16 Respigando...Borba

Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2021

quarta-feira, 11 de Abril de 2018

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Fotografia de Adriano Bastos

"Chamava-se João José Falcato e nasceu em 17 de Agosto de 1915. Tinha 90 anos.

Era natural de Borba. Mercê de circunstâncias várias seus pais, gente abastada, arruinaram-se.

Fez exame de instrução primária aos 18 anos e partiu para Lisboa onde foi Perfeito num colégio e teve o apoio do professor Agostinho da Silva que seduzido pela sua luminosa inteligência lhe ministrava durante as horas do almoço a preparação necessária para aceder à Faculdade.

Embarcou no paquete “Melo” (como oficial?) para ganhar dinheiro.Nessa viagem o paquete naufragou. Viu morrer muitos dos seus companheiros a arder nas chamas que devastaram o navio. Viu outros serem engolidos por tubarões. Conseguiu, com alguns outros mais, sobreviver dias no mar numa pequena baleeira. Foram salvos por um navio que os desembarcou no Brasil.

Aí permaneceu meses num hospital.

Sobre essa dolorosa experiência, escreveu, já em Coimbra, em cuja Universidade se matriculara e se formou em história e filosofia, um romance, que fez imenso sucesso – Fogo no mar – (sobre ele, Matilde Araújo, sua colega de curso, apresentou a sua tese de licenciatura). Sobre o mesmo tema escreveu também “A Baleeira”

Foi fundador e director de revistas e jornais (Brados do Alentejo, revista Volante etc...) e colaborador em muitos outros. Deu precioso apoio ao Linhas de Elvas, na sua fase de lançamento, e, onde intermitentemente foi colaborando ao longo da sua vida.

Escreveu vários livros, num deles “Elucidário do Alentejo? – faz numa belíssima prosa/poesia a apologia da “loira açorda”. Em “Roteiro de Amor”, espraia-se louvando Elvas.

Foi redactor do Diário de Notícias – de onde viria a sair, como muitos outros, pela mão de Saramago – após o 25 de Abril.

Foi chefe de gabinete de Veiga Simão enquanto Ministro da Educação. Nessa qualidade, bem como na de Redactor do D.N. viajou pelo mundo, especialmente por Angola. Sobre essas viagens deixou-nos obra valiosa em livros e crónicas - Saudades de Portugal – Angola do Meu Coração - Foi um dos fundadores do jornal “ o Dia” com João Coito seu amigo particular, que em 2001ao falar sobre o Panteão Nacional, assim se lhe referia: - ”Já foi seu conservador durante algum tempo, por amável e justa decisão do Dr. Almeida Santos, o meu velho amigo João Falcato, ilustre escritor e jornalista que a idade e o gosto transformaram no mais afamado e amoroso cultivador dessas perfumadas vinhas de Borba”. Foi contemporâneo e amigo de figuras gradas das nossas letras de quem guardava livros com honrosas dedicatórias. Almeida Santos (que foi seu caloiro de republica, em Coimbra), Mário Soares (a quem apresentou Maria Barroso, com quem se casaria, circunstância que os três relembravam, com humor até em entrevistas), Virgílio Ferreira, Torga, Namora, Alçada Baptista, Eugénio de Andrade etc. de artistas, Bual, Gil Teixeira Lopes e outros. Foi devotado amigo de Sebastião da Gama, de quem falava com lágrimas de saudade e, que, por misericórdia de afecto, amortalhou por suas mãos.

Um nunca acabar de histórias ligadas à história das letras portuguesas que faziam de João Falcato, um brilhante conversador, conhecedor do mundo e das pessoas que esbanjava cultura e saber com um espírito, uma graça e uma vivacidade inigualáveis."

in Jornal Linhas de Elvas Conversas Soltas Nº 2.839 – 10 – Novembro - 2005-Publicado por Maria José Rijo

segunda-feira, 2 de abril de 2018

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Fotografia de Adriano Bastos

06 BORBA in

'Livro Portugal Antigo e Moderno' de 1873 de Augusto Pinho Leal, (Borba da Pág 414 a 418) através do contributo e mensagem enviada por Filipe Rosado a quem agradecemos, em nome de todos os Borbenses.

Os nossos melhores AGRADECIMENTOS ao contributo de Filipe Rosado

e à perspectiva de um imenso espólio de documentos a estudar e divulgar...

PORTUGAL

ANTIGO E MODERNO

DICIONARIO

Geographico, Estatistico, Chorographico, Heraldico,

Archeologico,

Historico, Biographico e Etymologico

DE TODAS AS CIDADES E FREGUEZIAS DE PORTUGAL

E DE GRANADE NUMERO DE ALDEIAS

Se estas são notáveis, por serem pátria d’homens célebres,

por batalhas ou outros factos importantes que nelas tiveram lugar,

por serem solares de famílias nobres,

ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes.

NOTICIA DE MUITAS CIDADES E OUTRAS POVOAÇÕES DA LUSITANIA

DE QUE APENAS RESTAM VESTÍGIOS OU SOMENTE A TRADIÇÃO

por

Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal

L I S B 0 A

LIVRARIA EDITORA DE MATTOS MOREIRA & COMPANHIA

86 – Praça de D. Pedro – 68

1873

p. 414

BORBA ‑ pequeno rio, Minho, concelho de Celorico de Basto. Nasce entre a serra do Viso e a freguesia do Rêgo, de varios arroyos, e toma este nome passando pela freguezia de Borba da Montanha.

Perde o nome na freguezia de Chapa, tomando o de Santa Nadaya, e n'esta mesma freguezia, da Chapa. se mette no Tâmega.

De inverno se torna caudaloso e arrebatado. Rega, móe e traz peixe miudo. Suas margens são pouco cultivadas, mas bastante arborisadas.

BORBA -- serra, Alemtejo, termo de Extremoz, freguezia de Rio de Moinhos. Tem 9 kilometros de comprido e3 de largo. Lança um braço ao S., chamado Vigaria. Ha n’ella marmore branco egual ao melhor jaspe de Italia. É em grande parte cultivada e tem muitas vinhas e olivaes. Muito alecrim.

Ao S., na ponta d’esta serra, está a capella de Nossa Senhora da Victoria, construída em memoria da célebre o gloriosa victoria de Montes Claros, que aqui 'teve logar, á raiz da serra, em uma planicie ao 0., proximo à aldeia de Montes Claros.

No dia 17 de junho de 1565, D. Antonio Luiz de Menezes, conde de Cantanhede e 1º marquez de Marialva, com forças muito inferiores, derrotou aqui completamente o marquez de Carracena e o seu grande exercito castelhano. (Vide Borba e Villa Viçosa., no sitio competente.)

No mesmo sitio da batalha, ha formosas canteiras de marmore azul e branco, de qualidade superfina. (Os melhores sítios d`esta bella pedra, são na Salgada e na Ruivinha, já no termo de Borba, d'onde sairam as formosas columnas e mais cantaria da sumptuosa capella-mór da Sé de Evora.)

BORBA- ribeira, Àlemtejo. Nasce das fontes da villa de Borba e morre no Guadiana. Rega e móe. (Vide Borba, villa.)

BORBA-villa, Alemtejo, comarca a 12 kilometros de Extremoz, 48 de Evora, 155 ao SE. de Lisboa; 830 fogos, em duas freguezias (S. Bartholomeu e Nossa-Senhora das Neves, ou do Sobral) 3:200 almas.

No concelho 1:290 fogos.

Em 1660 tinha a villa 400 fogos, e em 1757 820 (as duas freguezias.)

A freguezia de Nossa Senhora das Neves tinha em 1757 500 fogos, e a de S. Bartholomeu, 320.

Arcebispado e districto administrativo de Evora.

Feira no 1° de Novembro, 3 dias.

Optimas pedreiras de marmore no seu termo, e minas de chumbo, manganez e outros metaes.

Foi antigamente da comarca de Villa Viçosa, que lhe fica 5 kilometros a E.

É da casa de Bragança e foi antigamente cabeça de condado e depois de marquezado.

É povoação incontestavelmente antiquissima. A sua fundação se attribue aos gallos-celtas, pelos annos do mundo 3030 (976 antes de Jesus Christo.)

Outros dizem que os gallos-celtas a fundaram no anno do mundo 3698, isto é, 306 antes de Jesus Christo. (p. 415)

Passou pelas differentes alternativas que sofreram as Hespanhas, até que D. Affonso II a tomou aos arabes em 1217, e a mandou povoar.

Seus moradores a abandonaram, e o mesmo rei a tornou a mandar povoar, dando-lhe muitos privilegios, para attrahir para aqui moradores.

D. Diniz lhe deu foral, por carta regia, datada de Santarem, a 15 de junho de 1302, concedendo-lhe o foral de Extremoz, com todos os seus privilegios, que eram muitos e grandes.

Deu-lhe muitos e grandes privilegios, porque, apesar das isenções e privilegios que lhe tinham dado seus antecessores, ainda estava quasi despovoada. Edificou então o castello, segundo a tradição.

D. Manuel lhe deu novo foral, em Lisboa, no 1° de junho de 1512.

Ha duvida sobre quem fundou o castello de Borba. A tradição diz que foi D. Diniz, porém, tambem a tradição diz que junto á villa, no sitio ainda hoje chamado os Mosteiros, existiu um convento de templarios. No castello ha uma pedra com dois malhos esculpidos (emblema da Ordem do Templo) e por isso é de suppor que foram estes cavalleiros os edificadores do castello, e que D. Diniz apenas o repararia.

Estes malhos estão em uma alta torre quadrangular que está dentro do castello, deitando para a praça. Por cima dos malhos estão umas lettras, ou garatujas que se não podem ler, por sumidas.

A bonita villa de Borba está n`um dos mais bellos sitios do Alemtejo, em frente da linda villa de Villa Viçosa.

É situada em um delicioso, ameno e feracissimo valle, muito abundante de aguas, produzindo grande quantidade do cereaes, muito e optimo vinho, azeite e fructa.

A egreja matriz da Senhora do Soveral (antigamente das Neves) é de 3 naves, o templo respeitavel.

A naves são formadas por dois renques de sete columnas cada um, de marmore branco.

Da inscripção que está em uma pedra na parede da egreja, consta por quem e quando foi fundada.

Diz assim: (p. 416)

Esta egreja é' da Ordem de Avis: mandou-a fazer o muito nobre Senhor D. Frei Fernando Roiz de Sequeira, mestre da cavallaria da Ordem de Aviz, no anno da era de 1401. Aviz, Aviz, Sequeira, Sequeira.

(Foi pois fundada no anno 1363 de Jesus Christo.)

O rei, como governador e administrador perpetuo do mestrado da Ordem de S. Bento de Aviz, é que apresentava o prior desta freguezia, que tinha 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 réis em dinheiro. Tinha 3 beneficiados curados, da mesmo apresentação, cada um com 2 moios de trigo, 90 alqueires de cevada e 10$000 réis em dinheiro. Thesoureiro, com um moio de trigo, 20 almudes de vinho, 8 alqueires de azeite e 6$000 réis em dinheiro, que tudo pagava o commendador de Borba (da Ordem de Aviz.)

A matriz de S. Bartholomeu fica dentro das muralhas da villa, com todos os seus parochianos. O seu prior é da mesma apretentação do antecedente e pelo mesmo motivo. Tinha de renda 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 reis em dinheiro. Tinha thesoureiro, da mesma apresentação, com um moio de trigo e 4$000 réis em dinheiro.

Nesta freguesia é o Convento de Santa Clara, de freiras franciscanas, fundado pelo licenceado Antonio Cardeira, desta villa, em 1600. A padroeira d'este convento, é Nossa Senhora das Hervas, ou das Cérvas.

Outros dizem que este licenceado (que era vigario da vara, e por consequencia padre) se chamava Pedro Cerdeira.

Tambem é n’esta freguesia o collegio dos frades paulistas. A primeira pedra d'este convento foi lançada em 1704, fundado pelo dr. João Gomes Pinto, chantre da Sé de Coimbra, com obrigação de duas missas quotidianas, ditas por alma do fundador.

Este convento fica a 3 kilometros da villa e proximo do sitio onde se deu a gloriosa batalha de Montes Claros, a 17 de junho de 1665. (O sr. Carreira de Mello diz que foi a 17 de julho.)

O nosso exercito constava de 15:000 infantes e 1:500 cavallos: os hespanhoea tinham quasi o dobro, além de uma forte columna que deixaram a sitiar Villa Viçosa.

