Domingo, 30 de Julho de 2023

Concerto de Domingo à Tarde

Sérgio Godinho e OML - Com Um Brilhozinho Nos Olhos (Ao Vivo No São Luiz)

Quinta-feira, 27 de Julho de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

A poesia é muito nobre

*

Mote

*

A Minha Poesia é nobre

Sua beleza não tem fronteiras

Sem distinguir, o rico do pobre

Tratava-os com boas maneiras

I

Nasci numa terra de poetas

Que versavam bebendo copinhos

Regalando-se com nossos vinhos

Utilizando palavras certas

Gente de atitudes correctas

Por mal, não haverá quem as dobre

É um povo que nada encobre

Não desvia sua genética

Deles herdei, veia poética

A Minha Poesia é nobre

II

Por respeito às minhas origens

E consideração plos poetas

Vou escrevendo os meus alertas

Alguns baseados em passagens

Não se trata de simples miragens

Ou de práticas algo cegueiras

Escrevo evitando asneiras

Sou feliz por ter tido um berço

Que me ensinou e não esqueço

Sua beleza não tem fronteiras

III

Eu escrevo sem descriminação

Faço-o com minha lealdade

Confesso sentir grande saudade

Dos bons poetas doutra geração

Faço a sentida declaração

Com nublado, que meus olhos cobre

Poetas sem alfabetização

Versavam pra toda população

Sem distinguir, o rico do pobre

IV

Grandes poetas da minha terra

São Tiago de Rio de Moinhos

Faziam poemas bem vivinhos

Que dedicavam à nossa Serra

Local onde o cabrito berra

Nos contornos do monte das freiras

Existiam algumas ribeiras

Que matavam sede ao gado

Pelo São Gregório vigiado

Tratava-os com boas maneiras

*

Autor: Manuel Alves Lapão


Segunda-feira, 24 de Julho de 2023

Borba Inspiradora

José António Russo da Silva escritor Borbense

As Espanholas

Castelo de Borba

Rua de Santa Maria

Na década de trinta do século passado, durante a guerra civil espanhola entre 1936 a 1939, o povo

alentejano ajudou a salvar de morte certa muitos dos seus vizinhos espanhois, que fugiam do caudilho

Franco, o terrivel ditador sanguinário.

Os que conseguiram fugir para Portugal ao pisarem o teritório português, muitas das vezes não escapavam

aos tentáculos do ditador Salazar, eram entregues na fronteira aos carabineros espanhois pela GNR para

serem mortos na praça de touros de Badajoz. Por montes agrestes, vales e planicies, caminhavam filas de

homens, mulheres e crianças sem descanso. Meu Avô contava que devido ao cansçaso extremo, uma Mãe,

deixou cair a sua criança sem dar por isso, tendo sido apanhada do chão pelos companheiros de tragédia,

para não ser espezinhada.

O meu Avô Albertino Russo, foi um lavrador notável nas herdades por ele arrendadas em zonas de

passagem, foi uma das muitas pessoas que socorreu alguns fugitivos, salvando-os da morte.

Transportava-os em carroças de bestas para lugares seguros, escondendo-os em palheiros, ou até debaixo

das mangedouras dos animais.

Entre os mais carentes, ajudou três mulheres que se arrastavam pela planicie, estavam esaustas de tanto

caminhar, com fome e frio, muito feridas nos pés e na alma. Depois de bem alimentadas, limpas e

tratadas, meu Avô Albertino Russo foi de uma grande generosidade, sedeu-lhes uma habitação digna na

vila de Borba, onde tinha grande fartura da casas, maioria sem estarem habitadas.

Mais tarde o meu Avô morreu no inicio dos anos quarenta, tendo a sua vontade sido respeitada pela

minha Avó e pela minha Mãe, vivendo elas sempre ali até que quizessem, sem pagar um tostão.

A sua subsistençia era a costura e as ajudas que a minha Mãe lhes dava, e ali viveram sempre pobres mas

a viver com dignidade e sériadade, muito felizes até que a morte levou as três já por estarem velhinhas.

Nesse tempo nos anos cinquenta era uma criança, sempre muito acarinhado por todas, até aprendemdo

algumas palavras em espanhol, das quais ainda me recordo de algumas. Nunca as vi com outra roupa a

não ser de cor preta e lenço na cabeça. Os seus nomes completos penso que ninguem sabia, eu chamava à

mais velha de Toi Mãe por ela ser a Mãe da mais nova, “a Antónia”, a quem eu tratava carinhosamente

por Toi. Também havia a Tita, de uma idade entre a mais nova e a mais velha.

Todas foram grandes amigas minhas e da minha familia, pois moravamos a escasos metros delas. Eu nasci

na rua da Santa Maria num quarto que ficava por cima da sala de entrada delas, que tinha uma janela para

o seu quintal, por vezes era a Toi que me chamava para eu ir para a escola. Zézito mê ninho!! São horas da

escola. A sua unica porta, ficava junto das escadinhas do velho cinema que existia.

A casa delas não tinha lareira, faziam alguma comida num alpendre coberto com chapa de zinco ao fundo

do quintal, tinham a um canto uma pia tipo cifão onde faziam os despejos. Uma grande sala e dois

quartos, um deles era muito escuro sem luz eu nunca lá entrei, talvez por ser escuro, o outro sim,era bem

arejado tinha janela para a rua em madeira. No inverno aqueciam-se numa braseira que tinham no meio de

uma mesa redonda forrada com tecido lateralmente.

Quando eu já era crescido por volta dos anos sesseta. Antónia já vivia só, sua Mãe e suaTia já tinham

partido. Um dia chamou-me e ofereceu-me uma pequena caixinha em veludo de cor vermelha, do tipo

daquelas onde se guardam os anéis, mas não tinha nada dentro, estava vazia, justificou que a caixinha

estava como ela, vazia por dentro. Explicou-me que sempre teve o desejo de comprar um anel para me

oferecer e colocar na caixinha, mas que nunca tivera dinheiro para o comprar, dizendo que dentro daquela

caixinha existiu um valioso anel do seu marido, que em tempos lhe dera a guardar antes de o. E não disse

mais nada, recolheu-se, e notei que minutos após quando da sua chegada tinha os olhos vermelhos de

chorar. Agradeci-lhe e comovida abraçou-me. Mostrei a caixinha à minha Mãe quando lavava a nossa

roupa só com a Mão direita, “ por ter tido já dois enfartes” tambem nada me disse, e apertou-me muito,

abraçando-me junto do seu avental de mãos molhadas.

A mim. Antónia nunca me contou nada sobre a morte dos seus familiares, talvez por ser uma criança e

mais tarde adolescente, para não ficar impressionado com a tragédia da vida delas, mas ouvi dizer a

alguem, que seus familiares tinham sido fuzilados na praça de touros de Badajoz.

Toda esta grande realidade foi por mim vivida, e é em memória delas que lhe dedico esta narrativa

histórica, a estas três grandes mulheres sofredoras, que fizeram parte da minha vida nos anos cinquenta.

E assim eu cá vou escrevendo, ora bem, ora mal, ora acertando com o que quero dizer, ora errando.

Caindo aqui, levantando-me acolá. Mas sguindo o meu modesto caminho como um cego teimoso.

Se num dia quiseres saber?

Na história, vais encontrar.

Como foi triste, esse viver.

Para aos teus netos ensinar.

Zé Russo 20-7-2023


Domingo, 16 de Julho de 2023

Concerto de Domingo à Tarde

O Cante - Festa da Senhora das Pazes (Vila Verde de Ficalho - Baixo Alentejo)

Sábado, 15 de Julho de 2023

Lançamento do 2º Livro de Barnabé Joaquim Letras Cordeiro

no Celeiro da Cultura em Borba

O Celeiro da Cultura de Borba acolheu hoje apresentação do livro - O Rapaz da Cucciolo - de Barnabé Cordeiro!

A Sessão contou com a participação do Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal, António Anselmo e a presença de dezenas de pessoas .

A primeira obra de Barnabé Cordeiro foi  "Memórias e Lugares com História". Este é a segunda obra do escritor natural de Rio de Moinhos - Borba, a qual foi apresentada por Adriano Bastos

Fotografias do Municipio de Borba

Terça-feira 11 de Julho de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

Parte da minha caminhada

I

O meu caminho foi delineado

Por vários lugares e países

Sinto-me glorioso e honrado

Nunca esqueci, minhas raízes

II

Iniciei em Rio de Moinhos

Freguesia do meu nascimento

Onde cresci e segui caminhos

Cheguei a dormir ao relento

III

Em Borba entrei pra mecânico

Na categoria de aprendiz

Sem qualquer sintoma de pânico

Nesta terra fui muito feliz

IV

Para Vila Viçosa, me mudei

Era ainda algo franzino

Sr Gomes ajudou-me no que sei

Assim como Mestre Bernardino

V

Daqui fui pró serviço militar

Por várias unidades passei

Fui mobilizado pró ultramar

Viajando, a Nampula cheguei

VI

Nesta, na Pendry Sousa trabalhei

Tinha gente boa no comando!

Ao Sr. Saraiva me apresentei

E ao meu chefe Sr. Orlando

VII

Percurso não foi muito fácil

Espero que ninguém se iluda

Ano setenta, no mês de Abril

Regressei e passei à peluda

VIII

Logo ao trabalho regressei

Pró mestre Sr. Gomes, em Bencatel

Recusar seu convite, não pensei

Por ser proposta séria e fiel

IX

Segui pró Archiminio Caeiro

Para Évora, linda e fina

Receber a formação, primeiro

Pra depois ser chefe de oficina

X

Patrão mandou-me para Estremoz

Após a formação adquirida

Agradecido a quem me propôs

Missão foi muito bem cumprida

XI

A todos meus mestres e patrões

A todos camaradas de guerra

Aos meus colegas de profissões

A amizade nunca encerra

XII

Prosseguindo minha caminhada

Em Estremoz me estabeleci

Grato a toda “rapaziada”

Com quem durante anos convivi

*

Autor: Manuel Alves Lapão

Sexta-feira, 7 de Julho 1023

CEIFEIRA ALENTEJANA

Sábado, 1 de Julho de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

Parte da minha caminhada

*

O meu caminho foi delineado

Por vários lugares e países

Sinto-me glorioso e honrado

Nunca esqueci minhas raízes

*

Iniciei em Rio de Moinhos

Freguesia do meu nascimento

Onde cresci e segui caminhos

Em tempos de regime sangrento

*

Em Borba entrei pra mecânico

Na categoria de aprendiz

Vivi ainda algum pânico

Em geral, nesta terra fui feliz

*

Para Vila Viçosa, transitei

Era ainda algo franzino

Sr Gomes ajudou-me no que sei

Assim como, Mestre Bernardino

*

Daqui fui pró serviço militar

Por várias unidades passei

Fui mobilizado pró ultramar

Viajando, a Nampula cheguei

*

Nesta, na Pendry Sousa trabalhei

Na oficina com chefe Orlando

No Sr. Saraiva me apresentei

Tinha gente boa no comando!

*

Percurso não foi muito fácil

Espero que ninguém se iluda

Ano setenta, no mês de Abril

Regressei e passei à peluda

*

Logo ao trabalho regressei

Pró mestre Sr. Gomes, em Bencatel

Recusar seu convite, não pensei

Por ser proposta séria e fiel

*

Segui pró Archiminio Caeiro

Para Évora, linda e fina

Receber a formação, primeiro

Pra depois ser chefe de oficina

*

Fui transferido para Estremoz

Após a formação adquirida

Agradecido a quem me propôs

Missão foi muito bem cumprida

*

A todos meus mestres e patrões

A todos camaradas de guerra

A todos colegas de profissões

A amizade nunca encerra

*

Seguindo minha caminhada

Em Estremoz me estabeleci

Grato a toda “rapaziada”

Com quem nestes anos convivi

*

Autor: Manuel Alves Lapão


Sexta-feira, 30 de Junho de 2023

Momento Musical

Jorge Goes

Não Estava À Espera, Confesso

Segunda-feira, 26 de Junho de 2023

Borba Inspiradora

José António Russo da Silva escritor Borbense

CASTELO - RUA DE SANTA MARIA

O Burro Catambas

Os animais são nossos amigos, e quem assim não pensa, não é bom, nem é um verdadeiro

Alentejano.

Os burros são animais de má fama no sentido de inteligencia, mas eu não concordo porque nem

sempre está correto, existem humanos mais burros que os proprios burros.

Digo isto porque, este que eu conheci, a que dava-mos o nome de Catambas, nome posto pelo meu

querido amigo João Serrano, devido a haver na nossa rua um cigano com esse nome, que namorava a

Dona Antonia «espanhola», e ser o unico cigano a ser autorizado a viver em Borba.

Este animal quando se lhe colocava em cima os cangalhos, com quatro quartas de água, ninguem o

fazia andar, ficava estático, mas se lhe tirassem duas, ele caminhava, pois o pêso era metade.

Seria burro?

Claro que não.

Tambem se alguem o tratasse mal ele reagia mordendo o malfeitor, e se a sua cama estivesse

humida de urina e suja já não se deitava passava toda a noite em pé.

Desde pequenino o Zé foi crescendo junto de muita variedade de animais, de todos gostava,

excepto os porcos devido ao cheiro.

Como gostava muito de andar de burro, seu Pai montava-o nele, mas sempre em pêlo, e dava

pequenos passeios rua abaixo, rua acima, muito vidoso passeando o filho.

Mais tarde quando já andava na escola, assim que saìa, chegava a casa , pendurava a sacola de

sarapilheira, e lá ia ele para à cavalarice, montar-se no Catambas e ìa darlhe água ao chafariz da vila, que

ficava por detraz do lago junto á nossa bela fonte das bicas.

Seu Pai, para ele se poder montar nele, ensinou-o a ajoelhar-se, o que não foi facil, de ensinar mas

aprendeu, bastava o Zé bater lhe levemente nos joelhos e este obedecia logo, subindo assim mais

facilmente para cima dele.

Nunca o Zé caìu do animal, pela calçada do Castelo subia e descia muitas vezes a trote, passando

em seguida pelo posto da Policia de Viação e Transito, dando a curva na prise todo inclinado para o lado.

Era sorte naquele tempo não haver muito transito, os automoveis eram muito poucos.

Senão lá ía o Zé para o hospital.

O seu Catambas era muito acarinhado por ele e por vezes até demais, com peros, melões verdes e

até torrões de açucar.

Certo dia , ainda o sol não tinha nascido, já ele e o seu Pai, partiam para uma feira ali proximo,

cerca de quatro quilometros, em Vila Viçosa, levando uma vaca para vender, indo o Zé montado no burro.

 ́ Ao fim de algum tempo seu Pai vendeu a vaca, e em seguida foi com o comprador celebrar o

negocio com um copito de vinho a uma taberna ali improvisada, a que nós chamamos baiuca.

Ó Zé ficas aqui com o burro, não abales daqui, que teu Pai já vem.

Está bem?

Eu não me demoro, toma lá a arriata, e deu-lhe a ponta da corda que liga ao cabresto para a sua

pequenina mão de criança.

Ele ali ficou esperando, com a cordinha na mão de costas para o Catambas, e admirando o

carrousel Araujo, subindo e descendo as montanhas, com as suas girafas e outros bichos, salpicados de

muitas cores.

O tempo foi passando, quando o seu Pai chegou, perguntou-lhe pelo burro, ele olha para traz com

a cordinha na mão, ficou nervoso e a chorar.

Não sei Pai.

Roubaram-nos o burro e nem deste por isso, belo guarda me saiste tu!

Ficando furioso.

Partiu correndo de pau na mão pela feira, até que encontrou o Catambas já misturado com outros

um pouco camufelado, mas como era branco e alto, foi mais facil localizalo.

A confusão foi grande, quando o seu Pai dá uma grande sova num cigano com o pau que usava.

Os ciganos juntaram-se, tivemos sorte porque a guarda estava por perto, e interveio, tendo o

cigano que roubara, sido mandado para o hospital com uma orelha deitada abaixo com uma paulada que

sangrava bastante.

Meu Pai dizia para um outro cigano que se intrometera.

Não foi nada contigo, desaparece da minha vista, senão ainda te espeto o pau pelo cu acima.

Seu coração deixou de bater demais, quando o Pai lhe deu o Catambas e lhe fez um nó na corda,

onde o cigano a tinha cortado com uma navalha, e disse-lhe: Ias a arranjando bonita ìas, belo guarda, belo

guarda.

Já tudo calmo e de regresso a casa, seu Pai mangando com o filho meteu a mão na algibeira falou

que tinha perdido o dinheiro da venda da vaca, ele acreditou e ficou triste.

Não meu filho , o dinheiro esta aqui, e lá o animou dizendo: Ia-mos perdendo o burro e se

perdesse-mos o dinheiro da vaca , era uma tragedia.

Os dois riam pelo caminho, sabes que eu tive medo foi de te deixar ali só, quando fui à cáta dos

ciganos, mas deles não tive medo, enquanto eu tivesse este pau na mão eles não me tocavam, não me ia

abaixo, com esta corja de ladrões.

O pior foi quando em casa se soube, todos gozavam o Zé, dizendo para ele «Qué do burro».

Ele ficava bravo, não gostava nada, até alguns miudos da sua idade ao saberem, o atacavam

«Qué do burro» «Qué do burro».

Era motivo de chacota.

Mais tarde o seu Pai vendera o burro porque já estava velho e manco, foi para o jardim zoologico

para alimento de leões, foi levado numa camioneta por um negociante que de tempos em tempos passava

pela loja do ferrador Zé da Pazinha e os comprava.

Era assim na época.

Hoje ainda alguem que se lembre do episodio, e lhe diz « Qué do burro» o Zé ri-se e acha muita

piada e gosta de ouvir e recordar os bons tempos de criança.

ZÉ RUSSO


Sexta-feira, 23 de Junho de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

Sexta-feira, 16 de Junho de 2023

"CASA DA FRATERNIDADE" - 1ª Centenário da Casa do Alentejo (Lisboa), 10 de Junho de 2023.

“No âmbito das comemorações do 100º Aniversário da Casa do Alentejo, em Lisboa, José Borralho, cantador e autor de Cante Alentejano, em parceria com o músico e cantor Francisco Naia, criaram esta Moda inédita, interpretada hoje pelo Grupo Coral e Etnográfico "Amigos do Alentejo" do Feijó.”

Dulce Simões

Domingo, 4 de Junho de 2023

Concerto de Domingo à Tarde

Charles Trenet - La mer (Officiel) [Live Version]

Sábado, 3 de Junho de 2023

Visite o Alentejo

Vila Nova de Mil Fontes

"Praia do Farol – Onde o Mira Toca o Atlântico

Tal como a praia das Furnas, do outro lado do rio, também a Praia do Farol possui uma frente rio e uma frente mar. A frente mar é caraterizada pela presença de rochas e pela formação de grandes lagoas, durante a maré vazia, onde as crianças se podem divertir com outra tranquilidade.

Na extremidade norte da Praia do Farol existem condições para a prática do Surf e do Bodyboard, pelo que é frequente ver alguns praticantes deste desporto na água.

Neste local, situa-se também um restaurante com uma vista privilegiada, a Choupana. Rezam as crónicas, que é o sítio ideal para comer um peixe grelhado, sem tirar os olhos do mar. A sua excelente localização também convida a relaxar durante o final da tarde, usufruindo do fantástico pôr-do-sol, que é por si só um espectáculo digno de relevo.

....." in guia.vnmilfontes.info

Quinta-feira, 1 de Junho de 2023

Dia Mundial da Criança

Pintura a Óleo sobre a madeira, dos projectos "Eu Gostaria de Saber pintar"

 de Álvaro Cunhal - Pintura 4

"Se as crianças aprendessem poemas de cor em pequenas, se fosse uma parte integrante do ensino e até, se elas tivessem de dizer um poema de cor para serem admitidas a qualquer universidade, as pessoas passavam a falar melhor. Porque falar é próprio de todas as pessoas, não é só do médico, do engenheiro e onde se aprende a falar realmente é na poesia."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Brinquedo Português

"As crianças são os únicos seres divinos que a nossa pobre humanidade conhece. Os outros anjos, os das asas, nunca aparecem. Os santos, depois de santos ficam na Bem-Aventurança a preguiçar, ninguém mais os enxerga. E, para concebermos uma ideia das coisas do Céu, só temos realmente as criancinhas."

