Brahmanismo

Brahmanismo

Os Brahmanas e os Upanishades nos introduziram nas últimas eras do desenvolvimento religioso pela Índia. Nas primeiras eras, a adoração foi a do tipo mais simples. Os hinos eram cantados de manhã, tarde e noite, sob o céu aberto. Não havia templo e nem altar, mas somente o que havia na natureza. O pai era o sacerdote, a mãe, a sacerdotisa e as crianças eram o corpo da fé. Pelo tempo em que os Brahmanas foram acrescentados houve um sacerdócio estabelecido, cuja atenção se voltava a interpretar as escrituras antigas e em fazer sacrifícios. Os deuses, eram, naquele tempo, personalidades mais definidas. Seus nomes tinham mudado e suas identidades com os objetos naturais não eram mais tão evidente. Brahma e Vishnu que eram deuses secundários nos hinos védicos, tornaram-se divindades chefes. Esse desenvolvimento na direção do politeísmo e da religião sacerdotal foi seguida pela filosofia teológica. Isso foi encontrado nos Upanishades que eram também chamados Vedanta ou fins védicos. Aqui encontramos algumas passagens tais como: “Ao olhar vulgar dos deuses na água, homens de maior conhecimento nos corpos celestes, os ignorantes na madeira, pedras e rochas, mas o homem letrado na alma universal.” Essa alma é descrita como inefável, o deus desconhecido que é todas as coisas. “Ele não é nem grande nem pequeno, largo nem fino, ele é sem cor, sombra, cheiro ou gosto; sem idade e sem juventude, começo nem fim, limites ou sem limites. Antes dele não houve ninguém. Ele é indizivelmente puro, vivendo em repouso eterno e em eterno êxtase, estável por sob toda mudança, em sua grande liberdade. Ele vê sem olhos, e ouve sem ouvidos; ele vê tudo, ouve tudo, entende tudo, mas ninguém o vê, ninguém o compreende.” Esse deus impessoal e alma universal é chamada Brahma, que é o equivalente de Ser absoluto. Ele é chamado por todos os nomes que tem significado, ele é bem-dito, que seu espírito difuso igualmente cobre todas as criaturas por significado de extensão, para esse caminho sua onipresença é estabelecida, ele é ainda mais extenso do que todas as exten-sões do espaço. “Toda a extensão material é coberta por sua existência, porque ele não é apenas o funcionamento mas a causa material do universo. Ele procede mais suavemente do que um pensamento. Ele parece avançar, levando atrás dele, intelecto, que atém um conhecimento dele. Ele parece mover-se em todo lugar, embora na realidade não tenha movimento. Ele está distante daqueles que não desejam conhecê-lo, mas está perto daqueles que cedo o procuram. Conhecer Deus é sentir que nós não o conhecemos e supor que nós o entendemos é mostrar nossa ignorância dele. Nós podemos ver seus trabalhos e inferir sua existência; mas quem pode dizer como ou o que ele é?” Ele é, ás vezes, distinto do universo, embora todos os seres do universo estejam, de algum modo, envolvidos em seu Ser. Ele é chamado o eterno, o inamovível, o sempre-presente. Ele confere visão e som aos objetos. Ele é o esplendor dos esplendores. O Sol não brilha, em respeito a ele, nem a lua, nem o fogo. Como a aparência ilusória da água produzida pelo reflexo dos raios através da miragem, assim o universo brilha nele, o real e o espírito inteligente. O universo tem o seu nascimento nele e como bolhas nas águas, achará sua destruição nele. Ele não é chamado apenas Ser, mas também não-Ser, não no sentido que significa não existir, mas porque ele é maior do que toda a existência. Nossos pensamentos são muito primitivos também para serem atribuídos a ele. Nós devemos declarar essa insuficiência, então será entendido que quando nós, o finito, afirmamos qualquer coisa de Deus, é imperfeito; porque nenhum número de finitos pode fazer um infinito, nenhuma acumulação de ser pode expressá-lo, que é a busca de todo ser, por esse motivo Brahma é chamado de Ser e não-Ser.

