09- Rogério Ribeiro

Rogério Ribeiro

Rogério Ribeiro - Homenagem (1930-2008)

https://youtu.be/RTPaY4v-5UA

"Nasceu em Estremoz em 1930 e morreu em 2008. Estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde foi docente também. Pintor, desenhador, gravador, designer, autor de painéis de cerâmica e de cartões de tapeçaria, foi fundador da Gravura - Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Autor dos projectos museológicos da Casa Manuel Ribeiro de Pavia (1985) e da Fortaleza de Peniche (1987). Desde 1993 até à data da sua morte, foi director da Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, em Almada. Começou a colaborar com a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre em 1961." in Manufactura de Tapeçarias de Portalegre

Sem Título (1958).

Linoleogravura

Ilustração (1956) de Rogério Ribeiro para o livro “Histórias do Zaire

de Alexandre Cabral editado pela Orion.

"A INFÂNCIA ALENTEJANA

Diz-nos a sua filha e biógrafa Ana Isabel Ribeiro (2):

"Rogério Ribeiro nasce em Estremoz, em 1930, na antiga Rua das Freiras. Filho de Rosil da Silva Ribeiro e de Celeste dos Anjos Chouriço Ribeiro.

O seu pai, funcionário público, foi o 16° filho de Narciso Ribeiro que, com 12 anos, chega a Estremoz vindo de Cardigos (distrito de Castelo Branco) e que, começando a trabalhar como marçano, chegou a Presidente da Câmara. Promoveu, na vila, a construção do lavadouro público, de esgotos, abriu uma avenida para a estação de camínhos-de-ferro e, de acordo com a memória de alguns, durante as vagas de fome no Alentejo, inventou trabalho para os camponeses que, diariamente, enchiam as brancas escadarias de mármore do município. A sua avó paterna, Amália Ribeiro, era oriunda de uma família de Borba. Dotada de um imenso pragmatismo, encarando com enorme lucidez os sobressaltos e alguns enganos da vida, orientou 13 dos 16 filhos que teve, já que três faleceram ainda menores.

A sua mãe casou aos 18 anos, vinha de uma família de nove irmãos, onde todos trabalhavam. O pai, João de Deus Chouriço, vendia lotaria, sendo também contínuo e guarda da Sociedade Recreativa "Os Artistas", onde se reuniam os agrários e a burguesia da vila. Magra e altiva, senhora da sua condição, a sua avó materna, Teresa de Jesus Chouriço, ocupava-se dos filhos, fazia a limpeza da Sociedade e preparava as ceias para os Jogadores que aí permaneciam noite fora.

Rogério Ribeiro, vive a sua primeira infância por terras do Alentejo "sem memórias maiores do que amplas cozinhas, quartos caiados, ruas de terra batida ladeadas por casas rentes ao chão, brincadeiras de rua (sem recordar o rosto ou o nome dos companheiros), fins de tarde tenros mastigando conversas de adultos".

Cerca de uma década depois já se encontra em Lisboa, cidade onde passa a residir.

PERCURSO DE VIDA

Fez a sua formação académica em pintura, na ESBAL - Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.

Desenvolveu intensa actividade como gravador na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, da qual foi sócio-fundador em 1956.

Em 1961 iniciou a sua actividade como professor de Pintura e Tecnologia na Escola de Artes Decorativas António Arroio (Lisboa). São de 1964 os primeiros trabalhos no âmbito do Design de Equipamento e Gráfico e a colaboração com vários arquitectos nos estudos de cor e integração de materiais e trabalhos artísticos.

A partir de 1970 foi professor da ESBAL, onde em 1974, coordenou o grupo de trabalho de reestruturação do currículo escolar na área do Design.

Expôs colectivamente desde 1950 e individualmente desde 1954. Está representado em diversas colecções particulares, instituições privadas e museus, tanto em Portugal como no estrangeiro.

Trabalhou em cerâmica e em tapeçaria por encomenda de particulares, empresas e organismos oficiais.

Autor de cartões de tapeçaria, começou a colaborar com a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre em 1961.

Desenvolveu intenso labor no âmbito da azulejaria, sendo de destacar as obras:

A estação de metro da Avenida - Lisboa (1959); O átrio Norte da estação de metro dos Anjos - Lisboa (1982); O painel “Azulejos para Santiago” para a Estação Santa Lucía do Metro de Santiago do Chile (1996); O painel “Mestre Andarilho” para o Fórum Romeu Correia - Almada (1997); Um painel para a estação de caminhos-de-ferro de Sete Rios - Lisboa (1999); Um painel para o Arquivo Histórico Municipal de Usuqui - Japão (1999); O painel “O Lugar da Água”, no Espaço Museológico da Ra do Sembrano, em Beja; O “Monumento à Mulher Alentejana”, inaugurado em 8 de Março de 2008, no Parque da Cidade, em Beja.

No sector da ilustração de livros, destacamos os títulos: Minas de S. Francisco, de Fernando Namora (1955); Casa da Malta, de Fernando Namora (1956); A vida mágica da sementinha: uma breve história do trigo, de Alves Redol (1956); Histórias do Zaire, de Alexandre Cabral (1956); Praça da Canção, de Manuel Alegre (1998); Até Amanhã Camaradas, de Manuel Tiago (2000); A Flor da Utopia, de Urbano Tavares Rodrigues (2003);

A nível de projectos foi co-autor do projecto da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, com Armando Alves, Joaquim Vermelho, José Aurélio e outros (1983); São da sua autoria ainda: O projecto e montagem da Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia, em Pavia (1985); O projecto museológico da Fortaleza de Peniche (1987).

