RENASCIMENTO

RENASCIMENTO

O uso do nome de renascimento para o período que se estende de 1300 a cerca de 1650 é discutível do ponto de vista da exactidão histórica, pois supõe a perda de interesse, durante a Idade Média, pela cultura clássica, o que é incorrecto, como atestam a obra de autores como Dante, John of Salisbury ou as “carmina burana” (os poemas monásticos dos manuscritos encontrados no Mosteiro de São benedito, na Alemanha). Na verdade, o renascimento dos séculos XV e XVI foi a culminação de uma pequena série de renascimentos, cujo início não pode ser localizado já no século XI, e que abrangeram não só o desenvolvimento das artes, dentro de moldes clássicos, mas também, importantes realizações no campo da ciência, da política, da pedagogia, da religião. Além disso, o renascimento assistiu ao fortalecimento de certas ideias e atitudes dominantes, que viriam a marcar profundamente o mundo moderno: o hedonismo, o naturalismo, o individualismo e, no sentido mais amplo, o humanismo, ou seja, a glorificação do que é humano e natural, em oposição ao que ´+e divino e extraterreno.

Causas principais - A influencias das civilizações sarracena e bizantina; o surto de um comércio florescente; o crescimento das cidades; a renovação do interesse pelos estudos clássicos as escolas dos mosteiros e das catedrais, o desenvolvimento de uma atitude filosófica crítica e céptica (Abélard, Roscelin); abandono progressivo do misticismo e ascetismo que tinham marcado a Idade Média; a inovação introduzida na filosofia europeia pelos estudos sistemáticos da obra aristotélica; o desenvolvimento do espírito da pesquisa científica; a estas acrescente-se a invenção da imprensa que, se não for um causa directa - na época do seu aparecimento, o renascimento já estava em plena expansão -, pelo menos serviu para expandir e acelerar o movimento na sua fase avançada.

Renascimento na Itália - O movimento inicia-se na Itália, de onde se irradia para o resto da Europa, pois na península itálica as tradições clássicas eram mais vigorosas do que em todo o resto do continente, além do que, a cultura italiana tinha uma feição mais profundamente secular do que a dos demais países do Ocidente; além disso, para desfrutar do monopólio virtual do comércio com o Oriente, a Itália sofreu pressão directa das influências culturais bizantinas e sarracenas. Podem-se distinguir três fases principais:

O Trecento (século XIV), fase da transição ainda muito próxima da mentalidade e das tradições medievais, marcada pelo seu espírito religioso (Petrarca, Giotto), mas já contendo protestos contra os ideias ascéticos e a valorização dos prazeres materiais (Boccaccio).

O Quatrocento (século XV), caracterizado pelo renovescimento da literatura em latim e pela intensificação dos contactos com Constantinopla.

O Cinquecento (século XVI), época da fusão de influências clássicas e modernas, e de maior desenvolvimento da poesia (Ariosto), da historiografia (Maquiavel, Guicciardini) e sobretudo das artes plásticas. Além de Leonardo da Vinci a cuja obra pertence também o período precedente, surgem Ticiano, Tintoretto, Rafael e os escultores Galileu Galilei que contesta o sistema ptolomaico, e os anatomistas Falópio, Eustáquio e André Vesálio. na Itália estudaram também o espanhol Miguel Servet e o inglês William Harvey, cujos estudos paralelos descobriram a circulação sanguínea.

Expansão do Renascimento - Através dos estudantes que frequentam as Universidades italianas, o movimento irradia-se pela Europa. Na Alemanha os ideais humanistas enraízam-se firmemente nos meios universitários de Heidelberg, Erfurt e Colónia, e alimentam as polémicas religiosas e políticas da época da reforma protestante; nas artes plásticas salientaram-se Albert Durer e Hans Holbein; e nas ciências Johann Kepler, que desenvolveu as teorias de Copérnico e Galileu e Paracelso, cujas pesquisas foram muito importantes para a história da química. a enorme prosperidade comercial dos Países Baixos fez com que, apesar da dominação estrangeira, eles se tornassem um grande centro cultural: tem maior destaque a obra filosófica de Erasmo de Roterdão e as pesquisas plásticas de pintores como Hans Memlig, Rogier Van der Weyden, Jan van Eycke e Pieter Brueghel, que desenvolvem a pintura a óleo. Em França, destacam-se na literatura, François Rabelais e os poetas Pierre de Ronsard e Joachim du Bellay, em filosofia, o ensaísta Michel de Montaigne, e nas ciências, o matemático François Viéte e o cirurgião Ambroise Paré. Em Espanha, o espírito naturalista foi bastante travado pela enorme ascendência da Igreja e da Santa Inquisição; o sentimento religioso continua impregnando a obra de pintores como El Greco, e teatro de Lope de Vega. A obra de Miguel Cervantes já é da transição entre o renascimento e o Barroco.

Na Inglaterra, o espírito humanista desenvolveu-se principalmente durante o período dito elisabetiano (o do reinado de Elizabeth I), e produziu filósofos como sir Thomas More e sir Francis Bacon e dramaturgos como Christopher Marlowe, Ben Jonson e William Shakespeare, igual florescimento não se verificou nas artes plásticas, em virtude da influência refreadora do calvinismo.