Essa contradição verbal perpassa o todo da teologia da Ìndia. É um esforço para expressar um Ser que só pode ser observado por um pensamento infinito. Esse pensamento lança mão da poesia e luta com o ulterior através das similitudes luxuriantes que a linguagem não pode acuradamente expressar. A divindade, como alma, é descrita como transcendendo e mesmo perpassando todas as coisas. Ele fala no trovão, brilha no relâmpago, ruge na catarata, ele clareia no Sol, ri na Lua, rola no oceano, tem seu fulgor na fonte, repousa no lago plácido, ele murmura no vento suave, murmura nos sons da floresta e as poderosas montanhas são sombras da presença de Deus. Ele é um e todos. Com o Um, nenhuma língua pode nomeá-lo verdadeiramente, nem um pensamento finito pode produtivamente abarcá-lo; como muitos, ele é os céus, a Terra, o ar e o céu. Toda região está cheia de deuses, tudo que vive e que se move está cheio do divino. Os campos são sagrados porque Brahma está lá; os rios são cultuados porque Brahma vive lá. Brahmaputra, como seu nome diz, é o rio do Pai Brahma. O Ganges, correndo pelas montanhas divinas, ladeando com as bençãos do grande Deus da natureza, é cultuado por sua natureza divina.

Os animais se tornam sagrados e as imagens do elefante, o boi, a cabra, o falcão, a águia e o corvo são fundadas lado a lado com os deuses ídolos do Panteão. Brahma é, então, adornado com todos os atributos de tudo, para o seu infinito. O finito é sacrificado para o infinito; mas o entendimento comum na consciência do homem sobre a existência é finito. É necessário, desse modo, negar que a nossa consciência possa ser de confiança. Nós imaginamos a existência como um problema. Essa é a grande ilusão da vida. Problema é maya ou desilusão. Parece que existe, mas a sua existência tem realidade apenas como manifestação de Brahma. A criação emana dele. Quando ele pensa, ele torna-se objeto, bem como sujeito – que é pensado assim como que pensa. Como um homem vê a si próprio num espelho, Brahma vislumbra a si mesmo na criação. Isso que é para nós a variedade do mundo, é para ele o reflexo do seu Ser. Outras representações fazem da criação a palavra sagrada ou o discurso sagrado. Às vezes, Brahma é representado como desejoso da criação, outras vezes, é descrito flanando dela sem sua consciência ou poder. A substância das coisas criadas é a sua substância. Não há nada fora daquilo que ele pôde criar nele, então ele criou-a fora dele mesmo. Criação é, então, um com Deus, parte dele, por isso está até fora da lei de Deus, falar do infinito, possuindo partes.

Como a aranha retira sua teia do seu próprio receptáculo, ocmo a tartaruga protege suas patas pelo casco, assim Brahma retira ou produz a criação. Como o leite ferve, como a água gela, como o vapor sofre condensação, assim o universo é formado da coagulação das substâncias divinas. Essas imagens tiradas dos objetos do senso comum, tem um ar de materialismo; mas embora Brahma seja então identificado ocm o universo material, ele é essencialmente espírito. Às vezes, a criação é o trabalho de deuses inferiores, que são os agentes do supremo. Enquanto o absoluto está em repouso, os criadores do mundo, que são a palavra e a sabedoria de deus em atividade, estão incesantemente trabalhando. Uma lenda da criação diz: “No começo de todas as coisas, o universo, vestido de água, deitou-se no seio de Brahma. A criação do mundo derrama poder pelas águas na copa de um lótus e como foi visto, com os olhos das suas quatro mãos, nada além de escuridão e água. Desse modo, é a sua comtemplação: De onde eu vim? Quem sou eu? Continuando uma centena de anos dos deuses em auto-contemplação, sem sucesso e sem clarear a escuridão, o que lhe deu grande insatisfação. Então uma voz chegou a seus ouvidos: diretamente faça uma oração ao ser eterno! Brahma (o criador do poder do mundo) então alçou-se e se colocou na posição do lótus em contemplação e pensou o ser eterno. O eterno apareceu como um homem com mil cabeças. Brahma orou. Isso satisfez o eterno que dispersou a escuridão e abriu as portas do entendimento para Brahma.

Depois que a escuridão foi dispersada, ele viu, na exibição do eterno, todas as infinitas formas da primeira Terra como que buriladas num sono profundo. Então o Eterno disse, “Brahma, retorne à contemplação e desde que por penitência e pensamento absoluto consiga alcançar o conhecimento da minha onipotência, eu lhe darei o poder para levar adiante e para desenvolver o mundo na vida que vem conciliada no meu seio.”

