01 A Fonte das Bicas

A FONTE DAS BICAS

José Miguel Simões

Edições Colibri e CEDA

Outubro 202

A Fonte das Bicas é, com todo o merecimento, o ex-Iibris de Borba.

Monumento Nacional desde 1910, foi edificada em 1781, pela Câmara Municipal, que assumiu a sua função de protectora e zeladora dos interesses do povo no abastecimento da água à vila, face aos interesses privados. Na sua forma podemos adivinhar a influência dos desenhos das fontes de Carlos Mardel, projectadas para Lisboa, décadas antes. Contudo, a Fonte das Bicas pretendeu ser um monumento a Borba, não só pelo uso dos mármores, elogiados na inscrição do espaldar, mas também pela reconstituição do lago onde, segundo a lenda, se achou o barbo que deu o nome à vila. Pela novidade que trouxe ao Alentejo, a Fonte das Bicas foi modelo para outras fontes monumentais que depois dela surgiram na região.

João Miguel Simões nasceu em Lisboa, em I976. Licenciou-se em História, variante de História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo concluído uma tese de mestrado com o título Arte e Sociedade na Lisboa de D. Pedro II.

Tem vindo a especializar-se na área da História da Arte do Barroco e da lconologia, tendo publicado algumas obras em livro: O Monumento do Senhor Roubado - Odivelas (2000), O Convento das Trinas do Mocambo (2001 - no prelo).

Desempenhou entre 2000 e 2002 as funções de historiador no Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de Borba, onde, em co-autoria, escreveu o livro O Vinho e o Património, reflexos de uma cultura secular e a componente histórica e urbanística do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Zona Antiga de Borba.

INSCRIÇÃO GRAVADA NA FONTE, por baixo do medalhão da RAINHA D. MARIA I

IMPERATIBUS FIDELIS SIMA REGINA NOSTRA MARIA NOMINE I: CUM ETDELISSIMO REGE NOSTRO PETRO III: OBTENTA REGIA FACULTATE: SUB AUSPICIO ET PATROCINIO ILLIMI AC EX MI VICE COMITIS DE LOU RINHAA HUJUS PROVTICI AE GUBERNATORIS VTGILA TISSIMI: SENATUS HUNC COPIOSUM FONTEM ET MA GNIFICUM OPUS CONS TRUERE FECERUNT: IN IL LO (ICTU OCULI) FUL GENT ET NITENT: REGUM MAGNITUDO ET BENEFI CENTIA: PROTECTORIS PO TESTAS ET AMOR: DECURI ONUM ACTIVITAS ET ZE LUS POPULIQUE UTTLITAS ET DECOR: ET IDEO ISTE IN GRATITUDINIS SUAE PER PETUUM MONUMENTUM

HANC MEMORIAM EXA

RARE EECIT. ANNO DOMI

NI MDCCLXXXI

Reinando a nossa Fidelíssima rainha Maria, primeira do nome com o nosso Fidelíssimo rei Pedro III, obtida auctorização régia e sob os auspícios e protecção do III.m° e Ex.m° Visconde da Lourinhã zelosíssimo governador d'esta província: a Câmara mandou construir esta copiosa fonte e magnífica obra, na qual brilha e refulgem (à primeira vista) a grandeza e beneficência real, o poder e o affecto do protector, a actividade e o zelo dos vereadores, e a utilidade e honra do povo.

Por isso este, em signal de perpétua gratidão, mandou exarar esta memória no anno do Senhor de 1781.

Seguindo a tradução que o padre António Joaquim Anselmo fez deste texto, na obra seguinte:

(P.e António Joaquim Anselmo - O Concelho de Borba, Elvas, Typographia e Stereoypia Progresso, 1907).

Moeda em ouro

D. Maria I 1789

(já posterior a este evento)

Retrato de José Leandro Carvalho