Os ramos védicos
O livro mais velho dos hindus são os Vedas, que são quatro em número. Desses, o mais importante é o Rig Veda. O Atharva é o de origem mais tardia do que os outros três. O Sana, que é o segundo e o Yajur ou terceiro, forma escritos numa imitação do primeiro. O conhecimento dos Vedas foi chamado o conhecimento fundado em três ou, literalmente, o “Veda fundado em três”. No princípio, os Vedas consistiam apenas em mantras ou versos. Para esses foram acrescentados Brahmanas ou prescrições cerimoniais e Upanishads ou reflexões.
A datação dos Vedas é desconhecida, mas as mesmas lendas estão conectadas com eles como os livros sagrados de outras nações. Alguns dizem que eles são eternos e que eles vieram diretamente da boca da divindade Brahma. Não há nada neles que requira inspiração ou que professe ser mais do que a produção de homens comuns; mas é dito de alguns dos versos que, quando recitados, tem o poder de encantar pássaros e animais selvagens. Quando a religião primitiva natural caiu nas mãos dos brâmanes ou padres, eles sozinhos leram e interpretaram com permissão exclusiva como eles deviam sempre ter sido interpretados – ou seja, pela tradição ou o que poderíamos chamar o consentimento da antiguidade católica.
A religião das partes mais antigas dos Vedas é o culto da natureza. Em todo lugar objetos foram as primeiras coisas a inspirar reverência no homem.
“Deus, alma, o mundo,
Do homem primeiro foram Um”
Ele não distinguia-os, pois a era da reflexão ainda não tinha chegado. Seu culto foi o sentimento espontâneo que existia num mundo feliz e belo. A questão sobre se essa crença era monoteísta ou politeísta não tem realmente significado. Não foi nenhuma das duas, ou antes, foi as duas.
Aquela espiritualidade reconhecia uma força viva na natureza, mas essa força, esse poder tornava-se manifestado sob vários fenômenos. Objetos naturais foram louvados como deuses, mas uma divindade podia mostrar ao homem os atributos da outra, e às vezes, todo o poder manifestava-se na natureza.
A crença primitiva foi a crença do Um no Todo, mas sem distinção entre o Um e o Todo.
O primeiro e o último hinos do Rig Veda são endereçados a Agni, o deus do fogo. Agni deve ser chamada como a chefe das divindades do livro, mas em outros hinos outras divindades tomam o lugar de chefes. Na primeira estrofe, Agni é chamado deus, príncipe e pontifício e tesouro do sacrifício. Como deus a quem se devota o sacrifício, ele é tratado como se estivesse presente nos outros deuses, para vir com benevolência como um pai pelo seu filho e para vir como o amigo e o benfeitor daqueles que creêm nele. O primeiro verso da última estrofe é:
“O Agni, generoso mestre!
Você espraiou ao máximo a si mesmo com tudo o que é.
Na habitação dos sacrifícios.
Você cuidou dos fogos.
Torne-nos ricos.”
Agni geralmente aparece como uma divindade ativa e menos como um servidor dos deuses do que como um deus. Os Devas são exortados a protegê-lo, mas com a usual inconsistência da mitologia da natureza, ele é algumas vezes o deus supremo, “superando” como um verso expressa isso, “todos os Devas por sua grandiosidade.”
A próxima divindade mais importante no Rig Veda é Indra, o deus do trovão, que rege os elementos e que traz a chuva para a Terra, fazendo-a frutificar. Ele também aparece como o deus supremo, tendo todos os atributos de poder e bondade. Há estrofes endereçadas em conjunto a Agni e Indra, nas quais ambos possuem as mesmas honrarias. Eles são chamados os mestres de todos os tesouros, celestiais e terrestres e, são solicitados a dividi-los com seus seguidores. Num verso a Indra, ele é chamado como o conquistador poderoso, aquele que “nem a terra nem o ar podem vencer quando armados com o trovão.” Ele é colocado como o cabeça do conflito de todos os deuses e sua carruagem adornada por bonitos cavalos. Ele é novamente descrito como poderoso em todas as regiões, como tendo aberto os céus e a terra, e como sendo o deus no qual todos os mundos repousam.
Alguns estudiosos védicos afirmam que há três divindades chefes nos Vedas – Agni, Indra e Surya, a última sendo o Sol, e todas as outras são as três com outros nomes e em diferentes aspectos. Não há, no entanto, ao que parece, um intervalo suficiente entre os três e os outros deuses que justifique essa inferência.
Nos Vedas, nenhuma divindade é anterior ou posterior à outra. Todas, a todo tempo, podem ter lugar no supremo. A igualdade de dignificação e importância com Agni e Indra é Soma, que é o elemento de oração e adoração em muitos hinos. Soma é o suco da planta-lua usado nos sacrifícios e com o qual, intoxicados, os deuses realizam suas proezas famosas. Em outros hinos, Soma é endereçada como o deus que, compreende em si mesmo, os 33 outros deuses. É acrescentado: “De modo correto todos os homens sagazes se acercam do assento desse deus puro. Ele fez o mundo; ele fez os Céus.”