Nessa relação com o supremo Deus da criação, através da mediação de outros deuses, nós traçamos a origem da trindade hindu, que é simplesmente Brahma em suas manifestações como criador, preservador e destruidor. Os primeiros deuses dos vedas, representando os poderes da natureza, desapareceram e esses três deuses, cujas imagens estão unidas numa Trimurti, tomaram seus lugares. Eles são pessoas da impessoalidade da cabeça de deus. Cada um dos três aparece como o supremo deus e cada um deles possui traços de alguma relação com os poderes ou com os elementos da natureza. Para Brahma a terra é sagrada, para Vishnu, a água e para Shiva, o fogo. Nas leis do estabelecido, nós temos um julgamento da origem de Brahma. O deus invisível criou os cinco elementos; para a água ele deu o poder do movimento. Através desse poder, a partir de um ovo dourado, que brilhava como mil sóis, nasceu Brahma, o grande pai de todos os seres dotados de vida.

Brahma, como já foi dito, é esclarecimento distinguido de Brahma, pois, no mesmo livro, Brahma, é dito como tendo criado o universo. O diálogo a seguir relata detalhes a respeito do criador e do criado. Quem fala é Brahma, que é chamado a sabedoria de deus e Narud, que também é chamado razão ou o primeiro homem:

“Narud: Ó pai! Primeiro deus! Aquele que é dito ter criado o mundo, é seu filho Narud, maravilhado por pertencer a ele, que deseja ser instruído em de que modo essas coisas foram feitas.

Brahma: Não seja convencido, meu filho. Não imagine que eu fui o criador desse mundo, independente do movimento divino, que é a grande e original essência e criador de todas as coisas. Olhe para mim, no entanto, apenas como instrumento da vontade divina e como parte do ser que é chamado a executar os eternos desígnios.

Narud: O que nós devemos pensar de Deus?

Brahma: Sendo imaterial, ele está além de toda concepção: sendo invisível, ele não tem forma; mas pelo a que pertence suas obras, nós podemos concluir que ele é eterno e possui conhecimento onipotente, sabendo todas as coisas e presenciando tudo em todos os lugares.

Narud: De que modo Deus criou o mundo?

Brahma: Afeição por Deus de toda a eternidade. Ela é de três tipos: a criativa, o preservar e a destrutiva. A primeira é representada por Brahma, a segunda por Vishnu e a terceira por Shiva. Você, ó Narud! Foi ensinado a adorar todos os três em vários tamanhos e aspectos, como criador, preservador e destruidor.

Narud: O que significa, ó pai, intelecto?

Brahma: É uma parte do grande espírito do universo, bafejado em todas as criaturas para animá-las por um certo tempo.

Narud: O que vem depois da morte?

Brahma: Anima outros corpos e retorna como uma troca para o oceano intocado de onde veio.

Narud: Qual a natureza do estado absorto que os espíritos dos homens bons experimentam depois da morte?

Brahma: É a participação na natureza divina onde todas as paixões permanecem desconhecidas e onde toda a consciência é absorvida em benção.

Narud: O que é tempo?

Brahma: Tempo existe de toda eternidade com Deus.

Narud: Quanto o mundo vai perdurar?

Brahma: Até os quatro julgamentos serem revolvidos. Então Shiva mandará um cometa pela Lua e ele vai envolver todas as coisas em fogo e reduzir elas às cinzas. Deus existirá sozinho e tudo o que existe agora será totalmente aniquilado.”

Nos Puranas ou nas lendas mitológicas, as mesmas doutrinas concernentes a Deus e à criação são repetidas de muitos diferentes modos. Elas são, como direi, suas manifestações ou o eterno em formas inteligíveis para o homem. Ás vezes, Brahma é todas as coisas, tanto espiritual quanto material. Em outros lugares, Vishnu é todas as coisas, todos os deuses em todas as pessoas da cabeça de deus. Ele é, a uma só vez, criador, preservador e destruidor; ele é o sacrifício e o rito de sacrifício, o Sol a Lua, todo o universo, tudo o que é formado e o sem-forma, o visível e o invisível. Como a raiz silvestre que se espalha e é comprimida numa pequena semente, assim também no tempo de dissolução de todo o universo, este será comprimido em Vishnu como em um germe; como a casca da árvore e os restos da árvore queimada poderão ser vistos nas suas últimas cinzas, assim também todas as coisas são vistas em Vishnu; como a figueira germina da semente e acaba primeiro num broto, tornando-se depois uma árvore frondosa, assim também o mundo criado procede de Vishnu.