O nosso bravo marquez de Marialva (e conde de Cantanhede] que ia em soccorro de Villa Viçosa, foi atacado pelo marquez de Carracena na planície dc Montes Claros, com o maior encarniçamento e bravura, mas nem o numero, nem o valor, nem a disciplina dos hespanhoes fizeram a menor impressão de duvida aos portuguezes, que se baterem como leões, e no fim de muitas horas de profiado batalhar e com perda de 700 portuguezes mortos, conseguiram uma brilhante victoria.

Os castelhanos tiveram 4:000 mortos e 6:000 prisioneiros; perderam artilheria, bagagens, etc., etc., e fugiram (os que puderam] para Castella. (Vide Historia de Portugal.)

Borba tem Egreja da Miserícordia com um bom hospital. Tem capellão-mor, a quem paga 2 moios do trigo, pela obrigação de assistir aos enfermos, e 12$000 réis pelas missas dos domingos, dias santos, e quartas feiras.

Tem este pio estabelecimento 1:600$000 reis de rendimento annual.

Fora da villa ha a boa quinta dos condes das Galveias, com uma capella de abobada.

---

Em Borba nasceu e morreu o dr. André Cavallo (!) que, depois de exercer varios logares de lettras, se motteu em casa, fazendo vida solitaria e penitente, e morrendo com fama de Santo.

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Aqui nasceu Diniz de Mello e Castro, que principiando por soldado razo, chegou, pelo seu valor, a ser governador de província, commendador de varias commendas e conde das Galveias.

E seu irmão Antonio de Mello e Castro, que tambem por seu extremado valor, chegou a ser governador de muitas praças da India.

---

É patria de Alvaro Penteado, bravissimo soldado, que fez prodígios de valor no cêrde Dio.

E de Bento Pereira, celebre grammatico portnguez.

Borba, álem dos privilegios do seu foral, tinha mais o dos caseiros, da Casa de Bragança.

D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por delatar a traição de D, Diogo, duque de Vizeu. Depois foi Borba elevada a marquezado.

No castello ha uma abundante fonte de bôa agua (que primeiro esteve onde agora é a praça) com um grande e antigo aqueducto bastante extenso.

Ha outra fonte abundantissima, junto á matriz, com 4 grandes biccas de pedra, desaguando em um grande tanque e d'elle em um vasto lago.

D'estas duas fontes tem principio a ribeira de Borba.

Ainda, fora da villa e junto ás muralhas, dentro do adro da egreja, está a fonte dos Finados, que por um bom aqueducto vae desaguar na quinta dos Barretos, regando ahi um extenso pomar de toda a qualidade de fructas.

É perenne e diz-se ser muito boa agua para dar ás mulheres nos primeiros 15 dias depois do parto.

Tambem junto à villa ha a fonte da Moura, que secca de inverno e é abundantissíma no verão.

Ha outra fonte proxima da villa, chamada do Telheiro, que dizem causar dôr de colica e até a morte, a algumas pessoas que d'ella bebem!

A fonte da Pipa, que está entre o monte de S. Claudio e a Cabeça-Gôrda, a cuja agua se atribue a virtude de curar a dôr de pedra.

A mesma qualidade se atribue á agua da fonte dos Asnos.

Ha ainda a fonte das Mós, ou do Freixo, tão abundante, que faz moer azenhas e moinhos. Alem de outras fontes particulares.

---- (p. 417)

É villa murada, com seu castello (de que já fallei) dentro, ao E, e com seus reductos e 3 portas.

Na muralha do castello, no meio da praça, está uma torre bastante alta. Junto a esta está outra feita à maneira de pyramide, onde esta o relogio da villa e o sino da camara. D’ella vae um grande passadiço para a outra torre, que serve de cadeia.

Fora da villa, a 1:000 metros ao S, é o convento de frades capuchos chamado do Bosque, fundado em 1505 por D. Jayme, duque de Bragança.

Foi tambem D. Jayme que fez o muro que fecha o bosque, horto e jardins. O bosque é extenso e em povoado de antigas e diversas arvores. Produz muitas flores (sobre tudo violetas) e não cria animal algum peçonhento. Tem variedade e multidão de passarinhos.

Tem 4 fontes copiosissimas (Santo Antonio, S. Francisco, Sacramento ou S. Paschoal e S. Pedro.)

Foi reedificado em 1548 e em 1670. Foi o duque D. Theodozio que o reedificou á sua custa em 1518.

A sua cerca e o seu bosque, tudo abundantissirno d’aguas, é dos sitios mais deliciosos do reino.

No bosque ha 4 ermidas (Nossa Senhora da Conceição, Familia Sagrada, Calvario e S. Jeronymo.) A capella de S. Jeronymo estava entre arvores altissimas, e que pareciam tão antigas, como o mundo. Não sei se estas arvores venerandas escaparam ao machado vandalico.

Este convento era da invocação de Nossa Senhora da Consolação.

Antes do ser convento, era uma formosa quinta, dos duques de Bragança.

Já se vê que este convento era propriedade da casa de Bragança; mas os liberaes de 1834 o julgaram e alcunharam «Bens Nacionaes» e o venderão então.

É certo que o seu actual proprietario, apezar de derrotar o lindíssimo bosque que deu o nome ao convento, tem conservado a cêrca em soffrivel estado.

__

Borba foi saqueada por D. João d'Austria, filho bastardo de Philippe IV) em 1662.

Este bastardo cobarde, vingava-se das continuas derrotas que soffria das nossas tropas, roubando e incendiando as povoações indefezas!

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No Rocio do Cima, ao N. e proximo da villa, terreno baldio, onde se costumam fazer as debulhas de cereaes, se descobriu, em 1832, uma mina de sulphureto de chumbo, que dá 76 por cento de chumbo, do boa qualidade, 11 por como de enxofre, 1 por cento de prata 12 por cento do cal, siilca e oxido de ferro.

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Diz-se que o nome de Borba provem a esta villa, de um grande barbo que apareceu em épocas remotas em uma fonte que está dentro do castello, proximo á egreja da Misericordia. Outros dizem que eram dois os barbos que aqui appareceram.

É certo que as armas de Borba, são:

Escudo branco, no fundo ondas verdes e sahindo d’ellas duas cabeças de peixe (barbos.)

Ha porem suas duvidas sobre isto; porque outros querem que seja um caslello e ao pé uma fonte com um barbo. Outros dizem que é um rochedo sobre a agua, da qual sahem dois barbos.

É assim que ellas estão pintadas na Torre do Tombo; todavia, as primeiras são as mais geralmente usadas.

Tem boas o espaçosas ruas e a sua casa da camara é das melhores do todo o reino.

Os seus arrabaldes, povoados de frondoso arvoredo, e ornados de hortas, vinhos, quintas, cearas, e pomares, são deliciosissimos. (É a Cintra do Alemtejo).

Do alto de um monte chamado da Boa-Vista, visinho ao convento do Bosque, se veem as villas do Veiros, Evoramonte, Extremoz, Fronteira, Cabeço de Vide, Monforte, Villa Buim, Terrugem, Jurumenha, Villa Viçosa e a cidade de Portalegre; álem de varias serras, e extensas planicies. Tambem deste bello sitio se veem as villas hespanholas de Villa-Real, S. Jorge Olivença (quo os hespanhoes iá nos teem bem mal usurpada!.....)

Diz-se que no termo de Borba ha minas de prata e se encontram turquezas, e outras pedras preciosas, e crystal de rocha.

Ás turquezas chamavam os romanos cyanias. São verdes, semelhando esmeraldas.

Tinha voto em côrtes, com assento no banco 15.°

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A fonte collocada no largo da Fonte, é de marmore branco e de forma magestosa. Foi feita pela camara em 1781.

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Borba exporta grande quantidade de vinho, azeite e cereaes.

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No Outeiro da Mina, ha vestígios de minas metalicas, dos romanos ou árabes. Diz-se que daqui e do Rocio de Cima, extrahiram prata.

Tem estação telegraphica municipal, por decreto de 7 de ahril de 1869.

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Tem marquez, que é tambem conde do Redondo e senhor de Gouveia.

Para as armas d'estes titulares, vide Galveias e Redondo.

---

D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por lhe descobrir a traição que seu cunhado, o duque de Viseu, tentava contra o rei. Este chama aos poços de Setubal o duque, e alli mesmo o assassina a punhaladas, em 23 d'agosto de 1484. Depois, manda formar processo (!!!) ao duque e aos seus cumplices, que todos foram declarados réus d’alta tracção e executados.

---

A pouca distancia da villa, está o convento de frades paulistas de Nossa. Senhora da Luz, em cujo sitio se deu a gloriosa batalha denominada de Montes Claros (em 17 de junho de 1665) assim chamada, por ser este o nome dos campos onde foi a acção.

Era general dos castelhanos, o marques de Caracêna, o dos portuguezes era o ínclito D. Antonio Luiz de Menezes, conde do Cantanhede, ao qual D. Affonso Vl, havia feito marquez de Marialva, em 11 de junho de 1661, em premio da victoria por elle alcançada nas linhas d’Elvas (13 de janeiro de 1659).

Depois de muitas horas do profiado combate, obtiveram uma das mais brilhantes victorias da guerra dos 27 annos. As nossas perdas foram 700 mortos e maior numero de feridos; mas a do inimigo foi de 4:000 mortos, inumeros feridos, que quaisi todos ficaram prisioneiros, vindo a ser a totalidade d’estes seis mil e tantos.

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

"As respigadoras" de Jean-François Millet

Em Borba com o Prof. José Hermano Saraiva

A Alma e a Gente - Ressurreição das Aldeias (Borba)

03 Fev 2008

Prof. José Hermano Saraiva

O concelho de Borba não é um concelho grande, tem 142 quilómetros quadrados, a

população não é muita, tem 8500 habitantes, mas trata-se de um dos concelhos mais ricos

do Alto Alentejo. As duas grandes riquezas da região são o Vinho e o Mármore. Só que agora

surge uma terceira riqueza, o Turismo, com a ressurreição duma aldeia típica alentejana

(S. Gregório) agora transformada em aldeia turística (um projecto exemplar).

A Alma e a Gente - Ressurreição das Aldeias (Borba) - 03 Fev 2008

https://youtu.be/3TRJ3MwEbOk

Alentejo- Aldeia de São Gregório- Borba

https://youtu.be/SUGhVNm9J3g

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Photography of Ching Yang Tun

BORBA vista em 1927

por

Raúl Proença

Borba (E.) vila de 4.127 hab., sede de conc., sit. a uma alt. de 416 m. no fundo do vale circular formado pela vertente N. da serra de Borba (nome que no conc. toma a série de elevações que, começando em Sousel, vão terminar no Alandroal) com os dois contrafortes que se lhe encostam pelos lados N. e E. (cf. A Voz d'Estremoz de 16 de Janeiro a 3 de Fevereiro de 1898; A. Anselmo, O Concelho de Borba, 1907).

← ‑ Hospedarias (modestas):

Ana Cebola (vulgo Macaquinha);

Campante (Pensão Particular); Torrado.

‑ Carros de aluguer: Zefeferina Souto, Joaquim Miguel Bilro. Bicicletes: Sapatinha.

‑ Café na R. de 5 de Outubro.

‑ Teatro: Salão Central.

‑ Bilh. post. ilus.: Tabacaria de José Caetano R. da Silva (Praça de 5 de Outubro).

‑ Cicerone obsequioso: Pe. Manuel Lopes de Deus.

‑ Iluminação pública: petróleo

‑ Águas: de boa qualidade, embora um pouco calcáreas

‑ Descanso semanal: domingo.

‑ Dia feriado: 15 de Junho.

‑ Feiras: dos Santos (1 a 3 de Novembro).

‑ Festas: do Senhor dos Aflitos (3º domingo de Agosto).

‑ Borba é afamada pelo seu vinho, um dos mais saborosos do Alentejo.

Tem também uma fábrica de azeite a vapor e de sabões. →

Borba está numa das zonas de refrigério e num dos pequenos oásis do Alentejo desolado e tórrido, podendo ser também citada como uma das terras mais pitorescas do país.

A proximidade das célebres pedreiras de Montes Claros (p. 115) deu-lhe, mais ainda que a Estremoz, um alvo esplendor de mármores, que só encontra rival em certas cidadezinhas da Toscana. Não há, por assim dizer, cunhal de parede, moldura de porta ou de janela, degrau ou poial de escada, letreiro de rua e ate lareira da mais humilde casa que não seja de mármore.

