08- Costa Pinheiro

Morreu o pintor António Costa Pinheiro-Moura

"Co-fundador do Grupo KWY, pioneiro na integração internacional dos artistas portugueses, António Costa Pinheiro foi um tímido importante na vanguarda da arte da segunda metade do século XX."

"António Costa Pinheiro morreu com 82 anos (1932-2015), na sexta-feira, em Munique, vítima de complicações de saúde provocadas por uma pneumonia. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO por Bernardo Pinto de Almeida, um estudioso da obra do artista e do pintor.

Homem reservado, pouco afeito aos holofotes da consagração, Costa Pinheiro desenvolveu parte relevante do seu percurso na Alemanha, onde granjeou o reconhecimento de artistas, comissários e galeristas, e foi, na opinião do historiador e crítico de arte, um pioneiro discreto de várias tendências da arte contemporânea.

Natural de Moura (1932), Costa Pinheiro frequentou o Liceu Camões e a Escola de Artes Decorativas António Arroio, antes de realizar a sua primeira exposição individual em 1956, na Galeria Pórtico, em Lisboa. Um ano depois obteve uma bolsa do Ministério da Cultura da Baviera, para estudar na Academia de Belas-Artes de Munique. Acompanharam-no à cidade alemã, onde estudou gravura com o pintor Geitlinger, Lourdes Castro e Gonçalo Duarte.

De regresso a Lisboa em 1958, recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e viaja para Paris. É na capital francesa que, em 1960, convive com Vieira da Silva e Arpad Szenes e funda o grupo e a revista KWY na companhia de Lourdes Castro, Gonçalo Duarte, José Escada, René Bertholo, João Vieira, do búlgaro Christo Javajeffe e do alemão Jan Voss. No mesmo ano, a primeira exposição portuguesa do KWY é inaugurada na Sociedade Nacional de Belas-Artes com o bom acolhimento da imprensa lisboeta, mas Costa Pinheiro não ficará muito tempo em Lisboa.

Sente fisicamente a asfixia do regime de Salazar (é preso pela PIDE em Caixas) e em 1963 foge para a Alemanha. Terminada aventura da KYW, vai desenvolvendo um percurso entre Munique e Paris, distante da cena artística portuguesa. Em 1964 começa a pintar Reis, série que revelará um dos traços da sua obra. “Há uma relação muito forte com a tradição europeia da pintura, mas também com as mitologias portuguesas”, considera Bernardo Pinto de Almeida. “Essa série reabilita um certo tecido cultural, mitológico da história portuguesa. Confronta-se com ele, revisita-o com a pintura, como também acontecerá nos trabalhos dedicados a Fernando Pessoa”.

Na linha da frente

Reis é exposta em 1966 na Galeria Leonhart em Munique e, nos anos seguintes, Costa Pinheiro virá a conhecer um sucesso assinalável, sendo distinguido com o Prémio Burda da Pintura na Haus der Kunst e o prémio de Pintura (Förderpreis) da Cidade de Munique. Esse importante acolhimento, que andará a compasso do alheamento da cena portuguesa, pode ter a sua explicação num pioneirismo. "Costa Pinheiro é um dos primeiros artistas a incorporar uma releitura da tradição expressionista alemã, da pintura de Paul Klee, Kandinsky, Malevich. É algo que Gerhard Richter e Sigmar Polke farão a seguir, mas que já vem sinalizado no seu trabalho.”

No final da década, o artista português decide fintar o sucesso conquistado na Alemanha. Recusa um convite de Joseph Beuys para leccionar na Academia de Belas-Artes de Düsseldorf (como recusará o convite do curador suíço Harald Szeemann para integrar a Documenta 5, em Kassel), afasta-se da pintura, dos holofotes das fama e das frivolidades do mundo da arte. “É difícil dizer porquê. Creio que ele desconfiava muito do sucesso, do mediatismo. Quando percebia que estava a ser muito solicitado, desaparecia. Era um homem tímido”.

Até 1976, a atenção de Costa Pinheiro concentra-se em questões como a desmaterialização do objecto artístico (tratada no texto Imaginação e Ironia) e no projecto Citymobile, do qual foi mostrada uma maqueta numa antológica realizada no Centro Cultural de Cascais em 2006. “Permanece pouco visto, o que é pena, pois antecipa a ideia de arte pública”, comenta o historiador. “Foi um projecto no qual colocou a arte em diálogo com a arquitectura utopista, com o urbanismo e as ideias desenvolvidas em torno da cidade por Henri Lefebvre [filósofo francês]. Ele esteve na linha da frente dessas reflexões”.

O ano de 1976 marca o regresso à pintura e o início da série em que representa a figura de Fernando Pessoa. A sua obra recupera visibilidade em Portugal sem se confundir com outros estilos e olhares. “O Pessoa de Costa Pinheiro não é o de Almada Negreiros e não é uma imagem ilustrativa. Ela faz uma compreensão filosófica dos heterónimos do escritor antes das leituras de José Gil e de Eduardo Lourenço. Mas fê-la com a pintura, com as telas.

