4. Budismo

Gotama Buddha, chamado também Sakya Muni ou o Sakya Saga viveu por volta de seiscentos anos antes de Cristo. Ele foi, propriamente falando, um reformador do Brahmanismo e é apenas relembrando sua relação com o Brahmanismo que sua vida e seu trabalho podem ser entendidos. Sua religião tem a característica da sua própria individualidade. Ela nasceu das misérias da vida humana e seu principal aspecto é que é uma religião de humanidade. Gotama, embora príncipe, foi acometido pela tristeza desde o seu nascimento. Sua mãe faleceu quando ele tinha 7 anos de idade e ele cresceu como uma criança solitária. Sua juventude foi gasta ponderando com melancolia cobrindo seus anos a cerca do misterioso problema do ser. Para induzí-lo a entrar nos prazeres da vida, seu pai persuadi-o a casar-se com uma princesa; mas ele ainda se ocupava refletindo na vaidade da existência.

A alegria do palácio não o levou a tirar dos seus pensamentos as questões solenes: “O que é a vida?” “O que se ganha dela?” “Do que ela se trata?” Tudo era transitório. A vida era uma sombra, sem realidade e sem satisfação. A tradição possui muitas histórias a respeito do retiro de Gotama do mundo. Diz-se que um dia, caminhando nos jardins prazerosos do palácio, ele viu um homem velho com um membro paralisado e fala vacilante e sendo informado que ele sofria de idade avançada, o comum a todos os homens, ele exclamou: “Alas! Se é assim, o que alguém pode fazer o prazer?” Ele então ordenou ao condutor da carruagem que voltasse ao palácio. Outro dia ele viu um homem sofrendo de uma doença repugnante e sendo informado de que ele era um leproso, fez reflexões similares da impossibilidade de obter prazer enquanto tais coisas eram possíveis a um homem. Num terceiro dia, ele viu um corpo morto e, aprendendo que a morte é o fim, ele resolveu espalhar pelo mundo que todos devemos ser livres de toda culpa e estarmos capazes a mostrar a outros o caminho da libertação. Num quarto dia, ele encontrou um ermitão e foi dito a ele que aquele era um homem que tinha renunciado ao mundo e que vivia levando em conta que tinha que se dedicar totalmente à meditação. Gotama, desse modo, exclamou que esse é o caminho verdadeiro da vida e resolveu segui-lo e que ele tinha que obter a liberdade do envelhecimento, da doença e da morte. Acompanhado por cinco bramacharis, ele retirou-se para a floresta, onde passou seis anos em meditação e em mortificação do corpo. Não achando a liberdade nesse caminho, ele começou a se alimentar bem, enquanto os bramacharis o deixaram e ele retornou à Benares.

Ele, então, retirou-se para uma meditação de 49 dias embaixo de uma árvore mimosa. Naquele lugar ele foi tentado por demônios e teve grandes conflitos espirituais, mas, por fim, foi triunfante. Ele encontrou o caminho da libertação. O sentimento no qual o budismo foi originado não é peculiar à Índia. Ele é encontrado onde quer que o homem esteja. Não há ninguém que, em algum momento, não tenha sentido. Nós o ouvimos nas exclamações tristes de Salomão: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.”; nas palavras do poeta grego, que disse, “O melhor de tudo é não ter nascido.” e de um poeta moderno, que, lamentando a condição dos pobres, endereçou-se à morte como “A amiga mais querida dos homens pobres.” O solilóquio de Hamlet foi a essência do budismo: “Oh, isso tudo, sólido demais irá desvanecer-se.” O sentimento da vaidade da vida é universal, mas o modo de libertação do budismo é peculiar. Brahmanistas tem chamado deus de Ser e a final absorção seria na eterna e imutável essência; mas os budistas olham e buscam pelo puro nada. Para muitos homens a não-existência é a coisa mais terrível de todas as coisas. A perda do ser é o que nós naturalmente reconhecemos, exceto em momentos de profunda fé. Mas para o budista, a aniquilação é a consumação da graça. Os homens morrem, mas não é o fim, desde que, se pecados forem anotados, eles tem que renascer para a existência.

Nirvana é a libertação final quando o espírito é destinado a não mais ser. É a morte que não é seguida de nenhum nascimento e que depois não há volta das misérias da vida. Nirvana está além da sensação e do mundo da mudança. O que está no Sansara ou no mundo transitório não é Nirvana e o que está em Nirvana não é Sansara. No Sansara tudo está vindo e indo, há mudança e movimento, completude e esvaziamento, combinação e individualidade; no Nirvana está o descanço e a eternidade, a simplicidade e a unidade. No Um está o nascimento, a doença, os anos e a morte, virtude e vício, mérito e demérito, em outras palavras, completa redenção de todas as condições da existência. Nirvana é o banco de libertação esperando por nós que estamos na onda do Sansara. É a certeza que todos os espíritos tem que seguir o seu curso, qual seja, buscar libertação do oceano de culpas; é o estado liberto, que sustenta um asilo para aqueles que quebraram as portas da existência e saíram das grades da vida transitória. O espírito caminha através das suas existências transitórias até a busca do seu renascimento estar exaurida, até não poder mais renascer e apesar disso, não mais morrer. O ”eu” é extinto como plantinhas que não são mais regadas, como árvores cujas raízes tenham sido arrancadas da terra ou como se as luzes apagassem quando o óleo das lamparinas acaba.

