A Cabala é a tradição secreta dos judeus, que explica o significado escondido das escrituras e contem a verdadeira doutrina esotérica do judaísmo rabínico. A origem da Cabala é desconhecida. A presente coleção de livros que professa e desdobra-se nela é, supostamente, originada entre o primeiro e o segundo século da era cristã; mas no que concerne à data das doutrinas contidas nela, nós não sabemos nada. Os rabis místicos atribuem a Cabala ao anjo Razael, considerado o professor de Adão e dizem que o anjo deu a Adão a Cabala como seu livro de lição no paraíso.
Dele, o livro descende de geração em geração. Noé, leu-o na Arca, Abraão teve-o como um tesouro na sua tenda e, através de Jacó, ele foi transmitido ao povo escolhido. O título da sabedoria nacional, é seu símbolo secreto maçônico. Por sua instrução, Moisés trouxe os judeus para fora do Egito e por sua sabedoria habilidosa, Salomão construiu o templo sem o som de um martelo. Que a coleção de livros que nós possuímos seja a Cabala original, pode ser verdade, embora sua sabedoria em muito deva às escolas de Alexandria. A semelhança da teologia da Cabala em alguns pontos com a de Zoroastro, sugere o tempo de cativeiro como a data provável da origem das suas últimas partes; mas uma semelhança desse tipo não prova nada. Seus mais próximos parentescos são os escritos de Philo e são do mesmo intrínseco mérito.
O todo concebível do universo do ser, espiritual e material é um. Ele procede do Um, e o processo dessa prossecução é o sujeito da metafísica da Cabala. Isso mostra como todos os espíritos e mundos espirituais estão em um lugar cheios de Deus e como, de outro modo, eles voam no mundo visível e estão conectados com ele. O primeiro dos seres, o ser-chefe é Em-soph; eterno e necessário, o último ou a mais velha das existências. Ele é a unidade absoluta, a essência das essências, o Ser pré-existente. Mas ele não pode ser considerado como uma das coisas que foram criadas, ele é também chamado não-ser. Ele é separado de tudo que é, porque ele é a substância de tudo que é, o princípio de todas as coisas, ambos como potencial e atuante. Antes da criação, ele é Deus concebido movendo-se na escuridão, mas pela criação, ele é Deus revelado, com sua luz no espaço infinito. Ainda não revelado, ele é a fonte não aberta do espírito, da vida e da luz; com suas manifestações próprias, com essas abundâncias fluindo para todos os seres. Ele abriu seus olhos, de acordo com os hieróglifos cabalísticos e, luz, espírito e vida tomaram forma em todos os mundos.
Essa manifestação própria de Deus, essa prossecução, foi criação ou emanação. O poder do Infinito fluiu adiante para dar forma às coisas. O primeiro ato de formação que precedeu a criação foi chamado a palavra ou o discurso de Deus. Ele não era distinto de Deus e do mundo. Prioridade ou antecedente meramente expressam a ordem de sequência. Os cabalistas como Philo, não sabem nada do tempo, mas como existem pela mente humana. Deus e suas manifestações são eternos. A palavra foi o primeiro raio, o original, no qual os princípios da concepção e da produção estavam unidos; o pai e a mãe, princípios do universo atual; o alfa e o ômega, o universo das formas, o primeiro recém-nascido de Deus, e o Criador de todas as coisas; uma vez a imagem do Deus inefável e a forma e o padrão dos mundos visíveis através do qual ele procede como um raio divino em todos os degraus da luz, vida e espírito. Na cabeça dessa gradação está o homem celestial, Adão Kadmon, o antigo ou o primeiro Adão, que é unido ao Infinito e através do primeiro raio e é idêntico a esse raio ou palavra de Deus. Ele é macrocosmo ou mundo grande, o arquétipo do microcosmo ou pequeno mundo. Ele é essa sabedoria, de que foi dita, que o antigo com sua delícia, foi os filhos do homem.
