AS PAIXÕES DE SALAZAR

Poucos conhecem a vida íntima de Salazar. A poucos dias do centenário do seu nascimento, aqui se recordam os seus amores que o afastaram do seminário mas não afastaram do poder.

As paixões

de Salazar

Ao contrário do que muita gente pensa, as mulhers formam uma contante na vida de Salazar, desde a juventude. Talvez essa tenha sido, aliás, uma das razões porque não prosseguiu a carreira eclesiástica. O seu primeiro devaneio sentimental vem dos tempos do seminário, em Viseu, onde namorava às escondidas com uma bonita professora de instrução primária, dois ou três anos mais velha, chamada Felismina. Encontravam-se principalmente à noite, e por vezes até no próprio Seminário. O derriço durou alguns anos.

Em Coimbra, desde estudante que convivia com belas moças. Era sedutor e facilmente conquistava as atenções femininas. chegou mesmo a pensar com Júli Perestrelo, a “Julinha”, filha da sua madrinha Maria Perestrelo, mas esta não aprovara o namoro com o filho do feitor da casa.

Merece também destaque a relação que manteve com Glória Castanheira, pianista amadora de mérito e uma das suas maiores admiradoras, que durante largo tempo lhe prendeu as atenções e por quem era muito requestado. Outras havia: Maria Luísa Sobral, Alda Pais, Palmira, Alice, Maria Helena - para só citar as que primeiro constituiram o seu círculo feminino.

A grande paixão

Mais tarde, já presidente do Conselho e com mais de 50 anos, mantém estreita ligação com Carolina Asseca, viúva jovem, aristocrática, por quem se chegou a pensar que Salazar abandonaria a política para se casar e ir viver para as suas terras da Beira.

Mas a sua paixão mais profunda, ou pelo menos a que melhor se conhece, foi pela escritora e jornalista francesa Christine Garnier, que conheceu quando ela tinha ainda pouco mais de 35 anos. Recebeu-a no Forte de Santo António do Estoril, onde passava as férias no verão de 1951. Desde então, os encontros, embora espaçados e esporádicos sucederam-se durante alguns anos, assim como as cartas, as lembranças, os telefonemas e, até, os retratos. Christine escreveu mesmo um livro que teve repercussão na Europa - “Férias com Salazar” -, mas o romance acabou por não vingar, muito embora tenha permanecido a amizade. A escritora acabou por casar e veio a Lisboa apresentar o marido ao presidente do Conselho.

È impossível, em espaço reduzido, dar uma ideia completa da biografia de um homem desta dimensão. Correndo os riscos inerentes seleccionámos alguns aspectos, pouco conhecidos, que caracterizam facetas da sua personalidade, recorrendo a depoimentos de amigos e colaboradores, relatados na já citada obra do embaixador Franco Nogueira e no álbum-fotografia coordenado pelo escritor e jornalista Manuel Maria Múrias e publicado pela editora Referendo, de Paradela de Abreu. Este livro, intitulado “Salazar - Edição do centenário”, vai ser lançado dentro de dias, e o editor concedeu à Sábado o exclusivo desta primeira referência e algumas fotos das 130 (cerca de 70 inéditas) que constituem o álbum, bem como extracto de um poema também inédito de, António Lopes Ribeiro, escrito três dias depois do funeral de Salazar.

Um respeito obsessivo...

Salazar respeitava as leis quase até ao exagero. Muitos episódios se podem contar sobre o assunto. Um que possívelmente poucos saberão é o facto de o chefe do Governo ter pedido uma licença que o autorizava a andar junto às linhas de caminho de ferro. Essa circulação junto às linhas do comboio era proibida, mas Salazar gostava muito de passear na via férrea sempre que ia a Santa Comba Dão. Andar a pé era uma das suas duistracções favoritas e para poder fazê-lo, sem transgredir o que estava estabelecido, pediu a licença à CP que, naturalmente, lha concedeu.

Por volta dos anos 40, perto de Santa Comba Dão, construiu-se a barragem da Aguieira, que acabaria por submergir uma ponte sobre o rio Dão, que Duarte Pacheco inaugurara e a que fora dado o nome de “Salazar”. Vêm pedir-lhe para interceder e opor-se a que tal aconteça, mas este lamenta e explica que nada pode fazer por não ser ministro da Obras Públicas. E a ponte acaba por ser submersa.

Outro caso: quando chegaram a Portugal as obras de arte legadas por Gulbenkian á Fundação que criara em Portugal, a Alfândega não deixou que as levantassem sem pagar os respectivos direitos, que, como se calcula, seriam elevadissímos. Argumentou-se com o destino que ia ser dado àquele legado, mas a tudo as autoridades seriam insensíveis. Então resolveu-se recorrer ao presidente do Conselho. Este concordou interiramente com as razões que assistiam aos representantes da Fundação, mas lamentou nada poder fazer porque não era ministro das Finanças. E não interveio, muito embora depois se tivesse encontrado uam solução para o problema.

Figura controversa

Como político, como estadista, António de Oliveira Salazaré uma figura controversa, com admiradores e discordantes radicais. Todos, porém reconhecem o valor da obra que empreendeu no saneamento da economia portuguesa,no restabelecimento da paz e da ordem no País, após quase um século de permanentes revoluções e endividmento das finanças públicas.

Unânime é também o apreço pela acção que desenvolve durante os três anos da Guerra civil espanhola e durante a II Guerra Mundial, em que teve de usar todo o tacto diplomático para impedir que os Ingleses, Americanos e Italianos, além dos Alemães, ocupassem os Açores, a Madeira e Cabo Verde.

Santos da casa não fazem milagres, mas é incontestável o prestígio que Salazar conquistou junto dos grandes do mundo seus contemporâneos, que não lhe pouparam elogios: Pio XII, Churchill, Franco, Alcide de Gaspieri, Antoine de Pinay, Juscelino Kubitscheck, Dean Acheson, Konrad Adenauer, Spellman e muitos mais. Prova ainda desse prestígio é o facto de a centenária Universidade de Oxford lhe ter atribuído o doutoramento honoris causa e lho ter entregue sem que o doutorando se deslocasse a Inglaterra. Não foi Salazar a Oxford, mas esta que veio a Coimbra, com a anuência do governo de Londres, entregar-lhe as insígnias de doutor em leis. A cerimónia decorreu com toda a pompa na Sala do senado da Universidade coimbrã, a 19 de Abril de 1941.