O mármore esplende nas soleiras, nos alisares, nas chaminés e nas ermidas. Isto contribui, com o caiado das paredes, a limpeza dos pavimentos, o arrumo dos interiores, todos os pormenores da meticulosidade e do arranjo domésticos, para dar a impressão de asseio e de conforto que a vila suscita. É, pois, uma consolação percorrer Borba, deparando a cada passo recantos pitorescos, galerias de arcos, pátios, ferros de sacada, chaminés recortadas como minaretes, turbantes, espigueiros, barretes de clérigo, agulheiros, dados, capitéis românicos ‑ algumas rentes ao beiral, como em tantas outras terras do Alentejo. Só Loulé, no Algarve, põe êste luxo nas suas chaminés.

Nas varandas- escreve o Sr. Vergílio Correia ‑ as pinhas de ferro e os peitoris acogulham-se, recortam-se, arqueiam-se segundo as regras dum género de trabalho que se encontra disseminado entre o Tejo e o Guadiana, desde Elvas a Portalegre e de Avis até Évora e Montemor-o-Novo.

Trabalho do séc. XVIII, cheio de leveza e de recortes, muito diverso da sóbria firmeza de ferraria do séc. VVII.

Tomada por D. Afonso ll em 1217, foi-lhe dado foral de vila em 1302, reformado por D. Manuel em 1512. O acontecimento mais notável da sua história foi o enforcamento do governador do castelo, Rodrigo da Cunha Ferreira, e de dois capitães o fogo pôsto ao cartório da câmara pelas tropas de D. João de Áustria na sua invasão do Alentejo (13 de Maio de I662).

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

"As respigadoras" de Jean-François Millet

TEATRO COM OS JOVENS ESTUDANTES DE BORBA

em Fevereiro de 1962

Fotografia de Ching Yang Tung

Cante dos Três Reis (Borba)

https://youtu.be/W3aD3ZzfUA8

BORBA

06 BORBA in

'Livro Portugal Antigo e Moderno' de 1873 de Augusto Pinho Leal, (Borba da Pág 414 a 418) através do contributo e mensagem enviada por Filipe Rosado a quem agradecemos, em nome de todos os Borbenses.

Os nossos melhores AGRADECIMENTOS ao contributo de Filipe Rosado

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ANTIGO E MODERNO

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E DE GRANADE NUMERO DE ALDEIAS

Se estas são notáveis, por serem pátria d’homens célebres,

por batalhas ou outros factos importantes que nelas tiveram lugar,

por serem solares de famílias nobres,

ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes.

NOTICIA DE MUITAS CIDADES E OUTRAS POVOAÇÕES DA LUSITANIA

DE QUE APENAS RESTAM VESTÍGIOS OU SOMENTE A TRADIÇÃO

por

Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal

L I S B 0 A

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86 – Praça de D. Pedro – 68

1873

p. 414

BORBA ‑ pequeno rio, Minho, concelho de Celorico de Basto. Nasce entre a serra do Viso e a freguesia do Rêgo, de varios arroyos, e toma este nome passando pela freguezia de Borba da Montanha.

Perde o nome na freguezia de Chapa, tomando o de Santa Nadaya, e n'esta mesma freguezia, da Chapa. se mette no Tâmega.

De inverno se torna caudaloso e arrebatado. Rega, móe e traz peixe miudo. Suas margens são pouco cultivadas, mas bastante arborisadas.

BORBA -- serra, Alemtejo, termo de Extremoz, freguezia de Rio de Moinhos. Tem 9 kilometros de comprido e3 de largo. Lança um braço ao S., chamado Vigaria. Ha n’ella marmore branco egual ao melhor jaspe de Italia. É em grande parte cultivada e tem muitas vinhas e olivaes. Muito alecrim.

Ao S., na ponta d’esta serra, está a capella de Nossa Senhora da Victoria, construída em memoria da célebre o gloriosa victoria de Montes Claros, que aqui 'teve logar, á raiz da serra, em uma planicie ao 0., proximo à aldeia de Montes Claros.

No dia 17 de junho de 1565, D. Antonio Luiz de Menezes, conde de Cantanhede e 1º marquez de Marialva, com forças muito inferiores, derrotou aqui completamente o marquez de Carracena e o seu grande exercito castelhano. (Vide Borba e Villa Viçosa., no sitio competente.)

No mesmo sitio da batalha, ha formosas canteiras de marmore azul e branco, de qualidade superfina. (Os melhores sítios d`esta bella pedra, são na Salgada e na Ruivinha, já no termo de Borba, d'onde sairam as formosas columnas e mais cantaria da sumptuosa capella-mór da Sé de Evora.)

BORBA- ribeira, Àlemtejo. Nasce das fontes da villa de Borba e morre no Guadiana. Rega e móe. (Vide Borba, villa.)

BORBA-villa, Alemtejo, comarca a 12 kilometros de Extremoz, 48 de Evora, 155 ao SE. de Lisboa; 830 fogos, em duas freguezias (S. Bartholomeu e Nossa-Senhora das Neves, ou do Sobral) 3:200 almas.

No concelho 1:290 fogos.

Em 1660 tinha a villa 400 fogos, e em 1757 820 (as duas freguezias.)

A freguezia de Nossa Senhora das Neves tinha em 1757 500 fogos, e a de S. Bartholomeu, 320.

Arcebispado e districto administrativo de Evora.

Feira no 1° de Novembro, 3 dias.

Optimas pedreiras de marmore no seu termo, e minas de chumbo, manganez e outros metaes.

Foi antigamente da comarca de Villa Viçosa, que lhe fica 5 kilometros a E.

É da casa de Bragança e foi antigamente cabeça de condado e depois de marquezado.

É povoação incontestavelmente antiquissima. A sua fundação se attribue aos gallos-celtas, pelos annos do mundo 3030 (976 antes de Jesus Christo.)

Outros dizem que os gallos-celtas a fundaram no anno do mundo 3698, isto é, 306 antes de Jesus Christo. (p. 415)

Passou pelas differentes alternativas que sofreram as Hespanhas, até que D. Affonso II a tomou aos arabes em 1217, e a mandou povoar.

Seus moradores a abandonaram, e o mesmo rei a tornou a mandar povoar, dando-lhe muitos privilegios, para attrahir para aqui moradores.

D. Diniz lhe deu foral, por carta regia, datada de Santarem, a 15 de junho de 1302, concedendo-lhe o foral de Extremoz, com todos os seus privilegios, que eram muitos e grandes.

Deu-lhe muitos e grandes privilegios, porque, apesar das isenções e privilegios que lhe tinham dado seus antecessores, ainda estava quasi despovoada. Edificou então o castello, segundo a tradição.

D. Manuel lhe deu novo foral, em Lisboa, no 1° de junho de 1512.

Ha duvida sobre quem fundou o castello de Borba. A tradição diz que foi D. Diniz, porém, tambem a tradição diz que junto á villa, no sitio ainda hoje chamado os Mosteiros, existiu um convento de templarios. No castello ha uma pedra com dois malhos esculpidos (emblema da Ordem do Templo) e por isso é de suppor que foram estes cavalleiros os edificadores do castello, e que D. Diniz apenas o repararia.

Estes malhos estão em uma alta torre quadrangular que está dentro do castello, deitando para a praça. Por cima dos malhos estão umas lettras, ou garatujas que se não podem ler, por sumidas.

A bonita villa de Borba está n`um dos mais bellos sitios do Alemtejo, em frente da linda villa de Villa Viçosa.

É situada em um delicioso, ameno e feracissimo valle, muito abundante de aguas, produzindo grande quantidade do cereaes, muito e optimo vinho, azeite e fructa.

A egreja matriz da Senhora do Soveral (antigamente das Neves) é de 3 naves, o templo respeitavel.

A naves são formadas por dois renques de sete columnas cada um, de marmore branco.

Da inscripção que está em uma pedra na parede da egreja, consta por quem e quando foi fundada.

Diz assim: (p. 416)

Esta egreja é' da Ordem de Avis: mandou-a fazer o muito nobre Senhor D. Frei Fernando Roiz de Sequeira, mestre da cavallaria da Ordem de Aviz, no anno da era de 1401. Aviz, Aviz, Sequeira, Sequeira.

(Foi pois fundada no anno 1363 de Jesus Christo.)

O rei, como governador e administrador perpetuo do mestrado da Ordem de S. Bento de Aviz, é que apresentava o prior desta freguezia, que tinha 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 réis em dinheiro. Tinha 3 beneficiados curados, da mesmo apresentação, cada um com 2 moios de trigo, 90 alqueires de cevada e 10$000 réis em dinheiro. Thesoureiro, com um moio de trigo, 20 almudes de vinho, 8 alqueires de azeite e 6$000 réis em dinheiro, que tudo pagava o commendador de Borba (da Ordem de Aviz.)

A matriz de S. Bartholomeu fica dentro das muralhas da villa, com todos os seus parochianos. O seu prior é da mesma apretentação do antecedente e pelo mesmo motivo. Tinha de renda 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 reis em dinheiro. Tinha thesoureiro, da mesma apresentação, com um moio de trigo e 4$000 réis em dinheiro.

Nesta freguesia é o Convento de Santa Clara, de freiras franciscanas, fundado pelo licenceado Antonio Cardeira, desta villa, em 1600. A padroeira d'este convento, é Nossa Senhora das Hervas, ou das Cérvas.

Outros dizem que este licenceado (que era vigario da vara, e por consequencia padre) se chamava Pedro Cerdeira.

Tambem é n’esta freguesia o collegio dos frades paulistas. A primeira pedra d'este convento foi lançada em 1704, fundado pelo dr. João Gomes Pinto, chantre da Sé de Coimbra, com obrigação de duas missas quotidianas, ditas por alma do fundador.

Este convento fica a 3 kilometros da villa e proximo do sitio onde se deu a gloriosa batalha de Montes Claros, a 17 de junho de 1665. (O sr. Carreira de Mello diz que foi a 17 de julho.)

O nosso exercito constava de 15:000 infantes e 1:500 cavallos: os hespanhoea tinham quasi o dobro, além de uma forte columna que deixaram a sitiar Villa Viçosa.

O nosso bravo marquez de Marialva (e conde de Cantanhede] que ia em soccorro de Villa Viçosa, foi atacado pelo marquez de Carracena na planície dc Montes Claros, com o maior encarniçamento e bravura, mas nem o numero, nem o valor, nem a disciplina dos hespanhoes fizeram a menor impressão de duvida aos portuguezes, que se baterem como leões, e no fim de muitas horas de profiado batalhar e com perda de 700 portuguezes mortos, conseguiram uma brilhante victoria.

Os castelhanos tiveram 4:000 mortos e 6:000 prisioneiros; perderam artilheria, bagagens, etc., etc., e fugiram (os que puderam] para Castella. (Vide Historia de Portugal.)

Borba tem Egreja da Miserícordia com um bom hospital. Tem capellão-mor, a quem paga 2 moios do trigo, pela obrigação de assistir aos enfermos, e 12$000 réis pelas missas dos domingos, dias santos, e quartas feiras.

Tem este pio estabelecimento 1:600$000 reis de rendimento annual.

Fora da villa ha a boa quinta dos condes das Galveias, com uma capella de abobada.

---

Em Borba nasceu e morreu o dr. André Cavallo (!) que, depois de exercer varios logares de lettras, se motteu em casa, fazendo vida solitaria e penitente, e morrendo com fama de Santo.

---

Aqui nasceu Diniz de Mello e Castro, que principiando por soldado razo, chegou, pelo seu valor, a ser governador de província, commendador de varias commendas e conde das Galveias.

E seu irmão Antonio de Mello e Castro, que tambem por seu extremado valor, chegou a ser governador de muitas praças da India.

---

É patria de Alvaro Penteado, bravissimo soldado, que fez prodígios de valor no cêrde Dio.

E de Bento Pereira, celebre grammatico portnguez.

Borba, álem dos privilegios do seu foral, tinha mais o dos caseiros, da Casa de Bragança.

D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por delatar a traição de D, Diogo, duque de Vizeu. Depois foi Borba elevada a marquezado.

No castello ha uma abundante fonte de bôa agua (que primeiro esteve onde agora é a praça) com um grande e antigo aqueducto bastante extenso.

