"Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é." (Deuteronômio 32.4, ARC)
A palavra "justiça" é comum no nosso dia a dia, mas difícil de definir. Muitas vezes, confundimos justiça com merecimento e conquista. Por exemplo, quando recebemos nosso salário, dizemos que foi justo porque trabalhamos para merecê-lo. Ou quando um atleta vence uma competição, consideramos justo porque ele fez um bom jogo.
No entanto, nem sempre uma pessoa é recompensada por algo que realmente merece. Por exemplo, em um concurso de beleza, o prêmio é dado à pessoa considerada mais bonita. Se essa pessoa ganhar, não é porque "merece" ser bonita, mas porque a regra foi cumprida. Se os juízes votam em alguém que não consideram a mais bonita (por razões políticas ou suborno), o resultado será injusto, pois a regra do concurso foi violada.
Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa o que lhe é devido". O que é "devido" pode ser determinado por uma regra, por um dever de comportamento ou por um acordo pré-estabelecido. Se alguém recebe uma punição mais severa do que o crime mereceu, essa punição é injusta. Se uma pessoa recebe uma recompensa menor do que merecia, a recompensa é injusta.
Então, como a misericórdia se relaciona com a justiça? Misericórdia e justiça são diferentes, embora muitas vezes sejam confundidas. A misericórdia ocorre quando uma pessoa recebe uma punição menor do que merece, ou uma recompensa maior do que deveria receber.
Deus tempera Sua justiça com misericórdia. Sua graça é uma forma de misericórdia. Ele é gracioso quando retém o castigo que merecemos ou quando recompensa nossa obediência, mesmo que nossa obediência seja uma obrigação. O favor imerecido de Deus é o que chamamos de graça. Quando Ele nos recompensa ou não nos castiga pelo mal que fizemos, Ele está exercendo Sua graça sobre nós.
Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele reserva para Si o direito de exercer graça conforme Sua vontade. Como Deus disse a Moisés:
"Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão." (Romanos 9.15, NVI)
Muitas pessoas, às vezes, reclamam que Deus não distribui Sua graça ou misericórdia igualmente para todos e, por isso, acham que Ele não é justo. Pensamos que, se Deus perdoa uma pessoa, Ele tem a obrigação de perdoar todas. No entanto, as Escrituras mostram claramente que Deus não trata todas as pessoas da mesma maneira. Deus se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a ninguém mais no mundo antigo (Gênesis 12). Ele se revelou a Paulo (antes chamado Saulo, Atos 9.5,17) de uma forma que não se revelou a Judas Iscariotes. Paulo recebeu graça, mas Judas Iscariotes recebeu justiça.
Misericórdia e graça são formas de não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se Judas Iscariotes tivesse recebido um castigo mais severo do que merecia, ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não exige que Judas também a recebesse. Se a graça fosse uma obrigação de Deus para com todos, então não estaríamos mais falando de graça e misericórdia, mas de justiça.
Na Bíblia, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, Ele está fazendo o que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta cuja resposta é óbvia:
"Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gênesis 18.25, ARC)
De forma semelhante, o apóstolo Paulo perguntou:
"E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De modo nenhum!" (Romanos 9.14, NVI)