Ao longo dos anos 80 realiza e expõe, entre Portugal e Alemanha, várias séries que fazem uma síntese da sua pintura e em 1991 constrói um atelier no Algarve. Expõe em 1980 no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, e em 1990 na Casa de Serralves, no Porto, mas ficou a faltar-lhe a grande retrospectiva que muitos dos seus pares nacionais conheceram. “Foi um dos maiores artistas da segunda metade do século XX para os principais críticos da sua geração e um pioneiro na internacionalização dos artistas portugueses. Não entendo a ausência de uma grande exposição das suas obras numa grande instituição em Portugal. Permanece uma cegueira, um desconhecimento entre certos decisores”.

Entretanto, e enquanto não se faz a luz merecida sobre a obra do co-fundador do KWY, é possível apreciar 70 dos seus trabalhos numa exposição comissariada por Bernardo Pinto de Almeida, até 31 de Dezembro, em Lisboa, na Galeria São Roque Too."

Artigo de José Marmeleira in publico.pt/culturaipsilon

O nosso Blogue "Amigosterrasborba" dedicou o seu ùltimo trabalho à divulgação da obra de Costa Pinheiro.

Através do Link em anexo, poderão consultar a retrospectiva então efectuada.

António Costa Pinheiro

António Costa Pinheiro nasceu em Moura, em 6-6-1932. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e a Escola de Belas Artes de Lisboa. Em 1956 fez a sua primeira exposição individual. Foi bolseiro do Ministério da Cultura, em Munique e da Fundação Gulbenkian, em Paris e co-fundador do grupo KWY. Dedica-se à pintura, gravura e ilustração. É considerado um pintor neofigurativo, chegando por vezes a um abstraccionismo, utilizando geometricamente as figuras. É visível também na sua obra o conceptualismo. Recebeu entre outros o prémio Amadeu Sousa Cardoso´.

De entre a sua obra destaca-se a série sobre os Reis de Portugal (1964-1966), quase todos passados a tapeçaria, e os seus trabalhos sobre Fernando Pessoa, um dos quais também passado a tapeçaria se encontra numa das salas do Tribunal de 1ª instância da Comunidade Europeia, no Luxemburgo.

O Poeta

"Em 1966, realiza uma série de retratos imaginários dos Reis de Portugal [...] segundo a recriação, lírica ou irónica, das lendas populares"; essas figuras ocupam lugar centralizado nas obras e apresentam a "rigidez característica da estatuária oficial", regendo-se por traçados inspirados nos jogos de cartas tradicionais."(in Wikipédia)

Tapeçaria

D. Duarte

D. Inês de Castro

D. João II

D. Leonor Teles

D. Pedro I

D. Sebastião

Pintura

A obra de Costa Pinheiro mereceu o melhor acolhimento dos mais importantes sectores da crítica e das instituições na Alemanha, país onde o pintor viveu, e onde está representado nas principais colecções públicas e privadas.

Mar Tenebroso

A propósito da sua obra mais recente, “Eles e Elas”, escreve Bernardo Pinto de Almeida no livro editado pela Galeria Fernando Santos: “…no processo conceptual e formal em que a obra de António Costa Pinheiro se vem desenvolvendo, desde há mais de quatro décadas, estas novas personagens revestem uma significação que, não repetindo as anteriores, o que seria uma forma de academizarão, antes as actualiza. Desde logo no modo como elas servem apara construir uma narrativa, aqui simplificada em extremo, que se estabelece a partir do lugar que essas mesmas personagens ocupam num outro plano narrativo que lhes é extrínseco. Darei um exemplo para tornar mais claro o raciocínio. Se, como no caso exemplar dos Reis (a série dos anos 60 que o consagraria como uma referência incontornável da arte portuguesa da segunda metade do século XX), ou, depois, na outra dos Navegadores, cada personagem se elaborava como sujeito de uma narrativa própria cujo sentido se esclarecia quando projectado na narrativa mais abrangente da própria História (e mais concretamente da história de um País) ou, em alguns casos, nessa outra narrativa mais imperceptível que é a do mito, em que por vezes a história como que se dilui, o facto é que agora a presença destes dois seres, reflecte esse processo de um modo diverso.”

Painéis de azulejos, Estação da Alameda-Lisboa- 1997

"Retoma a pintura em 1976 com dois ciclos emblemáticos: La Fenêtre dans ma tête e Fernando Pessoa, onde utiliza dispositivos herdados das incursões concetuais; nesta última série realiza um levantamento imaginário "dos objetos e espaço próprios do Pessoa mítico: chapéu, óculos, caneta, gaivotas do Tejo, Lisboa...".in Wikipédia

António Costa Pinheiro (1932); Os Óculos do Poeta Álvaro de Campos - Heterónimo de Fernando Pessoa; 1980; óleo sobre tela; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

2001

Exposição individual “Álbum do Mar”, Galeria da Restauração, Museu da Cidade, Olhão.

2005

Exposição individual “Elas e Eles”, Chiado 8 Arte Contemporânea, Lisboa,

e Galeria Fernando Santos, Porto

Ela atrás do sonho dele, ele atrás do sonho dela,

ela olhando o seu corpo, ele olhando o corpo dela (2003)

Não só eles e elas (2003)

Ela, ele, a "cosmolanguage" e as poeiras cósmicas (2003-4)

Ele e o seu cosmos (2003)

Ela e o corpo dele/ela e a sua religião/

elle avec son amour/ela e o cosmos (2003)