IDADE MÉDIA

OS MONGES

Os grandes mosteiros fundados através da Europa durante a Idade Média eram centros de sabedoria, uma fonte de alívio para os pobres epara os doentes, e por vezes também para os ricos proprietários. Em muitas regiões constituíam o mais poderoso símbolo do poder espiritual e político da Igreja.

No entanto o modo de vida denominado "monasticismo" - viver separado do mundo para uma dedicação total a Deus - surgiu na Ásia muito antes dos tempos de Cristo. Os primeiros cristãos que adoptaram este modo de vida foram os eremitas. Nos anos 300, um eremita egípcio, Santo António de Tebas, formou uma comunidade onde juntou vários eremi­tas.

Em breve se formaram outras comunidades do mesmo género, de fra-des ou freiras. Várias dessas comunidades estavam ligadas pelas "regras", uma espécie de guia sobre a maneira como deveriam viver, compiladas por um chefe monástico. A regra maior foi a de S.Bento de Núrsia, que fundou o mosteiro do Monte Cassino, em Itália, cerca de 529. S.Bento decidiu que a vida dos monges devia ser uma vida de orações e tarefas manuais. Sob a orientação do papa Gregório VII, alguns monges tornaram-se estudiosos e professores. Numa altura em que poucos dos homens vulgares sabiam ler ou escrever, preservaram muitos conhecimentos clássicos que de outro modo se teriam perdido.

Os monges oravam pelas almas dos mortos e desempenhavam tarefas práticas como as de cuidar dos doentes e alimentar os pobres. As casas religiosas - masculinas e femininas - forneciam quase todos os cuidados médicos então conhecidos.

Como importantes centros comunitários na Europa durante a Idade Média, os mosteiros serviam também como abrigo para os viajantes, transformando-se nas primeiras "casas de hóspedes" modernas. A grande abadia beneditina de Cluny, em França, chegou a receber a corte de Luís IX de França e a corte papal de Inocente IV, simultaneamente,

mas os mosteiros mais pequenos ocupavam-se dos caminhantes.

O PROFETA

Maomé, o fundador do Islão, nasceu em Meca, na Arábia e foi criado por um seu tio, chefe de uma pequena tribo. Passou a infância tra­tando de gado e camelos, entrando depois ao serviço de uma rica viúva Cadija, com quem mais tarde casou.

Quando tinha cerca de quarenta anos surgiu-lhe uma visão em que o arcanjo Gabriel lhe mandava proclamar o único verdadeiro Deus, Alá.

Começou a pregar em Meca, atraindo sobre si próprio uma tal perseguição que em 622 teve de fugir para uma cidade vizinha, agora conhecida por Medina, a "cidade do profeta". Este acontecimento, a Hégira, marca o começo do calendário muçulmano.

Em Medina o número de seguidores aumentou rapidamente e em 630 reconquistou Meca, onde proibiu a adoração de ídolos, ordenando que os não crentes nunca mais entrassem na cidade. Mesmo nos nossos dias, só os Muçulmanos aí podem entrar.

Maomé ditou as doutrinas da sua fé aos seguidores, que as compilaram sob a forma do Corão, o livro sagrado do Islão, mas insistiu que não se tratava de ensinamentos seus mas sim das palavras de Deus, de que era o profeta e o porta-voz.

Além de se tratar de uma grande religião, o Islão era também um movimento nacionalista; quando Maomé morreu, em 632, controlava toda a Arábia e depois disso espalhou a sua influência pela África e Ásia.

SAXÕES E DINAMARQUESES

Os Romanos acabaram por abandonar a Britânia em 407 d.C. A partir daí o país foi saqueado por Pictos, da Escócia, Anglos e Saxões, da Alemanha, e Jutos da Jutlândia, na Dinamarca. Os Jutos instalaram-se em Kent e na ilha de Wight. Pouco depois dos anos 600 o resto da Inglaterra estava quase toda nas mãos dos Anglo-Saxões.

A Inglaterra foi dividida em sete reinos, que os historiadores denominaram de heptarquias, de uma palavra grega significando o "governo dos sete". Os reinos eram o Kent, Sussex e Wessex, no Sul e no Oeste; Mércia, Anglia Oriental e Essex, no Centro e Este, e a Nortùmbria.

No fim dos anos 700 os Vikings começaram a atacar a Britânia. Os Vikings que atacaram a Inglaterra e cerca de 870 já tinham destruído todos os reinos menos o de Wessex. A partir de 839, o Wessex foi go­vernado por Etevoldo, cujo pai, Egberto, foi o primeiro rei a reclamar o domínio sobre toda a Inglaterra. Etevoldo morreu em 858 e foi sucedido pelos seus filhos, Etebaldo, Etelberto e Etelredo I. Em 871 Alfredo teve de combater em nove batalhas. Os Dinamarqueses invadiram o Wessex no Inverno de 877-878,mas Alfredo submeteu-os a uma derrota decisiva e restabeleceu a paz nas suas terras. Pelo Tratado de Wedmore os Dinamarqueses ficaram com o domínio do Norte e do Leste da Inglaterra e Alfredo com o Sul e Oeste.

O domínio dos Dinamarqueses durou menos de cem anos. No princípio do século X a Anglia Oriental e o Centro de Inglaterra foram ocupadas pelo Wessex.

Os colonos dinamarqueses na Nortúmbria foram atacados por invasores da Noruega, cujos chefes se fizeram reis de Iorque, até que Eadredo, o neto de Alfredo, os expulsou em 954.

O IMPÉRIO BIZANTINO

Quando Constantino, o Grande, transferiu a capital do Império Romano de Roma para a sua nova cidade de Constantinopla, em 330, não só deslocou o centro do poder mais para Oriente, como também abriu caminho para a continuação do Império Romano, depois da queda de Roma, em 476.

Porque Constantinopla foi construída no antigo local da cidade grega de Bizâncio, é frequente que os historiadores chamem Império Bizantino ao Império Romano do Oriente. Atingiu o seu auge durante o reinado de Justiniano I, de 527 a 565. Os seus grandes generais, Narses e Belisário, ampliaram-no até incluir a Ásia Menor, a Península Balcânica, Palestina, Egipto, Norte de África, Sul da Espanha e parteda Itália.

Nos anos que se seguiram à morte de Justiniano, o Império Bizantino reduziu-se gradualmente até incluir pouco mais do que a Grécia e os territórios balcânicos.

O império teve a sua própria forma de cristianismo, a Igreja Ortodoxa do Oriente. Foi também um rico centro cultural de estudiosos eartistas, cuja influência se espalhou para ocidente, para o sul da Europa. Foi finalmente, derrubado pelos Turcos em 1453, data que marca o fim da Idade Média.

