Platão e muitos dosseus predecessores empenharam-se em reduzir todo ser a uma unidade, pelanegação de realidade à matéria. Como eleadmitia apenas a razão como canal de conhecimento, ele estava consistentementeconsiderando a matéria como um não-ser. Mas Aristóteles, acreditando em seus sentidos tão bem quanto em suarazão, deixou o dualismo entre mente e matéria irreconciliável.
Com Platão, Deusera um e todas as coisas. Com Aristóteles,Deus era um e o universo, uma existência distinta. Mas como nada pode ser que não tenha já sidoantes, como não se pode adicionar nada à totalidade da existência, Aristótelesfez dois eternos, um, a forma, o outro, a matéria. Os estoicos não estavam satisfeitos com adualidade. Eles sentiam, como Platão,que tudo deve ser um, que um infinito não pode deixar um finito emcontraposição a ele. Eles estavamdeterminados a confiar ao testemunho dos sentidos e a admitir que logicamente mentee matéria, Deus e o mundo são separados e distintos, ainda que, na verdade,eles devem ser um. Mostrar como Deus e ouniverso eram distintos e ainda assim um, foi o problema de Zeno e seusdiscípulos. Eles fizeram isso através deuma filosofia do senso comum, na qual eles validavam a verdade tanto pelas suasconcepções quanto pelas suas percepções. A impressão sensual de um objeto externo, que eles buscam como revelaçãopara a mente, do objeto mesmo. Ossentidos fornecem material do conhecimento. A razão compara-as e forma ideias. Mas se esse é caminho que todas as ideias fazem quando vem dos sentidos,como nós podemos ter uma ideia ou puro espírito? Os estoicos foram consistentes, elescolocaram que nós temos uma ideia e com isso, eles colocaram a existência dequalquer coisa incorpórea. Que todaexistência deve ter um corpo foi a doutrina que moldou o todo da teologia dos estoicos. Eles não definiram o que o corpo era, isso éimpossível, corpos sendo todo tipo de coisa vindo do espiritual para o materialgrosseiro.
Mas o indefinível no qual eles deixaram a ideia do corpóreo,mostra que eles tinham saído da escola de Epicurus. Sua grande inquirição era concernente aomundo - era isso. Evidentemente, não eraeterno como Aristóteles supunha, desde que Ra alguma coisa produzida. O que nós sabemos do produtor do mundo, deveser aprendido do mundo mesmo. O ser éevidentemente divisível em ativo e passivo. Um produtor e um produzido são dois óbvios princípios do mundoatual. Há, então, um similar fundador emdois no original do mundo, um princípio ativo e um passivo – um, o poder vivo,o outro, uma potencialidade passiva – um, o do qual tudo veio, o outro, oatravés pelo qual tudo é. O passivo é amatéria original – uma substância inerte e sem vida. O ativo é a eficiente causa ou poder deprodução. Mas essa causa deve sercorpórea como pode ser conhecida em forma de corpo. Os estoicos tentaram separar o poder vivo quecria o universo de toda ideia de matéria grosseira e, ao mesmo tempo, elessentiram que para ter uma concepção definida desse poder, ele deveria serrevestido com forma material. Oprincípio ativo foi colocado como tendo um substratum da natureza do fogoexterno, protegendo sua representação do mal-entendido de mentes ordinárias,eles também chamaram isso de espírito.
A primeira expressão do trabalho do princípio ativo éformado pelos primeiros elementos da matéria original; o segundo por corpos emformação. O princípio ativo então,trabalha externamente em uma natureza desorganizada que Chrysippus chama depoder de ligação e supôs que o ar seja o substratum ou substância.
Esse poder agindo em altas operações, produzindo a vida danatureza e animando todas as formas de organismos vindo da mais humilde plantaaté o mais alto espírito de vida que ele chama o éter, mas que através doprincípio ativo tem muitos poderes e funções, é ainda o um, como a mente humanacom todas as suas faculdades é uma unidade indivisa. Esse princípio ativo é, de novo, consideradocomo a busca original de toda verdade e toda moralidade – o princípio fazedorda lei – a ordem do mundo. A ordem moralé, portanto, a essência de Deus ou em outras palavras, a ordem moral é a nossadivina concepção da natureza de Deus, para que Deus aparece como o imutável e oeterno, o ser absoluto cuja existência implica a mais alta retidão, sabedoria eperfeição. Tiedemam diz dos estoicos –“entre todos os filósofos da antiguidade nenhum grupo defendeu a existência deDeus com tanto ardor e zelo e com tão grande quantidade de argumentospoderosos.” O principal dessesargumentos foi a inegável existência do correto no mundo. Isso mostra a relação entre o homem e Deus ea existência de uma divindade como ser moral, como o princípio moral do fazedorda lei e da ordem do mundo, que é, de justiça e moralidade. Nas últimas análises há, em realidade, um serexistindo. Nós podemos chamá-lo Deus oupodemos chamá-lo o universo. Um é Deusativo, o outro é Deus passivo. Um é avida, o outro é o corpo no qual é animada a vida. Um é a energia criativa, o outro é a escadaou substratum no qual a energia está em trabalho e na qual é unida.
Deus é o espírito do grande mundo animal. Ele é a razão universal que regula tudo epermeia tudo. Ele é a graciosaprovidência que cuida do individual bem como de todos. Ele é infinitamente sábio. Sua natureza é a base da lei, destruindo omal e comandando o bem. Pela lei da ordemda criação, ele pune quem faz o mal e recompensa quem faz o bem, sendo em simesmo perfeito, justo e certo. Ele não éum espírito, que não é nada, como nós não temos ideia correspondente a talexistência, ele é o sutil elemento da matéria. Ele é o mundo como nós imaginamos formado com os poderes da criação eenergias que nós vemos em toda natureza, mas essa essência bafeja nossa razãopara penetrá-la. Ele é a mais misteriosade todas as coisas que conhecemos e mais misteriosa que todos os mistérios. Ele é o divino também. Ele é o fôlego que passa por toda anatureza. Ele é o fogo que inflama ouniverso. Dele saem adiante essacorrente de vida divina na qual a natureza vive e na qual, cheio em todos osseus canais faz sua religação para a vida. Sêneca, o representante romano dos filósofos do átrio, chama Deus de ofazedor do universo, o juiz e o preservador do mundo, o ser do qual todas ascoisas dependem – o espírito do mundo e então ele acrescenta: “Todo nomepertence a ele. Todas as coisas vem dele. Nós vivemos pelo seu fôlego, ele é tudo, emtodas as partes, ele sustenta a si mesmo pelo seu próprio poder. Seu fôlego divino é difundido por todas ascoisas, grandes e pequenas. Seu poder esua presença se extendem a tudo. Ele é oDeus do céu e de todos os deuses. Ospoderes divinos os quais nós cultuamos são submetidos a ele.”
Esse patamar de todas as coisas é uma realidade e essarealidade é Deus, é a carga para quase todas as especulações dos gregos e o fimdas suas inquirições. Eles negam arealidade que criou as coisas juntas, o que deve implicar dois seres últimos, oque é contraditório para a razão concernente ao ser. As coisas individuais procedem de Deus etanto elas são reais, quanto elas são de Deus, mas na sua individualidade elassão distintas de Deus. O que é essarealidade de coisas, cada escola tentou expressar, mas todas as expressõesinvolvem uma contradição como elas expressam algo definido, enquanto Deus estáalém de definição – não apenas indefinido, mas o infinito.