Ha outra fonte abundantissima, junto á matriz, com 4 grandes biccas de pedra, desaguando em um grande tanque e d'elle em um vasto lago.

D'estas duas fontes tem principio a ribeira de Borba.

Ainda, fora da villa e junto ás muralhas, dentro do adro da egreja, está a fonte dos Finados, que por um bom aqueducto vae desaguar na quinta dos Barretos, regando ahi um extenso pomar de toda a qualidade de fructas.

É perenne e diz-se ser muito boa agua para dar ás mulheres nos primeiros 15 dias depois do parto.

Tambem junto à villa ha a fonte da Moura, que secca de inverno e é abundantissíma no verão.

Ha outra fonte proxima da villa, chamada do Telheiro, que dizem causar dôr de colica e até a morte, a algumas pessoas que d'ella bebem!

A fonte da Pipa, que está entre o monte de S. Claudio e a Cabeça-Gôrda, a cuja agua se atribue a virtude de curar a dôr de pedra.

A mesma qualidade se atribue á agua da fonte dos Asnos.

Ha ainda a fonte das Mós, ou do Freixo, tão abundante, que faz moer azenhas e moinhos. Alem de outras fontes particulares.

---- (p. 417)

É villa murada, com seu castello (de que já fallei) dentro, ao E, e com seus reductos e 3 portas.

Na muralha do castello, no meio da praça, está uma torre bastante alta. Junto a esta está outra feita à maneira de pyramide, onde esta o relogio da villa e o sino da camara. D’ella vae um grande passadiço para a outra torre, que serve de cadeia.

Fora da villa, a 1:000 metros ao S, é o convento de frades capuchos chamado do Bosque, fundado em 1505 por D. Jayme, duque de Bragança.

Foi tambem D. Jayme que fez o muro que fecha o bosque, horto e jardins. O bosque é extenso e em povoado de antigas e diversas arvores. Produz muitas flores (sobre tudo violetas) e não cria animal algum peçonhento. Tem variedade e multidão de passarinhos.

Tem 4 fontes copiosissimas (Santo Antonio, S. Francisco, Sacramento ou S. Paschoal e S. Pedro.)

Foi reedificado em 1548 e em 1670. Foi o duque D. Theodozio que o reedificou á sua custa em 1518.

A sua cerca e o seu bosque, tudo abundantissirno d’aguas, é dos sitios mais deliciosos do reino.

No bosque ha 4 ermidas (Nossa Senhora da Conceição, Familia Sagrada, Calvario e S. Jeronymo.) A capella de S. Jeronymo estava entre arvores altissimas, e que pareciam tão antigas, como o mundo. Não sei se estas arvores venerandas escaparam ao machado vandalico.

Este convento era da invocação de Nossa Senhora da Consolação.

Antes do ser convento, era uma formosa quinta, dos duques de Bragança.

Já se vê que este convento era propriedade da casa de Bragança; mas os liberaes de 1834 o julgaram e alcunharam «Bens Nacionaes» e o venderão então.

É certo que o seu actual proprietario, apezar de derrotar o lindíssimo bosque que deu o nome ao convento, tem conservado a cêrca em soffrivel estado.

__

Borba foi saqueada por D. João d'Austria, filho bastardo de Philippe IV) em 1662.

Este bastardo cobarde, vingava-se das continuas derrotas que soffria das nossas tropas, roubando e incendiando as povoações indefezas!

----

No Rocio do Cima, ao N. e proximo da villa, terreno baldio, onde se costumam fazer as debulhas de cereaes, se descobriu, em 1832, uma mina de sulphureto de chumbo, que dá 76 por cento de chumbo, do boa qualidade, 11 por como de enxofre, 1 por cento de prata 12 por cento do cal, siilca e oxido de ferro.

---

Diz-se que o nome de Borba provem a esta villa, de um grande barbo que apareceu em épocas remotas em uma fonte que está dentro do castello, proximo á egreja da Misericordia. Outros dizem que eram dois os barbos que aqui appareceram.

É certo que as armas de Borba, são:

Escudo branco, no fundo ondas verdes e sahindo d’ellas duas cabeças de peixe (barbos.)

Ha porem suas duvidas sobre isto; porque outros querem que seja um caslello e ao pé uma fonte com um barbo. Outros dizem que é um rochedo sobre a agua, da qual sahem dois barbos.

É assim que ellas estão pintadas na Torre do Tombo; todavia, as primeiras são as mais geralmente usadas.

Tem boas o espaçosas ruas e a sua casa da camara é das melhores do todo o reino.

Os seus arrabaldes, povoados de frondoso arvoredo, e ornados de hortas, vinhos, quintas, cearas, e pomares, são deliciosissimos. (É a Cintra do Alemtejo).

Do alto de um monte chamado da Boa-Vista, visinho ao convento do Bosque, se veem as villas do Veiros, Evoramonte, Extremoz, Fronteira, Cabeço de Vide, Monforte, Villa Buim, Terrugem, Jurumenha, Villa Viçosa e a cidade de Portalegre; álem de varias serras, e extensas planicies. Tambem deste bello sitio se veem as villas hespanholas de Villa-Real, S. Jorge Olivença (quo os hespanhoes iá nos teem bem mal usurpada!.....)

Diz-se que no termo de Borba ha minas de prata e se encontram turquezas, e outras pedras preciosas, e crystal de rocha.

Ás turquezas chamavam os romanos cyanias. São verdes, semelhando esmeraldas.

Tinha voto em côrtes, com assento no banco 15.°

---

A fonte collocada no largo da Fonte, é de marmore branco e de forma magestosa. Foi feita pela camara em 1781.

---

Borba exporta grande quantidade de vinho, azeite e cereaes.

---

No Outeiro da Mina, ha vestígios de minas metalicas, dos romanos ou árabes. Diz-se que daqui e do Rocio de Cima, extrahiram prata.

Tem estação telegraphica municipal, por decreto de 7 de ahril de 1869.

---

Tem marquez, que é tambem conde do Redondo e senhor de Gouveia.

Para as armas d'estes titulares, vide Galveias e Redondo.

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D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por lhe descobrir a traição que seu cunhado, o duque de Viseu, tentava contra o rei. Este chama aos poços de Setubal o duque, e alli mesmo o assassina a punhaladas, em 23 d'agosto de 1484. Depois, manda formar processo (!!!) ao duque e aos seus cumplices, que todos foram declarados réus d’alta tracção e executados.

---

A pouca distancia da villa, está o convento de frades paulistas de Nossa. Senhora da Luz, em cujo sitio se deu a gloriosa batalha denominada de Montes Claros (em 17 de junho de 1665) assim chamada, por ser este o nome dos campos onde foi a acção.

Era general dos castelhanos, o marques de Caracêna, o dos portuguezes era o ínclito D. Antonio Luiz de Menezes, conde do Cantanhede, ao qual D. Affonso Vl, havia feito marquez de Marialva, em 11 de junho de 1661, em premio da victoria por elle alcançada nas linhas d’Elvas (13 de janeiro de 1659).

Fotografias de Adriano Bastos

Depois de muitas horas do profiado combate, obtiveram uma das mais brilhantes victorias da guerra dos 27 annos. As nossas perdas foram 700 mortos e maior numero de feridos; mas a do inimigo foi de 4:000 mortos, inumeros feridos, que quaisi todos ficaram prisioneiros, vindo a ser a totalidade d’estes seis mil e tantos.

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

nova página a sair!

Fotografia de Ching Yang Tung

in Salve o Planeta

"A história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado,

exemplo do presente, advertência do futuro."

Miguel CERVANTES

BORBA vista em 1927

por

Raúl Proença

Borba (E.) vila de 4.127 hab., sede de conc., sit. a uma alt. de 416 m. no fundo do vale circular formado pela vertente N. da serra de Borba (nome que no conc. toma a série de elevações que, começando em Sousel, vão terminar no Alandroal) com os dois contrafortes que se lhe encostam pelos lados N. e E. (cf. A Voz d'Estremoz de 16 de Janeiro a 3 de Fevereiro de 1898; A. Anselmo, O Concelho de Borba, 1907).

← ‑ Hospedarias (modestas):

Ana Cebola (vulgo Macaquinha);

Campante (Pensão Particular); Torrado.

‑ Carros de aluguer: Zefeferina Souto, Joaquim Miguel Bilro. Bicicletes: Sapatinha.

‑ Café na R. de 5 de Outubro.

‑ Teatro: Salão Central.

‑ Bilh. post. ilus.: Tabacaria de José Caetano R. da Silva (Praça de 5 de Outubro).

‑ Cicerone obsequioso: Pe. Manuel Lopes de Deus.

‑ Iluminação pública: petróleo

‑ Águas: de boa qualidade, embora um pouco calcáreas

‑ Descanso semanal: domingo.

‑ Dia feriado: 15 de Junho.

‑ Feiras: dos Santos (1 a 3 de Novembro).

‑ Festas: do Senhor dos Aflitos (3º domingo de Agosto).

‑ Borba é afamada pelo seu vinho, um dos mais saborosos do Alentejo.

Tem também uma fábrica de azeite a vapor e de sabões. →

Borba está numa das zonas de refrigério e num dos pequenos oásis do Alentejo desolado e tórrido, podendo ser também citada como uma das terras mais pitorescas do país.

A proximidade das célebres pedreiras de Montes Claros (p. 115) deu-lhe, mais ainda que a Estremoz, um alvo esplendor de mármores, que só encontra rival em certas cidadezinhas da Toscana. Não há, por assim dizer, cunhal de parede, moldura de porta ou de janela, degrau ou poial de escada, letreiro de rua e ate lareira da mais humilde casa que não seja de mármore.

O mármore esplende nas soleiras, nos alisares, nas chaminés e nas ermidas. Isto contribui, com o caiado das paredes, a limpeza dos pavimentos, o arrumo dos interiores, todos os pormenores da meticulosidade e do arranjo domésticos, para dar a impressão de asseio e de conforto que a vila suscita. É, pois, uma consolação percorrer Borba, deparando a cada passo recantos pitorescos, galerias de arcos, pátios, ferros de sacada, chaminés recortadas como minaretes, turbantes, espigueiros, barretes de clérigo, agulheiros, dados, capitéis românicos ‑ algumas rentes ao beiral, como em tantas outras terras do Alentejo. Só Loulé, no Algarve, põe êste luxo nas suas chaminés.

Nas varandas- escreve o Sr. Vergílio Correia ‑ as pinhas de ferro e os peitoris acogulham-se, recortam-se, arqueiam-se segundo as regras dum género de trabalho que se encontra disseminado entre o Tejo e o Guadiana, desde Elvas a Portalegre e de Avis até Évora e Montemor-o-Novo.

Trabalho do séc. XVIII, cheio de leveza e de recortes, muito diverso da sóbria firmeza de ferraria do séc. VVII.

Tomada por D. Afonso ll em 1217, foi-lhe dado foral de vila em 1302, reformado por D. Manuel em 1512. O acontecimento mais notável da sua história foi o enforcamento do governador do castelo, Rodrigo da Cunha Ferreira, e de dois capitães o fogo pôsto ao cartório da câmara pelas tropas de D. João de Áustria na sua invasão do Alentejo (13 de Maio de I662).

BORBA

'Livro Portugal Antigo e Moderno' de 1873 de Augusto Pinho Leal, através do contributo e mensagem enviada por Filipe Rosado a quem agradecemos, em nome de todos os Borbenses.

Os nossos melhores AGRADECIMENTOS ao contributo de Filipe Rosado

e à perspectiva de um imenso espólio de documentos a estudar e divulgar...

PORTUGAL

ANTIGO E MODERNO

DICIONARIO

Geographico, Estatistico, Chorographico, Heraldico,

Archeologico,

Historico, Biographico e Etymologico

DE TODAS AS CIDADES E FREGUEZIAS DE PORTUGAL

E DE GRANADE NUMERO DE ALDEIAS

Se estas são notáveis, por serem pátria d’homens célebres,

por batalhas ou outros factos importantes que nelas tiveram lugar,

por serem solares de famílias nobres,

ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes.

NOTICIA DE MUITAS CIDADES E OUTRAS POVOAÇÕES DA LUSITANIA

DE QUE APENAS RESTAM VESTÍGIOS OU SOMENTE A TRADIÇÃO

por

Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal

L I S B 0 A

LIVRARIA EDITORA DE MATTOS MOREIRA & COMPANHIA

86 – Praça de D. Pedro – 68

1873

BORBA ‑ pequeno rio, Minho, concelho de Celorico de Basto. Nasce entre a serra do Viso e a freguesia do Rêgo, de varios arroyos, e toma este nome passando pela freguezia de Borba da Montanha.