CARLOS MAGNO

O rei guerreiro talvez mais importante em toda a Idade Média foi provavelmente Carlos, filho de Pepino, o Breve, que se tornou rei dos Francos a partir de 768. O seu poder e proezas valeram-lhe o título de Carolus Magnus, Carlos, o Grande, ou Charlemagne, no francês antigo.

Ao princípio Carlos Magno partilhou o trono com o seu irmão Carlomano, que morreu em 771. Carlos Magno fez muitas campanhas para dar segurança ao seu reino, libertando-o dos ataques das tribos germâni­cas. A pedido do papa submeteu a Lombardia, no norte da Itália, e conquistou também parte do Norte de Espanha para evitar que os Mou-ros avançassem mais para norte. No dia de Natal do ano 800, o papa Leão III corou Carlos Magno como "imperador do Ocidente", na Basílica de S.Pedro, em Roma. Foi desse modo que Carlos Magno tentou fazer re­viver as glórias do Império Romano, fundou o que depois veio a ser chamado o Sacro Império Romano, cobrindo uma grande parte da Europa.

Era um homem alto, de cabelos castanhos.claros, cheio de energia, além de ter sido também um grande patrono das artes e dos estudiosos. Fundou uma academia em Aachen, a sua capital.

O ANTIGO GANA

O moderno Gana, que antigamente se chamava Costa do Ouro, deve o seu nome actual ao de um antigo império que dominava a África Ocidental durante a Idade Média. O velho Gana ficava a muitos quilómetros mais para norte do actual, entre o deserto do Sara e os rios Níger e Senegal.

O Gana foi provavelmente fundado durante os anos 300. Desde essa data até 770 os seus governantes constituíram a dinastia dos Magas, uma família berbere, apesar do povo ser constituído por negros das tribos Soninque. Em 770 os Magas foram derrubados pelos Soninques, e o império expandiu-se grandemente sob o domínio de Kaya Maghan Sisse, que foi rei cerca de 790.

Nessa altura o Gana começou a adquirir uma reputação de ser uma terra de ouro. Atingiu o máximo da sua glória durante os anos 900 e atraiu a atenção dos árabes. Depois de muitos anos de luta, a dinastia dos Almorávidas berberes subiu ao poder mas não o conservou durante muito tempo. O império entrou em declínio e em 1240 foi destruído pelo povo do Mali.

HÁRUNE ARRAXIDE

Hárune Arraxide (766-809), sucedeu ao seu irmão, Al-Hadi, como califa de Bagdade (em 786). O título "califa" significa representante de Maomé", o fundador do Islão. Ao princípio Hárune governou com a ajuda da rica família persa dos Barmécidas, mas em 803 virou-se re­pentinamente contra eles e prendeu toda a família. A partir daí governou sózinho. De 791 em diante viu-se envolvido numa guerra com o Império Bizantino e teve também de dominar uma série de revoltas den-tro dos seus próprios territórios.

Hárune encorajou as artes e os estudos, e a sua corte em Bagdade foi um centro de cultura. É descrita, com alguns exageros, na colecção de contos d'As Mil e Uma Noites.

OS HOMENS DO NORTE

Durante muitos séculos, sempre que a Escandinávia ficava demasiado povoada e inadequada para suportar o seu primitivo modo de vida, os Escandinavos, ou Vikings, meteram-se ao mar e colonizaram outras terras.

Os homens do Norte eram mais conhecidos por Vikings por causa de uma antiga palavra para acampamento, porque sempre os instalavam durante os seus ataques. Eram atacantes impiedosos e as pessoas costumavam rezar: "Que Deus nos livre da fúria dos homens do Norte". A sua indomável bravura levou-os a mares desconhecidos para colonizarem a Islândia e a Gronelândia, enquanto em 1002, um viquinge Leif Ericsson, conduziu uma expedição através do Atlântico Norte até às costas da América, onde as colónias se mantiveram durante muitos anos.

Sob o nome e de Danos (Dinamarqueses), os Vikings conquistaram grande parte do Norte da Inglaterra e da Irlanda, e instalaram-se no Norte de França, onde ficaram conhecidos por Normandos; penetraram no Mediterrâneo; uma tribo, os Russ, instalaram uma colónia em volta de Kiev e deram o seu nome à Rússia cerca do ano de 800 d.C.

ESCÓCIA: UMA NAÇÃO

A história primitiva da Escócia é confusa e obscura. Entre os primeiros colonizadores parecem ter-se encontrado os Pictos. Os Escotos, da Irlanda, formaram o reino cristão de Dalriada, a norte e a oeste do rio Clyde; os Britânico colonizaram o Sudoeste, Strathclyde, e os Anglos-Saxões instalaram-se no Sudeste, Bernícia.

Cerca do ano 850, Keneth MacAlpine, rei dos Escotos, anexou as terras dos Pictos e nos anos de 980 Keneth II ocupou a Bernícia. Malcolm II (1005-1034) ganhou o Stratchclyde e foi o primeiro a unificar o que é agora a Escócia. O seu filho Duncan, foi morto pelo usurpador Macbeth, um chefe provincial que por sua vez foi morto em combate pelo filho de Duncan, Malcolm III. Este casou com uma princesa saxónica e reconheceu Guilherme I da Inglaterra com seu suserano, mas iniciou os frequentes ataques fronteiriços que foram uma das características das

relações anglo-escocesas durante os quinhentos anos seguintes.

O SACRO IMPÉRIO ROMANO

O Sacro Império Romano era uma frouxa federação de estados da Europa Central e ocupava mais ou menos a área das actuais Alemanha,Á ustria, Suíça e Norte de Itália, apesar das suas fronteiras terem va­riado muito ao longo dos séculos.

Foi fundado pelo rei germânico Otão I, o Grande, que subiu ao trono em 936. A sua ambição era a de reviver as glórias do velho Im­pério Romano, que fora reconstituído durante algum tempo por Carlos Magno, em 800. Em 962., Otão fez-se coroar como "imperador augusto", fundando uma linhagem de imperadores que durou até Napoleão I ter abolido o império em 1806. O título de "sacro imperador romano" foi assumido por Frederico Barba-Roxa em 1157.

A seguir a Otão, todos os imperadores foram eleitos pelos princípes do império; a partir de 1356 sete desses príncipes tinham o di­reito de votar e foram denominados "eleitores". Mais tarde esse número subiu para nove.

O império só teve alguma coesão ou poder sob alguns dos mais fortes governantes, e, em 1700, justificava-se que o escritor francês Voltaire afirmasse que"não era sagrado, nem romano, nem império".