 Eça de Queirós

Domingo, 28 de Maio de 2023

Concerto de Domingo à Tarde

Compasso Alentejano

Sexta-feira, 19 de Maio de 2023

Zeca Afonso - cantar alentejano

(Música Cantar alentejano, homenagem a Catarina Eufémia)

Assassinada a 19 de Maio de 1954

Catarina Efigénia Sabino Eufémia (Baleizão, Beja, 13 de Fevereiro de 1928 — Monte do Olival, Baleizão, Beja, 19 de Maio de 1954) foi uma ceifeira portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi assassinada a tiros, pelo tenente Carrajola da Guarda Nacional Republicana. (Wikipédia)

Quinta-feira, 18 de Maio de 2023

O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebeu  o Prémio Camões, que lhe foi atribuído em 2019, no dia 24 de Abril, numa cerimónia que teve lugar no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra.

Discurso de Chico Buarque - Prêmio Camões 2019

 

Cerimônia de entrega - dia 24 de abril de 2023, Palácio Nacional de Queluz, às 16.00 horas.

 

Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade. Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo.

O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de  tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura. O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.

Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde - sou leitor e admirador. Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim. 

Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade. Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.

 

   

Muito obrigado



Domingo, 14 de Maio de 2023

Concerto de Domingo à Tarde

Trigo Roxo

Sábado, 13 de Maio de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

Os meus livros

I

Escrevo sobre diversos temas

Seja em prosa ou em poesia

Apaixonam-me as duas formas

Ambas me transmitem alegria

II

Muito breve será lançado

Mais um livro da minha autoria

Citando hoje e o passado

Sob o título; A Minha Poesia

III

Recorri a variados temas

Pra todos leitores satisfazer

Dedico esta obra de poemas

A quem tem interesse em ler

IV

Apelo a que leia os meus livros

Na certeza de que vai adorar

Com metodologia são compostos

Mas, o leitor é que me vai julgar

V

As quatro quadras, que se seguem

Simbolizam os meus quatro livros

Os seus conteúdos não ofendem

São verdadeiros e construtivos

VI

O Meu Livro, é autobiografia

Nela tenho a vida narrada

Longe de usar qualquer fantasia

À ética está amarrada

VII

A obra, Minha Terra Meu Berço

É dedicada Rio de Moinhos

Aqui nasci e bem a conheço

De lá são, esposa e filhinhos

VIII

Compus o livro, Os Meus Poemas

Sob o ADN dos poetas da terra

Versando liberto de algemas

Porque nasci às abas da serra

IX

Eis a obra: A Minha Poesia

Que em breve estará editada

Lançamento, informarei o dia

Quando sua data for marcada

X

Escrevi pra todos paladares

Vários temas, sem usar tretas

De Portugal e de além mares

Passei pelo cabo das tormentas

*

Autor: Manuel Alves Lapão

Quinta-feira, 11 de Maio de 2022

O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebeu  o Prémio Camões, que lhe foi atribuído em 2019, na segunda-feira dia 24 de Abril, numa cerimónia a ter lugar no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra.

Fotografia in comunidadeculturaearte.com

“Em entrevista à agência Lusa, a ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, considerou que a entrega do Premio Camões de 2019 ao músico em Portugal simboliza o regresso aos valores democráticos no Brasil.”

“Chico Buarque é um artista e um cidadão que, para nós, tem uma representatividade muito alta”, pela “dimensão da obra dele, pelo que ele representa para o povo brasileiro, para a democracia”, afirmou a ministra, acrescentando que “foi um artista que sempre se envolveu e se colocou na luta a favor da democracia" e contra a ditadura, através das suas obras.


Também a editora Clara Capitão, do grupo Penguim Random House Portugal, que edita a obra de Chico Buarque, na chancela Companhia das Letras, destacou que a entrega do prémio ao escritor e músico brasileiro, "depois de anos de espera, significa que o Brasil voltou a viver um tempo de democracia e esperança".

"Este prémio confirma a importância da obra deste que é um dos mais relevantes criadores contemporâneos do Brasil, espalhando pelo mundo, com as suas letras e os seus livros, os encantos da língua portuguesa. As suas letras cantam a liberdade, a imaginação, o amor e o desamor. E os seus livros, com deliciosa ironia e fina capacidade de observação, instigam-nos a ver o mundo com um olhar renovado", afirmou Clara Capitão, em comunicado.


“A atribuição do Prémio Camões ao músico e escritor brasileiro reconhece “o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, um trabalho que “atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura no mundo contemporâneo”, concluiu o júri na sua declaração.


“Instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga, o Prémio Camões é o galardão de maior prestígio da língua portuguesa. De caráter anual, presta homenagem a um escritor que, pela sua obra, contribua para o enriquecimento e projeção do património literário e cultural de língua portuguesa.”

In mag.sapo.pt

Quarta-feira, 10 de Maio de 2023

Visite Borba

Fotografias de Adriano Bastos

Terça-feira, 9 de Maio de 2023

Receitas de Culinária do Alentejo

Fotografia in https://amodadoflavio.pt/

Caldo de cação

"4 postas de cação

1 molho de coentros frescos

1 folha de louro

Colorau q.b.

1 cabeça de alhos

1 chávena de café de vinagre

Farinha q.b.

1,5 dl de azeite

Pimenta q.b.

Pão alentejano

Deixe o cação a marinar durante uma hora, em vinagre branco, azeite, uma cabeça de alhos picados, um ramo de coentros também picados, uma folha de louro e uma pitada de colorau.

Leve ao lume, uma panela com azeite. Coloque as postas de cação na panela e tempere com sal e pimenta. Adicione a marinada, sem a folha de louro. Deixe cozer durante 20 minutos. Retire o cação e junte ao caldo da panela,uma colher e meia, de sopa, de farinha. Vá misturando suavemente. Deixe em lume brando durante 3 minutos para engrossar. Volte a colocar o cação, com o lume desligado.

Numa travessa, coloque fatias de pão alentejano e as postas de cação por cima. Regue com o caldo,d e modo a ficar ensopado e sirva."

Receitas de Maria do Rosário Pires

Quinta-feira, 27 de Abril de 2023

Poetas de Borba

Rio de Moínhos

Manuel Alves Lapão

Alentejo mal olhado

I

O Alentejo muito brilha

Com sua beleza e brancura

Muita amizade partilha

Cheia de amor e ternura

II

O chamado celeiro da nação

Outrora assim foi conhecido

Abandono gerou desilusão

Celeiro ficou empobrecido

III

Exportávamos; carnes. cereais,

Mármore, frutas queijos e vinhos

Prós mercados internacionais

A região seguia bons caminhos

* IV

Há décadas que se vem notando

Menor produção e exportação

É nosso dever irmos alertando

Os mais diversos órgãos da nação

V

País será auto-suficiente

Quando aplicar todo ensejo

Semeando a boa semente

Nos férteis campos do Alentejo

VI

Fazendo culturas intensivas

E, espécies de gados criar

Com as políticas assertivas

Alentejo pode recuperar

VII

O melhor mármore do mundo

No subsolo do Alentejo está

Deixaram-no bater no fundo

E causaram desemprego por cá

VIII

Mármore era adjectivado

Na região, pelo ouro branco

Quando ele era exportado

Pagavam-nos em Dólar ou Franco

IX

O êxodo de parte do povo

Aconteceu, por trabalho faltar

Povoem a região de novo

Para o Alentejo puder sonhar

X

Srs. políticos prestem atenção

Recuperem o nosso celeiro

Dinamizando toda região

Do nosso Alentejo obreiro

*

Autor: Manuel Alves Lapão

Segunda-feira, 17 de Abril de 2023

Poeta Joaquim Pessoa

@Alexandra Silva/Arquivo DN


O poeta Joaquim Pessoa do Barreiro, morreu esta segunda-feira, aos 75 anos, anunciou a editora Edições Esgotadas.

Deixa mais de 30 livros publicados e poemas cantados por Carlos do Carmo, Jorge Palma ou Rui Veloso.

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.

Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.

Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.

Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

Conta Comigo Sempre

Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio, outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.

O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.

Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.

Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.

Conta comigo. Sempre.

Joaquim Pessoa

Quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2023

Em Alentejo-GASTRONOMIA 

Receitas Culinárias Alentejo

Bolo de café

"Bolo de café (Alentejo)

4 ovos

2 chávenas de chá de açúcar amarelo

Meia chávena de chá de azeite

2 colheres de sopa de café solúvel

 1 colher de chá de canela

2 chávenas de chá de farinha

1 colher de chá de fermento em pó.

 Bater os ovos com o açúcar,até obter um creme fofo. Juntar o azeite e bater mais um pouco. Adicionar o café e a canela e bater mais dois minutos. Por fim,adicionar a farinha e o fermento em pó. Levar ao forno,em forma untada com margarina e polvilhada com farinha, durante quarenta minutos,a 180 graus.

" Receitas de

Maria Rosario Pires

Quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2023

"Respigando...Alentejo"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Fotografia de Adriano Bastos


Tabernas do Alentejo

"São lugares ancestrais de conhecimento e cultura. Rituais sociais, onde o vinho desinibe e fomenta longas conversas entre as mais variadas culturas. Ali, entre aqueles odores agridoces, entre um copo e outro, fez-se o menino homem. Ali, enxuga-se a alma e esquecem-se por momentos os dissabores da vida.

As tabernas são lugares sagrados, também elas compostas por mandamentos, onde o sangue de Cristo é tomado por todos religiosamente. Onde os sermões são dados pela sabedoria dos anos, de passados atribulados e duros, no uso, quase sempre, das palavras certas para o momento.

Fala-se do Ti António que morreu do coração, do Ti João que morreu de cancro, mas, ali, não se ouve falar que alguém tenha morrido por causas do vinho, pois o vinho é um elixir, um antídoto para todos os males. Diz-se que até mata o bicho.

É um espaço onde não existe stress. Entre uma rodela de linguiça e uma lasca de presunto também o colesterol é esquecido. 

Por fim, quando as pernas não obedecem e o andar torna-se desequilibrado, culpa-se sempre o último copo. Mas existe sempre um amigo pronto a levar-nos a casa.  As tabernas são escolas de vida, de saberes populares, onde o cante marca o compasso."

José Bravo Rosa

Quinta-feira, 19 de Janeiro de 2023

Borba Inspiradora

José António Russo da Silva escritor Borbense

A “Maria -Rapaz”

Esta história que vou transcrever não é totalmente de minha autoria, foi-me contada pelo meu Pai José Francisco. Reproduzida por mim de velhos documentos escritos pelo seu punho, com uma letra muito bem desenhada dessa época, estando em muito mau estado de conservação. devido à idade

Porquê? “Maria Rapaz”? Tal com o nome prenuncia. Maria vestia-se como um rap az e assim fazia a sua vida, sem que se soubesse que de facto se tratasse de uma mulher, até ser presa por roubo, ou como se dizia, por gatuna em 1921, ano bastante agitado na conjuntura política da primeira Republica Portuguesa.

Corria o ano de 1905 quando Maria nasceu. Nesse conturbado tempo, Dom Carlos reinava, mas, num clima de agitação e lutas políticas. Pouco depois, em 1906 João Franco era Chamado ao poder, e os deputados republicanos eleitos nesse ano tornavam-se uma voz incomoda no Parlamento monárquico. Dois anos depois, em 1908, o rei Dom Carlos e o seu filho Dom Luís Filipe eram mortos no Terreiro do Paço em Lisboa.

O episódio de “Maria Rapaz”, deu-se na vida de um casal de camponeses a viver numa aldeia saloia a umas escassas léguas de Sobral de Monte Agraço. Por motivos de ordem económica, devido à falta de trabalho e miséria que se vivia nesse tempo, o homem teve que se ausentar de casa bastante tempo, deixando sua mulher entregue ao seu modesto e pobre casebre com sua filha com cerca de quatro anos. “A que eu dou o nome de Maria, não se sabendo o seu verdadeiro nome”.

A Mãe da menina teria iniciado uma relação íntima com um irmão, e, devido a este caso de incesto o povo estava indignado. O pai de Maria sabendo do sucedido, voltara tempos depois à povoação, a Mãe de Maria e amante, com a ajuda de mais um terceiro cúmplice teriam matado o marido. Era esta a versão que era corrente na povoação e arredores.

O crime acaba por ser descoberto, aparentemente o efeito do álcool destravou a língua de um dos implicados. Presos, a Mãe e os cúmplices, estes são julgados e condenados.

A menina assistiu ao julgamento pela companhia de uma vizinha, sem se lembrar do seu desenrolar por ser bastante pequena. Os três réus foram condenados ao degredo para África. Pelo que se sabe, Maria não mais tornou a ver a Mãe. Teria na altura do acontecimento cerca de quatro anos.

No final da audiência o juiz vendo Maria desamparada, teria perguntado aos presentes “curiosos” que ali assistiam se alguém podia tomar conta da menina, na posse de uma vizinha. A falta de outra solução, foi a boa vontade de uma desconhecida que deu na infância, uma casa a Maria.

Esta boa senhora estava, contudo, disposta a mais do que isso. Bondosa senhora, que com o seu marido a acolheu-a em sua casa. Tratou-a como se fosse sua filha e um dia mais tarde uma bela surpresa, mandou-a estudar. À época a grande maioria das jovens não frequentava a escola, excepto as da burguesia ou de estratos mais elevados da sociedade, classes sociais mais baixas não tinha como expectativa a ida para a escola. Muitas delas não sabiam ler nem escrever e nessa condição de analfabetas permaneciam toda a sua vida.

Maria viveu alguns anos com esta senhora. Quando tinha cerca de treze anos a sua protectora morreu. Aparentemente, a sua sorte acabou. Aqui começa um encíclico entre diferentes casas. O viúvo torna a casar e Maria é mandada para casa de uma Avó. Esta não podia ficar com a neta, por ser muito velhinha e sem condições de subsistência , sendo enviada por um vendedor de água para Lisboa. Sem amparo mais uma vez, viu-se obrigada a trabalhar como criada de servir, uma opção para as raparigas pobres de então. Segundo se sabia, foi-lhe difícil a adaptação a este novo meio e às suas novas funções, trabalhando depois em diferentes casas e diversos sítios.

Esteve em muitas casas. Um belo dia convenceu-se que não podia viver mais engaiolada. Foi para os campos e fez-se pastora, os rios e os montes fascinaram a pequena camponesa. Foram os seus melhores dias. Andava sozinha em liberdade, bebia nos regatos e comia fruta madura das árvores.

O facto é que não ficava muito tempo em cada um destes trabalhos e voltou para Lisboa. Procurou uns parentes. Estes, sem condições económicas e financeiras, não a acolheram como esperava. Não podiam recebe-la em sua casa. Mais uma boca para alimentar pesava muito no orçamento familiar. Mais uma vez estava desamparada. Sozinha, sem contar com a boa vontade de alguém, o que poderia fazer?

Com os poucos parcos vinténs, foi passar a noite a uma hospedaria e foi aí que se deu uma grande transformação: passara a ser homem. 

Foi nessa noite que tomou essa importante decisão. Mas era uma tomada de posição bastante radical para ser vista como uma decisão intempestiva de uma noite. Ao que se sabe já tinha usado roupa de homem num carnaval de aldeia, e na altura disseram-lhe que parecia mesmo um rapaz. O sucesso da sua iniciativa, parecia-lhe garantido.

Há, contudo, uma razão apontada que faz sentido. A jovem considerou que a sua vida seria mais fácil se pudesse negar o seu sexo. Teria mais oportunidade de emprego e maior liberdade de movimentos, ficaria menos exposta. Uma mulher sozinha estava muito mais desprotegida.

Estas raparigas eram tidas como presas fáceis para homens sem intenções honestas. Existiam muitas jovens sem apoio, nesses tempos. Maria não foi uma excepção. Era difícil uma mulher ou a uma rapariga sobreviver sem família, sem instrução e sem fortuna. Temia-se que sucumbissem ao que era chamado a tentação do luxo, a vida fácil.

Maria com o seus magros vinténs, comprou um fato, camisa, sapatos, boné e gravata baratos. Na hospedaria o barbeiro, que tinha sido

chamado, cortou-lhe o cabelo “à inglesa”, uma clara referência às mulheres modernas desse tempo que encontramos nos anos vinte. A moda ditava cabelos curtos, mas Maria fez uma opção que não levava em linha de conta.

A mudança estava completa. Pelo facto de ter mudado de fato. Abandonou a hospedaria deitou as suas roupas fora e lançou-se à cidade. A partir desse momento, tornara-se uma outra pessoa e como homem a sua vida ia tornar-se mais fácil.

O primeiro passo foi arranjar uma forma de sustento. Todo um outro mundo de oportunidades surgia a seus olhos. Os rapazes podiam aspirar a empregos que para as raparigas estavam vedados. Aparentemente, era mais fácil encontrar trabalhos mais bem pagos.

Na sua nova condição, começou por ser angariadora de clientes para hospedarias à saída doas comboios e barcos depois conseguiu emprego num armazém de mercearias, levando as compras a várias partes da cidade . Não satisfeita conseguiu trabalho numa alfaiataria como “moço de recados”, ganhando mais. A sua vida parecia estar a melhorar. Por ultimo até se empregou numa companhia de seguros, começando por ser serviço de entregas, conseguindo chegar a dactilógrafo/a , chegando a ganhar bem. Para trás ficaram os tempos de criada de servir.

À semelhança do que faziam outros rapazes, aprendeu a tocar guitarra, fumava e namoriscava. Pelo que se sabia, tinha bastante sucesso com as mulheres sendo objecto de grandes paixões. Frequentava cafés e acompanhava homens a beber vinho nas tabernas. Embora não tivesse barba, mesmo assim fazia sempre o pequeno buço, tendo a cara limpa e cuidada.

A vida parecia corria-lhe de feição . Como se descobriu esta história? Maria foi presa, acusada de roubo no local de trabalho. A companhia de

seguros. Presa, a policia - com grande estupefacção, provavelmente- descobre que o rapaz era uma rapariga.

A “Maria Rapaz” foi internada numa casa de correcção, após ter regressado à sua condição feminina. Quando dali saiu, o que podia ser uma aventura converteu-se em delito, motivo porque tem um numero de prisões tão elevado.

De forma muito corrente como o pensamento da época, a narração deste caso valoriza bastante a genealogia de Maria. A criança carregava a marca dos actos da mãe, trazendo em si a predisposição criminosa. O delinquente era condicionado tanto pela hereditariedade como pelo meio. E Maria começava mal: filha de adultera e assassina.

“Somos o produto do meio onde e como somos criados”, mas apesar disso também existem desvios.

É importante parar um minuto neste retrato. Trata-se de uma mulher fora da lei, era engraçada , sem ser bonita, morena, nervosa, olhos grandes e cabelos muito curtos, diz-se que os seus cabelos cheiravam a violetas. Havia, porem nela um fundo romântico e subsistente, como uma reserva imaculada de sonho e de beleza.

As fontes que pesquisei para escrever esta história, são as memórias de conversas de café, e recortes de jornais da época, onde o famoso chefe da policia de Lisboa Pereira dos Santos, tantas histórias nos deixou.

Podemos perguntar-nos se tudo se passou assim, tal como conto nestas memórias, ou se parte desta história não teria sido reinventada ou adulterada. Caso raro, mas não único, arrisco-me a defender a possibilidade de ter acontecido conforme escrevi.

“Recuso-me terminantemente a cumprir o novo acordo ortográfico, imbecil e chocante que assassinou a nossa língua portuguesa. Nenhuma língua pode ser alterada por decreto.

ZÉ Russo

Terça-feira, 17 de Janeiro de 2023


Grupos Corais Alentejanos

Grupo Coral da Casa do Povo de Moura

Fundado em 1940 / 1975 - Distrito de Beja, Concelho Moura, Freguesia Moura - Mestre do Grupo - António Baltazar  /  José Dias . Grupo Coral extinto / Inactivo  ano  1983 / 1996 ( Fotos de Sónia Cabeça e do Ateneu Mourense )

Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2023

Encontro com os nossos Escritores

José Rabaça Gaspar


Lendas de Beja - O Touro e a Cobra e outras LENDAS..

LENDAS

A obra: Lendas de Beja – O Touro e a Cobra e outras Lendas…, de José Rabaça Gaspar, professor de Literatura na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, traduz-se num trabalho de investigação minucioso e preciso sobre muitas das lendas e estórias maravilhosas que marcam a identidade cultural das gentes de Beja.

Levando a cabo quase dez anos de recolha de lendas, a Lenda da Cobra e do Touro é, sem dúvida, a mais interessante e mais rica em conteúdo, sendo contada de múltiplas maneiras e com várias versões. Nesta(s) estória(s) existe quase sempre um predomínio do touro sobre a cobra, podendo representar, assim, uma vitória da força e astúcia do touro sobre a ruindade e ambição da cobra. O imaginário da cultura portuguesa, está carregado de evocações à cobra como animal quase humano capaz dos actos mais desprezíveis, pelo que esta lenda não poderia “fugir à regra”.

