Jâmblico
Enquanto Porfírio estava explicando pormenorizadamente o platonismo em Roma, Jâmblico e Hierocles estavam continuando a sucessão em Alexandria mas não sem algumas mudanças. A teoria da Trindade, como nós vimos, nasceu na Alexandria, entre a necessidade da reconciliação do absoluto, imóvel Deus das dialéticas com o necessariamente móvel Demiurgo. Plotinus e Porfírio não podiam dar movimento ao Deus absoluto nem imobilidade ao deus criativo, muito menos eles poderiam admitir muitos deuses, já que acreditavam num único Deus, quem vindo de si mesmo, transforma a si mesmo eternamente numa ordem inferior e, então, rende a si mesmo por um tipo de auto-diminuição, capaz de produzir uma grande variedade de coisas. Para preservar a imobilidade do primeiro Deus e a mobilidade do terceiro ou grande variedade, eles introduziram um intermediário. A doutrina de uma Trindade servia para preservar a unidade, enquanto a hipóstase continuava distinta. Jâmblico pensou em remover a contradição, multiplicando os intermediários. No primeiro degrau ele pôs a unidade absoluta, que continha em seu seio as primeiras mônadas. Essas eram as universais mônadas que não tinham sofrido nenhuma divisão nem diminuição da sua unidade nem simplicidade. O primeiro Deus é simples, indivisível, imutável. Ele possui todos os atributos em acordo com a plenitude da perfeição; o segundo deus possui o poder que engendra os deuses inferiores, a plenitude do poder, a busca pela vida divina, o princípio de toda eficácia, a primeira causa de todo bem. O terceiro deus é o produtor do mundo. Ele concede a virtude gerativa que produz as emanações e faz delas a s primeiras forças vitais, com as quais as outras forças são derivadas. Todos os seres, que são, Deus e o universo estão, então, abarcados nessa Trindade de deuses. Porfírio tinha começado a fazer filosofia religiosa, mas foi reservado a Jâmblico, seu discípulo, completar o trabalho. Se os deuses dos poetas e das pessoas eram deuses verdadeiros, seria correto, segundo Jâmblico, que templos fossem dedicados a eles, seus oráculos fossem consultados e seus sacrifícios diários oferecidos. Qual maior chamado então, não poderia ter para o filósofo do que conformar-se a si mesmo com o que concerniam os deuses? E se o espírito do mundo está tão perto de nós que constitui a realidade do mundo, não deveríamos influenciá-lo, trabalhar junto com ele, receber comunicações dele? Portanto, o divino, a teurgia são imaginações mágicas. A alma do filósofo, bebendo profundamente nos mistérios do espírito, encontra-se com o espírito do mundo. Ele se torna o maior príncipe do universo, o profeta cheio de divindade – não mais um homem, mas um deus tendo encontros com ele, sim, comandando o mundo superior. Sua natureza é o órgão das inspirações dessas divindades. Para essa sublime vocação, Jâmblico era chamado. Ele nos diz, como as comunicações podem ser recebidas das várias ordens da hierarquia espiritual. Ele conhece todas elas, tão familiarmente como os espiritualistas modernos conhecem “as esferas” dos espíritos, com apenas uma diferença, a de que os modernos espiritualistas evocam os espíritos e eles vem a eles; mas o filósofo, mais propriamente, eleva a si mesmo aos espíritos. A descida da divindade é apenas aparente e. é, em realidade, a ascenção da humanidade. O filósofo, pelo seu conhecimento de ritos, símbolos e potentes feitiços e por virtudes misteriosas de plantas e minerais, alcança a sublime elevação que, de acordo com Plotinus, foi conseguida com oração e purificação, um coração limpo e um intelecto bem exercitado por dialéticas.
Livre tradução de Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) do livro Pantheism and Christianity de Jonh Hunt . 1884.