Treinamento e Desenvolvimento

MPPE dialoga com a sociedade para discutir espaço da mulher e acesso à cidadania

Em celebração ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no último 8 de março, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Escola Superior do Ministério Público de Pernambuco (ESMP-PE) realizou uma série de atividades, entre elas o II Encontro Mulher e Cidadania: o MPPE em diálogo com a Sociedade. O evento teve início com a palestra "Violência obstétrica como expressão da violência contra a mulher", que teve o objetivo de promover um local de discussão e reflexão entre integrantes do MPPE e sociedade civil acerca de violações de direitos vivenciadas por mulheres e suas famílias por ocasião do parto e nascimento.

A advogada, fundadora da organização não-governamental Observatório Negro e representante da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, Ana Paula Maravalho Borges; a antropóloga e integrante do Comitê Estadual de Estudos da Mortalidade Materna de Pernambuco (CEEMM-PE), Júlia Morim de Melo; e a coordenadora da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Obstétrica do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP) e professora da pós-graduação em Saúde Materno-Infantil, Leila Katz; foram as palestrantes do encontro que teve mediação da promotora de Justiça, Maísa Silva Melo de Oliveira, que coordena o projeto institucional Humanização do Parto.

MPPE debate sobre violência obstétrica
Evento organizado pela ESMP discutiu acesso a cidadania pelas mulheres (Crédito: Fernando de Albuquerque/AMCS).

“Respeito à mulher é o principal lema quando falamos em humanização do parto. Muitas vezes o momento de nascimento do filho/a acaba se tornando um momento de violência, privação e sacrifício. Queremos com o encontro articular o movimento de mulheres, que traz um relato das mulheres durante o parto, e os profissionais de saúde, com as condições de trabalho, superlotação de maternidades e as questões institucionais, que acabam amplificando a violência e o sofrimento para a mulher”, disse a promotora de Justiça, Maísa Silva Melo de Oliveira.

Para a advogada Ana Paula Marvalho, a oportunidade é também um espaço para discussão de questões como o genocídio da população negra, tendo em vista que a mulher negra é a que mais morre no momento de dar à luz. “A violência contra a mulher negra passa por vários setores da sociedade e nesse quesito, a maior parte dos óbitos de mulheres no momento no parto é composto por mulheres negras. E a gente se pergunta onde está a raiz disso tudo? Está questões relativas ao atendimento e ao socorro dessas populações. A mulher negra sofre racismo nas consultas, no momento do parto, na administração medicamentosa e em diversos outros espaços”, disse ela.

Evento contou com a participação de promotoras de Justiça e servidoras (Crédito: Fernando de Albuquerque/AMCS).

Os diferentes tipos de violência também foram abordadas durante o encontro. “Existem diferentes violências obstétricas quando falamos de rede pública ou mesmo na rede privada. Na primeira, por exemplo, vemos coisas como não permitir acompanhante durante o parto, violências verbais e tratamento grosseiro. Já na segunda, há um alto índice de realização de cesárias sem necessidade de indicação”, relatou Leila Katz durante sua explanação.

A representante do movimento de mulheres trouxe relatos atrozes de violências sofridas por mulheres no momento do parto. “Nossa principal preocupação é como a violência física e psicológica acerca da violência do parto repercute na vida das mulheres e a gente pode mudar essa realidade trazendo informações às pessoas, mostrando porque acontece há tantos anos, apontando soluções e alternativas àquelas que sofreram violência”, relatou Júlia Morim.