Do Em-soph emana dez sefirots ou círculos luminosos. Eles representam os atributos divinos. Eles manifestam a sabedoria, a perfeição e o poder de Deus. Eles são sua vestimenta: “Ele veste a si mesmo com luz como uma vestimenta.” Através deles, ele se revela. Eles são também chamados os instrumentos pelos quais o supremo Arquiteto emprega na operação da sua incessante atividade. Eles não são, no entanto, instrumentos como os brinquedos de um artesão, que podem ser colocados de lado ou guardados ao seu devido prazer. Eles são como a chama do carvão aceso. Eles vem da essência do Infinito. Eles estão unidos a ele. Como a chama descobre sua força com o que estava no carvão adormecido, assim fazem esses resplandecentes círculos de luz, revelando a glória e a majestade de Deus. Eles vem dele e são dele como o calor é do fogo, como os raios são do sol; mas eles não são distintos do seu ser. Ele não sofre nem problemas nem tristeza quando ele lhes dá existência. Eles não são uma privação do seu ser, são, antes, uma chama de bondade sem perda e sem violência, então o Infinito manda sua emanação aos sefirots. Quando o raio primordial, o primeiro-nascido de Deus, quis criar o universo, ele encontrou duas grandes dificuldades – primeiro, todo o espaço estava cheio dessa brilhante e sutil luz, que vem da essência divina. A palavra criativa deve, por isso, formar um vácuo, para ter lugar o universo. Para isso, ele pressionou a luz que o circundava e dessa compressão de luz pelos lados, deixou um vácuo no centro. A segunda dificuldade é a respeito da natureza da luz. Porque ela é também abundante e muito sutil para a criação ser formada dela.
A palavra criativa, no entanto, fez dez círculos, cada um tornou-se menos luminoso em proporção como tivesse sido removido de si mesmo. Desse modo, vindo do Em-soph para a principal existência, nós temos um universo conectado do ser. A luz infinita é todo Deus. Em sua infinitude estão colocados todos os degraus e todas as ordens da existência. Em torno dele, no qual nós estamos compelidos pela imperfeição do pensamento e discurso para chamá-lo de presença imediata, estão os espíritos puros e a alta esfera. Depois, substâncias espirituais menos perfeitas. Depois ainda, há os anjos ou espíritos vestidos com corpos de luz, que servem ambos como cobertores e carruagens para levá-lo aonde quer que seja sua vontade. Depois espíritos seguidores, aprisionados à matéria, sujeitos às perpétuas modificações do nascimento e da morte. Por último, dessa matéria grossa em si mesma, aqueles cujos corpos humanos e o mundo são compostos, a corrupção da substância divina pura, depravada, com imperfeições do espírito, luz e vida – divinamente obscurecida.
Os cabalistas acreditam na criação, mas apenas no senso da emanação. Eles não encontraram, nas escrituras, que Deus tenha feito o mundo do nada. “Do nada, nada vem” é com eles, uma doutrina estabelecida. Nenhuma coisa pode, eles dizem, vir do nada. Não-existência não pode se tornar existência. Também todas as coisas são eternas, o que eles dizem, é ateísmo ou eles tem emanado da essência divina. Se é objetado como a matéria pode emanar de Deus, eles respondem, é que a matéria não é a existência atual, e isso é uma aniquilação lógica na qual eles não teriam tido menos sucesso do que outros filósofos. A causa eficiente do espírito, deve, eles dizem, produzir o que é semelhante a ele. O seu efeito deve ser uma substância espiritual. É verdade, ainda, que existe algo como matéria grossa, palpável e material, mas sua existência é apenas negativa – uma privação da existência. Como a escuridão é a privação da luz, como o mal é a privação do bem, assim é a matéria como privação do espírito. Bem como se diz que Deus fez a escuridão, o pecado e a morte, como se diz que ele fez as substâncias que nós chamamos de sensíveis e materiais. A conclusão, de tudo isso é, - tudo é uma manifestação de Deus. A palavra divina está manifestando a si mesmo, sempre, em todos os lugares. Anjos e homens, bestas das florestas e pássaros do ar, insetos animados, grãos de areia na praia, átomos dos raios do sol – tudo, tão certo quanto sabemos, existe e tem a sua existência naquele que é divino.