OS MÁRTIRES BOÉMIOS

O mais famoso dirigente da Boémia - a parte ocidental da actual Checoslováquia - foi Venceslau, que se tornou príncipe da Boémia em 921, com catorze anos de idade. Foi inicialmente educado pela sua avó Ludomila, uma convertida ao cristianismo, mas a mãe de Venceslau, Drao mira, mandou matar Ludomila e depois actuou como regente até à maio-

ridade do filho. Venceslau fez o possível para converter o seu povo ao cristianismo, mas teve grande oposição por parte de uma facção guiada pelo seu irmão mais novo, Boleslau. Em 929, Boleslau emboscou Venceslau quando este ia a caminho da missa e matou-o. Aclamados como már tires, Venceslau e Ludomila foram ambos canonizados.

A DINASTIA SUNG

A dinastia Sung, que governou a China de 960 a 1275, deveu a sua existência a um jovem oficial que pensou ter tido uma visão. Essa visão significava, declarou, que um novo imperador iria tirar a Chinadas mãos do jovem imperador Kung-ti, da dinastia Chou. Os oficiais seus colegas pensaram que aquilo queria dizer que o seu general, um homem de grandes êxitos Chão Kuang-yin, seria o novo imperador. Acordaram-no e proclamaram-no como novo governante, Sung Tai Tsu.

Tai Tsu e os seus sucessores fizeram o que puderam para conseguirem reorganizar a China após mais de cinquenta anos de guerra civil, mas a tarefa era superior às forças de que dispunham. Em 1608 Wang An.Shih, que foi primeiro-ministro no tempo do imperador Sung Shen Tsung, levou a cabo uma radical reforma do governo, simplificou o sistema de impostos e diminuiu o enorme exército, transformando-o numa força de dimensões mais razoáveis. No entanto as reformas não foram devidamente executadas, o que abriu o caminho para que os Mongóis, comandados por Gengiscão, acabassem por ocupar o país.

As artes da China, durante o período Sung, reflectem o mal estar que afligia o país. Os poetas e pintores olhavam para o passado, imi­tando ou recordando glórias e realizações do antigamente. Os artistas mostraram-se preocupados com as emoções humanas e a poesia ficou sobrecarregada de imagens, alusões literárias e outros subterfúgios, que a tornaram difícil de compreender ou apreciar pelas gerações seguintes. Foi mais ou menos por esta altura que surgiram os contadores de histórias profissionais, vagueando de um lado para o outro como os trovadores da Europa Ocidental, entretendo os que conseguiram convencer a escutá-los, em troca de algumas moedas. Com o tempo, foram estes os homens que deram origem aos romances chineses.

OS MAGIARES

Os Magiares, que criaram o reino da Hungria, vieram das estepes da Rússia, de entre o rio Volta e os Urales. No princípio do século IX viviam em volta da foz do rio Don, mas emigraram para a zona do Danúbio Central nos fins deste mesmo século.

Apesar dos Magiares serem apenas cerca de vinte cinco mil, sub-meteram facilmente os habitantes locais e derrotaram uma força germânica. Durante algum tempo atacaram os povos vizinhos em busca de es­cravos e riquezas, mas depois de o imperador Otão I os ter derrotado em Lechfeld, em 955, compreenderam que necessitavam de paz com os vi­zinhos. Converteram-se ao cristianismo e sob Estevão I o Estado foi organizado em quarenta e seis condados e dez dioceses. O se governo constitui um período de prosperidade e paz.

OS CAPETOS

A família real que governou a França durante mais de oitocentos anos deveu o seu nome à alcunha do fundador, Hugo, duque de Francia. Hugo era denominado Capeto por causa da capa curta que sempre ostentava por ser abade secular em St. Martin de Tours. Como se tratava do mais importante vassalo de Luís V, rei de França, Hugo conseguiu fazer-se eleger rei quando da morte de Luís, e, 987.

A posição de Hugo Capeto não era muito forte. Governava directamente uma grande parte da França, com a capital em Paris, mas muitos dos seus vassalos, tal como o duque da Normandia, Burgùndi (Borgonha) e Aquitânia, eram quase tão poderosos como ele. Contudo, nenhum dos vassalos, isolado, dispunha da força suficiente para o derrubar e eram todos suficientemente invejosos uns dos outros para evitarem uma aliança que pudesse vir a apoderar-se do trono.

Depois de se ter feito eleger, Hugo Capeto assegurou-se da sucessão fazendo coroar o filho antes de morrer, pratica que durou dois séculos e contribuiu para a estabilidade da França.

O SISTEMA FEUDAL

O sistema feudal foi o principal sistema de vida e de governo da Europa Ocidental durante a Idade Média. sistema desenvolveu-se sob os Francos durante os anos 800 e espalhou-se gradualmente pela Alemanha, Escandinávia, Espanha, Itália e Ilhas Britânicas. Foi particularmente forte nas Ilhas Britânicas, sob o domínio dos Normandos.

A base do sistema feudal consistia na entrega de terras por parte de uma personalidade poderosa a uma menos poderosa, em troca de serviços. O sistema começava pelo topo, com o rei, passando pela alta nobreza, pequena nobreza e terminando com os servos.

O serviço prestado pelos nobres aos seus superiores imediatos eram fundamentalmente militar: tinham de lutar por conta dele. Na ou­tra ponta da escala, um servo podia ser um virtual escravo, enquantoos homens livres possuíam terra própria mas tinham de trabalhar vários dias por semana nas terras do senhor feudal. Como compensação, o poder do senhor protegia aqueles que dele dependiam.

Em resultado deste sistema, a vida da maior parte das pessoas centrava-se nos castelos ou mansões dos vários senhores. As povoações em volta dos castelos sustentavam-se quase sempre a si próprias.

OS TURCOS SEJÚLCIDAS

Os Turcos Sejúlcidas eram uma tribo nómada conduzida por um homem chamado Sejulque,que se instalaram perto de Bucara (agora no Usbequistão) no fim dos anos 900. Alguns desses incansáveis guerreiros partiram a seguir para a conquista de novas terras mais para ocidente.

Em 1701, Alp Arslan conduziu os seus homens para a Arménia, ondefoi atacado por um exército bizantino sob o comando do imperador Romano IV Diógenes, o que se provou fatal para os Bizantinos. Os Turcos fingiram fugir, cercaram os inimigos e derrotaram-nos, capturando o imperador que acabou por ser libertado contra resgate.

A batalha acabou com o poderio bizantino na Ásia Menor e os Sejúlcidas avançaram e fundaram o que viria a ser o oImpério Turco. Sob o governo do Xá Malik (1055-1092), os Sejúlcidas atingiram o auge.

LUTA ENTRE OS PAPAS E OS IMPERADORES

Durante a Idade Média a Europa foi dividida por uma luta de poderes entre os imperadores do Sacro Império Romano e os papas. Os papas reclamavam completa autoridade espiritual sobre a Europa cristã: os imperadores, cujo apoio era fundamental para aeleição dos papas, exigiam controlo sobre as actividades da Igreja dentro dos seus territórios e o direito a confirmarem a eleição dos papas.