Seja como for, a verdade é que esta lenda ainda está viva, e com pormenores que se vão recombinando consoante as versões, e expressa a ideia de um mito de origem que organiza e marca a sua concepção do mundo envolvente.

Num tempo em que o conhecimento científico impera, todos os ensinamentos baseados na oralidade, os contos, os jogos, os cantares, as crenças e as lendas, passados de boca em boca, de geração em geração, parecem estar ameaçados de esquecimento e à deturpação dos seus significados.

Esta obra remete-nos para um conhecimento tradicional, assente na natureza e raiz popular de um povo, colocando-nos perante um conhecimento dos antigos, dos ditos “analfabetos”, que transportam consigo verdadeiras bibliotecas, sabedorias e segredos.

Ao transpor esta realidade para a escrita está-se a preservar um património vivo, rico, que merece ser conhecido por todos. Daí que trabalhos como o de José Rabaça Gaspar devam ser encorajados e dignificados, na medida em que a nossa cultura popular encerra ainda muitos mistérios e desafios que vale a pena serem descobertos.


Ana Machado

Antropóloga

in “Imenso Sul”, Nº 17, Janeiro de 1999, p. 46

Domingo, 8 de Janeiro de 2023

Visite o Alentejo

Serpa

Fim de Semana com os castelos de Portugal

Castelo de Serpa

Pensa-se que Serpa poderia já ter uma fortificação na época da ocupação romana, mas só há confirmação a partir do século VIII, durante a ocupação árabe, uma vez que esta fortaleza foi conquistada no reinado de D. Afonso Henriques.   Depois desta conquista, a fortaleza de Serpa, cai de novo na mão dos árabes e só no reinado de D. Sancho II, em 1232, volta ao domínio português, todavia esta zona do território, além do Guadiana, esteve em disputa pelos reis de Castela, que chegaram a ter o seu domínio, até à ratificação da fronteira, no reinado de D. Dinis, em finais do século XIII.   Os problemas com Espanha voltariam a surgir durante a Guerra da Sucessão, em que Serpa caiu facilmente perante o ataque das forças espanholas, mas é assinalado que no início da Restauração da Independência, este foi um dos primeiros castelos a hastear a bandeira portuguesa.   Na sequência da Guerra da Restauração a fortaleza beneficiou de obras de modernização, mas ao longo dos séculos seguintes, à semelhança de uma boa parte dos castelos portugueses, o tempo e o abandono arruinou as estruturas e neste caso, em 1870, registaram-se grandes desmoronamentos nas muralhas e torres.   Classificado como Monumento Nacional em 1954, teve trabalhos de consolidação e neste momento funciona na Alcáçova, o Museu de Arqueologia de Serpa, que apresenta uma exposição permanente, abrangendo um vasto período, desde o Paleolítico inferior à época islâmica, com materiais oriundos, na sua maioria, do concelho de Serpa. In Passado Distante Arqueologia-FB

Fotos tiradas do google

Sábado, 7 de Janeiro de 2022

Alentejo-GASTRONOMIA 

Receitas Culinárias Alentejo

Fotografias de António Sousa

Migas à Alentejana

400 g de lombo de porco

Decoração

Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2023

"Respigando...Alentejo"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Fotografia de Filipe José Galhanas

Évora

Extraído de "As Pedras e o Tempo" de Fernando Lopes, 1961. Seu primeiro filme.

Domingo, 25 de Dezembro de 2022

Fotografia in Wikipédia

SOLIDÃO, de Irene Lisboa (25 de Dezembro de 1892 —25 de Novembro de 1958)


Solidão

Cai chuva, chora. 

Chora, chora. 

Solidão, solidão! 


Já não canta o pássaro. 

Calou-se a voz, a alegre, a rara. 

A que se ouvia solitária. 

Cai chuva. 


Não sou freira e estou num convento. 

A paz, o silêncio, a chuva, os claustros... 

Ser freira! 


O sequestro, cantar, rezar. 

Cai chuva, rude e sem dor. 

Tu não choras. 

Sou eu que choro. 


Que é do pássaro, como cantava? 

Voltou, voltou. Pia! 

Bendito pássaro, onde estás? 

Acompanha-me, já não chove. 

Solidão, melancolia. 


in 'Outono Havias de Vir'


Irene Lisboa.

Terça-feira, 20 de Dezembro de 2022

Tempos de Reflexão

CONSELHO AOS ESCRITORES

.

“Nunca deixo de ler o Suplemento Literário do “The Times”. É uma disciplina salutar considerar o grande número de livros que são escritos, as esperanças justas com que os seus autores os vêem publicados e o destino que os espera. Que possibilidade há de que um livro faça o seu caminho por entre tamanha quantidade deles? E os livros de sucesso são apenas sucessos de uma temporada. Sabe Deus que dores o autor sofreu, que experiências amargas suportou e que dores de cabeça aguentou para dar a um qualquer leitor algumas horas de relaxamento ou para dissipar o tédio de uma viagem. E se posso julgar pelas críticas, muitos desses livros são bem e cuidadosamente escritos; muita reflexão foi dedicada à sua composição e a alguns corresponde até o trabalho angustioso de uma vida inteira. A moral que extraio é que o escritor deve buscar a sua recompensa no prazer do seu trabalho e na libertação do fardo dos seus pensamentos; e, indiferente a tudo o mais, não deve importar-se com elogios ou censuras, fracassos ou sucessos.”

"William Somerset Maugham, conhecido como W. SOMERSET MAUGHAM (25 de Janeiro de 1874 - 16 de Dezembro de 1965), romancista e dramaturgo inglês, em excerto, que traduzimos, de “The Moon and Sixpence”, romance que se encontra disponível em www.gutenberg.org/ebooks/222."

 Fotografia e texto in A Vida Breve

Sábado, 17 de Dezembro de 2022

Tempos de Reflexão

A calma é um elemento criador. Purifica, recolhe, põe em ordem as forças internas, compensando o que o desordenado movimento dispersa.”

Stefan Zweig

A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."

JEAN PIAGET - 1896 - 1980

“O grau de evolução de uma sociedade pode ser avaliado pelo modo como essa sociedade trata suas crianças, seus idosos e seus animais.” 

Gandhi

A vida não é triste. Tem horas tristes.”Romain Rolland“Afirmam que a vida é breve,

Engano - a vida é comprida:

Cabe nela amor eterno

E ainda sobeja vida.”

António Botto (Portugal, 17.8.1897 – Brasil, 16.3.1959) 

in “As canções de António Botto“ Livro terceiro - Peunas esculturas.

Quinta-feira, 15 de Dezembro de 2022

15 de Dezembro — DIA INTERNACIONAL DO CHÁ

"Para a alegria dos olhos, a simples preparaçäo do chá imprime um relevo delicioso á graciosidade innata na "musumé" (*) na attitude que lhe é mais habitual, de joelhos sobre a esteira, junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva, unica; privilegio d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella buliçosa mäo, de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a Eva mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo que jamais o japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca n'aquella mäo que exhibe esplendores de graça para servir-lhe o chá; o forasteiro, em intimidade serena, pode ensaiar o galanteio se phantasia o tenta; e entäo verá talvez, que a mäosita da "musumé", reconhecida ao afago, se conchega de encontro aos labios, se demora, como uma rola docil gulosa de carinhos."

.

— Wenceslau de Moraes (Lisboa, 30 de Maio de 1854 - Tokushima, 1 de Julho de 1929), escritor e militar da Marinha Portuguesa, in  “O culto do chá", Kobe, Typographia do "Kobe Herald", Gravuras de Gitô Seilôdô, 1905, p. 25.

.

.

(*) - em japonês, mulher jovem."


in A Vida Breve- Texto e fotografia

Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2022

Celeiro da Cultura

Ulf Andersen / Getty Images

Cai a Chuva Abandonada

Vergílio Ferreira


Cai a chuva abandonada 

à minha melancolia, 

a melancolia do nada 

que é tudo o que em nós se cria. 


Memória estranha de outrora 

não a sei e está presente. 

Em mim por si se demora 

e nada em mim a consente 


do que me fala à razão. 

Mas a razão é limite 

do que tem ocasião 


de negar o que me fite 

de onde é a minha mansão 

que é mansão no sem-limite. 

Ao longe e ao alto é que estou 

e só daí é que sou. 


Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Fotografia in Wikipédia


Noite


Ó noite,

coalhada nas formas de um corpo de mulher

vago e belo e voluptuoso

num bailado erótico,com o cenário dos astros,mudos e quedos


Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele,

deixai que os caminhos da noite

cegos e rectos como o destino,

suspensos como uma nuvem.


Sejam os caminhos dos poetas

que lhes decoraram o nome.


Ó noite,coalhada nas formas de um corpo de mulher!

esconde a vida no seio de uma estrela

e fá-la pairar,assim mágica e irreal,

para que a olhemos como uma lua sonâmbula.


Fernando Namora

Fotografia in e-cultura

Escada Sem Corrimão – David Mourão-Ferreira 


É uma escada em caracol

E que não tem corrimão.

Vai a caminho do sol

Mas nunca passa do chão.


Os degraus, quanto mais altos,

Mais estragados estão,

Nem sustos nem sobressaltos

Servem sequer de lição.


Quem tem medo não a sobe

Quem tem sonhos também não.

Há quem chegue a deitar fora

O lastro do coração.


Sobe-se numa corrida.

Corre-se perigos em vão.

Adivinhaste: é a vida

A escada sem corrimão.

Terça-feira, 13 de Dezembro de 2022

Encontro com a escrita de

José Rentes de Carvalho

Cartas de Amor

"Neste tempo de sms, likes, emoticons, haverá ainda quem, com pena e papel, se sente a 

escrever cartas de amor? Creio que o simples imaginar da cena causa hilaridade, para não

 falarmos do perigo que acarreta expor em frases que ficam – scripta manent – emoções e 

sentimentos que, exaltados por natureza, contêm o risco clássico do feitiço que se volta

 contra o feiticeiro. Numa ou noutra altura, em estado febril, provavelmente quase todos nós, 

maiores de cinquenta anos, cometemos o erro de caligrafar em papel acessos de paixão, o 

mesmo é dizer que nesta e naquela gaveta, ou entre páginas de sonetos, se escondem umas 

quantas bombas de relógio. Não das que explodem em estilhaços e causam mortes, mas das

 que, como as do gás de mostarda, discretamente espalham o seu veneno. Imaginem-na, a 

esquecida namorada, irreconhecível, tão diferente da jovem que foi, e agora, num gesto de

 teatro, espalha sobre a mesa do café umas quantas folhas, em que não só reconhecemos a 

nossa letra, mas, bem pior, nos levam a recordar em detalhe quanto nos esforçámos, 

buscando-as no dicionário, por encontrar palavras que, como um vidro de aumento, 

engrossassem a paixão."


Sexta-feira, 9 de Dezembro de 2022

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher;  compilar;  coligir)

Texto de investigação e recolha de José Rabaça Gaspar

 como apoio a este FILME nº 6 de Adriano Bastos

deixamos aqui as duas legendas:

A primeira, sobre a porta de entrada é muito simples, mas importante, para que

a memória não se perca:

«ERMIDA de NOSSA 

SENHORA da VITÓRIA

ERGUIDA em 1665

RESTAURADA NO ANO DE 1981

PELA COMISSÃO de FESTAS

BARRO BRANCO

SETEMBRO de 1981»

A segunda legenda, bastante longa e já publicada neste site, 

é a da LÁPIDE COMEMORATIVA da BATALHA de MONTES CLAROS

Recantos Alentejo

Borba-Ermida da Nossa Senhora da Vitória 

Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2022

Encontro com os nossos Escritores

José Rentes de Carvalho

Fotografia in Wikipédia

Derrapagens da alma



 Com a idade vai acontecendo menos, mas continua a ser ratoeira em que caio com ingenuidade de criança: pedem-me conselho, perguntam-me o que penso disto e daquilo, juntam um agradável sorriso, e eu cego para o perigo da mola, só vejo o pedaço de queijo, quando dou por mim é tarde, está o coração perto da boca a debitar a resposta.

Sinceridade que ao interlocutor nada interessa, nem é seu desejo ver apontadas as falhas, as deficiências, a soberba que o faz descarrilar.

Desculpe quem isto por acaso lê. Não deixe que o meu azedume faça contágio, nem me imagine com fúrias e a bater o pé, arrenegado com o semelhante. Nada disso. Ainda há instantes, o sol a nascer, quedei-me à janela a olhar o monte fronteiro, recordando os meus sonhos de criança, a alegria que me dava imaginar os mundos que de certeza havia para lá do cume.

Tudo são horas, derrapagens da alma, variações de humor

Terça-feira, 6 de Dezembro de 2022

O "Cante ao Menino"

Cante ao menino-Vila Verde de Ficalho recolha M Giacometti

Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2022

Alentejo-GASTRONOMIA 

Receitas Culinárias Alentejo

Sericaia


Ingredientes:

5 Dl de leite 

1 Casca de limão

1 Pau de canela

60 G de farinha

½ Colher (de café) de sal

6 Ovos

200 G de açúcar

1 Colher (de sopa) de canela em pó

Manteiga q.b.

 

Preparação:

Ferva o leite com a casca de limão e o pau de canela

e deixe arrefecer. Em seguida, dissolva a farinha

com o sal nesse leite, depois de completamente frio.

Bata as gemas com o açúcar até obter um

creme fofo e esbranquiçado e adicione ao leite.

Deve ficar tudo homogéneo e sem grumos.

Ponha este preparado a cozer em lume médio,

mexendo sempre até se ver o fundo do tacho.

Retire do calor e deixe arrefecer. Depois, bata

as claras em castelo bem firme e junte cuidadosamente

ao preparado anterior (como se faz para o soufflé).

Unte com manteiga um prato de barro, louça ou

estanho, que suporte temperaturas elevadas.

Com uma colher grande deite o doce no prato

em colheradas desencontradas, isto é, fazendo

escama. Polvilhe a superfície com a canela

passada por um passador e leve a Sericaia a

cozer em forno bem quente, cerca de

220º C, até abrir fendas. Sirva frio.in omelhoralentejodomundo.blogspot.com


Conheça as Receitas Culinárias do nosso

Alentejo, as quais constituem património secular que urge preservar e outras mais 

receitas do nosso Alentejo pode ver em:

https://sites.google.com/site/amigosterrasborba/1-alentejo-1/4-gastronomia/rereceitas-de-culinaria-do-alentejo-1

Terça-feira, 29 de Novembro de 2022

Visite o Alentejo

Fotografias de Luis Lobato de Faria

Sexta-feira, 25 de Novembro de 2022

Momento Musical

Fotografia in bisnaguinhasevenboys.wordpress.com

Separação

Quarta-feira, 23 de Novembro de 2022

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

"Lamentavelmente

é Verdade...e enquanto o Povo insista em não ver isto..."passa a ser mais cego"que aquele que não quer VER.

"No tempo da miséria o meu avô esteve nas Praças de Jornas,segundo o meu pai era a coisa mais humilhante que poderia acontecer a um homem. Ir para ali de madrugada, com frio, chuva ou ao calor, ficar exposto horas a fio à espera de ser escolhido para trabalhar nesse dia. Os donos das terras ou os feitores chegavam horas depois. Com o seu ar emproado, olhavam como quem olha gado, andavam à volta, faziam uma ou outra pergunta, uma ou outra consideração e por vezes uma ou outra humilhação. E os homens ali estavam de chapéu na mão, olhos no chão,a maior parte sem poder responder. Diz o meu pai que havia quem não se contivesse e de vez enquanto lá levavam uma chibatada. Depois escolhiam os que queriam e os que sobravam, tinham passado horas a ser humilhados para voltar para casa de mãos vazias e sem ter como alimentar os filhos. No final da década de 30, num inverno que não deu trégua, aqui na zona muitos foram os que passaram meses sem ser escolhidos, homens a mais, trabalho a menos e claro os donos das terras baixaram o valor do trabalho a níveis tão baixos que ser ou não escolhido era quase igual. A fome, a miséria e a humilhação chegaram a um ponto tal que foi decidido ninguém aceitar trabalhar pelo valor pago, pela 1ª vez os homens do campo decidiram vir em rancho à cidade pedir esmola. E vierem. Nos meses que se seguiram, ninguém compareceu nas praças de jorna. A cidade encheu-se de homens mal vestidos descalços que pediam de porta em porta. Assustados os cidadãos da cidade pediram a intervenção do presidente da câmara que foi obrigado a chamar os donos das terras e entrar em acordo quando ao valor do trabalho. As coisas não ficaram boas, mas melhoraram e a cidade esvaziou-se dos homens do campo e deixou Évora de novo na sua paz podre. No meio desta luta, um dos proprietários da zona foi até à beira contratar os "ratinhos" para resolver o seu problema de falta de mão de obra, mas mal chegaram regressaram,parece que alguns dos trabalhadores locais lhes segredaram ao ouvido "ou regressam pelas vossas pernas ou regressam deitados, escolham"! E eles fizeram-se à estrada. O meu avô foi um dos que lhes contou o segredo e conhecendo o génio da peça teria concretizado a ameaça! Diz o meu pai que nunca mais os preços das praças de jorna baixaram como naquele ano, mas a humilhação continuou durante varias décadas, com outros contornos ainda hoje continua!"

in Antónia Bergano-Algures no Planeta Terra

Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022

Alentejo

"Homenagem aos Mestres Cantores do Alentejo"

Pintura de Espiga Pinto, sobre madeira, datada de 1965. 130x40cm

Col. Centro de Arte Moderna da 

Fundação Calouste Gulbenkian

Fotografia de Adriano Bastos

Alentejo na poesia


“(...) A solidão alentejana teve o seu antídoto 

na comunidade coral: é vê-los, cerrados

 numa determinação comunitária, que tem

 muito de sagrado (...) é a sacralização da vida

 pouca na muita terra alentejana, e das

 agonias que ela engendra (...) cantam para não 

ouvir o silêncio. A voz demoníaca do silêncio.

 E eu imagino ... não um ou outro grupo

 desgarrado, cantando como orgãos dispersos 

na nave da planura. Mas todos os grupos

 formando um único coral magnífico, o verbo

 alentejano finalmente incarnado.”


Natália Correia 

Sábado, 19 de de Novembro de 2022

Borba em Enciclopédias

Fotografia in Fnac

BORBA E ARREDORES


"Uma excursão a recomendar nos arredores de Borba é a S. Tiago de Rio de Moinhos, a 6 km. A estrada toma a direcção SO., cortando a linha férrea logo à saída da vila. Depois sobe pela vertente N. da serra de Borba, por entre hortas e olivedos, tendo-se em breve uma bela vista sôbre a casaria da povoação, enquanto em frente e à esq. se descobrem as verduras do Bosque, horta, mata e pomar que os capuchos cultivaram nas encostas da pequena serra, quando o duque D. Jaime lhes fundou aqui um convento, em 1505. O aprazível do sítio merece uma paragem; o bosque é um Buçacozinho em miniatura cheio de sombras e de fontes e com vistas deliciosas das suas ladeiras arborizadas para a vila e o seu aro dc serranias e planuras. O convento, reedif. em 1548 e 1670, pertence hoje à família Figueiredo Mascarenhas, de Silves; na igreja (recentemente restaurada) apenas há a notar os lindos silhares de azulejos de albarradas, optimamente conservados, e urna tribunazinha de mármore datada de 1702. A estr. continua a subir até o Alto do Bosque, a 1 km. de Borba.


[À dir. fica-nos o outeiro da Boa Vista, com uma dúzia de pinheiros de esbelto fuste e um dila-tado panorama para N. e E.; na raiz da serra a vila e o seu pitoresco vale, cheio dc hortas e olivedos; ao largo as imensas planuras ao de leve onduladas do Alto Alentejo, com as pov. de Terrugem, Vila Boim, Vila Fernando, Veiros e outras, tendo ao fundo, a 50 km., a serra de Portalegre.]


A estr., depois do Alto do Bosque, é plana ou desce em declive quási insensível, sempre marginada por vinhedos e olivais. Logo que se chega ao Alto dos Bacelos, já quando a estr. desce para o S., vê-se em frente e relativamente próxima a mole majestosa e ardente da serra de Ossa, coroada no cume mais alto pela ermida branca de S. Gens. Lembra um pouco, no aspecto geral, a encosta N. da serra da Arrábida, vista dos campos de Azeitão. A 3 km,2 a aldeia de Barro Branco, alvíssima e pitoresca, com vasos de craveiros dependurados dos ramos das árvores e nas mísulas dos muros.

