Os primeiros metafísicos entre os gregos foram os da escola Eleática. Eles foram os primeiros a duvidar da realidade da matéria e sentirem adificuldade de distinguir entre conhecimento e ser, pensamento eexistência. Os jônicos evidentemente assumiram a realidade dofenomenal. Os pitagóricos tomaram a realidade da mente ou do pensamentocomo a substância da matéria. Os eleáticos eliminaram a dualidade, concernindoa identidade do pensamento e da existência.
A transição de Pitágoras para a Escola Eleática foi fácil. A realidade dofenomenal é, em algum senso, admitida, mas estamos sem um certo critério deconhecimento da sua existêcia. A razão nos mostra o Um e isso deve serabsoluto e eterno. Xenophanes, o fundador do eleaticismo não nega, aescassamente talvez duvidada, realidade da matéria. Ele viu a contradiçãoentre o veredicto da razão e os ensinamentos da experiência. O Umresolveru toda a existência em uma unidade – uma essência eterna, impenetrávele imutável – enquanto os sentidos proclamaram a existência do agregado. Arealidade de ambos, ele admite, não seria nem entendido e nem explicado atravésdo modo da reconciliação. “Levantando seus olhos até a imensidade do céu”diz Aristóteles, “Xenophanes declarou que o Um é Deus.” Mas ele perguntouse o Um é Deus, o que dizer dos deuses de Homer e Hesiod? Se Deus é umser infinito, qual a base para descrever a ele as ações tolas dos homens; oquão idiota é, supor que ele é como eles mesmos, que tem a sua voz, a sua formae a sua figura. Se uma ovelha ou um leão estão ligados a Deus, eles estãoligados a ele como eles mesmos. Se ele tem mãos e dedos como os nossos,eles darão a ele uma imagem e uma forma como a dele próprio. Mas isso éDeus apenas finitamente considerado, Deus descrito como foi criado pelamente. Ele que é Deus deve ser um ser não criado por nós. Ele não énada finito. Ele é o infinito; não o infinito como uma abstração, porisso, seria como o finito podendo ser apenas uma forma das nossas mentes. Ele é o ser infinito, independente de todos os nossos pensamentos e de todas asnossas concepções de finito ou infinitude. Diferente dos homens em formaexterior; diferente também, em mente e pensamento. Ele é sem partes ouórgãos, mas ele é todo sinal, todo ouvidos e todo inteligência. Ele épré-eminentemente ser e o único ser verdadeiro. O que quer que realmenteexista, ele é ele mesmo e ele é tudo o que existe de imutável e eterno. Nada pode vir do nada. O que quer que seja deve vir dele. Oproduzido é, então, idêntico com o que ele produz. Se não, alguma coisaveio surgindo que não está na causa que surgiu. Isso é absurdo e além domais, diz Xenophanes, tudo o que é realmente o ser é Deus. Ele é um etodas as coisas. Parmenides não tira os olhos da imensidade do céu paraver o Um. Ele não acredita nas representações dos sentidos. Tudo oque é meramente aparência, ilusão, tornar-se, fica a parte, ser e não-ser,mudança de lugar e vicissitude de circunstância – tudo o que os homensgeralmente põe como realidade, são meros nomes. O que quer que seja, nãopode ser nada produzido. Ele não pode estar em partes e em partesproduzido. Se há um ser uma vez ou ainda há de ser, então não é. Uma existência que venha a ser ou que se torna, que implica uma pré-existênciade não-existência leva embora toda a idéia de ser, então, esse ser deve terexistido sempre ou nunca. Os sentidos revelam o agregado, mas isso é sódecepção. Através do puro ser em nós, estaremos idênticos a esseser. Isso é o oposto do agregado e do mutável que, inclusive não existee, além do mais, não pode ser objeto do pensamento. Todas as coisas querealmente existem são um e essa existência é sem mudanças. Ela pervardetodo o espaço. Esse um não é o agregado coletado como revelado pelossentidos, mas o substrato que é a fundação e a realidade de toda aparenteexistência. Parmenides não chama isso de Deus. Sua filosofia é umaciência do ser e do saber. Ele rejeita a existência do muitos: enquantoele é compelido a considerar como existente de algum modo. Existe narepresentação sensualística. Todos os homens percebem comoexistente. Parmenides deve, de qualquer modo, fazer um esforço paraexplicar como o mundo do fenomenal tem sua aparente existência. Ser enão-ser colocam-se como estivessem um contra o outro a despeito dofilósofo. Ele nega que o último seja alguma coisa e ele tem que tratá-locomo se fosse alguma coisa. Deve haver um primeiro Um na multitude dosseres. Todas as coisas que participam subsistem em outras que participamnele. Então, há um progresso entre ser do qual não pode serparticipado. Isso é a mais profunda unidade ou simplesmente o ser é um oumuitos; mas na ordem dos seres essa multitude é oculta e caracterizada pelanatureza do Um. Desde que ocorre uma mônada primeira em todo lugar damultitude, nós temos que pôr em suspenso todos os seres vindos da própriamônada. Nas almas, a mônada das almas é estabelecida numa ordem maisantiga do que a multitude das almas e sobre isso, todas elas são como umcentro, convergindo, almas divinas em primeiro lugar, seus atendentes depois e,após, seus co-atendentes como diz Sócrates no Phaedrus. Além disso,a mônada de todos os seres é primeira a todos os seres e Parmênides chama-a deo Um.
Zeno e Melissus anularam essa ligeira dualidade entre o Um e o agregado. Eles o fizeram, mostrando que nenhum conhecimento poderia ser derivado dossentidos; que a própria concepção de ser do agregado não poderia existir e,além disso, a crença na sua existência foi contraditória e absurda. Zeno manteve a não-existência do fenomenal. Seu argumento foi que,dividindo a matéria, nós temos que pensar num estágio em que a divisibilidade sejapossível, onde o sujeito da divisão torna-se um ponto matemático, que não temexistência real e todas as experiências encontradas sejam contraditórias, ondenenhuma realidade objetiva possa ser deduzida daquilo. O único modo decerteza no conhecimento é estabelecer as conclusões da razão pura e explicar ofenomenal como uma mera ilusão dos sentidos.
“Nós não podemos” diz Melissus “determinar a quantidade do que quer que sejasem tomar como garantida a sua existência.” “Mas isso que é real, nãopode ser finito, tem que ser infinito, não em espaço mas em tempo.” Issoacontece todo o tempo e sempre será assim. A multiplicidade das coisasmutáveis que os sentidos revelam, pode ser apenas uma decepção. Aaparência está em nós: a realidade está em nenhum lugar. Se as coisasaparentes realmente existem, elas não podem mudar. Um o quê ainda semantém, o que na realidade do ser que quer que seja representado aos nossossentidos ou o que quer que as condições subjetivas e circunstâncias da representaçãosejam.