FIBRA ALENTEJANA
Romance Histórico
O novo romance de
José Russo da Silva
26 de Março de 2013
Texto da orelha da contra capa:
Nota do Professor Álvaro Gomes
Montes Claros terra da cor dos olhos de quem a olha.
Brancura de cal e asseio
Rica em mármores
Paisagens sóbrias, verdejantes
Cante lento e centenário
Olhar longínquo e profundo
Estilo e mistério incompreendível
Cheiro a terra húmida e coentros
Música de cigarras e grilos
Luz que ilumina do céu à terra
Sol abrasador, frio e gélido
Costumes ancestrais e pagãos
Paz, solidão e mistério na imensidão
Equilíbrio de sentimentos nobres
Força, simplicidade e destreza
Antes quebrar que torcer
É neste profundo Alentejo que me revejo e me sinto como andorinha que regressa ao sítio onde fez o seu ninho.
Onde o tempo caminha sem parar, que termino e vou assinar:
Zé Russo
Este segundo livro publicado do borbense José Russo da Silva, ‘Fibra Alentejana’, só pode ser saudado como o feliz resultado dum longo trabalho de pesquisa, a que a poderosa imaginação dá vida, suor, alegrias e lágrimas. É um romance cuja acção se situa na época da Restauração da independência portuguesa, face ao jugo espanhol. Borba e seus arredores, mas sobretudo suas gentes, viveram de perto e dramaticamente estes anos heróicos da pátria.
Montes Claros, Linhas de Elvas, Serra de Ossa e da Vigária… Sítios reais, mas que pela pena do ilustre (porque a verdadeira riqueza está na alma!) borbense José Russo permanecerão indeléveis na nossa memória. Sobretudo, ficarão em nosso coração.
É um trabalho emocionante, despretensioso e simples, todavia rigoroso. Dignifica a alma de quem o fez e o espírito dos antepassados aqui tão bem retratados.
Almada, 19 de Abril de 2013
Álvaro Ferreira Gomes
(Professor e Escritor – que, já em 2010, escreveu o prefácio do primeiro livro deste Borbense, ‘mecânico / escritor ‘ UMA INFÂNCIA AMARGA E DOCE NO ALENTEJO’.
Texto da introdução em o autor nos leva até Borba no Século XVII...
«Sonhei com a terra onde nasci, como seria há quatrocentos anos atrás.
Escrevo em imaginário gerações do passado que coloco no papel porque gosto de escrever.»
Para ter uma ideia do primeiro livro pode ver uma página dedicada a este autor BORBENSE, onde pode encontrar DIAPORAMA e FILME como apoio de leitura...
Página - http://www.joraga.net/ZeRusso/pags/pag01.htm
Diaporamas - http://www.joraga.net/ZeRusso/pags/pag04_diapos.htm
Um livro de
José António Russo da Silva
o mecânico escritor
com Fotos de Eduardo Gageiro
Edição do Autor, 2010
José António Russo da Silva - Mecânico de Automóveis
Nasceu no Alentejo em 1945.
Aos 11 anos começou a trabalhar como Merceeiro.
Aos 12 foi aprender o ofício de Mecânico de Automóveis.
Aos 12\½ ficou órfão de Pai. Aos 14 ficou órfão de Mãe.
Aos 17 deixou o Alentejo, rumo a Cacilhas, com 50$00 emprestados. para o transporte.
Estudou à noite e trabalhava de dia. Actualmente é empresário no ramo Automóvel, e nas horas vagas escreve.
JOSÉ SILVA – o mecânico escritor, natural de BORBA, com OFICINA de AUTOMÓVEIS na SOBREDA… ESTÓRIAS de um ALENTEJANO que, como muitos outros, decidiu viver e trabalhar nesta zona da MARGEM SUL onde podemos encontrar cerca de 100.000 ALENTEJANOS e descendentes…
QUANTAS ESTÓRIAS – como estas - PODEMOS TER? Ficamos à espera das VOSSAS.
O AUTOR, a pedido de vários AMIGOS de BORBA (e não só) pede para colocar esta a sua obra em PDF - logo que possível...
Entretanto pode ser pedido, escrevendo para
zearusso@gmail.com
Algumas palavras do PREFÁCIO de ÁLVARO FERREIRA GOMES, Professor e Escritor:
«Este livro corre como um riacho de águas lentas e cristalinas, saltitando de pedra em pedra, limadas pelo tempo. Impressões fugidias, com raízes no vivido, desse Alentejo dos anos quarenta e cinquenta, que permitem construir verdadeiras personagens que ecoarão na nossa memória: Cachapim, Soldado, Zé Cágado, D. Vitória, José e João, Padre Vinagre... entre outras. Cada um destes seres, plantado no chão imemorial, arrancado do húmus, ficará a inundar de luz os nossos sentidos despertos, avivará o nosso coração como uma chama que não se apagará.