Ele é a essência dos deuses e dos Vedas, de tudo e de nada; ele é a noite e o dia, ele é o tempo feito de momentos, horas e anos; ele é a mente, o intelecto e a individualidade, ele é os deuses e os homens, bestas e répteis, árvores, arbustos e grama, ele é todos os corpos e todas as almas que animam os corpos.

Brahma e os deuses, então, são glorificados como o Supremo: “Nós, o glorificamos, ele, que é todas as coisas, o senhor supremo de todos, o imperceptível, o menor dos menores, o maior dos maiores de todos os elementos, nele estão todas as coisas, dele vem todas as coisas, é ele o fim dos objetos últimos, é ele que está além dos espíritos finitos, ele é um com a alma suprema, ele é contemplado como a causa final da liberação por sagas de ansiedade para ser livre. Nele habita a faculdade de criar o universo numa parte milonésima dele mesmo, nele, que é aquele que possui o espírito supremo inexaurível, quero dizer; a glória natural do supremo Vishnu, que nem deuses, nem sagas, nem eu, nem Sankara apreendem – que os yogis, depois de esforço incessante, encarando tanto mérito quanto demérito, conseguem alcançar a contemplação do monossílabo místico Om, a suprema glória de Vishnu e Shiva.

Essa existência universalista que descreve Brahma e Vishnu, também descreve Shiva. Numa lenda do Rudra Upanishad, é dito: “Os deuses que procederam do celestial Rudra e perguntaram, que arte é vós? Ele, replicou, eu sou a fonte e a essência sozinho. Eu sou, serei e não há nada que seja distinto de mim. Dito isso, ele desapareceu e então uma voz nunca antes ouvida foi ouvida dizendo:

“Eu sou o que causa a transitoriedade e aquele que permanece para sempre. Eu sou Brahma. Eu sou o oeste e o leste, o norte e o sul. O espaço e o vácuo. Eu sou masculino, feminino e neutro. Eu sou Savitri e Gayatri, todos os versos sagrados. Eu sou os Três Fogos. Eu sou o mais velho, o mais excelente, o mais venerável e o melhor. Eu sou o esplendor dos quatro Vedas e a sílaba mística. Eu sou o imperecível e o misterioso. Eu sou tudo isso e todo o espaço é compreendido na minha essência.”

No Devi Upanishad, os mesmos atributos são conferidos à esposa de Shiva.

No Bhagvat Gita, um episódio do grande épico indiano, o Mahabharatta, as mesmas coisas são ditas de Krishna, que foi uma das incarnações de Vishnu. O sujeito do poema é a disputa de dois ramos da grande família. O herói, Arjuna, olha seu parente, que está perto de matar e sua coragem lhe falta. Krishna, nesse momento aparece e o exorta a não ter medo. Os argumentos endereçados a Arjuna são aqueles que fazem referência à natureza ilusória de todas as existências exceto à divina, que, sendo eterna, nada pode destruir. Krishna diz a Arjuna que os parentes, amigos, homens, bestas foram anteriormente um vegetal e devem voltar a ser vegetal de novo. O princípio de que tudo é eterno e impossível de ser destruído, incapaz de morrer. Tudo o mais, é ilusão. Se Arjuna não encontrar seus amigos na batalha, ele será governado por aparências, enganos de sombras da realidade.

Até Krishna revelar-se e dizer a Arjuna que ele aparece não só nessa forma, mas em todas as formas; pois ele é tudo e ele está em tudo. Ele é o criador, o preservador e o destruidor, ele é a matéria, a mente e o espírito. Não há nada maior do que ele e tudo depende dele como as pérolas no cordão que as sustem. Ele é o vapor na água, a luz do Sol e na Lua, ele é o som no ar, o perfume na Terra, ele é o brilho na flama, a vida nos animais, o fervor na devoção, a areia eterna na natureza, o começo, o meio e o fim de todas as coisas. Entre os deuses ele é Vishnu e o Sol entre as estrelas. Entre os livros sagrados ele é os cânticos. Entre os rios ele é o Ganges. No corpo ele é a alma e, na alma, ele é a inteligência. Entre as letras, ele é Alpha e nas palavras combinadas, ele é o elo de união. Ele é a morte que nos acomete a todos e ele é o germe de todos os que não existem. Para mostrar que ele é todas as coisas, Krishna então chama a si mesmo pelo nome de todas as coisas.