A questão atingiu o auge em 1705, quando o papa Gregório VII proibiu o imperador Henrique IV de controlar a eleição dos bispos na Alemanha. Henrique declarou a deposição de Gregório enquanto este excomungava Henrique, ou seja, bania-o da Igreja. Foram muitos os princípes alemães que se recusaram a apoiar Henrique IV, que teve de se submeter. Em 1077 foi ao encontro de Gregório em Canossa, no Norte de Itália, e depois de esperar três dias sob a neve, declarou-se penitente. No entanto, em 1080, Henrique IV depôs Gregório VII.

OS JUDEUS

Depois da destruição de Jerusalém no ano de 70, a maior parte dos judeus exilou-se da sua terra. A Diáspora espalhou os judeus por toda a Europa e pelo Norte de África, onde formaram pequenas comunidades nas mais variadas cidades. Aí preservaram as suas tradições religiosas culturais e profissionais. A sua religião permitia-lhes emprestar di-nheiro - actividade proibida aos cristãos - o que os tornou pouco po­pulares.

Os seus principais centros foram em Espanha, onde os Judeus eram conhecidos por serem sefarditas,e na Alemanha, onde eram denominados asquenazis e falavam yiddish ou judaico-germano.

Nos tempos das Cruzadas os cristãos recomeçaram a encarar os Judeus como directamente responsáveis pelo martírio de Jesus. As perseguições aos Judeus tornaram-se num acto religioso muito recomendável. Eram forçados a viver em guetos e eram atacados e massacrados à mínima provocação. Nos anos de 1100 até os mouros de Espanha, que tinham tolerado as comunidades judaicas, se viraram contra eles. O primeiro país a expulsar os Judeus foi a Inglaterra, em 1290.

A CONQUISTA NORMANDA

Quando em 1066 morreu o rei Eduardo, o Confessor, de Inglaterra,não deixou descendentes. Quem lhe iria suceder? O principal pretendente inglês era o seu cunhado, Haroldo Godwisson; outro poderoso candidato era o seu primo, o duque Guilherme da Normandia. Eduardo poderá ter-lhe prometido o trono em 1051 e Guilherme fortaleceu a sua posição persuadindo Haroldo (possivelmente com algum truque) a jurar-lhe fidelidade.

Depois da morte de Eduardo, o Conselho elegeu Haroldo para rei e este, durante alguns meses, manteve o exército de prevenção contra uma eventual invasão normanda. No entanto, de imediato teve de se dirigir para norte para combater um ataque efectuado pelo seu irmão Tostig e pelo rei Haraldo Haardraada da Noruega, a quem derrotou em Stanford Bridge. Logo a seguir à batalha recebeu a notícia de que Guilherme desembarcara no Sussex. Ele e os seus guardas pessoais apressaram-se na direcção sul, mobilizando novas tropas, inexperientes. Confrontaram-se com os Normandos em Senlac, perto de Hastings; Haroldo foi morto e o seu exército foi derrotado. No Dia de Natal de 1066, Guilherme, o Conquistador, era coroado na Abadia de Westminster.

Guilherme empreendeu uma sistemática campanha para submeter rebeldes saxões. Confiscou grandes propriedades e entregou-as aos seus seguidores, tomando o maior cuidado de lhes dar pequenas áreas espa­lhadas pelo país,para evitar que se tornassem demasiado poderosos. Todos os proprietários de terras, fossem grandes ou pequenos, tiveram de lhe jurar lealdade.

AS CRUZADAS

Numa época em que religião era a principal mola impulsionadora da vida diária, a ocupação da Palestina, cenário da vida de Jesus, pelos "infiéis" muçulmanos, encheu muitos cristãos de horror. A interferência dos Sejúlcidas com os bandos de peregrinos cristãos que se dirigiam a Jerusalem inspirou o papa Urbano II a fazer apelo a uma cruzada para libertar a Terra Santa dos Sarracenos, tal como eram então denonados os Muçulmanos.

Fizeram-no oito Cruzadas: a primeira capturou uma boa parte da Palestina aos Sarracenos, mas passado noventa anos estes reconquistaram Jerusalém. As Cruzadas posteriores tiveram menos êxito e durante a quarta, os cruzados, incapazes de pagarem o aluguer dos navios aos Venezianos, foram persuadidos a saquearem a cidade cristã de Constan-tinopla. A Primeira Cruzada durou de 1096 a 1099; a última foi em 1270.

Na Cruzada das Crianças de 1212, cinquenta mil crianças da França e da Alemanha partiram para a Terra Santa. O contigente alemão voltou para trás, os outros foram vendidos como escravos, em Marselha.

AS ORDENS DE CAVALARIA DOS CRUZADOS

As Cruzadas, que se iniciaram em 1096 e terminaram quase em 1300, deram grandes oportunidades aos cavaleiros idealistas da Europa cristã. Para muitos as lendas de romance e feitos de cavalaria só podiam tornar-se realidade lutando contra os Sarracenos (Muçulmanos). Fundaram-se um certo número de ordens de cavalaria, e destinadas a lutar pela libertação da Terra Santa (Palestina) dos infiéis (seguidores do Islão) e a proteger os peregrinos cristãos.

A primeira foi a Ordem dos Hospitalários de S.João de Deus, fundada em Itália em 1080 e aprovada pelo Papa em 1113. Os Cavaleiros Hospitalários, pois eram assim chamados, dedicavam-se à guarda de um hospital para peregrinos, em Jerusalém. A ordem dos Templários, fundada em Jerusalém em 1119, destinava-se fundamentalmente a lutar nas Cruzadas. O seu nome deriva do facto de os cavaleiros terem a sua sede no local do Templo de Salomão.

ARTE E LITERATURA

A Idade Média produziu muitas obras de arte, quase todas dedicadas à glória de Deus.

Na arquitectura, desenvolveu-se o estilo denominado "românico" por voltado ano 1000; os edifícios eram pesados, com fortes pilares e arcos arredondados. Durante os anos de 1100 surgiu um estilo mais le­ve, denominado "gótico". Nas catedrais, os arcos muito pontiagudos eos pilares delgados davam-lhes uma aparência graciosa, completada por complicadas decorações.

Os pintores deste período representavam as figuras de um modo realista e usavam cores brilhantes, sob a influência da arte bizantina(da Europa Oriental). Os monges produziram manuscritos iluminados, masos artistas ainda não dominavam muito bem a técnica da perspectiva.

Na música, os cantos religiosos dominavam a música simples e melódica desses tempos, mas gradualmente os compositores começaram a juntar duas ou mais melodias sobrepostas, produzindo música polifónica (muitas vozes). Entre esses compositores encontravam-se John Dunstable de Inglaterra, e Guillaume de Mauchat, de França; o seu estilo ficou

conhecido por Ars Nova, a "Arte Nova".