[À dir. da estr. e a 442 m. de alt. (marco geodésico), a ermida de Nª Sª da Vitória, com o seu telhado de pagode, fund. por Marialva em 1665 para comemorar a vitoria de Montes Claros. Em frente da ermida um alto padrão de mármore com inscrição dedicatória. Panorama inte-ressante, para Barro Branco, Aldeia do Fidalgo, serra de Ossa e o morro de Évora Monte]

A estr. segue entre lindos vinhedos e terras de pão, com os seus moitões e almearas de trigo."

BORBA vista em 1927 - em:

 GUIA DE PORTUGAL - Biblioteca Nacional de Lisboa – 2º volume

– Estremadura, Alentejo, Algarve,

Sexta-feira, 11 de Novembro de 2022

Música Portuguesa

Luis Cilia

Photography in Penafiel.terra nossa: Luis Cilia

"No LP "contradições" de 1983, Luis Cilia critava o certo estar português...volvidos quase trinta e nove anos, a canção é actual. A letra é do próprio Luis." in LeoMOV


Parece que é dos humanos

O direito a trabalhar

Já lá vão mais de dois anos

Que procuras parar.

Que tens muitas qualidades

Ninguém te pode negar

Mas sem cunhas nem compadres

Bem podes ir mendigar.


Vai p'rá Mafia Lusitana

Pára com esses queixumes

Náo é a napolitana

É a dos brandos costumes.

Ou fardado ou à paisana

Com bom ar ou ar sinistro

Perde a moral puritana

E até podes ser ministro.

Muito sofres com a pena

Enxada do teu suor

Enquanto na nossa arena

Qualquer um já é escritor.

Vês com ar entristecido

Do mau fazerem bandeira

E o pior é promovido

A Nobel da Reboleira.

Vê que na Mafia Lusitana

Nunca se ouvem queixumes

Embarca na caravana

Mostra os teus brandos costumes.

Ou fardado ou à paisana

Com bom ar ou ar sinistro

Vês lá muito safardana

E um até já foi ministro.

Se não tens primos nos canais

Dos órgãos da informação

Cá no reino dos mortais

Não tenhas mais ilusão.

Mas quando chegar o dia

Em que a morte te abraçar

Todo o mundo noticia

Que tinhas tanto para dar.


Vai p'rá Mafia...

Quarta-feira, 9 de Novembro de 2022

Borba Inspiradora

José António Russo da Silva escritor Borbense

As lavadeiras

Borba-Anos 50 do século passado

in foto de cronicasdorochedo

(Pequeno trecho)

"Havia bastantes e era bonito vê-las como um bonito quadro a óleo, lavando na beira dos ribeiros, umas dobradas a lavar outras em pé, estendendo a roupa nos prados verdejantes,

para corar a roupa ao sol.

Mal o sol nascia já um burro, ou um macho levava no seu dorso, a roupa metida em trouxas, o «albardar», ou seja, era embrulhada em panos ou em sacos e marcada com tecido a cores para não haver enganos, nem misturas. O local mais usado era o Vale de Grou, ou os Vais, ribeiras de água corrente com alguns açudes, esses locais tinham fama, dizia-se

que a água era muito boa, para que a roupa ficasse mais branca, e bem lavada. Levavam para as ribeiras pedras de cor cinzenta, pedras «olho-de-sapo», que serviam para esfregar a roupa.

Havia também diversos tanques de água em muitas hortas, os donos não se importavam e deixavam quem quer que fosse, lavar as suas roupas.

O lavadouro Municipal existia para quem não pudesse pagar a lavadeiras, indo elas próprias tratar da sua roupa, toda a população ali podia lavar sem pagar qualquer importância, tinham bastantes tanques, onde podiam trabalhar bastantes mulheres. Era ali o jornal diário, o local da má e boa discência.

Tudo ali falava da vida alheia, daí a expressão idiomática «lavar roupa suja» quando se discute em público ou na vida particular dos outros, como; fulana está grávida, não sabe quem é o Pai, o marido da…não a satisfaz porque, tem aquilo muito mol, e por ai fora, era uma má-língua tremenda e muita galhofa à mistura."

Segunda-feira, 7 de Novembro  de 2022

O Livro da Semana

de 

Francisco José Viegas

A Luz de Pequim

Photography in portoeditora.pt

“Mais uma vez "A Luz de Pequim"


"Estevais,  sábado,14 de Novembro

Meu querido Francisco,

Anteontem à noite cheguei ao fim. Por volta da página quarenta comecei a fazer uma coisa que há vidas não acontecia: parava, relia, dobrava a folha, de maneira que o meu volume é menos apresentável, mas sei que muitas vezes irei voltar a esta e àquela cena, àquela descrição, ao Porto da minha infância e até, veja lá, a aventuras da minha vida adulta, a menção daquele Sorenssen a fazer-me recordar a visita que fiz a outro do mesmo nome e da mesma família, levado por António Dacosta – pintor açoriano e personagem de romance -  a Genebra, onde o brasileiro tinha uma empresa espectacular, tão chique que exclusivo para ele, patrão, havia um salão de cabeleireiro com barbeiro e manicura em atendimento permanente.

Mas adiante e voltando ao romance: dobrei as folhas em muitos diálogos, naqueles apontamentos em que duas ou três palavras fazem um retrato, e também quando me enterneci ou assustei com as passagens que mostram a feiura e fraqueza do ser humano.

Muito importante para mim leitor, e ao mesmo nível da superior qualidade do estilo e da riqueza do vocabulário, é um romance escrito por alguém que tem mundo, sabe do que fala, desconhece fronteiras, mas ao mesmo tempo se dá tão íntimo e familiar que deixa o leitor na ilusão de que se lhe apetecesse também ele seria capaz de fazer assim. Não seria, mas isso são outros quinhentos mil réis, e sei do que falo.

Li com inveja e admiração, porque A Luz de Pequim é de longe o melhor romance que independente da língua e em muito tempo – arrisco-me a dizer anos – me veio às mãos, também o único romance em que pela primeira vez depois de vidas reencontrei a beleza e riqueza do nosso vocabulário, relendo passagens pelo gosto da musicalidade e da ternura de certas palavras. Também pela primeira vez, depois de tanto tempo que não tenho ideia de há quantas décadas isso aconteceu, fiquei triste ao chegar ao fim, senti-me defraudado na excitação, foi igual ao The End dos filmes da minha juventude.

Saiba que muito mais e melhor saberia dizer sobre o que o seu romance me fez e a admiração em que me deixou, mas aceite que pare aqui, não vá eu correr o risco de que me tome por louvaminheiro.

Com um abraço grande e um xi-coração para a Magda, que muito merece a dedicatória.

José”

Texto de José Rentes de Carvalho

Fotografia in bisnaguinhasevenboys.wordpress.com

Sexta-feira, 4 de Novembro de 2022

Receitas de Culinária do Alentejo

Fotografia in petiscos.com

Sopa de Beldroegas com Queijinhos e Ovos

Ingredientes:

Para 4 pessoas


2 molhos de beldroegas ;

2 cebolas ;

500 g de batatas ;

1,5 dl de azeite ;

1 cabeça de alhos ;

500 g de pão caseiro ou de 2ª ;

4 ovos ;

2 queijinhos frescos

Confecção:

Preparam-se as beldroegas aproveitando apenas as folhas. Os molhos devem ser grandes. Cortam-se as cebolas ás rodelas e alouram-se com o azeite. Juntam-se as folhas de beldroegas lavadas e deixam-se refogar muito bem mexendo com uma colher de pau. Regam-se com cerca de 2 litros de água e deixa-se levantar fervura.

Retiram-se as peles brancas à cabeça dos alhos, que se introduz inteira (sem retirar a pele roxa de cada dente de alho) na panela com o caldo a ferver. Juntam-se ainda as batatas cortadas ás rodelas grossas. Tempera-se a sopa de sal e deixa-se cozer.

Na altura de servir, introduzem-se no caldo os ovos um a um e deixam-se escalfar. Por fim metem-se na panela os queijinhos cortados aos quartos.

Tem-se o pão cortado ás fatias numa terrina e rega-se com o caldo.

À parte servem-se as batatas, os ovos, as beldroegas e os queijinhos.

Variante: Substituem-se os queijinhos frescos por um queijo de leite de ovelha fervido, cortado aos bocados. Na região de Évora, esta sopa não leva cebola, mas uma maior quantidade de alhos inteiros e sem serem pelados.

fonte: Editorial Verbo in Roteiro Gastronómico de Portugal

Quarta-feira, 2 de Novembro de 2022

Poetas de Borba

Manuel Alves Lapão

44 - Política, políticos e a guerra

I

Escrevo sobre a política

Sobre a guerra dou opinião

Serei alvo dalguma crítica

Vinda dos “detentores da razão”

II

Para o mundo ter concertação

A política deve ser nobre

E praticada com exactidão

Tanto pro-rico como pro-pobre

III

No universo dos políticos

Há alguns que são inteligentes

Com seus discursos algo críticos

Trocam a verdade às mentes

IV

Aumentam nossas dificuldades

Regalias sociais reduzem

Na saúde há fragilidades

Políticos dizem, “vai tudo bem”

V

Dizem que nosso povo vive bem

Verificamos não ser verdade

Povo está ficando sem vintém

Empresas perdendo a vontade

VI

Fazem uma caça permanente

Aos impostos e “impostinhos”

Vai empobrecendo toda gente

Com truques fazem-nos de ceguinhos

VII

Estão sendo muito escassos

Os que neles pudemos confiar

Assistimos a tantos fracassos

Que estão fazendo mundo tombar

VIII

A cegueira imperialista

Empurra o soldado prá guerra

Pra matar em troca da conquista

E ocupar terra após terra

IX

A guerra causa o genocídio

Calem as armas e voltem atrás

Elas matam e geram o ódio

Nós queremos ser felizes em paz

X

Quero-vos dizer, isto não vai bem

Todos nos querem ir confundindo

Os vossos comentários não valem


Porque, já ninguém os vai ouvindo

*

Manuel Alves Lapão

Segunda-feira, 31 de Outubro de 2022

Livro da Semana

José Saramago

Texto do Livro "Levantado do chão"

“Então chegou a república. Ganhavam os homens doze ou treze vinténs, e as mulheres menos de metade, como de costume. Comiam ambos o mesmo pão de bagaço, os mesmos farrapos de couve, os mesmos talos. A república veio despachada de Lisboa, andou de terra em terra pelo telégrafo, se o havia, recomendou-se pela imprensa, se a sabiam ler, pelo passar de boca em boca, que sempre foi o mais fácil. O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jorna de um homem.

Viva a república, Viva. Patrão, quanto é o jornal agora, Deixa ver, o que os outros pagarem, pago eu também, fala com o feitor, Então quanto é o jornal, Mais um vintém, Não chega para a minha necessidade, Se não quiseres, mais fica, não falta quem queira, Ai minha santa mãe, que um homem vai rebentar de tanta fome, e os filhos, que dou eu aos filhos, Põe-nos a trabalhar, E se não há trabalho, Não faças tantos, Mulher, manda os filhos à lenha e as filhas ao rabisco da palha, e vem-te deitar, Sou a escrava do senhor, faça-se em mim a sua vontade, e feita está, homem, eis-me grávida, pejada, prenhe, vou ter um filho, vais ser pai, não tive sinais, Não faz mal, onde não comem sete, não comem oito.

Viva a república, Viva. Por todas as herdades corria um vento mau de insurreição, um rosnar de lobo acuado e faminto que grande dano lhe causaria se viesse a transformar-se em exercício de dentes. Havia pois que dar um exemplo, uma lição.

Já lá vai adiante o esquadrão da guarda, amorosa filha desta república, ainda os cavalos tremem e a espuma fica pelo ar em flocos repartida, e agora passa-se à segunda fase do plano da batalha, é ir por montes e montados em rusga e caça aos trabalhadores que andam incitando os outros à rebelião e à greve, deixando os trabalhadores agrícolas parados e o gado sem pastores, e assim foram presos trinta e três deles, com os principais instigadores, que deram entrada nas prisões militares. Assim os levaram, como a récua de burros albardados de açoites, pancadas e dichotes vários, filhos da puta, vê lá onde é que vais dar com os cornos, viva a guarda da república, viva a república da guarda."

Sábado, 29 de Outubro de 2022

Visite o Alentejo

Moura

Na foto: Igreja de São João Batista.

"Cidade de contrastes, nas ruas de 𝐌𝐨𝐮𝐫𝐚 confrontam-se igrejas majestosas e discretas capelas, as casas brancas da arquitetura popular e uma menos discreta presença de palácios aristocráticos.


A imagem da cidade é forte e o seu carácter mediterrânico é sublinhado por uma população que faz da rua e do encontro nos espaços públicos uma das características mais marcantes da cidade.


É também essa permanente disponibilidade dos mourenses para o convívio que anima cafés e tabernas ao fim do dia, e que dá força a um cante alentejano que tem nesta terra grandes intérpretes."

In Turismo do Alentejo-FB

Quinta-feira, 27de Outubro de 2022

Momento musical

Fotografia in bisnaguinhasevenboys.wordpress.com

Fotografia ionline.sapo.pt 

"o suporte da música pode ser a relação

 entre um homem e uma mulher, a pauta

dos seus gestos tocando-se, ou dos seus

 olhares encontrando-se, ou das suas

vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,

 ou dos seus obscuros sinais de entendimento,

 crescendo como trepadeiras entre eles.

o suporte da música pode ser uma apetência

dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se

 ramifica entre os timbres, os perfumes,

mas é também um ritmo interior, uma parcela

do cosmos, e eles sabem-no, perpassando

 por uns frágeis momentos, concentrado

 num ponto minúsculo, intensamente luminoso,

que a música, desvendando-se, desdobra,

entre conhecimento e cúmplice harmonia."


Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

Quinta-feira, 20 de Outubro de 2022

Receitas Culinárias do Alentejo

Pãezinhos com chouriço

"E a pedido da família, hoje fiz uns pãezinhos com chouriço. São servidos?

Um bom fim de semana a todos.

Receita:

25ml de azeite,

300ml de água,

20g de açucar,

10g de sal,

500g de farinha sem fermento,

11g de fermento biológico seco,

Chouriço a gosto, sem pele e cortado e cortado fino.

Mistura tudo junto, menos o chouriço claro, amassa bem e deixa levedar tapado durante 1 hora.

Passado esse tempo, numa superfície enfarinhada, corte a massa em 9 bocados, forme bolas e depois estique cada uma em forma de rectângulo. Dispôr o chouriço(a gosto) no meio do rectângulo e enrolar para formar o pãozinho. Disponha os pãezinhos num tabuleiro enfarinhado e faça uns cortes. Tape com um paninho de cozinha e deixe descansar por mais 1/2 hora.


Leve ao forno a 200°C durante 25 minutos ou quando ver que estão douradinhos e cozidos. Espero que gostem"

Cidália Camilo in FB

Os nossos agradecimentos pela sua partilha de receita, que julgamos importante alargar seu conhecimento.

Terça-feira, 18 de Outubro de 2022

Pintura Portuguesa

Júlio Pomar

"Júlio Artur da Silva Pomar[1] (Lisboa, 10 de janeiro de 1926) é um artista plástico/pintor português. Pertence à 3ª geração de pintores modernistas portugueses[2], sendo autor de uma obra multifacetada, centrada na pintura, desenho, cerâmica e gravura, com importantes desenvolvimentos nos domínios da tridimensão (escultura; assemblage) ou da escrita."

in Wikipédia

Photo in http://expresso.sapo.pt/

Photo in https://en.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Pomar

"Antes disso, vivia - e isto foi importante para mim - num quarto andar da Rua das Janelas Verdes, com o Tejo defronte - o Tejo como era na altura. O Tejo com movimento, com navios de carga, com fragatas, tudo. Passei do Tejo com movimento para as Avenidas Novas, que era uma coisa chata. Isso de ver o Tejo fez-me muita falta e talvez esteja na origem da minha mania de fazer bonecos. Essa falta de um espectáculo permanente talvez me tenha levado, por hipótese, a desenhar."

Júlio Pomar


Photo in in http://wwwpoetanarquista.blogspot.com

"Como toda a gente, sou um bicho carregado de memória. Mas não tenho memória prática – não sei um único número de telefone, perco-me nas ruas, esqueço os detalhes das conversas ou das casas. Mesmo nos retratos que faço de cor: as coisas entram, são caldeadas e o que fica é mais um sentido, uma alusão a, do que uma soma de pormenores. W quando faço passar o modelo, o trabalho mais excitante começa no momento em que sinto a necessidade de apagar, ir desfazer a imagem registada no papel, para deixar agir um poder-elaborante, não directamente consciente."

Júlio Pomar em conversa com Helena Vaz Silva

O almoço do trolha, 1946-50, óleo sobre tela, 120 cm x 150 cm (in Wikipédia)

Photo in https://www.wikiart.org/

Domingo, 16 de Outubro de 2022

Concerto de Domingo à tarde

Photo in Giulia Baragliu

O Mistério das Valsas Portuguesas

Sábado 15 de Outubro de 2022

Encontro de Culturas Serpa 2022

Dedicado  a todos(as) os(as) Serpentinos.

Click no link seguinte e visualiza magnifico trabalho de Isaurindo Sampaio

https://www.facebook.com/100000043748447/videos/3174197176189042/

Quarta-feira, 12 de Outubro de 2022

Poetas do Alentejo

Fotografia in Matos Serra-FB

ALENTEJO, SAUDADES, MÁGOAS E AFETOS

Quantas águas e outras águas

passaram p'las tuas pontes...

e quantas mágoas... e mágoas...

pelos teus montes e fráguas...

Por quantas fráguas e montes!

Quantos trabalhos e dias

e quantas leiras aradas...

Quantas dores e alegrias...

quantas lutas e ousadias...

Quantas frias madrugadas!

Quantos os contos contados

em descuidados serões...

Óh! nos meus tempos passados...

quantos toques de finados...

Doridas recordações!

Quanta gente acompanhei

por quantas ruas e praças...

Quantos? são tantos... nem sei,

nos deixaram e chorei...

com quem antes troquei graças!

Quantos verões e primaveras

que se foram e tornaram

em chegadas de outras eras...

Quantos anseios e quimeras

em outonos que findaram!

Quantos bardos te cantaram...

quantos mais te hão-de cantar...

Quantos versos nos deixaram

poetas que conjugaram

as formas do verbo amar!...

Meu Alentejo de amores,

de afetos e amizades...

de graças, risos e flores...

de mágoas, penas e dores

e tantas, tantas... saudades!

Quantas folhas que tombaram

para virem, de novo, as flores...

Quantos invernos passaram...

quantos frios enregelaram

os corpos, com seus rigores

Quantos rebanhos pastaram

pelas campinas e prados...

Quantos ventos que sopraram,

quantas flautas que tocaram

os pastores tangendo os gados...

Quanto baile... quanta festa...

divertidos arraiais?

Podem chamar-te modesta...

Para mim... não há como esta...

Terra dos meus ancestrais!....

Quantas belas romarias

aonde se enamoraram

quantos Josés e Marias?

E quantas as nostalgias

desses tempos que passaram...

Pára... pára, coração...

ou, então... chora à vontade.

Mas... basta de invocação

desses tempos que lá vão...

Que me matas de saudade!

Matos Serra in, Alentejo, as Terras e as Gentes.

Domingo, 9 de Outubro de 2022

Concerto de Domingo à tarde

La Reconnaissance Infinie' ('The Recognition Infinite'), 1961, by Belgian surrealist artist René Magritte (1898 - 1967)

Quinta-feira, 6 de Outubro de 2022

Receitas Culinárias do Alentejo

Assada de Peixe

CRATO

Ingredientes:

Para 4 pessoas

1 kg de peixes do rio (achigãs ou barbos) ;

1 molho de poejos ;

2 dentes de alho ;

malagueta ;

2 dl de azeite ;

1 dl de vinagre ;

sal

Confecção:

Amanha-se o peixe e dão-se-lhe uns golpes.

Grelham-se em lume de carvão e colocam-se numa travessa.

À parte pisam-se num almofariz as folhas de poejo,

 os dentes de alho, sal e malagueta (a gosto).

Deita-se esta papa noutro recipiente e mistura-se

com o azeite, o vinagre e o molho que escorreu do peixe (e que está na travessa). Prova-se e deita-se

o molho sobre o peixe. Acompanha-se com batatas cozidas ou fritas.

fonte: Editorial Verb

Terça-feira, 4 de Outubro de 2022

Visite o Alentejo

Vila Nova de Mil Fontes

"O Porto das Barcas, também conhecido como “Portinho do Canal” é o porto de pesca de Vila Nova de Milfontes. 

Para muitos locais e visitantes, este é um dos locais que melhor conserva a alma e a genuinidade de localidade. 