Dirigiu, desde 1988, a Galeria Municipal de Arte de Almada e, a partir de 1993 foi Director da Casa da Cerca — Centro de Arte Contemporânea, em Almada.

Na morte de Rogério Ribeiro, o elogio fúnebre do seu partido, o PCP, refere (1):

“Rogério Ribeiro é uma das figuras maiores da arte portuguesa. Excepcional e multifacetada personalidade criadora, ao legado da sua imensa obra plástica junta-se o do seu incansável trabalho de construtor e dinamizador cultural, o do pedagogo entusiasta, o do combatente político pelas causas da emancipação humana, o do resistente e dirigente comunista. Sendo certamente uma das mais destacadas e originais personalidades criadoras enraizadas no movimento neo-realista, a sua obra é uma riquíssima e complexa construção e reflexão sobre o devir humano, sobre o seu tempo e sobre uma humanidade em certos aspectos intemporal. Nas nossas memórias visuais ficarão para sempre gravadas as suas ilustrações para o livro «Até amanhã camaradas» de Manuel Tiago.”.

Acerca da morte de Rogério Ribeiro disse o professor universitário, crítico literário e artista plástico Rocha de Sousa (3):

“E assim o país se apaga um pouco mais, por cada morte aqui anunciada, por cada perda de personalidades cuja vida e obra constituem valores inestimáveis da nossa identidade. Rogério Ribeiro foi (e será sempre porque nem todo o país amolece de esquecimentos) um grande artista em várias disciplinas do pensamento e da acção criadora, nos últimos tempos senhor de uma obra fascinante, de pureza, de denúncia, de testemunho e espírito humanista. As frentes da actual cultura portuguesa têm dividido a presença na nossa memória de gente desta estirpe, a montante do fio incendiário dos anos oitenta. Contra isso temos lutado, porque não basta lembrar Sousa Cardozo, por exemplo, passando por Paula Rego ou Júlio Pomar, e enfatizando, por fim, tudo o que acabou de aparecer, como se o mundo não tivesse outras verdades e uma remota genética universalizante. Pois aqui se deseja afirmar que o Portugal moderno, para se reconhecer e progredir, tem de homenagear pessoas como Rogério Ribeiro, que nos ajudaram a vencer o tempo e os bloqueios da mediocridade. Aqui fica apenas uma pintura, uma peça que exprime bem o despojamento e a riqueza do homem na trajectória que tem de inventar contra a irremediável e absurda escassez de si mesmo.”

A sua participação na luta política foi salientada pelo PCP:

“Destacado participante nas lutas do MUD Juvenil e nas lutas estudantis de 1962, Rogério Ribeiro estabeleceu contactos com o PCP desde 1953, tendo a ele aderido em 1975. Preso pela PIDE em 1958 vê-lhe negada a autorização para exercer o cargo de assistente da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Rogério Ribeiro que foi membro do Comité Central do PCP desde 1983 até Dezembro de 1992, deu durante três décadas uma elevada contribuição para a concepção e realização da Festa do Avante, da qual foi membro da sua comissão organizadora e para muitas outras realizações do Partido, das quais se destaca a exposição comemorativa dos 60 anos de vida do PCP.”." in Hernâni Matos

TAPEÇARIA

Alentejo (Tapeçaria 119x200 cm)

A Rainha Surpreendida pelo Mensageiro

199x248 cm

A Rainha dos Ovos de Oiro

196x264 cm

Poente

135x220 cm

O Tapete do Pintor

197x133 cm

Aula de Pintura

178x242 cm

Tapeçaria mural de Rogério Ribeiro, 1960

Cartão para Tapeçaria de Portalegre (119x200 cm). Briga

Tapeçaria, "Amanhecer" (Rogério Ribeiro, 1997).

Óleo

O Cão Voador (1990)

Rogério Ribeiro.

Óleo sobre Tela (27x36 cm).

Colecção particular.

Família (1951).

Óleo sobre cartão.

Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

Um Quadro Azul (1993-1994).

Rogério Ribeiro.

Óleo sobre tela (99x99 cm).

Colecção particular.

SERIGRAFIAS

Só quando a terra for nossa, meu amor, teremos Pátria.

Serigrafia.

Figuras (1986).

Serigrafia.

Ao Fim de Alguns Dias Voltaram a Chamá-la

A Bicicleta Deslizou Suavemente como se Nenhum Peso Levasse

Trabalhadores! Operários e Camponeses

Estendia a Mão Larga e Espessa aos Recém-Vindos

Olhou ainda o Ceú e Fez-se de Novo à Chuva

Serigrafia de Rogério Ribeiro que serviu como ilustração

para o romance de Manuel Tiago "Até Amanhã, Camaradas".

O Vento Soprou Mais Forte

O Voador

Coroação Da Primavera

DESENHOS

Abandono (1992).

Desenho sobre papel (49 x 63 cm).

Colecção particular.

Prémio Direitos do Homem 2015

Ilustração de Rogério Ribeiro

Azulejos

"Azulejos para Santiago".

Painel para o Arquivo Histórico Municipal de Usuqui

Pormenor do revestimento azulejar do átrio Norte

da estação de metro dos Anjos - Lisboa (1982).

Intervenção plástica de Rogério Ribeiro.

Fotografia dex Roberto Santandreu.

Pormenor do revestimento azulejar da estação de metro da Avenida - Lisboa.

Intervenção plástica de Rogério Ribeiro.

Fotografia de J. J. Amarante.

Blimunda, painel de azulejos a partir de pintura de ROGÉRIO RIBEIRO (1930-2008).

Está na fachada da casa lisboeta de Pilar e José Saramago.