Inicialmente a literatura foi dominada pelas histórias em verso, as sagas dos Viquingues e os romances de cavalaria, tal como as lendas do Rei Artur e de Carlos Magno. A poesia lírica cerca de meados da Idade Média, com Dante Alighieri e Petrarca, ambos italianos. Em Inglaterra, Geoffrey Chaucer combinou histórias em verso com argutocomentários sobre a vida e as pessoas à sua volta.

HENRIQUE DE ANJU

A morte de Henrique I, filho mais novo de Guilherme, o Conquis-tador, ocorrida em 1135, mergulhou a Inglaterra numa guerra civil porque o rei não deixou filhos varões. Henrique destinara o trono à filha, Matilde, mas Estevão de Blois apoderou-se dele. Matilde, casada com Godofredo de Anju, não conseguiu o domínio da Inglaterra mas ficou com a Normandia. O seu filho Henrique invadiu a Inglaterra em 1153 e forçou Estevão a nomeá-lo seu herdeiro.

Henrique II, que subiu ao trono quando Estevão morreu em 1154, era o governante de um vasto império. Herdara a Normandia da sua mãe, e Anju, Touraine e Maine do pai. Em 1152, casou-se com Eleanor, esposa divorciada do rei Luís VII de França. Como dote, Eleanor levou consigo o rico ducado de Aquitânia, o que fez com que Henrique ficasse a governar mais de metade da França.

A dinastia fundada por Henrique II é conhecida por dinastia dos Angevinos, por causa das terras da família em Anju, mas a sua designação popular é a dinastia dos Plantagenetas, nome oriundo de uma alcu-nha aplicada ao pai de Henrique, que usava um raminho de giesta, plantagenista,no seu chapéu, como emblema.

CIDADE ILHA

A cidade de Veneza foi fundada nos anos 500 por refugiados hunos e lombardos. Instalaram-se nas ilhas entre as lagoas ao longo da costa da Itália, no Norte do Adriático, e desenvolveram gradualmente um co­mércio baseado no sal e no peixe salgado. Os mercadores venezianos construíram frotas em que navegavam para os portos do Levante - Mediterrâneo Oriental - onde trocavam os seus produtos por outros vindos da Ásia, especiarias, ouro e jóias da Índia, seda da China. O comércio das especiarias era particularmente rendoso porque se tratava de um meio de preservação e tempero da comida, no Inverno.

Os mercadores venezianos colaboraram nas três primeiras Cruzadas, pelo que ganharam direitos comerciais em portos como os de Sídon e Tiro. Na 4ª Cruzada, de 1204 e em troca dos navios, os cruzados reconquistaram Zara, na Jugoslávia, para Veneza e saquearam Constantinopla. O produto do saque foi em parte para Veneza. No fim da Idade Média, a área entre o mar Egeu, Rodes e Creta era dominada pelos Venezianos, e nos séculos XIV e XV Veneza era a mais rica cidade comercial da Europa.

THOMAS BECKET

Como se tratava de um jovem com educação, Thomas Becket entrou para o serviço de Teobaldo, arcebispo de Cantuária, que lhe recompen­sou o seu trabalho com o arquidiaconado de Cantuária. Em 1155 Becket foi escolhido por Henrique II para conselheiro real, uma posição que manteve durante sete anos, como íntimo e leal servidor do rei.

Henrique recompensou Becket fazendo-o arcebispo de Cantuária, após a morte de Teobaldo. O carácter de Becket modificou-se imediatamente, passou a viver uma vida de simplicidade e pobreza e apesar de ter ajudado Henrique a diminuir o poder dos bispos, passou a defender activamente os direitos da Igreja. Seguiram-se violentas questões com

Henrique e um longo período de exílio. Depois de se reconciliarem, os dois homens discutiram de novo.

Henrique perguntou se não haveria ninguém capaz de o livrar "da­quele padre turbulento". Quatro cavaleiros ouviram-no e mataram Becket nos degraus do altar de Cantuária. Becket foi canonizado em 1173 e a catedral tornou-se num local de peregrinação.

OS MONGÓIS

No princípio da Idade Média os Mongóis eram um grupo de tribos nómadas vivendo na Mongólia, na Ásia Central. Criavam gado e eram terríveis guerreiros. Nos anos de 1190, um chefe tribal, Temujin - mais tarde denominado Gengiscão - unificou as tribos e iniciou a ampliação do domínio mongol ao norte da China, Sibéria e Pérsia.

O seu neto, Cublaicão, completou a conquista da China e fundou a dinastia Yuan. Os guerreiros mongóis sob o comando de Batu invadiram a Europa Oriental em 1237, e um ano mais tarde fundaram um reino mongol conhecido pela designação de Horda de Ouro na zona inferior do rio Volga. Mais tarde Tamerlão fundou outros impérios na Ásia Ocidental e Central, no fim dos anos de 1300, e Babar fundou um outro na Índia em 1526. Este último ficou conhecido por Império Mongol, de uma versão da palavra "mongol". Durou até os anos de 1700.

OS XÓGUNS

Apesar do Japão poder afirmar que os registos dos seus imperadores tiveram muito pouco poder no país desde a Idade Média, porque de 1192 a 1867 o poder foi exercido pelos xóguns, um título que significa "comandantes supremos".

Os primeiros xóguns foram nomeados para submeterem os Ainos, no Norte do Japão cerca do ano 720. Em 1192 Minamoto Yoritomo recebeu o título de xógum. Com efeito o xogunato era uma ditadura militar de tipo hereditário.

O posto de xógum foi herdado pelos membros da família Minamoto até aos anos 1300, quando passou para a família Ashikaga. Esta governou até aos anos de 1600, altura em que o cargo passou para os Tokugawa. Em 1868, o último xógum Tokugawa foi forçado, por uma revolta da corte, a devolver os seus poderes ao imperador.

COMÉRCIO

Na Idade Média as estradas eram más e muito do comércio era feito pelos rios e pelo mar. No Norte da Europa, os países em volta do Báltico produziam cereais, madeiras, peixe e peles, enquanto a lã e tecidos eram particularmente importantes na Inglaterra. Muitos dos pro dutos eram levados para os grandes mercados de Bruges e Antuérpia, nos Países Baixos. Aí chegavam as galés de Veneza transportando vinho, azeitonas, fruta e sal, produzidos pelos países quentes do Mediterrâ­neo. Levavam igualmente artigos de luxo do Oriente, incluindo sedas, jóias e especiarias, estas últimas utilizadas para a conservação de alimentos.