Assim, se pretende ter um contacto directo com a essência do litoral alentejano é imprescindível que visite este local.

Apesar do seu aspecto peculiar, o Porto das Barcas continua a ser o maior porto de pesca do concelho de Odemira e desempenha um papel importante na dinamização económica da localidade.

 No local, para além de dois restaurantes que oferecem verdadeiras delícias gastronómicas, existe um miradouro, que proporciona a contemplação do oceano.

 Há quem jure a pés juntos que o pôr-do-sol que o Portinho do Canal nos proporciona não tem rival em Portugal. 

Há qualquer coisa na atmosfera deste local que se conjuga na perfeição com o crepúsculo de fim-de-tarde, oferecendo-nos uma experiência que merece realmente ser vivida..." 

in guia.vnmilfontes.info

Sábado, 1 de Outubro de 2022

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)


Os nossos melhores AGRADECIMENTOS ao contributo de Filipe Rosado 

e à perspectiva de um imenso espólio de documentos a estudar e divulgar... 

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2022

Livro da Semana

Emigrantes 

de um dos maiores vultos da nossa Literatura

Ferreira de Castro

Escritor português, grande precursor do Neorrealismo em Portugal, 

nasceu em Oliveira de Azeméis a 24 de Maio de 1898 e faleceu a 29 de Junho de 1974

"A força maior da criação literária que Ferreira de Castro vinha desvendar era, afinal, 

a de uma nova forma de humanismo, representada na ficção romanesca."

Carla Brito

"...Ferreira de Castro assistiria ao culminar do reconhecimento da sua obra com uma vibrante celebração do seu cinquentenário de vida literária, em Portugal e no Brasil, e com, após a publicaçãode O Instinto Supremo, em 1968, a apresentação pela União Brasileira de Escritores da candidatura conjunta de Ferreira de Castro e de Jorge Amado ao

 Prémio Nobel de Literatura."

Carla Brito

«Em todas as aldeias próximas, em todas as freguesias das redondezas, havia o mesmo anseio de emigrar, de ir em busca de riqueza a continentes longínquos. Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava nas almas, desde a infância à velhice. O oiro do Brasil fazia parte da tradição e tinha o prestígio duma lenda entre os espíritos rudes e simples. Viam-no reflorir nas igrejas, nos palacetes, nas escolas, nas pontes e nas estradas novas que os homens enriquecidos na outra margem do Atlântico mandavam executar.»

«(...) Todas as gerações nasciam já com aquela aspiração, que se fazia incómoda quando não se realizava. Acocorava-se no canto da alma, como um talismã, usável em momentos de desafio à sorte, ou como um bordão, para os instantes de soluções desesperadas.»

in Wook

 

«Emigrantes é o relato veemente de uma viagem existencial de ida e volta, que desagua no coração das trevas, que um sol negro ilumina, e onde o sonho mirra e a vida seca.»

Eugénio Lisboa


«A sua obra fecha um ciclo que a Peregrinação do Fernão Mendes Pinto abrira. E inicia outro que os nossos filhos verão cumprir-se. Ao otimismo expansivo do Mendes Pinto, os Emigrantes opuseram a reflexão pungente que a abordagem do real hoje suscita. À ascensão, a depressão. Aos damascos opulentos, a lã ancestral dos tosquiadores de Viriato.»

Mário Sacramento

«Criador revolucionário na história das nossas letras trouxe-lhe o pulsar vivo de um povo, trouxe-lhe emigrantes vivos, camponeses vivos, políticos vivos, «tabaréus» vivos, lágrimas vivas, gargalhadas vivas, e até, pela primeira vez, operários vivos de uma classe viva.

José Carlos Vasconcelos

«(...) [Emigrantes] Um dos romances fundamentais de Ferreira de Castro e dos primeiros anos do século XX na literatura portuguesa. Pela sua actualidade, pela sua reflexão sobre o drama da emigração, deve ser lido hoje, resgatando assim um escritor de linguagem riquíssima, adjectivante, rigorosa e de consideração crítica pela geografia humana, que tem sido injustamente esquecido.»

 Raquel Ribeiro, Público, ípsilon 24-08-13

Quinta-feira , 22 de Setembro de 2022

Ao encontro com a nossa gastronomia

Borba

Restaurante Canhoto,

Fotografia in GastroRanking

Quando os caminhos são longos e tardam a percorrer, o viajante sente segundo a sabedoria popular "o estômago a dar horas". Chegado a Borba demora o seu olhar sobre o Paço de São Bartolomeu, obra que o deslumbra e  avança pela Rua Terreiro das Servas, estacionando a dois passos da Rua António de Melo e Castro.

Se o Paço já o tinha impressionado , é defronte ao Convento das Servas e da Capela do Nosso Senhor dos Aflitos que se interroga sobre a presença de tantos monumentos, sobretudo de arquitectura religiosa, que mostram o bom gosto, a riqueza e o nível cultural de então nesta vila, agora cidade.

Estamos finalmente no Restaurante Canhoto, esperando por uma boa refeição de cozinha tradicional alentejana, tal como foi aconselhado por amigos que já demandaram estas paragens. Sentado na sala de mesas espaçosas, onde animadamente se conversa, o seu olhar dirige-se para o tecto alto de traves de madeira sobre paredes brancas e onde a luminosidade cria um ambiente muito acolhedor.

Chegam à mesa gulosas azeitonas, queijo fresco de Rio de Moínhos, o saboroso pão alentejano e onde não falta o famoso vinho tinto da Adega Cooperativa de Borba.

Da cozinha desprendem-se aromas que abrem o apetite. O serviço é de qualidade primando o atendimento pela atenção e acompanhamento do cliente.

No cardápio surge a oferta de oito pratos, qual deles o mais aliciante, o que torna difícil a escolha.

O estômago, esse reclama mas com certeza vai deliciar-se com um opíparo almoço de (pèzinhos de coentrada). Os demais pratos repartem-se pela cachola servida em tacho de barro, pelas costeletas de borrego panadas e gansinho assado no forno. 

Com batatas fritas chega à mesa os pèzinhos de centrada envoltos em alhos e coentros que fazem a delícia do viajante. 

Para o estômago o almoço foi excelente. O convívio e a conversa amena constituíram alimento para o espirito.  Não fora o imenso trabalho da cozinheira com a entrada de mais clientes, o viajante passaria pela cozinha para dois dedos de conversa, sobre a arte e a sabedoria ancestral de combinar as plantas aromáticas com os pèzinhos de porco, que não dispensam um bom azeite,  abundante nesta terra produtiva e rica deste ouro dos olivais. 

Parte o viajante com a ideia de aqui regressar. 

Lá fora no imenso largo sentem-se já os primeiros sinais da primavera.

Adriano Bastos

Quarta-feira, 21 de Setembro de 2022

Outono na Pintura

OUTONO

sg. Botticelli

A ponte em Argenteuil no Outono- Pierre Auguste Renoir

Efeito do Outono em Argenteuil - Claude Monet

Outono na Baviera - Kandinsky

Pieter Brueghel - Outono

Outono, 1573 - Giuseppe Arcimboldo

Folhas de Outono - John Everett Millais

Outono dourado- John Atkinson Grimshaw

Terça-feira, 20 de Setembro de 2022

Visite o Alentejo

Fotografias de Adriano Bastos

Sexta-feira, 16 de Setembro de 2022

Feiras, Festas e Romarias

Feira de Antiguidades e Velharias em Estremoz,

 a maior do Alentejo uma tradição secular

https://youtu.be/dYQ9GnfVkEY

Sábado de manhã dia de produtos da terra, visite Estremoz

Fotos de Luis Batalha

Terça-feira 13 de Setembro de 2022

Os nossos Escritores 

José Russo

Borba

Rua de Santa Maria Borba-Alto Alentejo

Fotografia de Adriano Bastos

Castelo


Rua de Santa Maria


O Senhor Lé-Lé


Não lhe conheci outro nome, todos o tratavam por Lé-Lé. Não sei porquê? Este senhor tinha a profissão de carpinteiro, vivia e trabalhava nesta rua onde eu nasci e habitava. Era uma figura muito interessante, e muito pobre como todos os moradores da rua.

Vivia só, mas sempre muito limpo e asseado, era um homem de poucas falas, nunca o vi a sorrir. Minha Mãe quando amassava pão, por vezes fazia um pequeno pão com chouriço dentro, que eu lhe ia entregar quentinho há carpintaria onde trabalhava no fabrico de caixões, estes, na maioria em madeira de pinho, forrados em pano preto.

Dizia ele para mim; a Ti Vicência é uma santa mulher, estou-lhe muito grato, quando encontrar tua Mãe agradecer-lhe-ei o quanto me tem ajudado. Seu patrão era o senhor Matias Seguro, um bom homem e, um excelente patrão para o Lé-Lé, sempre muito educado e respeitador. Acho que Lé-Lé era uma pessoa triste, era raro vê-lo alegre, estava sempre muito melancólico e de cigarro ao canto da boca. Na carpintaria onde ele trabalhava, eu brincava com pequenos pedaços de madeira, fazia mesas e cadeiras em miniaturas, ensinado por ele sempre com muita paciência para mim. Estes brinquedos eram para eu oferecer às minhas amiguinhas (coisas de criança). Maior parte das vezes ao inclinar-se no seu trabalho a aplainar a madeira, tinha que levar a mão ao cabelo para o tirar dos olhos.


Certo dia apanhei um grande susto, a porta da oficina estava aberta, como não via ninguém, sentei-me no portado encostado à ombreira da porta, ali estive algum tempo, até que resolvi dar uma volta pela oficina, e fui para onde estavam os caixões armazenados. Qual foi o meu espanto, encontrei o Lé-Lé dentro de um caixão deitado de costas e de mãos no peito a dormir. Eu muito assustado gritei com medo e fugi pela rua abaixo, ele acordou com o meu grito e também grita, «na tô morto porra» e chamava-me correndo atrás de mim e repetindo «na tô morto porra», não tenhas medo Zéi anda cá. Então eu lá acalmei com ele de joelhos abraçado a mim. Justificando: é que apeteceu-me tirar uma sesta, estava tanto calor e bastante cansado. Em seguida enxugou-me as lágrimas com a fralda da sua camisa e voltou a abraçar-se a mim com muito carinho, e caminhamos os dois para a oficina. Então eu pedia-lhe para não fazer o mesmo porque parecia estar morto, e ele ria dizendo, que se estava a treinar para mais tarde. Fomos sempre grandes amigos, e fui crescendo naquela rua, falando muito com ele, por vezes sentados ao fresco nas noites quentes de verão, junto da sua porta.


Alguns tempos mais tarde, já eu era crescido, quando ele morreu no hospital da vila, não sei de que doença.

Faltei ao trabalho e fui ao enterro, tinha chovido muito nessa tarde, os poucos acompanhantes iam de guarda-chuva aberto e apressados até ao cemitério. Foi chocante para mim, vê-lo ali na urna do hospital na mesma posição, em que eu o tinha visto anos atrás a dormir a sesta na oficina, mas desta vez estava mesmo morto.

E pensava para mim, tantos caixões que fabricava e vai para a terra embrulhado num lençol branco, nem um modesto caixãozito de pinho levou, porque a urna pertencia ao hospital, só servia para o transporte dos mortos, depois voltava ao hospital. Seu corpo foi para a cova que já tinha bastante água por ter chovido muito, ficando no fundo da cova o lençol que o embrulhava submerso.

Não me contive e correram-me grossas lágrimas, mas de dor, e não de medo, como tinha acontecido anos antes (POBRE LÈ-LÈ).

Todos os homens nascem nus e iguais, e igual princípio os anima, e conserva, os debilita e os acaba.

Há almas que recorrem aos favores da omnipotência, e procuram achar nos templos, ou jazigos, um asilo sagrado. O pobre Lé-Lé não. Nem caixão teve direito.



(Poema ao bom amigo Lé Lé)


Cobriu-se o céu de negro véu, enquanto a chuva

tilinta de pedra em pedra, rostos de queixo afiado

e de rugas lavrado, olhares no chão, despedem-se

de quem esbanjou suores e emoções, e finalmente

o dia do sossego final chegou



É a morte que consola.

É pois o motivo da vida.

É pois a única esperança

É o albergue dos pobres

É a claridade no escuro



ZÉ RUSSO

Quarta, 24 de Agosto de 2022

Livro da Semana

Páscoa Feliz

 de 

José Rodrigues Miguéis

Fotografia in Portal da Literatura

"O seu aparecimento em Lisboa foi saudado efusivamente pelos amigos que o tinham visto partir com desgosto das tertúlias dos cafés. José Gomes Ferreira anotou o facto como um acontecimento jubiloso, nesta passagem do seu livro A Memória das Palavras – ou o Gosto de Falar de Mim: «Pouco mais ou menos por essa ocasião aconteceu o reencontro, para mim desvanecedor, com a personalidade poderosa de José Rodrigues Miguéis, que exercia, então, como nas gerações subsequentes, um fascínio dominador, sobre tudo e todos, exultante dum conjunto de virtudes raras num escritor que, a par da inventiva psicológica, da luminosidade do pensamento, da influência mágica da palavra, moldável a qualquer capricho de expressão pedagógica, política ou polémica, amava contar histórias- histórias com um toque de sensualidade de lucidez doentia que o acanhado meio e o puritanismo de olhos baixos do idioma reprimia a custo. No momento em que voltámos a abraçar-nos (desde a adolescência que a nossa vida tem sido um abraço de reencontro pegado!), José Rodrigues Miguéis preparava a edição da Páscoa Feliz…» "

Mário Neves

Segunda-feira, 22 de Agosto de 2022

"Respigando...Borba"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Realizaram-se as tradicionais Festas em Honra do Senhor Jesus dos Aflitos, de 12 a 22 de Agosto. as maiores do concelho de Borba  e das mais importantes do Alto Alentejo, de cariz não apenas  religioso.

Rumam neste período a Borba muitos Borbenses,  que vivem fora do Concelho, atraindo igualmente alentejanos de concelhos límítrofes  e espanhóis da região de Badajoz. São manifestações de grande devoção  em torno da pequenina imagem de Jesus com mais de dois séculos,  acorrendo milhares de pessoas às três procissões das festividades.  Evento muito participado por todos os habitantes da cidade e por Borbenses, ausentes da sua terra natal , que nestes curtos dias  dias rumam às origens para também venerarem o Senhor Jesus dos Aflitos .

Relembrar a poesia de Humberto Silveira Fernandes, quando decorreram as Festas em Honra do Senhor Jesus dos Aflitos, torna-se importante.

Trabalho importante de recolha e compilação de António Filipe Rebola Rosado. Os nosso agradecimentos pelo seu labor e empenhamento na recolha de elementos ligados às Terras de Borba. "Respigando Borba" rubrica deste nosso Site (Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir) tem contado desde 2012 com a sua imprescindível  colaboração.

Quarta-feira, 17 de Agosto de 2022

"Respigando...Alentejo"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Elvas

CORETO NO PARQUE DA PIEDADE - Elvas

Fotografia in Elvasnews

"Coreto é uma estrutura edificada ao ar livre, em praças e jardins, para abrigar bandas musicais em concertos, festas e romarias. Em Portugal, é encontrado praticamente em todas as povoações no seu centro ou junto a igrejas ou capelas. Também é usado para apresentações políticas e culturais."

"O Coreto do Parque da Piedade foi inaugurado em 1957 pela Confraria do Senhor Jesus. Piedade, desconhecendo-se tanto a sua data de construção como o seu primeiro proprietário. Actualmente é propriedade da Câmara Municipal.

Apresenta uma planta única no distrito decágono e está a 1,60 do solo, assentando em pavimento de argamassa de cimento e mosaicos.

De construção em alvenaria, cimalha e cunhais em mármore e colunas de ferro fundido, apresenta a cobertura em chapa ondulada com ferro e um rendilhado que se destaca em todo este conjunto.

Não tem acesso próprio e, quanto à iluminação, está funcional e mantém-se todo ele em bom estado de conservação. Os bancos que o circulam, as árvores que o rodeiam e a aproximação de um lago são um convite ao lazer.

Actualmente é utilizado nas festas de São Mateus, em Setembro."in Rui Breda/FB

Rui Breda


Domingo, 14 de Agosto de 2022

Grandes Vultos da Literatura Portuguesa

José Rentes de Carvalho

Pintura de Ettore Tito ( 1859-1941

“Na corda bamba da paixão”


“Se por acaso um dia os surpreenderem, não vão ter problemas com a defesa, em parte nenhuma há rasto de que se encontram e são amantes. Caminham em terreno minado, um descuido poria fim ao encanto que dura há tanto tempo, ambos a perguntar-se que força o fez acontecer e continuar assim.

Tem cada um a sua família, os seus afazeres, encontram-se de longe a longe na presença doutros, limitando-se aos cumprimentos, às expansões e frases de circunstância.

- Estás bem? –  aos ouvidos alheios soará como uma cortesia,  mas é para ambos a certeza de que o sentir perdura, o misterioso sentir que não sabem se é amor, desejo, paixão, febre, promessa que não podem cumprir, ambos atados de pés e mãos às aparências e aos seus deveres.

- Estás bem? – a pergunta é um instante de carinho, mas logo retomam o trato social, nada traindo da excitação, e saberem que se os carris tivessem feito a agulha doutro modo os seus destinos ter-se-iam unido. Mas sentem que lhes faltaria então a febre que a ambos queima, a corda bamba em que avançam, sentindo o risco, desafiando o precipício.

Passam semanas sem se ver nem contactar, numa tão perfeita imitação de indiferença que os familiares se queixam de que se devem ver mais amiúde. Vêm então os almoços ao domingo, os aniversários, as festas, e como se fossem perdigueiros de bom farejo cheiram-se de longe, mas não correm um para o outro, a eles bastam os olhos, o sorriso, o indefinível fluído que a ambos prende.

- Estás bem? – sai-lhes aquilo em uníssono, terna emoção a duas vozes que os outros ouvem com sorrisos, nem de longe capazes de imaginar o fogo que ali arde, a história de paixão,  altruísmo e sacrifício, que poderia escrever alguém que possuísse um talento capaz de exprimir sentimentos que se imagina serem dum tempo antigo e entre almas de excepção.”

Terça-feira, 9 de Agosto de 2022

O Livro da Semana

“Alentejo Prometido” é um road movie familiar. O autor conta-nos uma história do Alentejo através de histórias familiares e memórias pessoais. O cenário é a região do Alentejo Litoral, sobretudo o concelho de Santiago de Cacém. Entre cidades e aldeias, o road movie lá vai descobrindo segredos familiares enquanto tenta lançar uma nova e implacável luz sobre uma região que se afoga há décadas em lugares-comuns. A ligar todos os quilómetros desta viagem, encontramos três temas: as mulheres, o suicídio e o complexo do desenraizado. O autor é filho de alentejanos que migraram para a Grande Lisboa nos anos 60 e sempre assumiu que encontraria a sua identidade perdida numa viagem deste estilo pelo Alentejo. Será que esse velho sonho resistiu à realidade?

...

...O cenário é a região do Alentejo Litoral, sobretudo o concelho de Santiago de Cacém. Entre cidades e aldeias, o road movie lá vai descobrindo segredos familiares enquanto tenta lançar uma nova e implacável luz sobre uma região que se afoga há décadas em lugares-comuns.

...

Trata-se de um livro muito duro, é a chamada honestidade radical. Mas é incompreensível a controvérsia que provocou. Está bem fundamentado com dados empíricos sobre a região. Tem uma reflexão sobre o suicídio no Alentejo e uma explicação possível para a prática e aborda a questão da água ou falta dela com muita actualidade. É quase um romance familiar, o autor parte das suas origens alentejanas para explicar as particularidades das gentes de Santiago de Cacém. O livro acaba na esperança de um rei chamado David. Será ele o guardião do Alentejo. 

...

O livro razoavelmente escrito que descreve uma realidade mais ficcional do que real. 

....

Henrique Raposo

...

in wook

Sábado, 6 de Agosto de 2022

Alentejo-Natureza

NATUREZA MORTA

"A devastação da paisagem alentejana, acelerada em anos recentes, fruto da cobiça humana, é tema deste livro em que o elenco de fotografias serve de mote declarativo. Sim, trata-se de um caos organizado que não poupa nem os montados, nem as antas, nem o património histórico e ambiental, nem os ritmos da terra, na sua sanha de fazer lucro a todo o custo... Nunca o Alentejo viveu um ecocídio desta dimensão e com tal mancha destrutiva ! Atenção, pois, ao livro Natureza Morta, com textos de Ana Paula Amendoeira, Jorge Calado e Francisco Colaço Pedro (ed. DRCA e CM de Évora) e com óptima fotografia de José M. Rodrigues, um artista para quem a Arte de Fotografar se tornou no seu verdadeiro anjo da guarda, e que nos lembra que as vidas também são paisagens e cada paisagem uma vida na sombra do silêncio. Urge fazer qualquer coisa para se travar este crime sem remissão: testemunhar as feridas da terra será a etapa primeira desse caminho..."