Perde o nome na freguezia de Chapa, tomando o de Santa Nadaya, e n'esta mesma freguezia, da Chapa. se mette no Tâmega.

De inverno se torna caudaloso e arrebatado. Rega, móe e traz peixe miudo. Suas margens são pouco cultivadas, mas bastante arborisadas.

BORBA -- serra, Alemtejo, termo de Extremoz, freguezia de Rio de Moinhos. Tem 9 kilometros de comprido e3 de largo. Lança um braço ao S., chamado Vigaria. Ha n’ella marmore branco egual ao melhor jaspe de Italia. É em grande parte cultivada e tem muitas vinhas e olivaes. Muito alecrim.

Ao S., na ponta d’esta serra, está a capella de Nossa Senhora da Victoria, construída em memoria da célebre o gloriosa victoria de Montes Claros, que aqui 'teve logar, á raiz da serra, em uma planicie ao 0., proximo à aldeia de Montes Claros.

No dia 17 de junho de 1565, D. Antonio Luiz de Menezes, conde de Cantanhede e 1º marquez de Marialva, com forças muito inferiores, derrotou aqui completamente o marquez de Carracena e o seu grande exercito castelhano. (Vide Borba e Villa Viçosa., no sitio competente.)

No mesmo sitio da batalha, ha formosas canteiras de marmore azul e branco, de qualidade superfina. (Os melhores sítios d`esta bella pedra, são na Salgada e na Ruivinha, já no termo de Borba, d'onde sairam as formosas columnas e mais cantaria da sumptuosa capella-mór da Sé de Evora.)

BORBA- ribeira, Àlemtejo. Nasce das fontes da villa de Borba e morre no Guadiana. Rega e móe. (Vide Borba, villa.)

BORBA-villa, Alemtejo, comarca a 12 kilometros de Extremoz, 48 de Evora, 155 ao SE. de Lisboa; 830 fogos, em duas freguezias (S. Bartholomeu e Nossa-Senhora das Neves, ou do Sobral) 3:200 almas.

No concelho 1:290 fogos.

Em 1660 tinha a villa 400 fogos, e em 1757 820 (as duas freguezias.)

A freguezia de Nossa Senhora das Neves tinha em 1757 500 fogos, e a de S. Bartholomeu, 320.

Arcebispado e districto administrativo de Evora.

Feira no 1° de Novembro, 3 dias.

Optimas pedreiras de marmore no seu termo, e minas de chumbo, manganez e outros metaes.

Foi antigamente da comarca de Villa Viçosa, que lhe fica 5 kilometros a E.

É da casa de Bragança e foi antigamente cabeça de condado e depois de marquezado.

É povoação incontestavelmente antiquissima. A sua fundação se attribue aos gallos-celtas, pelos annos do mundo 3030 (976 antes de Jesus Christo.)

Outros dizem que os gallos-celtas a fundaram no anno do mundo 3698, isto é, 306 antes de Jesus Christo. (p. 415)

Passou pelas differentes alternativas que sofreram as Hespanhas, até que D. Affonso II a tomou aos arabes em 1217, e a mandou povoar.

Seus moradores a abandonaram, e o mesmo rei a tornou a mandar povoar, dando-lhe muitos privilegios, para attrahir para aqui moradores.

D. Diniz lhe deu foral, por carta regia, datada de Santarem, a 15 de junho de 1302, concedendo-lhe o foral de Extremoz, com todos os seus privilegios, que eram muitos e grandes.

Deu-lhe muitos e grandes privilegios, porque, apesar das isenções e privilegios que lhe tinham dado seus antecessores, ainda estava quasi despovoada. Edificou então o castello, segundo a tradição.

D. Manuel lhe deu novo foral, em Lisboa, no 1° de junho de 1512.

Fotografias de Adriano Bastos

Ha duvida sobre quem fundou o castello de Borba. A tradição diz que foi D. Diniz, porém, tambem a tradição diz que junto á villa, no sitio ainda hoje chamado os Mosteiros, existiu um convento de templarios. No castello ha uma pedra com dois malhos esculpidos (emblema da Ordem do Templo) e por isso é de suppor que foram estes cavalleiros os edificadores do castello, e que D. Diniz apenas o repararia.

Estes malhos estão em uma alta torre quadrangular que está dentro do castello, deitando para a praça. Por cima dos malhos estão umas lettras, ou garatujas que se não podem ler, por sumidas.

A bonita villa de Borba está n`um dos mais bellos sitios do Alemtejo, em frente da linda villa de Villa Viçosa.

É situada em um delicioso, ameno e feracissimo valle, muito abundante de aguas, produzindo grande quantidade do cereaes, muito e optimo vinho, azeite e fructa.

A egreja matriz da Senhora do Soveral (antigamente das Neves) é de 3 naves, o templo respeitavel.

A naves são formadas por dois renques de sete columnas cada um, de marmore branco.

Da inscripção que está em uma pedra na parede da egreja, consta por quem e quando foi fundada.

Diz assim: (p. 416)

Esta egreja é' da Ordem de Avis: mandou-a fazer o muito nobre Senhor D. Frei Fernando Roiz de Sequeira, mestre da cavallaria da Ordem de Aviz, no anno da era de 1401. Aviz, Aviz, Sequeira, Sequeira.

(Foi pois fundada no anno 1363 de Jesus Christo.)

O rei, como governador e administrador perpetuo do mestrado da Ordem de S. Bento de Aviz, é que apresentava o prior desta freguezia, que tinha 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 réis em dinheiro. Tinha 3 beneficiados curados, da mesmo apresentação, cada um com 2 moios de trigo, 90 alqueires de cevada e 10$000 réis em dinheiro. Thesoureiro, com um moio de trigo, 20 almudes de vinho, 8 alqueires de azeite e 6$000 réis em dinheiro, que tudo pagava o commendador de Borba (da Ordem de Aviz.)

A matriz de S. Bartholomeu fica dentro das muralhas da villa, com todos os seus parochianos. O seu prior é da mesma apretentação do antecedente e pelo mesmo motivo. Tinha de renda 3 moios de trigo, 2 de cevada e 20$000 reis em dinheiro. Tinha thesoureiro, da mesma apresentação, com um moio de trigo e 4$000 réis em dinheiro.

Nesta freguesia é o Convento de Santa Clara, de freiras franciscanas, fundado pelo licenceado Antonio Cardeira, desta villa, em 1600. A padroeira d'este convento, é Nossa Senhora das Hervas, ou das Cérvas.

Outros dizem que este licenceado (que era vigario da vara, e por consequencia padre) se chamava Pedro Cerdeira.

Tambem é n’esta freguesia o collegio dos frades paulistas. A primeira pedra d'este convento foi lançada em 1704, fundado pelo dr. João Gomes Pinto, chantre da Sé de Coimbra, com obrigação de duas missas quotidianas, ditas por alma do fundador.

Este convento fica a 3 kilometros da villa e proximo do sitio onde se deu a gloriosa batalha de Montes Claros, a 17 de junho de 1665. (O sr. Carreira de Mello diz que foi a 17 de julho.)

O nosso exercito constava de 15:000 infantes e 1:500 cavallos: os hespanhoea tinham quasi o dobro, além de uma forte columna que deixaram a sitiar Villa Viçosa.

O nosso bravo marquez de Marialva (e conde de Cantanhede] que ia em soccorro de Villa Viçosa, foi atacado pelo marquez de Carracena na planície dc Montes Claros, com o maior encarniçamento e bravura, mas nem o numero, nem o valor, nem a disciplina dos hespanhoes fizeram a menor impressão de duvida aos portuguezes, que se baterem como leões, e no fim de muitas horas de profiado batalhar e com perda de 700 portuguezes mortos, conseguiram uma brilhante victoria.

Os castelhanos tiveram 4:000 mortos e 6:000 prisioneiros; perderam artilheria, bagagens, etc., etc., e fugiram (os que puderam] para Castella. (Vide Historia de Portugal.)

Borba tem Egreja da Miserícordia com um bom hospital. Tem capellão-mor, a quem paga 2 moios do trigo, pela obrigação de assistir aos enfermos, e 12$000 réis pelas missas dos domingos, dias santos, e quartas feiras.

Tem este pio estabelecimento 1:600$000 reis de rendimento annual.

Fora da villa ha a boa quinta dos condes das Galveias, com uma capella de abobada.

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Em Borba nasceu e morreu o dr. André Cavallo (!) que, depois de exercer varios logares de lettras, se motteu em casa, fazendo vida solitaria e penitente, e morrendo com fama de Santo.

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Aqui nasceu Diniz de Mello e Castro, que principiando por soldado razo, chegou, pelo seu valor, a ser governador de província, commendador de varias commendas e conde das Galveias.

E seu irmão Antonio de Mello e Castro, que tambem por seu extremado valor, chegou a ser governador de muitas praças da India.

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É patria de Alvaro Penteado, bravissimo soldado, que fez prodígios de valor no cêrde Dio.

E de Bento Pereira, celebre grammatico portnguez.

Borba, álem dos privilegios do seu foral, tinha mais o dos caseiros, da Casa de Bragança.

D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por delatar a traição de D, Diogo, duque de Vizeu. Depois foi Borba elevada a marquezado.

No castello ha uma abundante fonte de bôa agua (que primeiro esteve onde agora é a praça) com um grande e antigo aqueducto bastante extenso.

Ha outra fonte abundantissima, junto á matriz, com 4 grandes biccas de pedra, desaguando em um grande tanque e d'elle em um vasto lago.

D'estas duas fontes tem principio a ribeira de Borba.

Ainda, fora da villa e junto ás muralhas, dentro do adro da egreja, está a fonte dos Finados, que por um bom aqueducto vae desaguar na quinta dos Barretos, regando ahi um extenso pomar de toda a qualidade de fructas.

É perenne e diz-se ser muito boa agua para dar ás mulheres nos primeiros 15 dias depois do parto.

Tambem junto à villa ha a fonte da Moura, que secca de inverno e é abundantissíma no verão.

Ha outra fonte proxima da villa, chamada do Telheiro, que dizem causar dôr de colica e até a morte, a algumas pessoas que d'ella bebem!

A fonte da Pipa, que está entre o monte de S. Claudio e a Cabeça-Gôrda, a cuja agua se atribue a virtude de curar a dôr de pedra.

A mesma qualidade se atribue á agua da fonte dos Asnos.

Ha ainda a fonte das Mós, ou do Freixo, tão abundante, que faz moer azenhas e moinhos. Alem de outras fontes particulares.

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É villa murada, com seu castello (de que já fallei) dentro, ao E, e com seus reductos e 3 portas.

Na muralha do castello, no meio da praça, está uma torre bastante alta. Junto a esta está outra feita à maneira de pyramide, onde esta o relogio da villa e o sino da camara. D’ella vae um grande passadiço para a outra torre, que serve de cadeia.

Fora da villa, a 1:000 metros ao S, é o convento de frades capuchos chamado do Bosque, fundado em 1505 por D. Jayme, duque de Bragança.

Foi tambem D. Jayme que fez o muro que fecha o bosque, horto e jardins. O bosque é extenso e em povoado de antigas e diversas arvores. Produz muitas flores (sobre tudo violetas) e não cria animal algum peçonhento. Tem variedade e multidão de passarinhos.

Tem 4 fontes copiosissimas (Santo Antonio, S. Francisco, Sacramento ou S. Paschoal e S. Pedro.)

Foi reedificado em 1548 e em 1670. Foi o duque D. Theodozio que o reedificou á sua custa em 1518.

A sua cerca e o seu bosque, tudo abundantissirno d’aguas, é dos sitios mais deliciosos do reino.

No bosque ha 4 ermidas (Nossa Senhora da Conceição, Familia Sagrada, Calvario e S. Jeronymo.) A capella de S. Jeronymo estava entre arvores altissimas, e que pareciam tão antigas, como o mundo. Não sei se estas arvores venerandas escaparam ao machado vandalico.

Este convento era da invocação de Nossa Senhora da Consolação.

Antes do ser convento, era uma formosa quinta, dos duques de Bragança.

