9.1.2. Mestre Eckart

Mestre Eckart

Jonh Eckart, provinciano da ordem dos Dominicanos, a mais famosa das ordens místicas alemãs é supostamente classificado como tendo sido um begrard; mas não há evidência entre os apreciadores das suas doutrinas das proposições condenadas pela bula de João XXII e, também não há relato dos beghards, que eram numerosos na Alemanha nessa época, terem apelado aos seus escritos como confirmando suas doutrinas. Eckart tinha sido um professor em Paris, onde a influência de Abelardo, William de Champeaux e Amalric de Bena poderia apenas escassamente ter terminado. Ele estava familiarizado com os trabalhos do Arepagita e Scotus Erígena; os filósofos neoplatonistas e, acima de todos, Platão, o qual ele sempre cita e a quem ele chama “o grande clérigo”. Ele não estava consciente de que ensinava nada diferente das doutrinas da igreja católica, supondo que o platonismo e o neoplatonismo sejam compatíveis com o cristianismo. Na sua crença ele estava aferrado com a fé católica até a última hora, embora tenha sido condenado em Colônia pelo arcebispo, e embora sua condenação tenha sido confirmada pelo Papa.

A teologia de Eckart pode ser aprendida de algumas passagens dos seus sermões. “Tudo que é a Cabeça de Deus”, ele diz, “é um; embora nós não possamos dizer nada a respeito.” Está acima de todos os nomes e acima de toda a natureza. A essência de todas as criaturas está eternamente numa vida divina na divindade. Deus trabalha, mas não sua Cabeça. Eis porque se distingue em trabalhar e não trabalhar. O fim de todas as coisas é a escuridão escondida ou Cabeça eterna; desconhecida, e nunca será conhecida.” Aqui nós temos a escuridão escondida como o mesmo que o Abismo de luz de Dionísio; e a Cabeça de Deus, que está acima do ser e, apenas se torna Deus como trabalha e cria. Na Cabeça de Deus, criador e criatura são um; mas quando a criatura se torna a criatura, Deus se torna Deus. “Em si mesmo”, diz Eckart em outra parte, “ele não é Deus na criatura apenas dota do que o torna Deus. Eu pergunto para ser parte de Deus, que é Deus por sua graça, poderia dar-me na sua essência que está acima de Deus e acima de distinção, eu poderia entrar nessa eterna unidade que era o que eu poderia ser, e poderia ser o que eu era; nesse estado que está acima de toda adição ou diminuição, na imobilidade onde tudo em todo lugar pode se mover.”

Ser parte de Deus, em ordem com sua bem-aventurança, é aparentemente uma contradição com o sistema que faz o homem um com Deus; mas o significado que Eckart quer dizer nunca é obscuro. Ele clama por um retorno à fonte da Cabeça de Deus, quando ainda Deus não se distinguia da Cabeça de Deus. Em outra passagem, ele diz, “Em todo homem que tenha abandonado inteiramente o self, Deus deve comunicar a si mesmo de acordo com todo o seu poder, tão completamente que ele não retenha nada em sua vida, em sua essência, na Cabeça de Deus ele deve comunicar toda a dádiva do fruto.” E de novo, “Quando a vontade estiver tão unida ao começo de um em si mesmo, então o Pai celeste produzirá seu único Filho em si mesmo e em mim, eu sou um com ele. Ele não pode me excluir. Nessa mesma em-si-mesma operação, o Espírito Santo dota e recebe sua existência e procede de mim, assim como de Deus. Onde? Eu estou em Deus e se o Espírito Santo não derivar de mim, não derivará de Deus. Eu não serei de forma nenhuma excluído.”

Em outras partes ele declara sua essência com a divindade, “Deus e eu somos um em conhecimento, a essência de Deus é seu conhecimento e o conhecimento de Deus me faz conhecê-lo. No entanto, em seu saber, eu o sei. O olho que tudo vê e que eu vejo Deus é o mesmo olho que tudo vê, e que ele me vê, meu olho e o olho de Deus são um olho, uma visão, um conhecimento, um amor.”