Professor Doutor Vitor Serrão in FB

Sexta-feira, 5 de Agosto de 2022

                             Poesia

José Malhoa

Fotografia in Wikipédia

Liberdade

Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sexta-feira, 29 de Julho de 2022

Borba-Alto Alentejo

Fotografia de Filipe José Galhanas

CONTO


Antigamente na taberna


Na taberna sombria, forrada de pipas, o cheiro de vinho e aguardente, e o estalido dos berlindes nas garrafas dos pirolitos, estava sempre cheia de fregueses assíduos.


Homens que passavam horas de pé ou sentados à mesa, em bancos de madeira, depois do trabalho ou em dias de descanso, com o copo do vinho em punho, os beiços e as mãos engorduradas do pão com toucinho, linguiça, dos torremos e das azeitonas, petiscos comuns, neste ambiente.


O cigarro enrolado à mão, misturava os sabores, quase sempre caído ao canto da boca  e dançava a cada chupadela. 


Na mão direita a navalha que cortava cada naco de pão condutando o petisco, que pegava na mão esquerda.


O taberneiro era apelidado de “Lica” o seu nome poucos sabiam. Muitos indivíduos nasciam e morriam apenas conhecidos pelas alcunhas que muitas vezes continuavam por gerações.


- Ó Lica enche aí mais um copo, dizia um!


- Mais uma rodada - dizia outro!


O Joaquim entrava naquele momento e pedia-lhe que enchesse o garrafão de vinho, que trazia na mão. Um garrafão de vidro muito bem encanastrado, que depois enrolhou com grande pressão com a rolha de cortiça.

O ti Zé pedia a garrafa da água-ardente para matar o bicho logo pela manhã e que para a noite servia de um bom comprimido.

- É remédio santo dizia -facilita a digestão e aquece a alma.


O Lica não tinha mãos a medir.

Fotografia de Filipe José Galhanas


Num alguidar com água que dava para quase todo o dia, mal enxaguava os copos que muitas vezes ainda mostravam o assento no fundo ou o desenho da boca do vinho tinto.


Aqui afogavam as mágoas, jogavam às cartas, brigavam, contavam histórias, criticavam as vidas, cantavam e versavam muitas vezes trocando a perna e cambaleando de bêbados.


Havia homens que ficavam colados ao balcão o dia todo. Desleixavam-se e desinteressavam-se pelo trabalho e pela vida! Abandonavam os sonhos por falta de coragem para desistir do vício.


Para casa uns levavam a boa disposição exagerada, outros, era o remédio para dormir e ainda a maneira bruta de dizer ou poder espancar as mulheres, amigos ou familiares o que não tinham coragem de dizer sóbrios. A forma que encontravam para os maltratar.


Havia ocasiões que as mulheres iam buscar os maridos à taberna, para os ajudar a chegar a casa pois a bebedeira era tanta, que não tinham força para andar.


A mulher tinha as vizinhas e familiares mas muitas vezes com medo da vergonha não desabafava, sofria sozinha.


Maria Antonieta Matos

Fotografia de Adriano Bastos

Terça-feira, 26 de Julho de 2022

Receitas Culinárias Alentejo

Ensopado de borrego à pastora

Fotografia in mulherportuguesa.com

1 kg de borrego (escolher a parte das costelas e/ou da mão). 

5 dentes de alho 

Duas folhas de louro 

Azeite a gosto 

Sal q b 

Hortelã 

Pão alentejano, com um ou dois dias.

 Parte-se o borrego em pedaços pequenos. Põe-se ao lume com água e um pouco de sal. Com uma escumadeira, vai-se retirando a espuma que se vai formando. A seguir, juntam-se os alhos cortados aos bocados, as folhas de louro e o azeite. Quando estiver cozinhado, adiciona-se um pequeno raminho de hortelã. Serve-se nos pratos, sobre as fatias de pão, finamente cortadas. Pode acompanhar-se com salada de alface.

Receitas de

Maria Rosario Pires

Segunda-feira, 25 de Julho de 2022

Alentejo-Natureza

"Respigando...Alentejo"

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher; compilar; coligir)

Fotografia de Adriano Bastos

"MANDEM SAUDADES – uma longínqua história de emigração, de Mário Augusto. Coleção Retratos da Fundação. Fundação Francisco Manuel dos Santos. Maio 2022.

“A poeira que mata as terras

Como dizia Pessoa, «para viajar basta existir». A vida faz-se de viagens e histórias, as que fazemos, as que nos tocam, as nos intrigam pela forma como nos chegam e são contadas. A tal reportagem de jornal que em tempos li e que espoletou a minha curiosidade, escreveu-a José António Cerejo no jornal Público em fevereiro de 1993: «Os escorraçados da fome». Foi por aí que tudo isto começou – relatava ele a dura seca no Alentejo profundo, uma daquelas em que, por não chover há tanto tempo, fazia esquecer o cheiro da terra molhada. Era tão grande a seca, que só os mais velhos se lembravam de outra assim, escrevia o jornalista.

Guardei esse recorte porque me inquietou a história, uma nota de bom texto que me aguçou a curiosidade. Acrescentava o repórter que já tinha sido uma seca igual a essa, logo no início do século XX, que escorraçara dezenas de famílias de várias aldeias da serra de Serpa ao Ficalho, a fome que desterrou uns quantos, crianças incluídas, especialmente de Vale de Vargo, mas também de Brinches, Moura, Baleizão e Pias.

Partiram todos juntos para não morrerem devagarinho à míngua de alimento e trabalho. Os senhorios não tinham colheitas para ceifar, sobrava terra seca, respirava-se pó. Foi por isso que, em desespero, eles abalaram sem sequer saberem bem para onde.

(…)”

pág.s 16/17.

Termina assim:

“(…)

Como escreveu o político americano William Jennings Bryan, contemporâneo desses portugueses que partiram cegos pela miséria à descoberta do Havai e da América: «Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas uma coisa que se procura.»"

Pág. 122. in Pó dos Livros de José Francisco Pereira

Quarta-feira, 13 de Julho de 2022

"Alentejo Terra de Artistas"

António Inverno 1944 - 2016

"Um defensor incondicional da liberdade, cria e dinamiza projectos culturais por onde passa.

Partilha o que sabe com a naturalidade com que respira. Fundou instituições como o Centro de Comunicação Visual A.R.C.O. e o Centro Cultural de Almada. 

Nasce como serígrafo para salvar a Seara Nova e hoje é um homem de destaque internacional na serigrafia, pintura e gravura. Trata por tu os grandes da arte e da política. 

Foi professor na ESE de Beja." in Arte Portuguesa

"O pintor só considera a obra concluída quando abre mão dela e perde completamente o seu contacto; caso contrário, nunca cessa de lhe vincar 

mais um contorno, de lhe meter aqui mais luz ou de lhe sombrear ali uma expressão." 

António Inverno - Artista Plastico


Nasceu em 1944, Monsaraz. Partiu para Lisboa em 1956 e dois anos depois matriculou-se

 na Escola António Arroio. Em 1964 concluiu o curso de gravador litógrafo, onde

 teve como professores, entre outros, Roberto de Araújo, Manuel Lima, Estrela Faria e Abreu Lima. Trabalhou no atelier de Jorge Barradas, na fábrica da Víuva Lamego. Em 1968 Trabalhou no atelier de Jorge Barradas, na fábrica da Víuva Lamego. Em 1968 regressou a Lisboa, tendo trabalhado com Rogério Ribeiro e Mário Rafael.

 

Photo in Photo in 1064064

No mesmo ano colaborou na decoração de interiores do edifício da actual sede da Calouste Gulbenkian,

 em Lisboa. Foi colaborador da revista Seara Nova, promovendo edições em serigrafia de artistas portugueses contemporâneos. Iniciou a sua actividade como serígrafo em 1972 e colaborou nesta área com Júlio Pomar, Marcelino Vespeira, 

António Charrua, Espiga Pinto, Eduardo Nery, Maria Keil, Francisco Relógio, Jorge Vieira, entre outros.


Photo in https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/morreu-o-artista-plastico-antonio-inverno-de-71-anos

https://www.jn.pt/artes/morreu-o-artista-plastico-antonio-inverno-5300706.html

Foi sócio fundador da AR.CO e do Centro Cultural de Almada. Em 1974 e 1975 participou nas campanhas de dinamização cultural, assim como na elaboração de cartazes e organização de espectáculos teatrais e musicais. Em 1993 abriu o Centro de Serigrafia António Inverno que mantém até hoje com uma actividade regular.

Fonte:https://www.cps.pt/Default/pt/Artistas/Artista?id=289

Segunda-feira, 11 de Julho de 2022


Visite o Alentejo

Zambujeira do Mar

Fotografias de Vasconcelos Françoise

Sábado, 9 de Julho de 2022


Borba e os seus Fotógrafos

Vídeos de Homenagem ao Sr.Filipe José Galhanas

pelos seus trabalhos fotográficos

Borba - "Dedicação"

Diaporama com Fotografias de Filipe José Galhanas de Borba -Março de 2014-Fotografias a preto e branco-

Vídeo, Montagem, Sonorização e Realização de Adriano Bastos

Entrevista a Filipe José Galhanas por Adriano Bastos

Terça-feira, 5 de Julho de 2022

O Livro da Semana

Os Comeres dos Ganhões

de

Aníbal Falcato Alves

"No tempo da fome, que foi o tempo do fascismo no Alentejo, a açorda era o alimento quase exclusivo dos trabalhadores alentejanos durante os meses de Inverno. No Verão, a açorda era substituída pelo gaspacho.

Claro que as açoradas comidas pelos trabalhadores não tinham os requintes do bacalhau, da pescada ou de qualquer outro acompanhamento. Mesmo o azeite não era empregado na devida quantidade.

À açorda assim comida, sem qualquer acompanhamento, chamava-se “açorda pelada”. Às outras, aquelas bem temperadas, só os senhores tinham acesso. Havia agrários que comiam o bacalhau nas suas açordas e, num gesto magnânimo, mandavam guardar as barbatanas para serem cozidas na água da açorda da malta. Devido a esta benemerência, de vez em quando, os trabalhadores lá a comiam com um gostinho a bacalhau."


Segunda-feira, 27 de Junho de 2022

Receitas de Culinária do Alentejo

Fotografia da Internet-Tele-Culinária

Bolo de cenoura e canela 

"500g de cenoura cozida e escorrida 

350g de açúcar 

8 ovos 

6 colher de sopa de farinha 

1 colher de chá de fermento 

1 colher de sopa de canela em pó. 

Cozem-se as cenouras,escorrem-se e trituram-se. Reserva-se. 

Batem-se as gemas com o açúcar até duplicar o volume. 

Batem-se as claras em castelo. Envolvem-se com as gemas e continua-se a bater. 

Junta-se a cenoura,a canela e por fim a farinha e o fermento. 

Envolve-se tudo muito bem e vai ao forno,a 180 graus, durante 50

minutos,numa forma de buraco,untada de manteiga e polvilhada de farinha."

Receita de Maria do Rosário Pires

 Quarta-feira, 22 de Junho de 2022

Alentejo


“…Desde os finais dos anos 40 o Alentejo entrara em mim de modo definitivo…”

Júlio Resende

 É considerado como o grande Mestre da Arte Portuguesa do último século.

Photo in https://www.wikiart.org/pt/julio-resende

"Júlio Resende diplomou-se em Pintura em 1945 pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto , onde foi discípulo de Dórdio Gomes.

Fez a sua primeira aparição pública em 1944 na I Exposição dos Independentes. Em 1948 partiu para Paris , recebendo formação de Duco de la Haix e de Otto Friez.

O trabalho produzido em França é exposto em Portugal em 1949, definindo a sua vocação de expressionista. Assimilou algum cubismo, vai construir na sua fase alentejana, e mais tarde no Porto. A sua pintura caracterizada pela plasticidade e dinâmica, de malhas triangulares ou quadrangulares, aproximando-se de forma progressiva da não figuração.

Pintor de transição entre o figurativo e o abstracto, Resende distingue-se também como professor, trazendo à escola do Porto um novo espírito aos alunos que a frequentaram na década de 1960.

A obra pictórica de Júlio Resende revela que ele compreendeu a pintura europeia, porque a observou, experimentou e soube transmitir aos pintores e aos alunos que ele formou na Escola 

Superior de Belas-Artes do Porto."

Morreu no dia 21 de Setembro de 2011 aos 93 anos" in CNAP.PT

Terça-feira, 14 de Junho de 2022

O livro da semana

"Paços Confusos"

de

José Rodrigues Miguéis

José Rodrigues Miguéis "- Zé Gomes: os sonhos de juventude realizam-se sempre. Se não aos trinta, aos quarenta anos… Ou aos cinquenta… Ou aos sessenta…  Mas realizam-se sempre…  A questão está em querê-lo bem do fundo dos ossos!" José  Rodrigues Miguéis em conversa com José Gomes Ferreira

"- Zé Gomes: os sonhos de juventude realizam-se sempre. Se não aos trinta, aos quarenta anos… Ou aos cinquenta… Ou aos sessenta… Mas realizam-se sempre… A questão está em querê-lo bem do fundo dos ossos!"

José  Rodrigues Miguéis em conversa com José Gomes Ferreira 

"Saiu dali aliviado e contente com uma descoberta que lhe vinha alargar o âmbito da pesquisa, senão confundi-la mais. Pouco a pouco iria aprendendo que não se pode falar da loucura, da angústia, da embriaguez, da doença ou da morte, 

durante as crises que elas determinam; e que a criação, como acto de vontade, é sempre uma rememoração ou transposição.

«E no entanto» - diria ele muitos anos depois, ao discutir com ela estes problemas - «se a idade e as circunstâncias mo permitissem, creio que recomeçaria a vida com os mesmos erros, lutas, ilusões e tormentos.

São eles, afinal, que a tornam fecunda e nosreconciliam com a nossa fraqueza!»

(Citação do conto O «Breakdown»)"         

"Paços Confusos

José Rodrigues Miguéis

Capa: José Luís Tinoco

Editorial Estampa, Lisboa, Setembro de 1982

Ao encontro com os nossos Escritores

José Rentes de Carvalho

Por que será?

"Se abrisse a boca e desse opinião ia causar tristeza, aborrecer gente, ia ter de ouvir os especialistas que tudo sabem e explicam. Por isso me fico pela pergunta:

- Qual será a razão do desinteresse da literatura pelos problemas da sociedade portuguesa? De até agora não termos tido alguém como Zola, ou mesmo só metade dele?

Portugal merecia."

Photo in Wikipédia

Segunda-feira 30 de Maio de 2022

Respigando Borba

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher;  compilar;  coligir)

Fotografia de Adriano Bastos

Igreja e Convento das Servas

"Segundo uma lenda já muito antiga, a Virgem Maria apareceu a uma filha de um oleiro e mostrou-lhe a localização de um tesouro no local onde hoje está o Convento das Servas.

Com o ouro achado construiu-se uma ermida, gerida por uma irmandade de mulheres denominada Servas de Nossa Senhora. Em 1598, o Padre Mestre Pedro Caldeira deixou todos os seus bens à Ordem de São Francisco para transformar a ermida num convento. A primeira pedra do Convento foi lançada em 1604, sob o padroado do Duque de Bragança, D. Teodósio II. Em 1644 concluiu-se a obra, sendo que no ano seguinte veio uma comunidade de freiras do Convento das Chagas de Vila Viçosa para ocupar o convento.

Trata-se de uma construção monumental com um dos maiores claustros do país. A entrada da igreja faz-se pelas duas portas laterais como acontece sempre nos conventos femininos. No interior preserva-se um importante núcleo de pintura mural dos séculos XVII e XVIII." in convento-das-servas.aspx

Sábado, 21 de Maio de 2022

Livro da semana

António Botto


"Afirmam que a vida é breve. Engano, - a vida é comprida. 

Cabe nela amor eterno e ainda sobeja vida."

António Botto


António Botto

"Cartas que me foram devolvidas"


"As tuas cartas têm vindo breves, lacónicas, porquê? As minhas já te fadigam? Se assim for, não as rasgues, - devolve-as e não as leias. Recebo-as com esta calma que me veio desde que penso que me foges. Rasgá-las, não. Ao rasgarmos cartas de amor alguma coisa de duas almas se destrói e se perde irremediavelmente."

Terça-feira, 17 de Maio de 2022

O livro da semana

Wenceslau de Moraes

"O culto do chá"




"Para a alegria dos olhos, a simples preparaçäo do chá imprime um relevo delicioso á graciosidade innata na "musumé" (*) na attitude que lhe é mais habitual, de joelhos sobre a esteira, junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva, unica; privilegio d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella buliçosa mäo, de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a Eva mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo que jamais o japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca n'aquella mäo que exhibe esplendores de graça para servir-lhe o chá; o forasteiro, em intimidade serena, pode ensaiar o galanteio se phantasia o tenta; e entäo verá talvez, que a mäosita da "musumé", reconhecida ao afago, se conchega de encontro aos labios, se demora, como uma rola docil gulosa de carinhos."

.

— Wenceslau de Moraes, “O culto do chá", Kobe, Typographia do "Kobe Herald", 

Quinta-feira, 12 de Maio de 2022

Efeméride 20.07.1938-12.05.2018

Dr. José Rabaça Gaspar

Fotografia de Adriano Bastos

"Homenagem aos Mestres Cantores do Alentejo"

Pintura de Espiga Pinto, sobre madeira, datada de 1965. 130x40cm

Col. Centro de Arte Moderna da 

Fundação Calouste Gulbenkian


O Alentejo lembra-me sempre 

 Um imenso relógio de sol

  Onde o homem faz de ponteiro do tempo 

 Miguel Torga

20.07.1938-12.5.2018)

Para mim, o CANTE - o CANTO ALENTEJANO -

o CAnto da TErra

é a VOZ DO VENTRE DA TERRA MÃE." J.R.Gaspar

Dr. José Rabaça Gaspar

"A obra de José Rabaça Gaspar constitui um valioso contributo para o estudo, conservação, defesa e divulgação do Cante Alentejano, no tocante à autenticidade das suas raízes e conhecimento de todos os que através dos seus trabalhos possibilitaram a sua candidatura a Património Imaterial da Humanidade, resultando de trabalho incessante de pesquisa e aprofundado estudo ao longo de décadas .

O Blogue "Amigos de Borba" presta sua justa homenagem ao Dr. José Rabaça Gaspar pelo trabalho discreto, objectivo e valioso para o estudo do Cante Alentejano. Desde a primeira hora na criação da Associação dos "Amigos de Borba" e do Blogue "Amigos de Borba".

Foi um paladino esforçado, de inexcedível bondade, partilha de saberes e entrega na recolha e estudo das tradições poéticas, musicais, linguisticas,  de usos e costumes e características do Alentejo.

Adriano Bastos

Sexta-feira, 6 de Maio de 2022

Alentejo-Natureza

Flores de Maio

ROSELHA-MENOR (CISTUS CRISPUS)

Fotografia in Naturdata

in Portal do Jardim.com

ESTEVA-CISTUS LADANIFER

in Portal do Jardim.com

TUBERÁRIA-MOSQUEADA (TUBERARIA GUTTATA)

in perspectivasdoolhar.bogspot.com

BOTÃO-AZUL, BATON-AZUL (JASIONE MONTANA)

Fotografia de Valter Jacinto

Quarta-feira, 20 de Abril de 2022

Visite o Alentejo

Fotografia de Maria Chiu-Évora

Fotografia de José Luís Neves-A ceifa de outros tempos em Almodôvar

Fotografia de José Luís Neves-Primavera no Alentejo !

Fotografia de Francisco Alves-OLHARES , ÉVORA ...

Fotografia de Francisco Alves-O CORETO , ÉVORA ...

Fotografia de Maria Chiu-Évora

Quarta-feira, 13 de Abril de 2022

Tavernas do Alentejo

Fotografia de Filipe José Galhanas

"São lugares ancestrais de conhecimento e cultura. Rituais sociais, onde o vinho desinibe e fomenta longas conversas entre as mais variadas culturas. Ali, entre aqueles odores agridoces, entre um copo e outro, fez-se o menino homem. Ali, enxuga-se a alma e esquecem-se por momentos os dissabores da vida. As tabernas são lugares sagrados, também elas compostas por mandamentos, onde o sangue de Cristo é tomado por todos religiosamente. Onde os sermões são dados pela sabedoria dos anos, de passados atribulados e duros, no uso, quase sempre, das palavras certas para o momento.