O Nirvana budista tem sido entendido por alguns como simplesmente morte; enterro ou a terra da tranquilidade. Outros a tem tomado como sua base ser, simples aniquilação. Mas há ainda alguns que, de novo, conjecturam uma analogia com o reinado como Jesus disse, onde não há carne nem bebida alcoólica, mas retidão e celebração. Buda descreve isso em termos negativos, mas em comum com os bramacharis, ele busca por aquilo que nós chamamos como ilusão do não-ser, mero fenômeno. Nirvana pode, desse modo, ser o eterno, o estado imutável que é a única verdadeira existência. A mente de Buda não é especulativa, ele sempre se volta para o lado prático; ele não professa descrever Nirvana nele mesmo, mas apenas em realação à vida de ilusão presente. O modo de alcançar o Nirvana é por fé e intuição, por pensamentos puros, palavras puras e bons intentos. Os homens foram ensinados a seguir pela caridade, paciência, pureza, coragem, meditação, sabedoria, não matar, não matar nem bestas-feras, não cometer adultério, não mentir ou usar língua chula e não beber bebidas fortes. Isso é o que é; ou o que o Nirvana é, Buda não professou estar apto a saber: o que o homem realmente sabe é o mundo fenomenal. Nós plantamos uma semente na primavera temos uma árvore; a árvore dá um fruto, o fruto tem uma semente; da semente, de novo, vem uma árvore.

Uma ave coloca um ovo, do ovo vem outra ave; essa ave coloca outro ovo e de novo vem outra ave: e assim é com o mundo e com todas as palavras. Elas vieram de mundos antigos e aquelas de outros mundos mais antigos ainda. A existência funda à ela mesma, as formas aparecem e desaparecem, estando sozinhas são imutáveis. Vida sucede a vida, mas nada é perdido e nada é ganho. Ser é um círculo que nada começa nem nada termina. Como a unidade é depositada nas nuvens e precipita na terra para ser de novo evaporada pelos raios do Sol, assim o ser permanece subelevado e por muitas evoluções no meio dele permanece imutável. Os indivíduos morrem mas outros surgem para tomar os seus lugares e, então, o processo avança aparentemente num círculo que nunca termina. Mas seja para sempre ou não, esses mundos, os budistas não professam esse conhecimento. Eles tiveram um início e tem que ter um fim. O que eles realmente sabem e o que concerne a eles saber, é trabalhar com a liberdade. O budista vê uma inevitável conexão entre a existência e as ações. Toda ação, boa ou má, tem uma influência através do espaço infinito e traz uma necessária consequência e isso não terminará até que o Nirvana seja alcançado. O estado presente de todos, sua felicidade ou miséria, sua celebração ou tristeza, é fruto direto de todas as ações que ele fez em muitas vidas passadas. O homem continuará a renascer no mundo fenomenal até que tenha se libertado da ilusão da existência pessoal.

É comumente dito que a religião de Buda é o ateísmo. Os deuses dos Vedas e da mitologia védica, ele colocava como não-deuses. Ele dispensava sacerdotes e sacrifícios e substituiu uma moral da vida por oferecimentos aos deuses e seguir a razão mais do que a antiguidade. Sua religião foi mais do que um credo e mais relacionada com a humanidade do que com Deus. A inferência de que ele foi um ateu provavelmente tem realação nos mesmos princípios que fizeram do Nirvana, aniquilação. Ele pode, como Brahma, colocar que Deus é tão inteiramente desconhecido que é impossível para nós, humanos, entendê-lo ou para a linguagem humana falar dele e além do mais, é melhor não tentar o impossível. Ele pode ter erigido um templo para o desconhecido e prescrito o silêncio como a maior devoção. Deus não poderia ser qualquer das coisas do mundo finito e todas elas não fazem um infinito. Ele não poderia ser uma pessoa e na esteira da destruição da personalidade, Buda pode ter visto uma salvaguarda contra a idolatria. Nós podemos inferir que, substancialmente, Buda concordou com os filósofos do Brahmanismo em reconhecer o Infinito; mas chamava-o por nenhum nome. Pela retidão, nós alcançamos o Nirvana e no Nirvana nós somos um com o desconhecido. Como o Nirvana sozinho é a existência, assim também Deus sozinho é o ser verdadeiro.

Buda nunca formulou essa teologia; mas essa inferência que ele não foi um ateu tem alguma confirmação no fato dos budistas do Nepal e do norte professarem um Deus supremo. Buda significa inteligência. Vir para a inteligência é vir para a luz, receber Buddhahood ou tornar-se um com o chefe Buda. Os educados Lamas dizem que Buda é o ser independente, o princípio e o fim de todas as coisas. A terra, as estrelas, a lua, tudo o que existe, é parcial ou temporariamente, manifestação de Buda no senso de que tudo vem dele como a luz vem do Sol.