“Há alguma coisa na alma que está acima da alma divina, simples, um absoluto nada; nem nomeado nem não nomeado; desconhecido e conhecido. Desde quando meu olhar viu alguma coisa, desde quando meu conhecimento soube um pouco que havia, como minha boca sabia que cor era, ou como meu olho sabia que gosto tinha. Disso eu gostaria de falar em meus sermões e, algumas vezes, tenho chamado isto de poder, algumas vezes de luz incriada e algumas vezes de chispa divina. Ela é absoluta e livre de todas as formas, como Deus é livre e absoluto em si mesmo. É maior do que o conhecimento, maior do que o amor, maior do que a graça, para tudo, é ainda distinção. Em seu poder, dotou de desenvolvimento e floresceu Deus com toda a Cabeça de Deus e a alma floresceu em Deus. Em seu poder dotou o Pai e ele deu seu único Filho, como essencialmente em si mesmo, e em sua luz iluminou o Espírito Santo. Essa chispa rejeitou todas as criaturas e teve apenas Deus, simplesmente como ele em si mesmo. Ela não se satisfez nem com o Pai, nem com o Filho, nem com o Espírito Santo, nem com as três Pessoas, bem como com cada existência em seus respectivos atributos. Eu direi que isto soa mais maravilhoso ainda. Essa luz se satisfez apenas com a essência super-essencial. Ela é benta em entrar no estágio simples, e ainda espera onde não há distinção nem entre o Pai, o Filho nem o Espírito Santo; na unidade onde nenhum homem está. Então, se satisfez com a luz, quando foi um; quando foi um em si mesmo – com o estágio como simples estágio, em si mesmo imovível e, ainda, por essa imobilidade, todas as coisas movíveis.”

“Deus é o puro bem em si mesmo, e não está em nenhum lugar, ele é o espírito puro. Há nele algo fora, no qual ele pode florescer. O que é a pureza? É o homem que deve se tornar independente de todas as criaturas e deve levar seu coração inteiramente no puro bem, que nenhuma criatura esteja com ele para lhe dar conforto; que nenhum desejo seja aprendido criaturamente tão logo ele tenha aprendido isto, o puro bem, que é Deus. E um pequeno brilho no olho pode durar para sempre, entre isto e Deus. Para isto todas as criaturas são puras para adorar, para adorar todas as criaturas em Deus e Deus em todas as criaturas. Sim, tão puro que esta alma, que ela viu entre ela mesma. Ela não precisa procurar Deus fora, ele encontra nela mesma quando, em sua natural pureza, ela floresce fora da supernatural, da pura Cabeça de Deus. E ela está em Deus e Deus nela; e o que ela dota, ela dota em Deus, e o que Deus dota está nela.

“Eu tenho um poder na minha alma que me confere perceber Deus e eu estou certo tanto quanto que eu vivo, que nada está mais perto de mim do que Deus. Ele está próximo de mim e eu em mim mesmo. A minha alma é parte de sua essência próxima que ele deve presentificar a mim. Ele é também próximo como uma pedra ou uma árvore, mas eles não o conhecem. Se uma árvore pudesse conhecer Deus e perceber sua presença, como o maior dos anjos o perceberia, a árvore seria tão abençoada como o maior dos anjos. E isto porque o homem é capaz de perceber Deus, e conhece-lo como próximo, Deus é, para ele, melhor do que uma árvore.”

“As palavras EU SOU não podem verdadeiramente falar de Deus sozinhas. Ele tem toda a substância de todas as criaturas nele mesmo.” “Ele é um ser que tem todos os seres nele mesmo.” “ Todas as coisas estão em Deus e todas as coisas são de Deus.” “ Todas as criaturas em si mesmas não são nada; todas as criaturas são uma palavra de Deus.” “Poderia você perguntar qual o propósito do Criador quando ele fez a criatura. Eu responderia, repouso. Conscientemente ou inconscientemente todas as criaturas procuram o próprio estado de repouso. A pedra não pode se mover até ser tocada pela terra; o fogo ascende ao céu; assim como uma alma amorosa não pode nunca deixar de repousar em Deus e assim nós podemos falar de Deus quando ele deu a todas as criaturas seu lugar próprio. Ao peixe, a água; ao pássaro, o ar; às bestas, a terra; à alma, a Cabeça de Deus. As pessoas simples supõe que nós podemos ver Deus, mas se ele parasse em nossa frente desse lado, nós estaríamos nele. Não é – Deus e eu somos um no ato de percebê-lo.” Concluindo um sermão, num leve voo de eloquência apaixonado, Eckart chora, “Oh, nobre alma! Coloque em suas asas esses pés e voe acima de todas as criaturas e, acima da própria razão; e acima das falanges angélicas; e acima da luz que tem me dado forças e ponha-se no coração de Deus, onde estão escondidas todas as criaturas”.

Eckart pode muito bem perguntar, clamar o que é chamado e geralmente usado no fim do seu sermão, se eles tivessem o entendido, dizendo que não, não poderiam neles mesmos se danar, apenas aqueles que pudessem amar a verdade poderiam conhecê-lo. Não é algo que possa ser pensado fora, pela razão, mas algo que é recebido na intuição da alma, “por vir diretamente do coração de Deus.”

Livre tradução do livro Pantheism and Christianity de John Hunt . 1884 . Capítulo X . Místicos . Mestre Eckart