Fala-se do Ti António que morreu do coração, do Ti João que morreu de cancro, mas, ali, não se ouve falar que alguém tenha morrido por causas do vinho, pois o vinho é um elixir, um antídoto para todos os males. Diz-se que até mata o bicho.

É um espaço onde não existe stress. Entre uma rodela de linguiça e uma lasca de presunto também o colesterol é esquecido. Por fim, quando as pernas não obedecem e o andar torna-se desequilibrado, culpa-se sempre o último copo. Mas existe sempre um amigo pronto a levar-nos a casa.  As tabernas são escolas de vida, de saberes populares, onde o cante marca o compasso."

José Bravo Rosa

Fotografias de Adriano Bastos

Quinta-feira, 7 de Abril de 2022

Os nossos Escritores

Albernoa-Beja

Manuel Ribeiro

Manuel Ribeiro o autor mais lido em Portugal, nos anos 20 do século passado

“A Planície Heróica”

" PÓ DOS LIVROS 

PL 032

“A Planície Heróica”, de Manuel Ribeiro. 5ª. Edição. Capa de Manuel Dias. Desenho de Bernardo Marques. Guimarães & Cª. Editores. 1979.


Começa assim:


“O comboio do sul parou na pequena estação sozinha, perdida no descampado, entre infinitas searas verdes já espigadas. Padre Dionísio, moço e ágil, saltou da 3ª. Classe, poisou no chão a leve mala de viagem e olhou em roda, à espera que alguém se lhe dirigisse. Nenhum outro passageiro descera. Dois homens rústicos, tipos de guardadores de gado, de mantas e safões de pele de ovelha, ostentando militarmente cajados altos como armas em descanso, atentaram nele, curiosos, pasmados, mas sem quebrarem suas atitudes rígidas, indiferentes àquele estranho que chegava.


MANUEL RIBEIRO, nasceu a 13 de Dezembro de 1878, em Albernoa, Beja. Faleceu em 27 de Novembro de 1941 (62 anos) em Lisboa. Era funcionário ferroviário. Principais trabalhos: “A Catedral”, “O Deserto”, “A Ressurreição”, “A Colina Sagarda”, “A Revoada dos Anjos”, “Vínculos Eternos”, “Esplendor mais Alto”, "Novos Horizontes”, “Sarça Ardente”, "A Batalha nas Sombras”, entre outros."

In FB/José Francisco Pereira

1953 - CINEMA PORTUGUÊS - «Planície Heroica» - Cena do filme

"Planície Heróica (1953)

Produção Rodagem: Ago 1952

N/C 

93 min

Drama   

Realização:  ·  Perdigão Queiroga

Argumento:  ·  Manuel Ribeiro

(Por 1927) Dionísio, jovem padre do Minho, vai servir para Carregosa, uma aldeia do Alentejo, cuja igreja se encontra quase em ruínas. 

Conceição, a filha do sacristão Carriço, apaixona-se por ele, estiolando de amores. 

No seu misticismo rudimentar, Dionísio não compreende a suprema ligação daquele povo à terra, à mãe natureza, recusando firmemente a proposta desesperada de Carriço, para que abandone o sacerdócio e despose Conceição, à qual concede o último sacramento. 

Mais tarde, Conceição recupera e casa com Joaquim Castilho, um lavrador rico, que há muito a adorava.  

[Fonte: José de Matos-Cruz, O Cais do Olhar, 1999, p.101]  (-)"

in Planície+Heróica cinept.ubi.pt

Segunda-feira, 4 de Abril de 2022

Receitas Culinárias do Alentejo

Bolo de cenoura e canela

Fotografia in tele culinária

"Bolo de cenoura e canela 


500g de cenoura cozida e escorrida 

350g de açúcar 

8 ovos 

6 colh de sopa de farinha 

1 colh de chá de fermento 

1 colh de sopa de canela em pó. 


Cozem-se as cenouras,escorrem-se e trituram-se. Reserva-se. 

Batem-se as gemas com o açúcar até duplicar o volume. 

Batem-se as claras em castelo. Envolvem-se com as gemas e continua-se a bater. 

Junta-se a cenoura,a canela e por fim a farinha e o fermento. 

Envolve-se tudo muito bem e vai ao forno,a 180 graus, durante 50

minutos,numa forma de buraco,untada de manteiga e polvilhada de farinha."

Receitas de Maria do Rosário Pires

Quinta-feira, 31 de Março de 2022

Alentejo-Natureza

Esteva

Artigo de Dr. António Bagão Félix

A esteva (𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟 𝑣𝑎𝑟. 𝑚𝑎𝑐𝑢𝑙𝑎𝑡𝑢𝑠 )

"O MEU (EN)CANTO

n.72

Uma das muitas plantas que, no campo, dão as boas-vindas à Primavera é a ᴇsᴛᴇᴠᴀ. É um arbusto muito viscoso de meia-altura, que se espalha sobretudo no Alentejo e Algarve e que, nesta altura, floresce com encanto.

A esteva tem outros nomes populares: lábdano ou ládano (já explicarei porquê) e xara. O seu nome botânico é 𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟 e pertence à família das 𝐶𝑖𝑠𝑡𝑎́𝑐𝑒𝑎𝑠. É originária da Península Ibérica, Noroeste de África e Macaronésia. 

Fora do tempo de floração, a esteva não se diferencia muito das plantas selvagens que se encontram no campo, a não ser pelo facto de o caule e as folhas verdes escuras serem muito pegajosos. Ao tocar-lhes, usufruiremos não só do seu intenso cheiro entre uma fragrância balsâmica persistente e intensa e o cheiro animal e almiscarado do mato que a acolhe, como sentiremos, pelo tacto, a substância resinosa que é exsudada pela planta."

A for da esteva (𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟 𝑣𝑎𝑟. 𝑚𝑎𝑐𝑢𝑙𝑎𝑡𝑢𝑠 )

"Ora é esta goma-resina que dá pelo nome de lábdano ou ládano. 

Neste (en)canto, concentro-me, sobretudo, nas flores. São solitárias, com um cálice de três sépalas e uma corola de cinco exuberantes pétalas. Os estames e os pistilos são amarelos e abundantes. Para se ver com olhos de ver esta flor, nada melhor que pegar numa delas. As pétalas são alvas, mas na variedade 𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟 var. 𝑚𝑎𝑐𝑢𝑙𝑎𝑡𝑢𝑠 apresentam-se trajadas de um sinal ou mácula na sua base, normalmente de cor entre o vermelho, o castanho ou o bordô. 

Volto ao nome científico: 𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 vem do grego “ciste” que significa cesto, aqui explicado pelos facto de os frutos da esteva a ele se assemelharem, pois que são cápsulas globosas com 7 a 10 compartimentos. O nome da espécie 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟 está associado à tal goma-resina ládano. "

A flor da esteva (𝐶𝑖𝑠𝑡𝑢𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑎𝑛𝑖𝑓𝑒𝑟)

"As flores têm uma particularidade algo enigmática e dramática, qual seja a de quase unir o seu nascimento e morte. De facto, não duram mais do que um dia. E, no entanto, o arbusto continua repleto destas flores, porque se a sua vida é curta, a prole floral do arbusto é extensa. Quase um jogo-dança entre o princípio e o fim, de um lado e o fim e o princípio, do outro lado.

Há uma lenda que liga estas flores a Jesus Cristo, no percurso que Ele fez até ao Calvário, ladeado por terras onde havia estevas floridas. As cinco manchas nas pétalas representavam as cinco chagas de Cristo. "

O fruto da esteva

"Na antiguidade, a resina era obtida raspando a pelagem ou a lã das cabras e ovelhas que, passando entre as estevas, retinham aquela substância. Li que as barbas falsas usadas pelos faraós eram pêlos de cabra embebidos em ládano. Daí, a fragrância ser também conhecido por "cheiro dos faraós". O ládano é utilizado como fixador de perfumes e óleo de massagem.  Já o médico judeu português Amato Lusitano (sec. XVI) empregava o óleo como unguento e foram-lhe atribuídas até propriedades anti-sépticas e mesmo sedativas. É também muito apreciado o mel do seu pólen. 

Como aspecto mais preocupante, realço, nos matos e florestas, o seu perigo como fácil combustível."

Dr. António Bagão Félix (in FB)

Quinta-feira, 24 de Março de 2022

Receitas Culinárias do Alentejo

Bolo de água mel

Photography in Internet

INGREDIENTES

6 ovos

1 chávena de chá de óleo

1 chávena de chá de água mel

1 chávena de chá de leite morno

3 chávenas de chá de farinha

3 chávenas de chá de açúcar

1 colher de chá de canela

1 colher de chá de pó royal

PREPARAÇÃO

Bate-se tudo junto e vai ao forno, a 180 graus ,durante 45 minutos, em forma untado com margarina e polvilhada com farinha.

Receita de Maria Rosário Pires

Quinta-feira, 17 de Março de 2022

O Livro da Semana

"Peroguarda 58/59"

de Luis Ferreira Alves

“Estas imagens estavam perdidas. Não fora o acaso de uma pesquisa no meu caótico arquivo e certamente cairiam no esquecimento. Não são uma reportagem, também não são um trabalho de campo com fins específicos. Trouxeram até mim a memória de momentos exaltantes. São o testemunho dessa improvável explosão de afectos entre amigos da minha cidade (Porto) e uma aldeia alentejana mergulhada na pobreza (Peroguarda)."

Luis Ferreira Alves in "Peroguarda 58/59"

"As imagens descrevem as duras condições de vida no final da década de 1950 “de uma aldeia alentejana mergulhada na pobreza”. Os trajes de época ou os objectos modestos do interior das casas são suficientes para prender longamente o olhar, porém, quem se demora um pouco mais na leitura poderá ver muito para além da superfície. Crianças descalças que carregam fardos de palha, mulheres vergadas em ângulos agudos (que prometem infligir dores igualmente agudas) sorriem para a câmara com uma inocência inexplicável." 

"A monda era um trabalho violentíssimo, doloroso, absolutamente desgastante", conta. "O que mais me impressionou foi como mantinham aquele sorriso." em entrevista Jornal Público

Luis Ferreira Alves

in www.publico.pt 

Série “Vidas Difíceis”, Alentejo, 1943-45.

Dia Internacional da Mulher, Alentejo, década de 40.

"É tão penetrante a sua beleza, a sua grandiosidade, o valor inestimável como trabalhadora e como mãe, que a mulher alentejana, quase de uma simplicidade mística, nos seduz como a contemplação da expressão artística, ou comove como a renúncia ou a oração." Artur Pastor 

Série “As Mulheres na obra de Artur Pastor”.  Varejo e apanha da azeitona. Alentejo, décadas de 50/60

Série “Vidas Difíceis”, Alentejo, 1943-45.

Série fotografias do catálogo/ livro Artur Pastor. Alentejo, 1943-45.

Série fotografias do catálogo/ livro Artur Pastor. Alentejo, 1943-45.

Série fotografias do catálogo/ livro Artur Pastor. Alentejo, 1943-45.

Série “Vidas Difíceis”, Moura, décadas de 50/60.

Fotografias in Tumbir.com

Terça-feira, 8 de Março de 2022

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Pintura de Ettore Tito ( 1859-1941)

DIA INTERNACIONAL DA MULHER 8 de Março


MULHER

 A mulher não é só casa

 mulher-loiça, mulher-cama

 ela é também mulher-asa,

 mulher-força, mulher-chama

 E é preciso dizer

 dessa antiga condição

 a mulher soube trazer

 a cabeça e o coração

 Trouxe a fábrica ao seu lar

 e ordenado à cozinha

 e impôs a trabalhar

 a razão que sempre tinha

 Trabalho não só de parto

 mas também de construção

 para um filho crescer farto

 para um filho crescer são

 A posse vai-se acabar

 no tempo da liberdade

 o que importa é saber estar

 juntos em pé de igualdade

 Desde que as coisas se tornem

 naquilo que a gente quer

 é igual dizer meu homem

 ou dizer minha mulher

 ARY DOS SANTOS

“Entendo que o ser humano que pertence ao sexo feminino não deve ser coagido pela educação, nem pelos costumes, nem pelas conversas, nem pelos pais — que têm a mania de talhar muito discricionariamente o futuro dos filhos — a ver no casamento um fim, um ideal completo e único, quase uma obrigação. Assim como o homem pode ser professor, jornalista, sábio, artista, empregado, operário, tudo enfim, sem que ninguém lhe pergunte pela certidão do matrimónio […], não vejo inconveniente a que a mulher procure a sua colocação, tenha o seu curso científico, estude, trabalhe para si, para o seu futuro, para a sua vida autónoma, sem se lhe inquirir do seu estado… Que essa mulher fique solteira, porque não encontrou o companheiro ao qual lhe seria grato ligar o seu destino, ou que, encontrando-o, seja sentimentalmente feliz, que temos nós com isso? Por acaso nos preocupa a vida conjugal do político A ou do artista B? O maior erro do homem é, a meu ver, estar convencido de que a mulher nasce e existe só para o seu prazer e encanto. A mulher, como o homem, nasce para si mesma.”

(Ana de Castro Osório, “Às Mulheres Portuguesas”, 1905)

Quarta-feira, 2 de Março de 2022

Poetas Populares

Romão Moita Mariano

Pias

Romão Moita Mariano, nasceu em 1931 em Pias. Desde a adolescência se dedicou à escrita ,sendo mestre de sete ofícios, desde um entusiasta contador de histórias, poeta, tocador de concertina, violino e amante do cante alentejano. Exerceu durante muitos anos a profissão de ferreiro.

Ao seu primeiro livro "A Malhar em Ferro Quente" segue-se-lhe "Alentejo povo meu", colectânea de 76 poemas que tem como tema principal o Alentejo, onde retrata a terra alentejana e as suas gentes, através de temas como o amor, a nostalgia, a saudade e a morte. 

"No apogeu da guerra de 45

Apareceu na minha Terra,

Um mendigo que ninguém conhecia.

Sobrevivia procurando trapos velhos

E cartão que vendia.

Era Húngaro.

Tocava um violino.

Era já velho e tinha fugido à guerra.

Eu gostava de ouvi-lo.

Era menino

E não havia violinos lá na terra.

Tocava as Polcas populares

(…)

As valsas, as mazurcas

O cântico espiritual dos Gregos

Tocava uma linda melodia

Que o punha grave, triste, magoado

O Hino Nacional da Hungria.

A Pátria vive em nós em qualquer lado.

Morava nos subúrbios da estação

Num mísero barracão

Mais frio que a morte

Vendia trapos e cartão.

Quando fome não tinha, tinha sorte.

Uma noite confortado na minha cama

Lembrava o pobre, velho, vagabundo

A fome, o frio, a chuva, o vento, a lama

A solidão que havia no seu mundo

Mas quando um dia a guerra terminou

Quando os sinos das igrejas repicaram

Quando um monte de foguetes estourou

E as bandas pelas ruas desfilaram

Quando o grito da paz se ouve é forte

E trouxe aos corações a alegria da boa nova que vem com o vento Norte

As mães já rezaram menos nesse dia foi como se chegasse a primavera que alegra e faz cantar os passarinhos

E o trapeiro que há muito estava à espera

Fez a trouxa e seguiu outros caminhos

Deixou o barracão de porta aberta

Mostrando a miséria que ficou.

Dos trastes nauseabundos se libertou

Somente o violino levou.

As guerras, que no mundo sempre houve

Guerras injustas,

Sem fama nem glória.

Há sempre alguém

Que sofre e nos comove

Como o velho de trapos desta história"

“A Malhar em Ferro Quente”


Meu avô era ferreiro,

O meu pai ferreiro foi,

Não há dois sem um terceiro,

Fui sem o querer e isso dói.


Na forja queimei os olhos,

Dos martelos fiquei mouco,

A vida é cheia de escolhos,

Quem pensa o contrário é louco.


Toda a vida eu lutei,

Venci dias adversos,

Milhares de ferros trabalhei

Descansei  fazendo versos.


Trabalhar honradamente

Não enriquece ninguém,

Mas dá orgulho à gente,

O que é riqueza também.


Eu não sei a sensação

Que dá uma mão sem calos,

Pois quando aperto essa mão,

Sinto os meus a superá-los.


Estou tão habituado

A vestir “fato macaco”,

Que fico um pouco acanhado

Sempre que visto outro fato.


No verão, lidar com a forja,

É muito duro,  eu sei bem.

Pior é lidar com a corja

Que esta sociedade tem.


O vulgo, o artista esquece

Nesta vida é posto à margem,

Mas quando desaparece,

Aparece a homenagem.


A malhar em ferro quente

Dezenas d’anos a fio,

Constatei que há muita gente

Que só malha em ferro frio.


Romão Moita Mariano – 1989 pág.13/14, In “A Malhar em Ferro Quente” 

"Morreu o Romão há pouco tempo, mas deixou obra, para nos fazer pensar: "

Tiago Bettencourt Pereira 26 de Fevereiro de 2022

Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2022

Respigando Alentejo

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher;  compilar;  coligir)

Santo Aleixo da Restauração

"O SANTO ALEIXO DA RAIA. Porque o santoral de hoje é dedicado ao peregrino romano Santo Aleixo (século IV d.C.), evoco uma bonita aldeia raiana do concelho de Moura chamada Santo Aleixo da Restauração. O seu nome deve-se à resistência armada que ofereceu aos castelhanos que assediaram a aldeia em12 de Agosto de 1644. O heroísmo da população, que sofreu numerosas baixas entre os camponeses, com estragos consideráveis na igreja e nas casas, manifestou-se de novo no início do século XVIII, em 1704, devido a novo ataque de tropas espanholas aquando da Guerra da Sucessão. Tal impôs o esforço de reconstrução do casario da aldeia, bem como da sua igreja, obras que começaram em 1713 e incluíram uma campanha de pintura e de azulejo a cargo de Manuel Vaz, pintor da vila de Serpa (e genro de António de Oliveira Bernardes), campanha esta que em parte subsiste, embora pouco conhecida. São razões de sobra para uma visita atenta a um sítio privilegiado da raia alentejana."

Professor Doutor Vitor Serrão

Professor catedrático na Universidade de Lisboa

Sexta-feira, 11 de Fevereiro de 2022

Visite ao Alentejo

Trago alentejo na voz 

António Zambujo & Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento

 - trago alentejo na voz (letra)

Mourão

Fotografia de Dina Ramalho Fernandes

Redondo

Fotografia de Turismo do Alentejo

Borba

Fotografia de Adriano Bastos

Alentejo

Fotografia de Jorge Campaniço


Herdade dos Machados, entre Moura e Sobral da Adiça 

Fotografia de Jorge Campaniço

Vila Nova de Mil Fontes

Fotografia de António Sousa

Alentejo

Fotografia de Nazaré Porto

Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2022

Os nossos Poetas

Joaquim Azinhal Abelho


Orada-Borba


Nasceu a 13 de Abril de 1911 na Orada, concelho de Borba

e faleceu a 20 de Janeiro de 1979 em Lisboa


"Uma mola para a cultura funda de Portugal

Licenciado em Letras, Joaquim Azinhal Abelho (Borba, 13 de Abril de 1911; Lisboa, 20 de Janeiro de 1979) foi um dos grandes propulsores do folclore. Do Alentejo, sim, mas não só. Escreveu e publicou prosa e poesia e foi bolseiro da Gulbenkian - nesta condição, deixou um legado precioso para o teatro popular de todo o País numa obra publicada de 1964 a 1973. E fê-lo retirando do folclore e dos costumes culturais locais algum estigma: "O tratamento (...) incidiu mais na nivelação literária do que na recolha de índole etnográfica." in dn.pt

Fotografia in dn.pt

Comoção Rural


Já não há quem queira dar

uma filha a um ganhão…

Senhor Pai, senhora mãe,

que grande desolação.


Já bati a sete portas

por mais de mil e uma vez;

Vá-se embora seu ganhão,

disseram com altivez…

A minha filha é prendada,

não é para qualquer tunante,

sabe ler, sabe escrever

e todo o seu consoante.

O que é que tem um ganhão?

Um azinho dum pau torto;

só vive das tristes ervas,

não tem onde cair morto.


Os olhos já não são olhos,

estão estão desfeitos em chorar,

porque a um pobre ganhão

já não há quem queira dar

nem mulher para dormir

nem a filha para mulher;

nem quem o ajude a vestir,


nem quem o ajude a morrer.

Ramos secos, estéreis flores,

pedras de arestas cortantes

perdidas num vendaval,

perdidas numa aflição…

Eu já não posso gritar;

Senhor Pai, senhora Mãe,

que grande desolação

nestes matagais com longes,

aonde os anjos se afundam

em humus e punição!