Já se vê que este convento era propriedade da casa de Bragança; mas os liberaes de 1834 o julgaram e alcunharam «Bens Nacionaes» e o venderão então.

É certo que o seu actual proprietario, apezar de derrotar o lindíssimo bosque que deu o nome ao convento, tem conservado a cêrca em soffrivel estado.

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Borba foi saqueada por D. João d'Austria, filho bastardo de Philippe IV) em 1662.

Este bastardo cobarde, vingava-se das continuas derrotas que soffria das nossas tropas, roubando e incendiando as povoações indefezas!

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No Rocio do Cima, ao N. e proximo da villa, terreno baldio, onde se costumam fazer as debulhas de cereaes, se descobriu, em 1832, uma mina de sulphureto de chumbo, que dá 76 por cento de chumbo, do boa qualidade, 11 por como de enxofre, 1 por cento de prata 12 por cento do cal, siilca e oxido de ferro.

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Diz-se que o nome de Borba provem a esta villa, de um grande barbo que apareceu em épocas remotas em uma fonte que está dentro do castello, proximo á egreja da Misericordia. Outros dizem que eram dois os barbos que aqui appareceram.

É certo que as armas de Borba, são:

Escudo branco, no fundo ondas verdes e sahindo d’ellas duas cabeças de peixe (barbos.)

Ha porem suas duvidas sobre isto; porque outros querem que seja um caslello e ao pé uma fonte com um barbo. Outros dizem que é um rochedo sobre a agua, da qual sahem dois barbos.

É assim que ellas estão pintadas na Torre do Tombo; todavia, as primeiras são as mais geralmente usadas.

Tem boas o espaçosas ruas e a sua casa da camara é das melhores do todo o reino.

Os seus arrabaldes, povoados de frondoso arvoredo, e ornados de hortas, vinhos, quintas, cearas, e pomares, são deliciosissimos. (É a Cintra do Alemtejo).

Do alto de um monte chamado da Boa-Vista, visinho ao convento do Bosque, se veem as villas do Veiros, Evoramonte, Extremoz, Fronteira, Cabeço de Vide, Monforte, Villa Buim, Terrugem, Jurumenha, Villa Viçosa e a cidade de Portalegre; álem de varias serras, e extensas planicies. Tambem deste bello sitio se veem as villas hespanholas de Villa-Real, S. Jorge Olivença (quo os hespanhoes iá nos teem bem mal usurpada!.....)

Diz-se que no termo de Borba ha minas de prata e se encontram turquezas, e outras pedras preciosas, e crystal de rocha.

Ás turquezas chamavam os romanos cyanias. São verdes, semelhando esmeraldas.

Tinha voto em côrtes, com assento no banco 15.°

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A fonte collocada no largo da Fonte, é de marmore branco e de forma magestosa. Foi feita pela camara em 1781.

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Borba exporta grande quantidade de vinho, azeite e cereaes.

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No Outeiro da Mina, ha vestígios de minas metalicas, dos romanos ou árabes. Diz-se que daqui e do Rocio de Cima, extrahiram prata.

Tem estação telegraphica municipal, por decreto de 7 de ahril de 1869.

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Tem marquez, que é tambem conde do Redondo e senhor de Gouveia.

Para as armas d'estes titulares, vide Galveias e Redondo.

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D. João II, fez conde de Borba a D. Vasco Coutinho, por lhe descobrir a traição que seu cunhado, o duque de Viseu, tentava contra o rei. Este chama aos poços de Setubal o duque, e alli mesmo o assassina a punhaladas, em 23 d'agosto de 1484. Depois, manda formar processo (!!!) ao duque e aos seus cumplices, que todos foram declarados réus d’alta tracção e executados.

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A pouca distancia da villa, está o convento de frades paulistas de Nossa. Senhora da Luz, em cujo sitio se deu a gloriosa batalha denominada de Montes Claros (em 17 de junho de 1665) assim chamada, por ser este o nome dos campos onde foi a acção.

Era general dos castelhanos, o marques de Caracêna, o dos portuguezes era o ínclito D. Antonio Luiz de Menezes, conde do Cantanhede, ao qual D. Affonso Vl, havia feito marquez de Marialva, em 11 de junho de 1661, em premio da victoria por elle alcançada nas linhas d’Elvas (13 de janeiro de 1659).

Depois de muitas horas do profiado combate, obtiveram uma das mais brilhantes victorias da guerra dos 27 annos. As nossas perdas foram 700 mortos e maior numero de feridos; mas a do inimigo foi de 4:000 mortos, inumeros feridos, que quaisi todos ficaram prisioneiros, vindo a ser a totalidade d’estes seis mil e tantos.

Borba

D.Rodrigo da Cunha Ferreira-Montes Claros-Padrão à Paz -Nossa Senhora da Vitória

foto de www.radionova.fm

Através do Link abaixo, veja importante documentário sobre nossa terra, seu passado glorioso e de sofrimento com o Professor Doutor José Hermano Saraiva

http://ensina.rtp.pt/artigo/a-batalha-de-montes-claros/

FIBRA ALENTEJANA

A COMEMORAR O 1º DE DEZEMBRO DE 2013 recordamos aqui o LIVRO do nosso conterrâneo que se passa entre 1 de DEZ de 1640 e a Batalha das Linhas de Elvas e a de Montes Claros (BORBA) que garantiram a nossa INDEPENDÊNCIA 28 anos depois...

FIBRA ALENTEJANA

Romance Histórico

2013 MARÇO 26

O novo romance de José Russo da Silva

Texto da introdução em o autor nos leva até Borba no Século XVII...

«Sonhei com a terra onde nasci, como seria há quatrocentos anos atrás.

Escrevo em imaginário gerações do passado que coloco no papel porque gosto de escrever.»

VER A NOVA PÁGINA dedicada a este autor:

LIVROS de JOSÉ RUSSO da SILVA

PODE VER AQUI - MAIS SOBRE ESTE AUTOR DE BORBA

http://www.joraga.net/ZeRusso/pags/pag01.htm

17 de Junho de 1665-2015

350 anos da Batalha de Montes Claros

O maior Padrão Nacional à Paz

Lápide evocativa da construção da Igreja de

Nossa Senhora da Vitória

(Como pensamos que muitas pessoas gostariam de saber o que está escrito nesta lápide com as letras muito desgastadas, e como temos tido alguma dificuldade em encontrar a transcrição, decidimos digitalizar o que foi publicado em 1907...)

(Transcrição desta longa e importante mensagem quase ilegível... in 'O Concelho de Borba' de Pe António Joaquim Anselmo, 1907, pp. 43 e 44)

"A alguma distancia do convento da Luz e n'um dos pontos mais elevados (442.m de altitude) da serie de alturas que deram o nome á batalha de Montes Claros, fica a ermida de Nossa Senhora da Victoria, edificação que nada offerece de notavel, afóra a sua significação historica.

Em frente e a alguma distancia da porta d'entrada d'esta ermida está uma lapide comme-morativa da sua fundação, com tres metros por lado, approximadamente, encimada pelo es-cudo e corôa das armas reaes; na qual, salvo a orthographia, se lê a inscripção seguinte:"

«No anno de 1665, reinando em Portugal el-rei D. Affonso, VI do nome, D. Antonio Luiz de Menezes, do seu conselho d'Estado e Guerra, marquez de Marialva, capitão-general d'esta provincia do Alemtejo, governador das armas da Côrte de Lisboa, de Cascaes e provincia da Extremadura e védor da Fazenda Real, ofifreceu a Deus Nosso Senhor esta ermida que fundou, dedicada á invocação das Almas, em satisfação do voto que fez estando para sahir a campanha com o exercito soccorrer a praça de Villa

Viçosa; e prometteu, se o Senhor dos Exercitos lhe concedesse victoria contra as armas de Castella, a fundaria no logar da batalha em memoria. com missa todos os dias pelos que morressem na peleja, fabricando-a do que havia mister. Tem 40$ de renda em cada um anno, pagos na consignação da Casa Real, que vae no almo-xarifado do Campo d'Ourique emquanto não cabem no d'Extremoz, para sustento do capellão que servir: de que o principe D. Pedro, governando estes reinos, lhe fez mercê e dotou, tendo consideração á causa por que o marquez se empenhou com Deus pelo serviço e bem do reino; como se vê do alvará dado em 2 d'Abril do anno de 1669. A piedade d'este capitão e o amor com que serviu a patria pedem aos fieis que entrarem n'esta casa roguem a Deus Nosso Senhor conceda descanço eterno aos que morreram e se acharam na batalha de Montes Claros, conservação da paz que a mão divina perpetue n'estes reinos, por sua misericordia conseguida, depois de trabalhos continuos e de muito sangue derramado; e nossos naturaes não padeçam em tempo algum o que os presentes ouviram, viram e experimentaram. Espera confiado, por premio de que trabalhou no socego que logram, se lembrarão de sua alma»

Batalha de Montes Claros

A 17 de Junho de 2015 assinalam-se os 350 anos da batalha, que decidiu definitivamente a independência de Portugal.

"Estrategicamente era sabido que o principal cenário e decisivo da guerra da restauração era o Alentejo, pelo que a programada invasão espanhola teria com toda a probabilidade lugar nessa província.

A 1 de Junho de 1665, o Marquês de Caracena, à frente de um poderoso exército, partiu de Badajoz, passando o Caia no dia 7. No dia 9 de Junho, Borba caía em seu poder. Investiu de seguida sobre Vila Viçosa, que cercou e tentou tomar de assalto. Apesar de diminuta, a guarnição estava bem comandada e resoluta quanto à sua defesa, pelo que resistiu bravamente às investidas das experimentadas tropas espanholas. No entanto a situação era crítica para os sitiados. Com efeito o castelo de Vila Viçosa era pequeno, não podia receber muitas forças, pelo que a resistência a opor seria por poucos dias, sendo portanto a perda da praça considerada inevitável.

Em Lisboa, o rei D. Afonso VI informado pelo Marquês de Marialva destas circunstâncias, reúne o seu Conselho ficando então decidido socorrer Vila Viçosa. Para esse efeito é ordenado que se concentrassem em Estremoz todas as forças portuguesas, sendo para aí também enviados 6,000 soldados franceses, que acabavam de desembarcar em Lisboa.

Ao receber estas noticias, o Marquês de Marialva, que voltara entretanto por ordem do Conde de Castelo Melhor a exercer as funções de comandante do exército português do Alentejo, e que tinha o seu exército reunido em Estremoz, resolveu pôr-se em marcha. Tinha como objectivo socorrer a heróica guarnição da praça sitiada, antes que esta soçobrasse ao peso dos números do inimigo. Assim o exército de socorro saiu no dia 17 de Junho de Estremoz em direcção a Vila Viçosa, com o intuito não só de libertar esta praça do cerco inimigo, mas também de provocar uma batalha contra o exército espanhol.

O nosso exército era composto como se referiu por 20,500 soldados de infantaria e de cavalaria. O general comandante, Marquês de Marialva, era acompanhado pelo Conde de Schomberg, governador das armas, D. Diniz de Melo e Castro, general de cavalaria e D. Luís de Meneses, general de artilharia, bem como pelo Conde de S. João, governador de armas de Trás-os-Montes e por Pedro Jacques de Magalhães da província da Beira, e ainda por muitos oficiais da principal nobreza do reino. De acordo com o testemunho do Conde da Ericeira, o moral dos soldados portugueses era muito elevado, com uma experiência crescente na arte militar, e com uma disciplina e uma coragem que conduzem à vitória.

No dia 17 de Junho, os espanhóis ao saberem da aproximação do exército português deixaram uma pequena força a cercar Vila Viçosa, para que a guarnição não efectuasse nenhuma saída em auxílio do exército de socorro, e partiram ao encontro dos portugueses. Os dois exércitos encontraram-se então na planície situada entre as serras da Vigária e da Ossa., a partir das nove horas da manhã.

Caracena pretendeu atacar o exército português ainda em marcha, com o objectivo de criar uma confusão. O Marquês de Marialva percebeu este intento, e ordenou que o seu exército parasse em Montes Claros e dispondo-o em ordem de batalha. Schomberg executou esta missão com rapidez e com a sua hábil ciência militar.

O exército do Marquês de Caracena iniciou a marcha em massa contra as forças portuguesas, através de dois corpos, um de cavalaria e outro de infantaria, tendo-se os primeiros combates verificado junto ao Convento de Nossa Senhora da Luz.