As rotas comerciais terrestres da Europa seguiam as velhas estradas romanas, muitas delas já transformadas em areia e lama. O trânsito era intenso. Os mercadores carregavam os seus produtos em animais de carga e viajavam em comboios, por questões de segurança. Ninguém viajava de noite, por causa dos ladrões. As feiras comerciais surgiram nos cruzamentos de estradas. A região de Champagna, no Leste da Fran­ça, ficou famosa por causa das suas feiras anuais, a mais importante das quais durava quarenta e nove dias.

A "MAGNA CARTA"

O rei João Sem-Terra abusava do seu poder e privilégios, impondo pesados impostos e apoderando-se de terras da Igreja. Os barões e os chefes da Igreja uniram-se e convocaram uma reunião em Runnmyede, junto do rio Tamisa, para se encontrarem com João Sem-Terra em 15 de Junho de 1215. Aí prepararam um documento a que o rei teria de apor o seu selo.

Os barões denominaram o documento de Grande Carta Régia, mas que mais tarde viria a ser conhecido por Magna Carta, e que se destinava a proteger os seus interesses e à obtenção de poder à custa do da Coroa. Tal documento é visto agora como uma das pedras básicas para a fundação da moderna democracia, uma vez que garantia a cobrança de impostos apenas por vias legais, a justiça para todos os homens, sem medos nem favores, e prisões apenas depois do julgamento. São muitos os sistemas legais que se baseiam na Magna Carta.

O PAI DOS COMUNS

O desenvolvimento do Parlamento inglês deve muito a um nobre de origem francesa, Simão de Monforte, conde Leicester (c. 1208-1265), casado com Eleanor, irmã de Henrique III.

Henrique era um governante ditatorial, influenciado por conselheiros estrangeiros, que transformara em seus favoritos. As suas ac­ções provocaram a ira dos nobres ingleses.

Monforte, um homem inteligente e decidido, transformou-se no líder dos nobres. Em 1258 forçou Henrique a concordar com as Cláusulas de Oxford, um programa de reformas. Uma dessas reformas consistia num conselho de quinze nobres, para aconselhar o rei na governação.

Em 1261 Henrique voltou atrás com a sua palavra e cancelou todas as reformas. Rebentou uma guerra civil no princípio de 1264 e pouco tempo depois Monforte capturou Henrique e o seu herdeiro, o príncipeEduardo, na batalha de Lewes.

Monforte governou a Inglaterra durante mais de uma ano. Em 1264 e 1265 convocou um Parlamento, em nome de Henrique, em que pela primeira vez participaram burgueses, cidadãos importantes da várias cidades. Foram os primeiros "comuns" a serem membros do Parlamento. Este acto deu a Monforte o título de "Pai da Casa dos Comuns". No entanto, pouco depois o princípe Eduardo fugiu, organizou um exército e matou Monforte na batalha de Evesham.

OS HABSBURGOS

Durante mais de seiscentos anos a política europeia foi dominada pela família dos Habsburgos. Durante esse período forneceram quase todos os imperadores do Sacro Império Romano; governaram o Império Austríaco até à Primeira Guerra Mundial, e durante os anos de 1500 tornaram-se reis de Espanha.. O nome da família provém do seu castelo, Habitchtsburg, o "Castelo do Falcão", na Suíça.

Rudolfo IV de Habsbugo foi eleito "rei da Alemanha" em 1273. Foi efectivamente o primeiro imperador do Sacro Império da família dos Habsburgos, mas n_o pode ser coroado por causa das intrigas da corte papal. A seguir acrescentou a Áustria e a Estíria às suas possessões hereditárias. A Coroa espanhola entrou na família quando Filipe, o Belo, casou com a herdeira de Castela e Aragão, mas os casamentos interfamiliares enfraqueceram essa linhagem e os Habsburgos espanhóis desapareceram em 1700.

MERCADORES DE VENEZA

Os mercadores de Veneza viajaram muito em busca de mercadorias e clientes, mas pouco foram tão longe como os irmãos Nicolau e Maffeo Polo, e o filho de Nicolau, Marco Polo. Em 1260 os dois irmãos partiram para uma empresa que os levou até à corte do imperador mongol Cublaicão, na China. O empreendimento teve tanto êxito que quando regressaram a Veneza, em 1269, resolveram voltar à China, levando Marco.

Quando os Polos regressaram em 1295, vinham carregados de rubis e esmeraldas. Tinham passado dezassete anos na corte de Cublaicão e Marco transformara-se num enviado viajante do Imperador.

Três anos depois do seu regresso Marco foi feito prisioneiro numa batalha naval contra os Genoveses. No cativeiro, ditou a história das suas aventuras, O Livro de Marco Polo. Os seus contemporâneos consideraram que muitas das suas narrativas eram fantasiosas, mas as inves-tigações posteriores confirmaram muitas delas.

BALLIOL E BRUCE

Quando Alexandre III da Escócia morreu, em 1286, a sua herdeira era uma neta de três anos, Margarida, conhecida por "A Donzela da Noruega" porque a sua mãe era a rainha desse país. A criança morreu em 1290 e imediatamente treze homens reclamaram o direito ao trono da Escócia. Os nobres escoceses pediram a Eduardo I de Inglaterra que servisse de árbitro, e este escolheu Jo_o Balliol, um descendente da casareal escocesa. No entanto Balliol rebelou-se e Eduardo retirou-lhe o trono e governou a Escócia durante dez anos.

Uma rebelião falhada levada a cabo por um cavaleiro patriota, Guilherme Wallace, em 1297-1298, foi esmagada com grande severidade e Wallace foi executado em 1305. Noa ano seguinte surgiu um novo campeão: Roberto Bruce, um distante primo de Balliol. Eduardo morreu a ca­minho da Escócia para combater Bruce e os Escoceses expulsaram os In­gleses das suas terras. Em 1314, o fraco filho de Eduardo, Eduardo II, conduziu um novo exército para combater Bruce, mas foi derrotado na batalha de Bannockburn. A guerra continuou até 1328, quando os In­gleses reconheceram a independência da Escócia, com Roberto Bruce como rei.

OS FRADES

As primeiras ordens religiosas cristãs compunham-se de homens ou mulheres que se retiravam do mundo para melhor poderem adorar a Deus nos grandes mosteiros que se espalharam por toda a Europa na Idade Média. No entanto o crescimento das cidades e das pobres comunidades de pessoas que nelas viviam, sem contacto com a religião, trouxeram a necessidade de uma ordem de professores. Estes foram os frades, termo proveniente da palavra latina frater, irmão, pelo qual se dirigiam ums aos outros.

Os primeiros frades foram os Franciscanos, os Menoritas ou Irmãos Menores, criados por S.Francisco de Assis, em 1210. Seis anos mais tarde S.Domingos fundou a Ordem Dominicana.