Toda divindade é, em primeira instância, um objeto natural, ela é então, investida com todos os poderes da natureza; que tem sido descrita como todas as qualidades de todas as coisas reconhecidas pelos sentidos e então, tornam-se o deus supremo, constituindo o Todo da natureza.
Num hino, a suprema divindade é endereçada a Aditi, o Infinito. Ele é o céu, o ar, a mãe, o pai e também o filho. Ele é todos os deuses, bem como as cinco classes de homens; e todo o resto, deve ser omitido, ao se referir ao material necessário da infinitude de deus, ele é adorado como “tudo o que nasceu e tudo o que nascerá.”
Em alguns hinos, Purusha Sukta é o deus que abarca todas as coisas em si mesmo. Ele é toda a natureza personificado como um homem. Ele tem mil cabeças, mil pés, mil olhos. Ele abraça a Terra em todos lados, transcendendo-a por seus dedos. Ele é o que é, o que quer que tenha sido e o que quer que será. Ele é difundido entre todas as coisas, animadas e inanimadas. A lua foi criada do seu espírito, o Sol dos seus olhos; Indra e Agni da sua boca e Vayu do seu fôlego. Os deuses são representados como sacrificando Purusha como vítima, no qual alguns tem inferido que esses hinos são de origem mais tardia, a ideia do sacrifício sendo menos desenvolvida do que se supunha ser nos hinos mais iniciais. No Veda Atharva, atributos similares são atribuídos a Skambha. Esse deus é um ser vasto pensando-se do modo corpóreo, coextensivo com o universo e compreendendo os vários membros das diferentes partes do mundo material. Ele é também os 33 deuses que espraiam da não-existência. A existência é um dos seus membros, do qual ele veio a existir. Os outros deuses são parte dele, como galhos são partes de uma árvore. Eles fazem dele morada e pagam tributo a ele. Ele e Purusha são ambos identificados com Indra, no princípio, aparentemente, com o qual são idênticos com qualquer dos deuses que deveriam, a qualquer tempo, tomar o lugar do supremo.
Indra de novo aparece como Visrakarman e é chamado do mesmo modo. Ele trouxe toda a terra, e mostrou o valor majestoso do Céu. De todos os lados estão seus olhos, suas cabeças, seus braços e seus pés. O deus sozinho trouxe todos os Céus e toda a Terra.
O primeiro homem ele formou com seus braços, a outra parte com seus pés. Ele é nosso pai, a quem nós pertencemos. Ele fez os outros deuses e contém todas as coisas nele. É acrescentado: “As águas nasceram no seu leito que é entre o Céu e a terra, os deuses e os Asouras. É ele que traz a luz para todas as coisas divinas. É ele que que está entre nós.”
Um hino vindo do Yajur Veda a uma divindade, cujo nome é Aquilo, foi assim traduzido:
“Fogo é Aquilo, o sol é Aquilo;
O ar, a Lua, então, também, são esse puro Brahma.
Ele, do qual primordialmente nada nasceu,
E que tornou-se todos os seres,
Criou o Sol, a Lua e o fogo.
Para qual deus devemos oferecer oblações
Senão para ele que fez o céu fluído e a terra sólida
Quem fixou a órbita solar e formou as gotas de chuva?
Para que deus devemos oferecer sacrifício,
Senão para ele que o Céu e a Terra contemplam mentalmente?
'O homem culto vê esse Ser misterioso
No qual o universo perpetuamente existe,
Deitado nesse único suporte
No qual o mundo é absorvido;
A partir dele o mundo surgiu
Em criaturas ele tornou-se, e tornou-se trama em várias formas
Deixe o homem culto, versado nas Escrituras Sagradas,
Prontamente celebrar esse ser imortal,
Que é a existência-misteriosa em vários patamares acima.'
Há uma variedade suficiente nos nomes e características dos deuses védicos, para que possamos fornecer um número grande de especulações mitológicas.
Um escritor famoso supôs um monoteísmo precedendo o politeísmo, o qual ele chama de crescimento da degenerescência e da corrupção. Outra grande autoridade das divindades védicas divide-as em morais e físicas, supondo que as morais foram preservadas pelos iranianos, enquanto os indianos ficaram só com as físicas. Imagens como essa são facilmente realizadas e cada uma delas é tão boa – quanto falsa – como a outra. A única inferência clara é que, todos esses deuses são personificações de objetos naturais, que tem uma comunhão com o divino e que qualquer um deles pode, há qualquer tempo, tomar o lugar do deus mais poderoso, abarcando todos os outros nele mesmo.
Brahma, a divindade proeminente da mitologia tardia é, raramente, mencionada como o deus supremo dos Vedas. O nome geralmente ocorre como um atributo ou o segundo nome alguma outra divindade. Uma vez, no entanto, em um hino a Skambha, ele aparece como o universo. A terra é sua proporção, a atmosfera é a sua barriga, o céu é sua cabeça, o Sol e a Lua seus olhos e Agni, sua boca. Para ele, todos os deuses estão juntos como ramificações de uma mesma árvore. Em outro hino, a sua figura é variada e os deuses são ditos como sendo de Brahma, como “vacas numa fazenda de criação intensiva”.