Azinhal Abelho (1911-1979)

Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2022

Respigando Borba

(Respigando; apanhar aqui e além; recolher;  compilar;  coligir)

Fotografia de Adriano Bastos

"FINGIMENTOS. O talento para criar efeitos grandiosos e apelativos é exclusivo das artes eruditas, dizem: só nesse patamar existem meios, modelos, formação, «ciência»... Puro engano ! E quando o pendor cenográfico atinge, justamente na periferia, o áspide de imaginação e da fantasia ? Veja-se este caso de pintura mural na Ermida de Santa Bárbara, perto de Borba, obra do início do século XVIII, que alguns dirão «modesta», quase «popular». mas em que a linguagem tradicional do brutesco se funde com caprichos imaginosos visando uma atmosfera luxuosa de acolhimento -- uma «arte barroca total» por via não-erudita. Quem diz que não existe em Portugal património valioso gerado para além daquilo que o «centro» produziu e produz ? Temos neste espaço periférico alentejano um eloquente testemunho do contrário !" 

Vítor Serrão in Micro-História da Arte

Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2022

Visite Borba

Fotografias de Adriano Bastos


Sábado, 8 de Janeiro de 2022


Alentejo-Gastronomia

Receitas Culinárias Alentejo

Beja

Maria de Lurdes Modesto


"Iniciou a sua carreira televisiva em 1958, quando, então professora de Trabalhos Manuais no Liceu Francês de Lisboa, foi convidada pela RTP para apresentar um programa de índole cultural (após uma notável prestação na peça de Molière Monsieur de Pourceaugnac, em cuja encenação estaria presente uma equipa da estação). Foi na televisão pública portuguesa que apresentou, ao longo de doze anos, o mais popular programa culinário de que há memória no país. O seu estilo particular, privilegiando o directo e o improviso (foi a pioneira portuguesa do "live cooking") ganhou-lhe inúmeros admiradores. O sucesso do formato, que partia da sua paixão pela cozinha alentejana, levou-a a alargar horizontes e a estudar a culinária francesa e as tradições gastronómicas portuguesas.[1] Escreveu vários livros de cozinha portuguesa, dos quais se destacam a Grande Enciclopédia da Cozinha, Cozinha Tradicional Portuguesa (o livro de culinária mais vendido em Portugal)[2] e Receitas Escolhidas. O seu nome está ainda ligado à tradução e edição de inúmeras obras estrangeiras.

Conhecida como "A Diva da Gastronomia Portuguesa",[3] foi colhendo honras e louros nos mais variados palcos. José Quitério aclamou-a como “uma das cada vez mais raras Guardiãs do Fogo”.[4] O New York Times chamou-lhe, num artigo de 4 de Março de 1987, "Portugal's Julia Child".[5] Também Miguel Esteves Cardoso, na sua coluna Ainda Ontem, a louvou como "Uma das três grandes génios nascidas no século XX [em Portugal]".[6] A 9 de Junho de 2004 foi feita Comendadora da Ordem do Mérito.[7] é casada com Carlos Assis de Brito, que conheceu quando trabalhou na RTP." in Wikipédia



"Cabidela de Frango

Arranja-se um frango, parte-se aos bocados para um tacho, junta-se uma cebola picada, um dente de alho, uma folha de louro, uma pitada de pimenta e colorau, um ramo de salsa, 2 colheres de banha e sal. Põe-se ao lume deixando refogar um pouco até a cebola estar loirinha, depois vai-se pondo água até estar o frango cozido, quase na altura de ir para a mesa deita-se o sangue, mexendo sempre, para não coagular, porque o molho deve ficar grosso.

Note bem, quando se matar o frango deve de se por na tigela um pouco de vinagre e deve mexer sempre até que o sangue corra que é para ele não coagular.

*É igual a outras que vi." in Acervo MLM - Alentejo

Terça-feira, 7 de Dezembro de 2021

O Livro da Semana

A MAR de José d'A MAR

Um deNómio de José Rabaça Gaspar. (www.joraga.net )​

Não é um pseudónimo nem um heterónimo (exclusivo de Pessoa) mas um neologismo inventado, um NOME (outro), anjo ou demónio, musa inspiradora, que escreve através do autor, o livro ou cada um dos poemas do autor, como se pode ver nesta obra, com vários deNÓMIOS... (quase um por poema)...

José Rabaça Gaspar

(1938-2018)

A MAR

ISBN 950-502-602-5 / 6 para edição virtual e em papel a pedido...

A MAR é um pequeno livro - uma jóia preciosa – dedicado:

À Fátima - companheira sofrida do percurso mais tumultuoso (atormentado) desta longa e tormentosa VIAGEM - como um RIO - que é a vida do autor…

À Diana - a filha que foi parida pelo Pai (Homem) e por isso ganhou o prémio como único Homem a dar à luz (a parir) - prémio que não recebeu…

Ao David - o Filho que veio na última etapa, não para ser filho mas para ser o Guia que leva pela mão o Pai, neste derradeiro percurso desta Viagem… a mais recente de muitas outras já vividas…

Assim, a sinopse vai aparecer aqui feita pela Fátima a tentar resumir o turbilhão de ideias que me ocorrem e seria importante transmitir como resumo e apresentação do significado que pode ter esta mensagem… A MAR até conseguir realizar a VISÃO que o autor teve em sonho: ver uma multidão de gente de todas as línguas e lugares deste Planeta MAR a realizarem uma ONDA imensa (LA OLA) com a palavra MAR… A MAR… AMAR…

Fotografia de Adriano Bastos

Apresentação

Como a água das fontes e dos rios, a VIDA, todas as VIDAS, correm sempre para O MAR… A MAR… AMAR… Nestes poemas com a influência de Camões, Torga e Borges, é proclamada a subversão: O MAR é A MAR!

José d’A MAR poeta na alma traz consigo o ciclo de renascer da força das águas.

O José é um mar de emoções vividas num mundo demasiado interiorizado, manifestado aqui em turbilhões de sentimentos e inconformismo dando vida às palavras e dando voz a quantos nele se revêem. Escritos em diferentes fases do seu percurso revelam todos eles o grito calado, de um inconformismo com o Mundo dos Homens.

Vale a pena percorrer estes versos como rios de um mar em contínua transformação.

Fátima Borges”.

Pode OUVIR - 'MARIA NOME de MAR' e VER no YOUTUBE por Manuel e Arisberta ALEIXO

Publicado em 02/02/2013

Maria Nome de Mar- Musica e Letra de José Rabaça Gaspar.

Poema do livro «a Mar»


https://e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=1908  ( Para Aquisição do Livro)

Sexta-feira, 26 de Novembro de 2021

O Livro da Semana

A GERAÇÃO QUE QUIS SER FELIZ 

de 

Avelino Bento

"O passado é um tempo que passou. Está passado!

Mas é também um tempo de memórias.

Se ousarmos ou conseguimos ativá-las,

o passado torna-se presente

e, estranhamente, influenciará o futuro."

Avelino Bento "Aforismos em Quarentena-2020"


PREFÁCIO 

"11 de janeiro de 1971, dez horas da manhã, Cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara.  Centenas de militares de rendição individual despedem-se  dos seus grupos de famílias e amigos.  Mães chorosas, país conformados, avós tristes e amigos divertidos tentam distraír aqueles de quem se despedem. Uns, já casados e com filhos, abraçados às suas famílias.   Outros, abraçados por mulheres jovens que poderão  ser namoradas, esposas ou irmãs.  Outros, ainda sós, sem um abraço de cumplicidade ou de amor.  Observando bem, vê-se uma ou outra outra mulher jovem, quase escondida, olhando com tristeza para alguns grupos.  Porventura antigas namoradas trocadas por outras ou por nenhuma. Mas há uma em particular que chora compulsivamente.  Um choro sem som, amparando o  seu ventre com ambas as mãos.  Hesita várias vezes se se  dirige para um grupo. Esta indecisão não pode demorar muito, se não, será descoberta.  Decididamente, não, não se aproximaráe, anulando a intenção de avançar, inverte a marcha com uma tristeza profunda, desaparecendo no meio da multidão."

"A personagem que iremos descobrir ao longo do romance. Não foi inocente a escolha do nome. "Félix" (do adjectivo latino felix, "feliz", "abençoado", "próspero", "afortunado"), a personagem masculina central do romance, não, de todo, "feliz", mas que simboliza, inequivocamente , a "Geração que quis ser feliz". " 

in Posfácio Luis Miguel Cardoso

"Temática ausente dos escritos dos  nossos Escritores, tendo desde o início desperto até ao fim, a atenção do leitor, como se dum filme se tratasse . Pelas palavras e imagens que cria, revivem-se momentos vividos pela geração, (que nos anos 60/70 pisou o palco da guerra), a qual se identifica com o que de forma realista e de elevado valor literário nos partilha!"

 Adriano Bastos

 Encontra-se em fase de renovação o nosso Blogue, após o Google Site Clássico ter sido convertido no New Google Site. O número de Visitas atingiu as 107.479, sendo nosso objectivo uma melhoria dos conteúdos e uma melhor cobertura geográfica. 

Sexta-feira, 25 de Junho de 2021

Celeiro da Cultura

Por que será?

Photo in http://www.terrepromise.fr/

"Se abrisse a boca e desse opinião ia causar tristeza, aborrecer gente, ia ter de ouvir

 os especialistas que tudo sabem e explicam. Por isso me fico pela pergunta:

- Qual será a razão do desinteresse da literatura pelos problemas da sociedade

 portuguesa? De até agora não termos tido alguém como Zola, ou mesmo só metade dele?

Portugal merecia."

José Rentes de Carvalho

BORBA INSPIRADORA

BORBA É PROIBIDO DESTRUIR OS NINHOS. MULTA 100§00

Fotografias de Adriano Bastos

DO ESCRITOR JOSÉ SARAMAGO,PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA

EM 1998, TRANSCREVEMOS UM PEQUENO EXTRACTO DO SEU

LIVRO"VIAGEM A PORTUGAL".

NESTE BREVE TEXTO, DO CONSAGRADO ESCRITOR PORTUGUÊS,

HÁ UMA REFERÊNCIA À VILA DE BORBA.  

"O viajante, decididamente, está a gostar de Borba. Será do sol,desta luz ainda matinal, será da

brancura das casas (quem foi que disse que o branco não é cor, mas sim a ausência dela?), será de

tudo isto e do mais que é o traçado das ruas, a gente que nelas anda, já não seria preciso mais

para um sincero afecto, quando de súbito, vê o viajante, sob um beiral, a mais extraordinária

declaração de amor, um letreiro que assim rezava: É PROIBIDO DESTRUIR OS NINHOS. MULTA

100§00.

Convenha-se que merece todos os louvores uma vila onde publicamente se declara que o rigor da

lei cairá sobre as más cabeças que deitem abaixo as moradas dos pássaros. Das andorinhas, para

ser mais rigoroso. Posto o letreiro por baixo de um beiral, onde precisamente usam as andorinhas

construir os ninhos, entende-se que a protecção só a eles cobre. A outra passarada, ribaldeira e

menos dada a confianças humanas, faz os seus ninhos nas árvores, por fora da vila, e sujeita-se

aos azares da guerra. Mas é excelente que uma tribo do povo alado tenha a lei por si. Indo assim

aos poucos, acabarão as leis por defender as aves todas e os homens todos, excepto, claro está,

ou então não mereceriam o nome de leis, os nocivos de um lado e de outro. Provavelmente por

efeito do calor, o viajante não está nos seus dias de maior clareza, mas espera que o entendam."

Quinta-feira, 1 de Abril de 2021

Borba- Património Cultural

Forno de Cal

Entrevista ao Sr. António Festas

20 de Fevereiro de 2013

"Considero como perdido todo o dia em que não conheço uma 

nova pessoa." de Johnson, Samuel 

"A cal foi um produto muito utilizado até às primeiras décadas do Século xx na Construção Civil.

A base para a cal é o carbonato de cálcio proveniente das rochas calcárias, com diferentes proporções de vários materiais, responsável pelas características dos diferentes tipos de cal.

O ciclo da transformação da cal consiste em calcinar o carbonato de sódio, entre 800 a 1000ºc transformando-se em óxido de cálcio – cal-viva e libertando-se dióxido de carbono.

Foi aqui, neste concelho de Borba que durante muitos anos muita gente se dedicou ao fabrico de cal, empregando muita gente à volta desta actividade.

Existiam aqui em toda esta zona muitos fornos de cal, isto deve-se em meu entender ao facto de haver por aqui em muita abundância a matéria-prima necessária para esta actividade, ou seja a pedra e o mato que servia de combustível para cozer a cal. Esta actividade foi desaparecendo à medida que o sector do mármore aqui se foi desen-volvendo, pagando melhores salários aos trabalhadores. Por outro lado, acresce a isto, o facto de se vir a consumir cada vez mais o cimento substituindo a cal, que era uti-lizada na construção civil.

Mas para falar sobre esta actividade, fui falar com o homem que há mais tempo se dedica a esta profissão." 

Barnabé Cordeiro

Sr.António Festas

"Comecei a trabalhar ainda com o meu Avô, depois com o meu Pai, e depois continuei até hoje e quase sempre aqui neste forno do Bairro Branco onde ainda estou. Quando era miúdo quando saía aqui da escola, vinha logo ajudar a trabalhar no forno com o meu Pai e os meus irmãos. Depois quando era mais velho fui aprender a tosquiar ovelhas, porque nem sempre se podia cozer cal devido ao inverno, e assim sempre se ganhava mais alguns tostões na época das tosquias das ovelhas."

"A pedra para a cal Branca utilizada nas caianças e para os estuques íamos busca-la ás pedreiras do mármore, podia ser branca ou azul, mas tinha que ser escolhida porque nem toda a pedra era boa para cal. Da Serra D Ossa também se ia buscar muita lenha para os fornos, haviam por aqui alguns faniqueiros que transportavam a lenha com as suas carroças e demoravam quase um dia a chegar ao forno, era longe e os caminhos muitos difíceis."

"Também ainda fiz algumas ceifas, porque o negócio da cal era fraco e tínhamos que deitar mãos a outros trabalhos quando apareciam, mas a maior parte do tempo era no forno, onde sempre trabalhei por minha conta."

"Eu acho que já não há ninguém que se queira dedicar a esta profissão, os mais antigos já cá não estão e os mais novos querem outras profissões.

"A cal também já não se gasta como antigamente, a cal que vai sendo mais pro-curada é cal Branca para caiar e também para os estuques . Os estucadores dizem que esta cal aqui da nossa zona é a melhor para o estuque, dizem que tem mais goma. Antigamente também se gastava muita cal branca na caiação ,no tratamento das vinhas juntamente com o sulfato. Para caiar utilizam mais as tintas, mas a cal é melhor que as tintas e até é mais saudável nas paredes das nossas casas."

https://youtu.be/tHcLXVJXFjg

Segunda-feira, 22 de Março de 2021

 Alentejo-GASTRONOMIA 

Receitas Culinárias Alentejo

Bolo barranquenho

"Bolo barranquenho2 ovos grandes 250 gr de açúcar

1,25 dl azeite 1,5 dl de leite 300 gr de farinha 1 colher (chá) de fermento Raspas de uma laranja Batem-se as claras em castelo e as gemas com o açúcar. Adiciona-se ás gemas batidas, o leite, o azeite, a farinha e o fermento. Por fim juntam-se a este preparado, as claras , sem bater. Vai ao forno, em forma untada com manteiga e polvilhada com farinha."

Receitas de Maria Rosário Pires

Criada em 21 de Agosto de 2012, a Associação dos Amigos de Borba

Associação de Borbenses Defensores do Património Ambiental e Cultural

Adira através do email 

Para comentários e colaboração utilizar:

Photo in Marco+do+Correio+III.jpg

amigosborba2012@gmail.com

Visitas desde 14/11/2012

O Alentejano

"Homenagem aos Mestres Cantores do Alentejo"

Pintura de Espiga Pinto, sobre madeira, datada de 1965. 130x40cm

Col. Centro de Arte Moderna da 

Fundação Calouste Gulbenkian

"Se há marca que enobrece o semelhante, é essa intangibilidade que o Alentejano conserva e que deve em grande parte ao enquadramento. O meio defendeu-o duma promiscuidade que o  atingiria no cerne. Manteve-o Vertical e Sozinho, para que pudesse ver com nitidez o tamanho da sua sombra no chão. Modelou-o de forma a que nenhuma força por mais hostil, fosse capaz de lhe roubar a coragem, de lhe perverter o instinto, de lhe enfraquecer a razão... (...) É preciso ter uma grande dignidade humana, uma certeza em si muito profunda, para usar uma casaca de pele de ovelha com o garbo dum embaixador. Foi a terra Alentejana que fez o homem Alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque o não degradou proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão."

Miguel Torga In "Portugal" 1950

Fotografia de Adriano Bastos

O Alentejo lembra-me sempre 

 Um imenso relógio de sol

  Onde o homem faz de ponteiro do tempo 

 Miguel Torga 

Visitas desde 14/11/2012

 22-02-2022 108349       04-05-2022 108579   22-05-2022 108751 19-07-2022 109288 13-09-2022  109561 20-11-2022  109899 21-12-2022 110061 30-01-2023 110266 21-04-2023 110377 8/5/2023 110391  01-06-2023 110400

<!-- Google tag (gtag.js) --> <script async src="https://www.googletagmanager.com/gtag/js?id=G-X5CKT5FQJZ"></script> <script> window.dataLayer = window.dataLayer || []; function gtag(){dataLayer.push(arguments);} gtag('js', new Date()); gtag('config', 'G-X5CKT5FQJZ'); </script>

           http://sites.google.com/site/amigosterrasborba/    


<!-- Google tag (gtag.js) --> <script async src="https://www.googletagmanager.com/gtag/js?id=G-X5CKT5FQJZ"></script> <script> window.dataLayer = window.dataLayer || []; function gtag(){dataLayer.push(arguments);} gtag('js', new Date()); gtag('config', 'G-X5CKT5FQJZ'); </script> 2154485617   

<!-- Default Statcounter code for site cultural

https://site.google.com/site/amigosterrasborba -->

<script type="text/javascript">

var sc_project=12895191; 

var sc_invisible=0; 

var sc_security="937555d3"; 

var scJsHost = "https://";

document.write("<sc"+"ript type='text/javascript' src='" + scJsHost+

"statcounter.com/counter/counter.js'></"+"script>");

</script>

<noscript><div class="statcounter"><a title="free web stats"

href="https://statcounter.com/" target="_blank"><img class="statcounter"

src="https://c.statcounter.com/12895191/0/937555d3/0/" alt="free web stats"

referrerPolicy="no-referrer-when-downgrade"></a></div></noscript>

<!-- End of Statcounter Code -->

<!-- Start of StatCounter Code for Default Guide -->

<script type="text/javascript">

var sc_project=12895191;

var sc_invisible=1;

var sc_security="937555d3";

var scJsHost = (("https:" == document.location.protocol) ?

"https://secure." : "http://www.");

document.write("<sc"+"ript type='text/javascript' src='" +

scJsHost+

"statcounter.com/counter/counter.js'></"+"script>");

</script>

<noscript><div class="statcounter"><a title="Web Analytics"

href="http://statcounter.com/" target="_blank"><img

class="statcounter"

src="//c.statcounter.com/12895191/0/937555d3/1" alt="Web

Analytics"></a></div></noscript>

<!-- End of StatCounter Code for Default Guide -->

<!-- Default Statcounter code for site cultural

https://sites.google.com/site/amigosterrasborba -->

<script type="text/javascript">

var sc_project=12895191; 

var sc_invisible=0; 

var sc_security="937555d3"; 

var scJsHost = "https://";

document.write("<sc"+"ript type='text/javascript' src='" +

scJsHost+

"statcounter.com/counter/counter.js'></"+"script>");

</script>

<noscript><div class="statcounter"><a title="site stats"

href="https://statcounter.com/" target="_blank"><img

class="statcounter"

src="https://c.statcounter.com/12895191/0/937555d3/0/"

alt="site stats"

referrerPolicy="no-referrer-when-downgrade"></a></div></noscript>

<!-- End of Statcounter Code -->

<!-- Google tag (gtag.js) --> <script async src="https://www.googletagmanager.com/gtag/js?id=G-X5CKT5FQJZ"></script> <script> window.dataLayer = window.dataLayer || []; function gtag(){dataLayer.push(arguments);} gtag('js', new Date()); gtag('config', 'G-X5CKT5FQJZ'); </script>

G-X5CKT5FQJZ

http://sites.google.com/site/amigosterrasborba/

CÓDIGO DO FLUXO

2154485617