Os membros destas duas ordens dedicavam-se a vidas de extrema pobreza e simplicidade, e gastavam o seu tempo pregando e ensinando, ganhando a vida com o trabalho das suas mãos.

Com o tempo os frades ficaram demasiado ocupados com as suas obrigações religiosas para poderem executa outros trabalhos e passaram a viver da mendicidade, e foi por isso que passaram a chamar-se Mendicantes. Outras importantes ordens são a das Carmelitas, que vieram da Palestina para a Europa em meados do século XIII, e os Eremitas, que surgiram no século XII.

"O CAVALEIRO DA BABILÓNIA"

A última grande tentativa para estabelecer o poder temporal do Papado foi feita por Bonifácio VIII, eleito papa em 1294. Os seus modos rudes e dominadores e as suas tentativas para o enriquecimento do ninho da sua própria famíliaacabaram por forçar a sua própria resignação. O sucessor, Benedito XI, morreu quase imediatamente, talvez envenenado. O papa seguinte foi um francês, Clemente V, que retirou a corte papal de Roma e a levou para Avinhão, no sul de França, para escapar à confusão política que reinava em Itália.

O IMPÉRIO MALI

O antigo reino de Gana, na África Ocidental, desapareceu em 1076 e aí ergueu-se o maior de todos os impérios medievais africanos, o do Mali. Gana foi-se mantendo sob o governo dos Berberes e dos Muçulmanos até 1240, quando o rei do Mali, Sundiata Keita, acabou por o conquistar. Sundiata era um mandingo, um dos grupos dos povos negros que ainda vivem no Mali dos nossos dias.

Os governantes do Mali eram muçulmanos e a capital, Tombuctu que constituía já um notável centro comercial, transformou-se num centro de cultura muçulmana. Depois de um período durante o qual reino dos Mossinos, da região do Alto Volta, dominou parte do Mali e saqueou asua capital, o Mali recuperou o seu poderio sob a chefia de Suleiman, rei cerca de 1341 a 1360.

O Império Mali sucumbiu finalmente ante o assalto combinado das tribos Tuareges do Norte e dos Mossinos, do Sul, durante os anos de 1400.

A GUERRA DOS CEM ANOS

A longa luta entre a Inglaterra e a França, conhecida por Guerra dos Cem Anos, durou de 1337 a 1453 e tratou-se na verdade de uma série de guerras. A causa principal esteve nas pretensões dos reis ingleses ao trono da França. Houve quatro períodos, nesta guerra:

1337-1360: Eduardo III de Inglaterra reclamou o trono francês por intermédio da sua mãe, Isabel de França. Depois da vitória naval de Sluys e das batalhas de Crécy e Poitiers, Eduardo apoderou-se de uma grande parte da França, sob o Tratado de Brétigny.

1360-1396: Os Franceses recuperam gradualmente a maior parte de França, quando a Inglaterra perdeu os seus melhores generais, Eduardo III e o seu filho Eduardo, o Príncipe Negro. Umas tréguas estabelecidas em 1389 foram prolongadas, em 1396, por mais vinte oito anos.

1415-1422: Henrique V volta a reclamar o trono francês e numa rápida campanha obriga o parcialmente louco Carlos VI de França a fazê-lo seu herdeiro. Henrique casou com a filha de Carlos, Catarina, mas morreu em 1422, deixando um bebé como seu herdeiro.

1422-1453: A guerra reacende-se. Os Ingleses obtêm umas vitórias iniciais, mas a camponesa Joana d'Arc deu um novo impulso aos exérci-tos franceses e em 1453 Calais era a única possessão inglesa em França

A PESTE NEGRA

A Peste Negra foi uma assustadora epidemia de peste bubónica que causou imensos estragos em toda a Europa. Surgiu na China e espalhou-se ao longo das vias de comunicação com o Ocidente, transportada pelas pulgas dos ratos. Em 1347 apareceu em Chipre,e, no ano seguinte, já se espalhara pela França, Itália, Alemanha e Inglaterra. Em 1349 encontrava-se na Polónia, Escandinávia e Escócia, e, em 1351, atacou a Rússia.

No total terão morrido vinte e cinco milhões de europeus, cerca de um quarto da população do continente. A Peste Negra provocou uma grande falta de mão-de-obra e os salários aumentaram enormemente: na Inglaterra um trabalhador passou a receber cerca de cinquenta por cento mais, e as mulheres cem por cento. O resultado foi o fortaleci­mento da posição dos trabalhadores e um mais rápido fim para o sistema feudal, em que se baseava a sociedade medieval.

A LIGA HANSEÁTICA

Os comerciantes da Idade Média formavam associações para mútua protecção, por vezes compostas por mercadores de uma mesma cidade. Na Alemanha, uma organização deste tipo era conhecida pelo nome de Hansa, e os comerciantes alemães dos anos 1100 estabeleceram muitas delas nos mais importantes portos do Báltico e do mar do norte.

Gradualmente, as Hansas de diversas cidades começaram a estabelecer ligações entre si por razões comerciais, até que sob a liderança de duas cidades, Lubeque e Colónia, formaram a poderosa Liga Hanseática, uma aliança de quase cem cidades. Nos seus melhores dias a Liga dominou o comércio externo da Dinamarca, Noruega e Suécia, e quase dominou o de Londres. Qualquer cidade que se recusasse a fazer con­cessões comerciais à Liga via o seu próprio comércio boicotado em to­dos os sítios onde a organização tinha influência.

A Liga Hanseática começou a perder o seu poder no fim dos anos de 1400 face à forte competição de outros países, desaparecendo practicamente nos anos de 1600.

JOÂO DE GANTE

João de Gante, pai de D.Filipa de Lencastre, foi um príncipe inglês que teve uma grande importância na política inglesa durante a segunda metade do século XIV. Terceiro filho sobrevivente de Eduardo III, nasceu em Gante, na Flandres.

João foi feito conde de Richmond e casou com D.Branca, filho do duque de Lencastre. Depois da morte deste, João herdou-lhe as propriedades e o título. D.Branca morreu em 1369 e dois anos depois João casou com Constança, filha de D.Pedro I de Castela e Leão. Nessa altura João era o virtual governante da Inglaterra porque Eduardo III estava a ficar senil e o seu herdeiro, Eduardo, o Príncipe Negro, se encon­trava doente. Cerca de 1377 os dois Eduardos, deixando o filho do Príncipe Negro, Ricardo II, apenas com dez anos de idade, a ocupar o trono. João foi regente do reino.

De 1386 a 1388 João empreendeu uma expedição a Castela para tentar derrubar o seu governante, João I, cujo pai assassinara Pedro e usurpara o trono. A expedição falhou e João regressou a Inglaterra, onde a sua lealdade para com o sobrinho teve um grande papel na manutenção do trono de um Ricardo II quase incapaz.