Caracena, que colocou o seu posto de comando na Serra da Vigária, pretendia surpreender a cavalaria portuguesa que estava dividida em duas alas, carregando a cavalaria espanhola sobre o centro e a ala direita portuguesa, procurando isolá-las da ala esquerda.

O Conde de Schomberg prevendo essa intenção espanhola, fez deslocar a cavalaria portuguesa do flanco esquerdo (vinhas) para o flanco direito (contrafortes da Serra de Ossa), o que se revelou uma medida extremamente acertada. Iniciado o ataque da cavalaria espanhola no flanco direito português, os terços e a cavalaria portuguesa da primeira linha sofreram uma forte pressão, salvando-se apenas dessa situação crítica pelo referido reforço da cavalaria portuguesa e pela intervenção decidida da artilharia chefiada por D. Luís de Meneses, que abriu fogo à queima-roupa contra as linhas inimigas.

Ao mesmo tempo a infantaria espanhola avançou, apesar das dificuldades do terreno composto por vinhas, sobre a infantaria portuguesa situada na ala esquerda.

Perante esse avanço espanhol, um regimento inglês efectuou uma retirada precipitada, dois regimentos franceses foram rechaçados e um terço de auxiliares de Évora que ia em seu auxílio sofreu um revês. O Conde de Schomberg que com grande diligência acodia aos mais difíceis confrontos, chamou pelos terços de Manuel de Sousa de Castro, Alexandre de Moura e de Martim Correia de Sá e introduziu-os nesse local a combater. Esta iniciativa obrigou os castelhanos a perder o terreno que haviam ganho.

Mais tarde e depois de recomposta, a cavalaria espanhola procurou romper a segunda linha da ala direita portuguesa. Perante a situação crítica que se criou, destacou-se o Marquês de Marialva ao organizar uma forte resistência com piques e artilharia, bem como o Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses que comandava a artilharia portuguesa, conseguindo-se dessa forma evitar o recuo do exército português.

Deram-se em seguida choques muito duros e violentíssimos entre os esquadrões dos dois exércitos, com avanços e recuos entre as duas cavalarias. Nesse momento o Marquês de Marialva temendo que a infantaria espanhola acabasse por romper o flanco esquerdo português, situado como se referiu num terreno com vinhas, o que comprometeria a defesa brilhante que a segunda linha portuguesa do centro e da direita estava a efectuar, desguarneceu a ala direita portuguesa, e deslocou alguns terços para a ala esquerda. Este movimento, efectuado com rapidez, permitiu restabelecer o equilíbrio do combate a favor das forças portuguesas, evitando-se assim o rompimento das linhas portuguesas.

Curiosamente em várias ocasiões se refere terem-se os combates desenrolado em terrenos plantados com vinhas, junto á Serra da Vigária. Em muitos locais esta área está hoje ainda plantada com vinhas.

A Batalha foi de uma dureza extrema, estando durante muito tempo indecisa, ou parecendo mesmo pender para o lado espanhol. Ás três da tarde, depois de sete horas de duros combates, foi possível suster a agressividade dos ataques do exército espanhol, em face da tenaz e bem organizada resistência portuguesa. As forças portuguesas, depois de recompostas das primeiras brechas e sob a protecção da sua artilharia que colocada nos contrafortes da Serra d´Ossa sempre se revelou extremamente eficaz, conseguiram fazer recuar o inimigo.

Verificando não conseguir romper as forças portuguesas, a cavalaria castelhana parou as suas cargas e a artilharia suspendeu os disparos. O exército espanhol pretendeu então retirar disfarçadamente, tendo D. Diniz de Melo, general de cavalaria, sido avisado dessa intenção, decidindo então carregar decididamente sobre os castelhanos. A investida foi tão enérgica que transformou a retirada em debandada desordenada.

O Marquês de Marialva ao ver a cavalaria espanhola em fuga em direcção a Borba, tirou o máximo partido da situação cortando-lhe a retirada. Este facto agravou ainda mais a desordem da retirada, deixando então o exército espanhol na posse dos portugueses milhares de prisioneiros. Escaparam apenas quatro terços que se tinham concentrado na Serra da Vigária, junto ao Marquês de Caracena.

O Marquês de Caracena permaneceu durante toda a batalha no alto da Serra da Vigária. Esta retirada desordenada do exército espanhol foi assim por ele presenciada, não tendo assim conseguido executar uma retirada em boa ordem. Dois anos antes, Caracena havia criticado duramente D. João de Áustria, pela forma pouco eficaz com que este havia conduzido as tropas espanholas em território português.

Nesse momento, a guarnição de Vila Viçosa ao verificar a evolução da batalha, investiu corajosamente, rompendo o cerco que 1,800 espanhóis lhe faziam. Foi apresada a artilharia espanhola que se encontrava em volta de Vila Viçosa, sendo também feitos muitos prisioneiros. Os restantes sitiantes espanhóis debandaram.

A Batalha de Montes Claros terminou assim com uma pesada derrota espanhola, depois de nove horas de combates. O exército português sofreu cerca de 700 mortos. O exército espanhol sofreu contudo 4,000 mortos e 6,000 prisioneiros, tendo ainda perdido 3,500 cavalos, que foram posteriormente distribuídos pelas várias companhias do Reino. Foram também capturadas ao exército castelhano 14 peças de artilharia, inúmeras balas, todo o tipo de armas de infantaria, oitenta bandeiras de infantaria e dezoito de cavalaria.

Animados por este êxito, os portugueses passaram à ofensiva embora sem grande êxito, pois a retirada da cavalaria inimiga, sobretudo para a praça de Juromenha, não permitiu que o êxito do exército português se tornasse mais retumbante.

Mais um grande general espanhol era imolado na fogueira da guerra da restauração. Mais um perigoso plano de invasão fora batido e a independência do reino consolidada. O Conde de Schomberg, o Conde de São João, D. Luís de Menezes e outros, pretenderam então explorar o sucesso e conquistar Mérida. O Marquês de Marialva que tinha opinião contrária, não permitiu que se tomasse nenhuma resolução sem se consultar primeiro o rei de Portugal. Este deliberou contudo que o exército português se aquartelasse, o que foi prontamente cumprido.

No padrão evocativo da Batalha, que se colocou poucos anos depois de 1665 no campo de Montes Claros, pode-se ler:

fotografias de Adriano Bastos

“ No ano de 1665, reinando em Portugal D. Afonso VI, em quarta-feira dia 17 de Junho do mesmo ano, dia INFRA OITAVA do glorioso santo português, neste sitio de Montes Claros, D. António Luíz de Meneses, Marquês de Marialva, capitão general do Alentejo, em batalha singular por espaço de nove horas, que começaram às nove da manhã até às seis da tarde, matou, rompeu, desbaratou e venceu o exército castelhano, que o Marquês Caracena capitão general de Estremadura governava; o qual deixou na campanha um grande número de prisioneiros e muitos cabos toda a artilharia, carreagem, e a Vila Viçosa livre do sítio que lhe tinha posto. Esta memória fez, para os presentes e vindouros renderem a Deus graças e rezarem pelas almas dos que se acharam e morreram em tão notável contenda.”

Texto de

Tenente-General José Lopes Alves

O Marechal Conde de Schomberg

in www.revistamilitar.pt

"Entre as muitas centenas de oficiais estrangeiros que desde os primórdios da nossa história serviram no Exército Português, quatro continuam merecedores de relevância histórica especial: o marechal conde de Schomberg na década de sessenta do século XVII, na Guerra da Restauração da Independência nacional, o marechal conde de Lippe, na década de setenta do século XVIII, na Guerra da Sucessão de Espanha em que Portugal participou, o marechal duque de Wellington, nos anos de 1808 a 1812 da Guerra Peninsular em Portugal, e o marechal Beresford, no período de 1807 a 1820, também da Guerra Peninsular e no dealbar das Lutas Liberais.

Com características pessoais diversas, ainda que em todos eles adequadas ao comportamento necessário à missão de organização e comando que vinham desempenhar, será, no entanto, em Schomberg, pela especificidade do meio social, humano e militar do seu tempo e da luta a travar contra o Exército Espanhol e pela duração da sua permanência em Portugal que vamos encontrar, talvez, uma ligação mais íntima, embora também com aspectos tanto positivos como negativos, com os militares portugueses, com o monarca e o seu governo e com a sua organização principal de orientação, consulta e decisão, o Conselho de Guerra.

O marechal William Carr Beresford, com tempo de missão mais demorado, teve comportamento profissional, social e humano sensivelmente análogo ao de Schomberg, mas mais ditatorial e ingerente em aspectos do domínio político."

"Considerado, segundo o seu biógrafo sul-africano Prof. Matthiew Glozier, “o mais hábil soldado do seu tempo”, Frederick Herman von Schomberg, de família nobre e influente, nasceu em Heidelberg, no Principado do Palatinado (Alemanha), em 6 de Dezembro de 1615, e após ter servido continuamente, durante 57 anos, nos exércitos do seu país, da França, da Suécia, da Inglaterra, de Portugal, da Holanda e do Reino de Bradenburgo, morreu em combate na Batalha de Boyne Water, na Irlanda, então ao serviço da Inglaterra, em 1 de Julho de 1690, portanto com 75 anos. No seu tempo de serviço, em mudança permanente, foi simplesmente combatente, comandante, conselheiro militar e político e, no campo religioso e social, acérrimo defensor do protestantismo (huguenottes), ganhando honras, títulos nobiliárquicos e dinheiro, tornando-se durante a vida proprietário de extensos e valiosos bens tanto na França, segundo país de adopção, como na Alemanha.

São os seguintes os eventos dominantes da sua biografia:

Em 1633, com 18 anos, torna-se voluntário no Exército Holandês do Príncipe de Orange em luta contra os espanhóis que ocupavam os Países Baixos. No ano seguinte, 1634, faz parte do Exército Sueco ao serviço da Alemanha e em 1635 assume o comando de uma companhia de regimento de cavalaria alemão de Von Rantzau na sua luta contra a França pelo domínio pretendido dos Países Baixos. Em Março de 1637, após alguns pequenos desaires operacionais, abandona o serviço militar e regressa ao seio da família, empenhando-se por todo o ano de 1638 na administração das suas propriedades. Casa-se, então, pela primeira vez."

"Em 1639 reentra ao serviço do Príncipe de Orange como tenente de um regimento de arcabuzeiros alemão para, em 1645, passar ao serviço do Príncipe de Tarente, também na Holanda. Em 1650 toma parte em golpe de estado contra Guilherme de Orange, que falhou e, em consequência, foi expulso dos Países Baixos. Passa, então, para a França, torna-se auxiliar do cardeal Mazarino, primeiro ministro de Luís XIV, e, em 28 de Outubro de 1652, é promovido a capitão no regimento de mosqueteiros do cardeal e, logo a seguir, nomeado marechal de campo do Exército Francês. Toma então parte, do lado francês, nas lutas verificadas entre franceses e alemães e, em 16 de Julho de 1655, é promovido a tenente-general. Nas lutas que a seguir se travam entre o Exército Francês e Espanhol, este comandado por D. João de Áustria, pela posse de territórios espanhóis na Flandres, toma parte no cerco da praça de Valencienne, onde seu filho Otto é morto e, logo a seguir, cercado por 12000 espanhóis em Saint Guislain, é forçado a render-se ao general espanhol.

Terminadas, pelo Tratado dos Pirinéus de 7 de Novembro de 1659, as operações e a guerra entre a França e a Espanha, vão então ter lugar, com o apoio do Marechal Turenne e, como se afirmou, com a aprovação calada de Luís XIV, as conversações para a contratação de Schomberg para o serviço do Exército Português."

"O segundo semestre de 1664 e os primeiros meses de 1665 foram de preparação e expectativa estratégica nos dois campos. Todavia, o Conselho de Guerra não aprovou a proposta de Schomberg de melhoria das fortificações de Vila Viçosa, que admitia ir ser atacada e, em 9 Junho de 1665, que seria o ano decisivo, a povoação foi efectivamente cercada pelas tropas do Marquês de Caracena, que substituira D.João de Áustria como comandante-chefe das forças espanholas. Esta situação deu origem a novo entrave no relacionamento de Schomberg com o governo e membros do Conselho de Guerra que só a vitória das tropas portuguesas na Batalha de Montes Claros, em 17 de Junho de 1665, oito dias depois, a que foi forçado o Marquês de Caracena, tudo sanou. Foram, na realidade, a Batalha de Montes Claros, a 3 quilómetros de Borba e a 12 de Estremoz, antecedida pela do Ameixial em 8 de Julho de 1663 e conjugada com os êxitos então obtidos em Trás-os-Montes e Minho, que decidiu o termo da guerra a favor de Portugal.

