Data de postagem: 04/01/2011 19:02:07
Novo modelo de gestão escolar
Graças a uma parceria com o Instituto Itaú Social e o Instituto Fernand Braudel, o governo
do Estado de São Paulo vai começar a testar, na rede de ensino fundamental, o modelo de
gestão escolar que foi adotado há oito anos pela Prefeitura de Nova York e que vem, desde
então, apresentando excelentes resultados. A ideia da Secretaria Estadual de Educação é
aplicá-lo inicialmente nos dez colégios da capital com os piores resultados nas avaliações
oficiais. Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), metade dos alunos da
quarta série dessas escolas não consegue ler um texto simples e tem dificuldades para fazer as
quatro operações aritméticas.
Em seguida, a Secretaria da Educação quer estender o modelo para todos os colégios
situados nos bairros mais carentes da zona leste, oferecendo apoio técnico, supervisionando o
trabalho pedagógico, aumentando o controle sobre as frequências dos docentes e estudantes e
estimulando os diretores e os professores a se envolverem cada vez mais com os pais dos
alunos. Como essas escolas estão localizadas em áreas problemáticas, a Secretaria pretende
registrar todos os casos de violência e pedir providências urgentes aos órgãos policiais. O
objetivo é que os diretores de cada colégio passem a se responsabilizar pelo aprendizado dos
alunos e a prestar contas dos resultados de sua gestão.
A reforma escolar de Nova York - cujos colégios públicos tinham salas superlotadas, tinham
um alto número de estudantes acima da idade adequada para a série, seguiam currículos
defasados, apresentavam altas taxas de repetência e evasão e baixos índices de conclusão de
curso e frequentemente eram palco de conflitos de gangues - começou a ser implementada
durante a gestão do prefeito Michael Bloomberg, em 2001. As escolas mais problemáticas
estavam situadas nas áreas mais pobres, principalmente no sul do Bronx e no Queens, que são
bairros de imigrantes.
O modelo adotado por Bloomberg para recuperar o sistema educacional novaiorquino, que
fora reduzido a escombros após sucessivos governos populistas, introduziu importantes
inovações. Uma delas foi o aumento dos salários dos professores e a concessão de estímulos
financeiros para que morassem próximo do local de trabalho, o que atraiu profissionais
qualificados de todo o País. Foram ampliadas as prerrogativas dos diretores, que passaram a
ter liberdade para gerir recursos, elaborar currículos, demitir professores faltosos ou
desmotivados e escolher serviços de apoio. Também foram criadas equipes de coordenadores
encarregadas de desenvolver uma cultura de respeito mútuo entre estudantes, bem como
equipes de segurança com a incumbência de identificar pontos de tensão nos corredores e
escadarias, antes que a situação saísse do controle.
Os diretores também passaram a ser avaliados e os que apresentavam desempenho
considerado insatisfatório eram advertidos. Os que não conseguiram mostrar progressos foram
sendo demitidos. Além disso, foi criada uma "Academia de Liderança", um programa de
treinamento rápido para aspirantes a diretor, que paga diretores experientes para serem
mentores e instrutores. E, com apoio de organizações não-governamentais, a rede escolar
novaiorquina passou a recrutar jovens talentos recém-formados nas universidades para lecionar
as matérias para as quais é difícil encontrar professores. Cada aluno passou a ser testado
quatro ou cinco vezes ao ano, para avaliar seu progresso individual e identificar problemas de
aprendizagem. Os estudantes disfuncionais passaram a ser tratados com maior rigor e os pais
passaram a ser chamados para ajudar na aplicação das sanções disciplinares.
Com essas medidas, a violência diminuiu e o aproveitamento escolar aumentou. O sucesso
dessa política foi estudado pelo diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel, Norman Gall,
que a relatou em artigos publicados no Estado no ano passado e, com apoio financeiro do
Instituto Itaú Social, formulou um projeto para sua aplicação no Brasil, que o governo paulista
encampou. Ainda que a experiência possa esbarrar em eventuais obstáculos jurídicos e
resistências dos sindicatos de professores, a iniciativa não poderia ser mais oportuna.
Opinião
Sexta-feira, 09 de janeiro de 2009