Sobre o iene

Data de postagem: 27/09/2010 12:50:16

24 de setembro de 2010 | 17h29 (www.estadao.com.br)

Paul Krugman

Todas as teorias ultrapassadas e equivocadas estão voltando à moda. Enquanto os macroeconomistas americanos reinventam a Visão do Tesouro, a China está redescobrindo o estruturalismo ao estilo latino-americano – a crença há muito desmentida de que a taxa de câmbio em nada influencia o equilíbrio comercial. Como prova, eles citam a alta do iene na década de 80 e seu suposto fracasso em prejudicar o excedente do Japão.

Ok, vamos nos aprofundar em alguns pontos. Primeiro, como aponta Dean Baker, temos de levar em consideração que a inflação relativamente baixa do Japão erode constantemente o efeito de qualquer alta na competitividade do iene. Eis aqui o registro da taxa de câmbio real e efetiva feito pelo Banco Central japonês:

Foram muitos anos de valorização, mas seu efeito em termos reais não foi tão expressivo.

Segundo, há outros fatores envolvidos além da taxa de câmbio, especialmente as flutuações no preço do petróleo e de outras commodities. Pensando no longo prazo, temos as mudanças estruturais.

Terceiro, o efeito da taxa de câmbio nos fluxos comerciais é sentido com certo atraso – isso não é novidade, e sim uma observação estabelecida há muito tempo. O atraso típico entre uma mudança no câmbio do dólar e o momento em que seu efeito é sentido no equilíbrio comercial americano costuma ser de dois anos.

Podemos compreender melhor se analisarmos as exportações líquidas reais do Japão – exportações menos importações calculadas a preços constantes. Calculadas enquanto parcela do PIB, sua história se assemelha ao seguinte:

Como vemos, a posição comercial do Japão mudou pouquíssimo após a grande alta do iene de 1985-7 – ela recuou, ainda que com certo atraso. Voltou a cair após a grande alta do iene de meados da década de 90.

Obviamente, há muitos outros fatores envolvidos além da taxa de câmbio. Mas na experiência japonesa não há nada sugerindo que a taxa de câmbio não influencia a situação.