14 Joaquim Torrinha

VILA VIÇOSA

Joaquim Torrinha: um vulto relevante da História da Arte regional.

"O Dr. Joaquim Francisco Soeiro Torrinha (1919-2014), cujo centenário do nascimento agora decorre, foi uma das personalidades mais marcantes, a nível regional e também nacional, nos estudos do Azulejo e da Cerâmica. Apesar da sua modéstia e do seu desapego a vãs vaidades e deslocados mediatismos, gerou nesses domínios uma obra que o afirma no campo da História da Arte portuguesa, em especial no campo da azulejaria dos séculos XVI, XVII e XVIII no Alto Alentejo.

Na sequência dos ensinamentos bebidos na obra do grande especialista Engº João Miguel dos Santos Simões, com quem privou, e na camaradagem com mestre Túlio Espanca, com quem colaborou nas duras tarefas do Inventário Artístico de Portugal da Academia Nacional de Belas Artes (no que concerne ao Distrito de Évora, em especial aos concelhos da Região dos Mármores), Joaquim Torrinha dedicou a vida a valorizar o património azulejar português, com incidência no azulejo de majólica renascentista e no da época barroca. Ele via o Azulejo como a grande manifestação artística caracterizadora da identidade nacional, e o nosso maior testemunho de especificidade em termos de Património no Mundo. Deixou vasta obra, em artigos saídos em revistas da especialidade (como a Callipole, onde assumiu responsabilidades editoriais, e a revista Monumentos), em capítulos de livros, em conferências, colóquios e jornadas de divulgação.

Farmacêutico que era em termos de formação e actividade profissional, a sua não escondida solidez de base no campo da História, junto a uma formação especializada no estudo das artes decorativas do seu Alentejo, foi decisiva no seu percurso de vivências. Assim, nunca deixou de seguir, com traços de fina sensibilidade e apuro crítico, a magna tarefa de estudar, identificar, inventariar, catalogar e proteger a azulejaria de Estremoz, de Borba e de Vila Viçosa, colaborando amiúde com Túlio Espanca, e com a grande autoridade nesse campo, o historiador de arte José Meco. Mas o trabalho que dedicou também à cerâmica e à arte dos barristas constitui outra atenta vertente de interesses, na linha dos trabalhos de Joaquim Vermelho, contribuindo para que os «bonecos de Estremoz» fossem classificados como Património da Humanidade pela UNESCO.

Acresce ainda, entre tantas outras referências e títulos de pesquisador, o seu estudo sobre a Santa Casa da Misericórdia de Estremoz e o convento das Maltesas, onde colaborou com o bibliotecário-arquivista João Ruas, seu grande amigo. Conheci-o bem, fui testemunha da sua simpatia, que era contagiante, e do seu espírito de tolerância, e conte com a sua ajuda quando realizei o estudo dedicado à pintura a fresco no Paço Ducal e nas igrejas, mosteiros e solares de Vila Viçosa e demais territórios sob administração da Casa de Bragança durante o Renascimento e o Maneirismo.

Cabe agora à História da Arte portuguesa dar pleno conhecimento aos muitos e diversificados trabalhos de Joaquim Torrinha, que precisam de ser reunidos em colectânea especializada (sobre Azulejo, Cerâmica, História local, e não só), dada a sua dispersão em revistas e jornais, juntando-se quiçá textos inéditos de cuja existência seu filho, senhor Engº. Rui Torrinha, nos deu conhecimento. É um preito de homenagem da maior justiça, a que se impõe dar cumprimento.

(texto de Vitor Serrão para a sessão de homenagem de 12 de Janeiro de 2019 ao Dr. Joquim Torrinha, nos Paços do Concelho de Vila Viços, lidas pelo Dr. João Ruas por ausência forçada do autor). "

Vitor Serrão - 12 de Janeiro de 2019 (Artigo In FB Vitor Serrão)