9.1.3. Ruysbroek

Ruysbroek

Quando os begardos compraram a briga em oposição à igreja, suas existências como sociedades não foi mais possível. Em Colônia, seu quartel-general, muitos foram mandados para Rhine, e alguns queimados na estaca; enquanto em toda a Alemanha e Holanda a igreja promovia contra eles uma guerra de extermínio. De seus poucos remanescentes floresceu uma nova fraternidade mística como eles tinham sido, e como eles também celebravam, eram valorizados pela seu pietismo e trabalhos benevolentes. Essa foi a Fraternidade dos Irmãos da Vida Comum. Mas entre os begardos e sua nova fraternidade havia um famoso místico, de quem o Dr. Ullmann aponta como sendo “uma transição entre eles.” Este foi Jan Van Ruysbroek, que tem sido mencionado desse modo. Ele nasceu belga, mas em sua mente e caráter era um alemão. Ele estava destinado a exercer uma grande influência nos escritores místicos que imediatamente precederam a Reforma. A primeira aparição de Ruysbroek foi como um oponente das extravagâncias dos begardos, dos quais, como ele mesmo intimava, ele diferia materialmente. Eckart dizia que Deus e o homem eram um “pela natureza”. Ruysbroek não iria admitir isso, mas tentou mostrar como o homem pode tornar-se um com Deus através da contemplação e purificação da alma; porém essa união, ele continuamente repetia, era tal que o caráter que o homem tem não deveria perder sua existência independente ou se dissolver na deidade. “Deus”, ele dizia, “é a essência super-essencial de todo ser, eternamente repousando em si mesmo e, ainda, ao mesmo tempo, princípio movente e vivente de tudo que foi ele que criou. A respeito da sua substância, ele ainda repousa nela, onde não há nem tempo, nem espaço, nem antes, nem depois, nem desejo nem possessão, nem luz, nem trevas. Esse Deus é um em sua natureza e triuno em suas Pessoas. O Pai é o eterno, essencial e princípio pessoal. Ele gera a sabedoria eterna – o Filho; sua imagem pessoal e criada. Da intuição mútua dos dois, floresce uma complacência última, um fogo de amor, que queima para sempre entre o Pai e o Filho; esse é o Divino Espírito Santo, que continuamente procede do Pai e do Filho, e retorna à natureza da Cabeça de Deus. Essa Cabeça de Deus Triuna é transferida num caminho trifurcado em alma humana, que é a sua imagem. A mais profunda raiz e a própria essência repousa para sempre nele. Nós todos a possuímos, como vida eterna, sem nossa própria ação; e prioritária à nossa criação em Deus. Depois da nossa criação, três faculdades tomaram forma na substância da alma; vacuidade sem forma, pela qual nós recebemos o Pai; o mais alto intelecto, pelo qual nós recebemos do Filho; e a chispa da alma, pelo qual recebemos do Divino Espírito Santo, e que se torna um espírito e um amor com Deus.”

O homem tendo precedido de Deus, está destinado à retornar e tornar-se um com ele de novo. Mas isto ocorre de tal maneira que Deus nunca deixa de ser Deus; nem a criatura de ser uma criatura. Este é um sentimento sempre repetido; mas a intensidade com que Ruysbroek expressa essa união o trai, como se ele inconscientemente entrasse na linguagem dos begardos. Ele admitira, como veremos adiante, que o homem tem a raiz do seu ser em Deus, e falando do retorno da alma à fonte divina, ele diz: “O espírito se torna muito verdade onde ele apreende. Deus é apreendido por Deus. Nós nos tornamos um com a mesma luz com a qual ele vê, e com ambas o meio e o objeto da sua visão.”

Dr. Ullmann, enquanto admitia o significado dúbio de algumas passagens como essa, ainda, sustenta ardentemente que Ruysbroek não era panteísta. O grau do seu argumento é que Ruysbroek, enquanto reconhecendo a imanência de Deus no mundo, nunca falhou em assegurar que ele também transcende o mundo. Ele abarca o universo; lida com todas as mentes criadas originalmente, e une a si mesmo da mais próxima maneira ao pietismo da alma; ainda que repouse eternamente em sua própria essência e, independentemente do mundo, possua e goze a si mesmo na Cabeça de Deus e em suas Pessoas.

No lado prático do misticismo de Ruysbroek, Dr. Ullmann traça o estabelecimento da “Fraternidade da Vida Comum”, e, por outro lado, o contemplativo, ele vê a continuidade do misticismo que teve a posição culminante em Eckart.

(Livre Tradução do livro Pantheism and Christianity de John Hunt, 1884 . Capítulo X . Místicos . Ruysbroek)