazilândia e Niassalândia (actual Malawi), a Rodésia, Quénia, os protectorados do Uganda, Zanzibar-Pemba e Somália britânica, além das ilhas de Santa Helena, Ascenção e Maurícia.

Alemanha - A aquisição de colónias em África foi iniciada por Bismarck e continuada de maneira mais agressiva por Guilherme II. Chegou a possuir: Togo, Camarões, a África do Sudeste Alemã e a África Oriental Alemã (Tanganica e Ruanda-Urundi).

Portugal - Manteve basicamente as mesmas possessões da época dos descobrimentos: Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Portuguesa, Cabinda, Angola e Moçambique.

Espanha - Ficou com uma zona de protectorado em Marrocos, o território de Ifni, o Saara espanhol, a Guiné espanhola, as ilhas de Fernando Pó, Ano Bom e Canárias, além de Ceuta e Melila.

Os problemas que essa partilha trouxe para os povos de África são visíveis ainda hoje. A divisão política do continente foi determinada pelas potenciais europeias, sem levar em conta a realidade étnica e cultural dos seus habitantes. as lutas tribais dentro de um mesmo país, as fusões do Estado ou os desmembramentos são consequências e manifestações claras desse fenómeno.