O comportamento de Schomberg em Montes Claros foi tão denodado como havia sido em Ameixial. Embrenhou-se pessoalmente na luta efectiva, foi-lhe abatido o cavalo que montava e obrigado a combater a pé e, refere Matthew Glozier, terá defrontado nessa altura em pessoa o próprio Príncipe de Parma que era o segundo comandante das tropas espanholas. Esta vitória elevou-lhe a alta reputação que internacionalmente lhe era reconhecida e, em preito de reconhecimento, o Marquês de Marialva, que comandava as tropas portuguesas, entregou-lhe todos estandartes, bandeiras e guiões capturados na batalha."

"O marechal Frederyc Herman Schomberg, barão de Teyes, conde de Mértola, conde de Brentford, marquês de Harwick e duque de Schomberg deu notável contributo, pelos seus conhecimentos e experiência, à independência de Portugal do domínio espanhol de sessenta anos, empenhando-se, nos termos do contrato assinado em Paris, nas áreas da organização, preparação, planeamento e emprego do Exército Português, reforçado por unidades de tropas regulares e mercenárias estrangeiras de diversas nacionalidades.

Com espírito mercenário, visto ter servido durante cinquenta e sete anos nos exércitos de reinos e principados europeus de seis países, e por vezes contestado pelos nossos generais e governantes, foi, no entanto, comandante sério e honesto e bateu-se sempre no pleno uso da sua ética e da sua consciência, como era seu dever perante o Reino. O seu serviço a Portugal foi particularmente apoiado pelos reinos da França e da Inglaterra na mira de satisfazer os seus próprios interesses políticos e estratégicos em face de uma Espanha então já estendida pelo Mundo."

Texto de

Tenente-General José Lopes Alves

Memória Histórico-Artística de Três Monumentos

Arquitectónicos dos Séculos XVI-XVII da Vila de Borba

O primeiro imóvel que se descreve e o mais antigo, é constituído pelo conjunto, assás curioso da MISERICORDIA, integrado na Freguesia Matriz. Os dois restantes edifícios sacros e os mais representativos no domínio histórico-artístico da vila, são patrimoniais da Freguesia de S. Bartolomeu: trata-se da sede paroquial e do mos'teiro franciscano das Servas de Cristo. Aquele está, felizmente completo no recheio sumptuário — aumentado ao presente com um pequeno Museu de Artes Decorativas Religiosas — mas o extinto convento, hoje desafectado e substancialmente alterado nos seus volumes originais, apenas conserva, na igreja, um dos mais belos conjuntos de azulejaria policrómica do sul do País.

SANTA CASA DA MISERICÖRDIA

A fundação de confraria do Espírito Santo, origem desta benemérita obra, surgiu no dia 26 de Junho de 1417, no adro da primitiva igreja matriz de Santa Maria do Castelo e funcionou nesta igreja, ao que se admite, após a ordem comendatária de Avis ter construído, extra-muros e no outeiro das Casas Xiovas a actual paróquia de N.a S.a do Soveral.

A mesma irmandade se fundiu com a novel Misericórdia no dia 11 de Novembro de 1516, corn licença de D. Manuel, que lhe concedeu o primeiro compromisso, renovado por seu filho D. João III no ano de 1524.

Desaparecidos cs edifícios arcaicos, e feito o templo subsistente em meados do séc. provavelmente nos alicerces do antigo, as maiores empreitadas de arcžuitectura verificaram-se nos últimos anos dos reinados de D. Pedro 11— 1693 —e D. João V — e.a de 1750 — com a edificação do Consistólžo ou Mesa e Hospital, que chegaram ao(in Revista Cidade de Évora)

CONCELHO

DE BORBA

Vila séde de concelho, comarca'de Vila Viçosa, distrito e arcebis• ,pado de Evora. Tem duas freguezias, aa matriz, Nossa Senhora das Neves, e S. Bartolomeu. Está situada num Ñale ameno e alegre, um dos melho-locais da provincia alentejana em frente de Vila Viçosa, e por ser muito saudável e pitoresca lhe cha-mam a Cintra do Alentejo, A povoa-;çao é antiquíssima, julga-se que foi fundada pelos galo.celtas 974 anos antes de Cristo, ou 306, como outros querem.

Esteve por largos anos suIjeita ao dominio de Roma, depois ao Idos godos e outros povos do norte, que destruindo o império Romano avassalaram toda a península hispanica, e dêste passou ao dos ára-:beg, que a seu turno os venceram e desalojaram das terrag conquistadas.

D, Afonso II, em 1217, a tomou aos árabes, e desde então ficou sendo parte in-tegrante da monarquia por-tuguêsa. Êste monarca a mandou povoar, dando-lhe muitos privilégios para atraír habitantes. Mais tar-de D. Diniz deu-lhe foral, por carta régia, datada deSantarem a 15 de junho de 1302, concedendo-lhe o foral de Estremôs com todos os privilégios,,que eram muitos, diversos e gran-ides, porque, apesar das isenções e privilégios que tinha, ainda nesta época estava quási despovoada.

D.Manuel deu-lhe foral novo, em Lis. boa a I de junho de 1512. Atribúi•-se a el-rei D Diniz a fundação do castelo, mas a êste respeito há dú-'vidas porque existe no castelo uma pedra com dois malhos esculpidos, emblema da ordem dos Templários, 'e como esta ordem possuia um con-vento no sitio próximo ainda hoje chamado os Mosteiros, supõe-se que 'fôssem os cavaleiros do Templo os edificadores, e que D. Diniz sómente'0 reparasse.

O velho castelo ergue-se junto das muralhas da vila para o lado nas-cente. Tem no meio uma praça, para onde deita uma alta tôrre quadran-gular, em que se vêem uns tôscos e mal distintos caracteres, e os dois malhos acima citados. Hoje tudo está em ruínas. Alem dos privilégios do foral tinha Borba, o dos caseiros da casa de Bragança, a que pertencia, tendo sido noutro tempo cabeça de condado, e depois marquezado,

A palavra Borba, dizem muitos etimologistas ser derivada dum gran-de barbo, que em épocas muito re-motas apareceu numa fonte que está dentm do castelo, próximo da igreja da Misericórdia; outros dizem que fôram dois barbos, e alegam o bra-zão da vila, que representa simples-mente um escudo com dois peixes a saír de água. Acêrca do brazão, po-rém, há diversas opiniões, querendo uns que seja um castelo e ao pé uma fonte com um barbo, e outros um rochedo sôbre a água, da qual saem dois barbos, e consta estar pintado assim na torre do Tombo.

A opinião que encontramos, polém, mais seguida é a que a nossa gravu-ra representa. Borba foi saqueada em 1662 porD. João de Austria filho natural de Filipe IV.

Foi entre Borba e Redondo que se feriu a grande batalha de Montes Claros em junho de 1665, em que os espanhois ficaram derro-tados A igreja matriz de Nossa Senhora das Neves é um bom templo de três naves, sustentadas por quatorze co•lunas de mármore branco, sete de cada lado, e com um bom portal, tambem de colunas. Foi edificada em 1401 por D, frei Fernando Rodri-gues de Sequeira, mestre da ordem de S. Bento de Avis, à qual esta igreja pertencia, como consta da ins-criçúo que se vê em uma pedra na parede da igreja.

A data de 1401 da éra de Cesar, que então prevalecia corresponde a 1363 da éra cristã. O rei como governador e administrador perpétuo do mestrado da ordem de Avis, é que apresentava o prior, que tinha alguns géneros e 205000 réis em dinheiro. A freguezia tinha tam-bém três beneficiados cura-dos tambem da mesma apre-sentação, um tesoureiro, tendo todos alguns géneros, recebendo em dinheiro 105000 réis os beneficia-dos e 65000 réis o tesou• reiro. que tudo pagava o comendador de Borba, da ordem de Avis.

A igreja de S. Bartolomeu é de uma só nave e de construção moderna. O prior, da mes-ma que o da matriz, tendo os mesmos rendimen tos, mas o tesoureiro alem dos géneros recebia só 45000 réis em dinheiro. Na área desta freguezia está o convento de religiosas franciscanas de Santa Cla-ra, fundado em 1600 pelo licenceado António Cardeira, e que tinha invo-cação de Nossa Senhora das Hervag ou das Cervas.

Nesta freguezia hou-ve tambem o convento dos religiosos de S, Paulo 1.0 eremita, fundado em 1704 pelo Dr. João Gomes Pinto, chantre da Sé de Coimbra, com obrigação de duas missas por dia, rezadas por alma do fundador, Borba tem hospital e igreja da mi. sericórdia, que foi -reedificada no principio do século XVIII.

Na vila ençontram•se mais as ermidas de Santo António e de S. Sebastião e as capelas dos terreiros de S. Fran-cisco. Fóra dos muros ainda há cinco ermidas. Borba tem ruas espaçosas, escolas para ambos os sexos, esta-cão postal e telegráfica, com serviçode emissão e pagamento de vales do correio e telegráficos, cobrança de recibos, letras e obrigações, e servieo de encomendas ; boteis, notário, mé-dicos, farmacias, sociedades de re-creio, estalagens, fabricas de cal e de tijolos.

A casa da Carnara é um dos melhores edificios municipais que existem no país; tem um bom matadouro. Os campos de Borba são bastante arborisados. A vila é abun-dante de água, e vêem-se tambem muitas fontes fóra das suas mura• lhas, especialisando se o chafariz que o antigo senado mandou fazer em 1781, num espaçoso largo, ao saír da vila. E' todo de mármore branco, com cinco bicas e três tanques. En-tre muitos ornatos avulta o busto de D. Maria I, então rainha reinante. A abundância de água que se nota em todas as suas fontes, de que se forma uma pequena ribeira, torna os arra-baldes muito férteis e viçosos, po-voados de muitas hortas e pomares, algumas quintas, como a dos condes das Galveias, que têem capela de abóbada, a do General e da Fonte do Telheiro, etc.

Fóra da vila. a 1000 metros ao sul. está o convento de Nossa Senhora da Consolação, que pertenceu aos frades capuchos e que é conhecido em todo o Alentejo pelo nome popular de Convento do Bosque. Foi fundado em 1505 pelo du-que de Bragança, D. Jaime numa*quinta que pertencia áquele du-cado. D. Jaime tambem fez o muro que fecha o bosque, horto e jardins. O bosque é extenso, tem magestosas árvores seculares e quatro fontes, a de Santo António, S. Francisco, Sa-cramento ou S. Pascoal e S. Pedro. Foi reedificado em 1548 pelo duque D. Teodosio, e depois em 1670.

No bosque há quatro ermidas: NossaSenhora da Conceição, Familia Sa-grada, Calvário e S. Jerónimo. Do alto do monte Boa Vista, próximo do convento, avista-se um lindo pa-norama. O convento foi vendido em 1834 e parece ser hoje propriedade particular.

NO Rocio de Cima, ao norte e junto à vila descobriram-se em 1832 minas de sulfureto de chum-bo, prata, cobre e manganez, que não têem sido exploradais. Borba tinha voto nas antigas cor-tes, Com assento no décimo quintobanco. Tem estação telegráfica mu-nicipal por decreto de 7 de abril de1869. Nos dias I, 2 e 3 de novem. bro realisa se a chamada feira dosSantos, e há outra no domingo da Pascoela. Em todas as segundas• fei•ras há mercado.

O concelho compreende cinco fre-gueziag as quais são: Nossa Senhora das Neves, S. Bartolomeu, Nossa Se• nhora da Orada, S. Tiago de Riode Moinhos e Santa Barbara, A po-pulação é de 8:666 habitantes ; 4:297varões e 4:369 femeas. O principalcomércio é azeite, vinho, cereais,legumes, mármore e frutas verdes esêcas. Na ponta da serra de Borba, ao sul, está a capela de Nossa Senhora da Vitória construída em memória da batalha de Montes Claros. Nestaserra se encontra mármore branco igual ao melhor jaspe da Itália. No mesmo sitio onde se deu a batalha há formosas canteiras de mármore azul e branco de superior quali-dade. (In Distrito de Évora pag.257)