Constança viveu até 1394, mas nos anos de 1370 João teve vários filhos de Catarina Swindford, que se pensa ter sido nora do poeta e diplomata Geoffrey Chaucer. Depois da morte de Constança, João casou com Catarina e legitimou os filhos, os Beauforts.

Foi através dos Beauforts que Henrique VII se apresentou mais tarde como pretendente ao trono.

Depois da morte de João de Gante em 1399, o seu filho Henrique, do primeiro casamento, derrubou o seu primo Ricardo II e subiu ao trono como Henrique IV.

A DINASTIA MING

A dinastia Ming que subiu ao poder na China com os reis guerreiros Gengiscão e Cublaicão terminou numa época de fraqueza e dissipação. O último imperador mongol, Sun Ti, era supersticioso e imoral. Uma má administração e um par de anos de fome levaram a uma revolta geral, conduzida por Chu Yuan-Chang, o filho de um camponês, que se fizera monge. Depois de treze anos de lutas tomou a capital e procla­mou uma nova dinastia, a Ming, que quer dizer "brilho", em 1368. Os seus trinta anos de reinado como imperador Tai Tsu devolveram a ordem ao reino.

O terceiro imperador Ming, Cheng Tsu, reconstruiu a Grande Muralha erigiu muitos dos grandes palácios de Pequim. Os últimos anos desta dinastia foram marcados por maus governos; em 1644 os Manchus, da Manchúria ultrapassaram a Grande Muralha e derrubaram a dinastia Ming.

O GRANDE CISMA

Quando o papa Urbano V decidiu que o Papado deveria regressar a Roma depois de um longo exílio em Avinhão, descobriu que Roma se encon trava num estado de miséria e regressou de novo a França. O seu su­cessor Gregório XI, também visitou Roma, onde morreu em 1378, mas manteve a sede papal em Avinhão. Sob a pressão da opinião pública, os

cardeais elegeram um papa italiano, Urbano VI, que se mostrou cruel e autocrático.

Alguns meses mais tarde treze cardeais abandonaram Roma às escon-didas e encontraram-se em Fondi, entre Roma e Nápoles, e elegeram um papa rival, Clemente VII. Isto dividiu a Igreja no que é agora conhe­cido como o Grande Cisma. Clemente e o seu sucessor, Benedito XIII, eleito em 1394, tinham a sua sede em Avinhão e são em geral denomina- dos de "antipapas", ou seja, papas incorrectamente eleitos. A França, a Escócia e partes da Alemanha e da Itália sob influência francesa, reconheceram os papas de Avinhão, enquanto outros reconheceram os papas de Roma.

Em 1409 o Colégio dos Cardeais convocou o Concílio de Pisa, com­posto por quinhentos delegados de toda a Europa. O Concílio depôs formalmente os dois papas e elegeu outro, Alexandre V. No entanto, os outros dois recusaram-se à resignação e o Cisma passou a ser triplo.

Alexandre V morreu em 1410 e o seu sucessor, João XXIII, mostrou ser outro homem pouco escrupuloso, sendo finalmente deposto pelo Concílio de Constança, em 1417, que também persuadiu o papa de Roma, Gregório XII, a resignar, e obteve o apoio dos seguidores de Benedito XIII de Avinhão. Foi escolhido um novo papa, Martinho V, terminando assim o Grande Cisma.

D. HENRIQUE, "O NAVEGADOR"

O príncipe D.Henrique, o Navegador (1394-1460), terceiro filho do rei D.João I de Portugal, tomou parte na campanha que em 1415 conquistou Ceuta, no Norte de África, aos Mouros. Esta expedição despertou o interesse de D.Henrique pela África e pelas explorações.

A partir de 1419, D.Henrique enviou uma série de expedições marítimas ao longo da costa ocidental de África. Ele próprio participou em uma ou duas viagens, mas passou a maior parte do tempo organizando e financiando os navios de exploração. Cerca de 1439 retirou-se para Sagres,no Sul de Portugal, onde, segundo, velha tradição, fundou uma escola de navegação e um observatório astronómico. Reuniu uma equipade geógrafos e navegadores e desenvolveu navios apropriados para viagens de exploração.

Antes de D.Henrique começar a sua campanha, o mais longe que os portugueses haviam chegado era ao Cabo Bojador, em frente das ilhas Canárias. Quando morreu, um dos seus capitães, Pedro de Sintra, tinha já atingido as costas da actual Serra Leoa.

Naqueles tempos muita gente acreditava que mais para o sul o mar fervia ou que os navios podiam cair pelo rebordo da Terra. Uma das principais realizações de D.Henrique foi o ter conseguido acabar com esses medos entre os seus homens.

O FIM DE BIZÂNCIO

Cerca do ano 1300 um líder turco chamado Osmão fundou um principado na costa do mar Negro, na Ásia Menor. Os seus seguidores e sucessores, conhecidos por Otomanos, estenderam gradualmente as suas conquistas pela Ásia Menor e penetraram na Europa em 1345, para ajudarem o imperador bizantino João cantacuzeno numa guerra civil.

Uma vez na Europa, os Turcos Otomanos aumentaram rapidamente as suas possessões. Em 1400, depois de uma série de campanhas, tinham conquistado a Macedónia, Sérvia e Bulgária, e reduzido o Império Bizantino a uma pequena região em volta de Bizâncio (Constantinopla) com umas dimensões mais ou menos semelhantes à Turquia europeia dos nossos dias.

Bizâncio salvou-se durante algum tempo por causa do conquistador mongol Tamerlão (Timur, o Coxo) um descendente de Gengiscão. Este ocupou a maior parte do território otomano em 1402, e depois da sua morte a guerra civil assolou o Império Otomano. Porém, em 1453, o cruel sultão otomano Moamede II, o Conquistador, que ascendera ao trono dois anos antes cercou Constantinopla com cento e cinquenta mil homens.

A cidade foi bombardeada por uma grande força de artilharia duran te seis semanas e depois atacada por três lados por forças turcas, em terra e por mar. O último imperador bizantino, Constantino XI, tinha apenas oito mil homens. Mesmo assim as tremendas fortificações permitiram-lhes resistir durante cinquenta e quatro dias, antes dos Turcos entrarem na cidade e e matarem Constantino. Depois de três dias de massacres e saques, os Turcos começaram a converter a cidade numa capital para o seu império, e mudaram-lhe o nome para Istambul.

A queda de Constantinopla é geralmente considerada como assinalando o fim da Idade Média. Muitos dos sábios de Constantinopla fugi­ram para o Ocidente, encorajando o renascimento da cultura e dos co­nhecimentos clássicos, época que ficou a ser conhecida por Renascen­ça.