Um extracto do livro, pp. 73 a 75:
14. A primeira ida a Lisboa
Após alguns minutos, estava o Zé a morder uma maçã, ouviram-se uns passos. Zé conheceu logo o caminhar do Tio Cachapim, ninguém batia à porta se fosse conhecido e entrava à vontade. Cachapim a todos beijou e disse: "Amanhã vou a Lisboa de comboio. Preciso que o Zé Cágado me vá levar à estação bem cedo." ZÉ ficou a pensar se havia de pedir ao tio para ir com ele. E assim fez. "Tio, posso ir consigo?"... "Se tua mãe deixar claro que podes, até gosto que me faças companhia!" "Vou ver um grande amigo que está internado num hospital, talvez seja a última vez que o veja..."
Partiram muito cedo para a estação do caminho-de-ferro, a alguns quilómetros, o cavalo Falcão puxava o trem onde cabiam quatro pessoas, ia o Zé Cágado a guiar, ao lado dele o Tio e o Zé no banco de trás. Seguindo a carroça ia o Tarzan.
Com as sacolas da merenda ao ombro compraram os bilhetes. Os bancos do comboio eram de madeira e em ripas, muito desconfortáveis, com eles viajavam mais umas quatro pessoas, uma das quais era estafeta – levava e trazia diversas coisas de Lisboa que lhe encomendavam – Por onde o comboio passava ia entrando mais gente e nas diversas estações havia pessoas a vender coisas, ciganos, pedintes, vestidos de negro e com a mão estendida. "Tio, este comboio não tem casa de banho, e se eu precisar onde vou?... " "Só vais quando o comboio parar e de súbito começou a rir, lembrou-se duma anedota que contavam, e todos já se riam ao vê-lo rir… Foi assim: "Dois soldados viajavam neste comboio, iam sós na mesma carruagem, aos dois deu vontade de fazer as suas necessidades e como estavam muito aflitos e não tinham onde abriram a janela e puseram o rabo de fora descarregando o que estava a mais. Era o tempo da monda e um grupo de mulheres que andava no campo ao ver o comboio passar e aquela cena diziam: ‑ Olha, ali vão duas pessoas, uma vai a vomitar e outra a fumar de charuto!...”
Zé ria que se fartava, transbordavam os dois de alegria e boa disposição fazendo rir os companheiros de viagem.
Zé já tinha maneiras mais de adulto do que adolescente. Naquele tempo as pessoas faziam-se mais cedo homens do que agora, já tinham grande sentido de responsabilidade.
Durante a viagem foram sempre falando, da amizade, amor, carinho, compreensão e religião... Cachapim não acreditava no destino, Zé sempre ouvira falar nele, o tio dizia que o destino é conforme o jeito que se dá às coisas e se o mal acontece de algum lado vem, doença, mentiras, etc. E assim iam falando, o Tio acrescentando que acima de tudo era fazer as coisas a bem com nossa consciência e com muito amor ao próximo, principalmente a família e os amigos, a Pátria, falar sempre verdade, pois esta tem muita força, não devemos nunca ser violentos, mas temos sempre que nos defender de quem nos quer tratar mal, moral ou fisicamente.
Chegaram ao Barreiro com o traseiro muito dorido. Zé ficou radiante quando se dirigiram a pé da estação do Terreiro do Paço para o Hospital. Ao passarem pelas ruas da Baixa iam admirando tudo, lojas, trânsito... O movimento era grande em relação a outras cidades que já conhecia e ficava fascinado, iam na direcção do Largo de S. Domingos para subirem ao Hospital, seu Tio conhecia bem Lisboa. Ao passarem pelo Rossio um sujeito palerma meteu-se com o Tio por causa da sua boina espanhola, este não gostou, agarrou-o só com uma mão e atirou-o para dentro dum chafariz com água, continuaram como se nada tivesse sucedido, um homem com cerca de dois metros metia respeito e ele não era para brincadeiras. Zé viu pela primeira vez um homem de raça negra ao cruzar uma rua.
Depois da visita ao hospital seu Tio vinha triste e o Zé apercebendo-se disso tudo fazia para o distrair, foram ver um filme português muito em voga com o célebre actor Vasco Santana e apresentaram antes do filme um documentário sobre a II Guerra Mundial, nunca mais o Zé se vai esquecer de tal.
Dormiram em casa de um ricalhaço de Lisboa que morava na Lapa num prédio muito bonito. Esta casa tinha criados fardados e do último andar onde dormia via-se o Tejo. Seu Tio andava nessa casa com todo o à vontade, conversaram muito com o dono da casa, tratavam-se por tu, deviam ter a mesma idade. Ao saírem passaram perto do Palácio de S. Bento e ele disse: “Aqui está o homem que está entalado na minha garganta."
Andando pelas ruas ficou a conhecer muita coisa, foi até ao mercado do Rato comprar fruta para a viagem, pão e outras coisas, pelas ruas tudo se vendia e apregoava: água de Caneças, fava-rica, peixe fresco, boa sardinha e muitas outras coisas...
Quando regressou a casa disse a sua mãe que tinha gostado de conhecer Lisboa, mas viver ali nem pensar, sem animais, sem árvores, sem cheiro a restolho e outra coisas de que o nosso Alentejo é farto.