ORMUZ
Ormus in Persia (Meissner, 1638-43)
Ormus (Bertius, 1603)
Ile d' Ormus ou de Jerun (Bellin, 1746 e c.1760) (2)
SOCOTORÁ
Isle de Zocotorá (Mallet, 1685)
--- Ormuz ---
Ormuz foi uma antiga cidade na ilha e estreito do mesmo nome, à entrada do Golfo Pérsico. Pertence atualmente ao Irão, na província de Hormozgan. Por ela eram escoados os géneros exóticos transportados pelas caravanas de Baçorá ou Alepo rumo ao mar Mediterrâneo, por onde alcançavam a Europa.
Na sequência da expansão portuguesa na Índia, em outubro de 1507, Afonso de Albuquerque atacou a cidade, dominando-a, quase concluindo a construção do Forte de Nossa Senhora da Vitória, não fosse a deserção de três capitães portugueses (Motim dos Capitães). Foi forçado a abandoná-la em janeiro de 1508.
Em 1 de abril de 1515, Albuquerque, já governador da Índia, regressou a Ormuz, onde reconstruiu a fortificação e estabeleceu a suserania portuguesa, subordinada ao Estado da Índia. Data desta fase a descrição da cidade, pelo cronista português:
"A cidade de Ormuz està situada em hua pequena ilha chamada Gerum que jaz quasi na garganta de estreito do mar Parseo tam perto da costa da terra de Persia que avera de hua a outra tres leguoas e dez da outra Arabia e terà em roda pouco mais de tres leguoas: toda muy esterele e a mayor parte hua mineira de sal e enxolfre sem naturalmente ter hum ramo ou herva verde.
A cidade em sy é muy magnifica em edificios, grossa em tracto por ser hua escala onde concorrem todalas mercadorias orientaes e occidentaes a ella, e as que vem da Persea, Armenia e Tartaria que lhe jazem ao norte: de maneira que nam tendo a ilha em sy cousa propria, per carreto tem todalas estimadas do mundo /...../ a cidade é tam viçosa e abastada, que dizem os moradores della que o mundo é hum anel e Ormuz hua pedra preciosa engastada nelle"
(João de Barros, Décadas da Ásia II, L. II cap. 2)
Durante a Dinastia Filipina, as possessões portuguesas em todo o mundo tornaram-se alvo de ataques dos inimigos de Espanha. Após a queda do Forte de Queixome, uma flotilha persa com mais de 3.000 homens e o apoio de seis embarcações inglesas, colocaram cerco ao Forte de Ormuz (20 de fevereiro de 1622). Os Persas ofereceram ao comandante português da praça a ilha de Qeshm em troca de 500.000 patacas e o porto de Julfar, na costa da Arábia, recém-conquistado aos portugueses por uma força combinada de Árabes e Persas. A oferta, entretanto, foi recusada e, em poucos meses, a ilha de Ormuz era perdida para os persas e seus aliados ingleses (3 de maio). A guarnição e a população portuguesa na ilha, cerca de 2.000 pessoas, foram enviadas para Mascate.
Ormus in Persia
Daniel Meissner (1585-1625)
“Sciographia Cosmic", editada por Paulus Fürst,
Nuremberga, 1638-43
Gravura: 150 x 98 mm
A cidade de Ormuz atual território do Irão, esteve ligada ao Império Português de 1515 até 1622.
Ormus
Petrus Bertius (1565-1629)
“Tabularum geographicarum contractarum”, edição em latim, 1603
Gravura: 125 x 86 mm
Esplêndida gravura do Estreito de Ormuz, passagem estratégica por mar entre o Golfo Pérsico e o Oceano Índico. Ormuz e o Irão estão situados a norte e os Emirados Árabes Unidos e Oman a sul.
Ile d' Ormus ou de Jerun
Jacques Nicholas Bellin (1703-1772)
"Histoire Generale des Voyages”, de Abbé Prévost d’ Exiles, 1ª edição publicada em Paris, 1746. (Tomo I)
Gravura: 245 x 195 mm (de J. Van den Schley)
"Histoire Generale des Voyages”, de Abbé Prévost d’ Exiles, edição c. 1760
Gravura: 240 x 190 mm, em papel avergoado (de J. Van den Schley)
--- Socotorá ---
À época dos Descobrimentos portugueses é provável que o primeiro navegador a alcançar a ilha tenha sido Vicente Sodré, tio de Vasco da Gama, que ali terá feito aguada antes de se perder nas ilhas de Cúria Múria (atual Omã) em 1503. No entanto essa primeira descoberta é disputada por Diogo Fernandes Piteira ou Pereira, segundo Damião de Góis e João de Barros, que de regresso ao reino, dele deu notícia a Manuel I de Portugal. O navegador e militar António de Saldanha, que navegara na região rumo ao estreito do mar Vermelho, confirmou em Lisboa a bondade da ilha em portos e a provável existência de cristãos, descendentes dos habitantes que o apóstolo São Tomé evangelizara quando do seu naufrágio no local, a caminho da Índia.
Para além da aparente população cristã que a Coroa portuguesa considerou urgente libertar da servidão imposta pelo rei muçulmano de Fartaque (no Iémen), Socotorá, localizada à "mão esquerda entrando para o estreito, junto ao cabo Guardafui", aparentava ser uma peça-chave para o controle do mar Vermelho. Por essa razão, Manuel I de Portugal traçou um plano de conquista da ilha, incumbindo Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque dessa missão, e de nela instalarem uma fortaleza. Para esse fim, fez embarcar uma estrutura de madeira prefabricada em Lisboa. A conquista da ilha teve lugar em 1507, sob o comando de Tristão da Cunha, após a tomada da Fortaleza de Çoco, guarnecida por 120 homens sob o comando do "muito valente cavaleiro e sem medo nenhum" Coje Abrahem, filho do rei de Caxem, cidade a alguns quilómetros do cabo Fartaque.
O Forte de São Miguel de Socotorá
As obras da fortificação ficaram a cargo do mestre de pedraria Tomás Fernandes. Sob a invocação de São Miguel, ficou sob o comando do capitão D. Afonso de Noronha, tendo a mesquita local sido convertida em igreja, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória, e a orientação de Frei António do Loureiro, guardião do mosteiro franciscano de São Tomé, o primeiro fundado extramuros e também o primeiro fundado no Estado Português da Índia.
Do século XVI ao XIX
A infertilidade da terra e o isolamento da praça em pleno território controlado pelo inimigo, levou a que, tanto a guarnição militar quanto os religiosos, fossem assolados pela fome, pelas doenças e pelos levantamentos dos muçulmanos, recebendo socorro apenas após a conquista de Ormuz por Albuquerque (1507). Em pouco tempo, entretanto, a tese de que era essencial a ocupação de ilhas para o controle das rotas marítimas, começou a perder peso na estratégia portuguesa na região. A Fortaleza de Angediva havia sido abandonada (1506) e assim o seria o Forte de Socotorá (1511) e o Forte de Quíloa (1512).
A evacuação de Socotorá fez-se com o recurso às naus de Diogo Fernandes de Beja, que não apenas fez demolir a fortificação até aos alicerces, como transportou toda a sua guarnição para reforço de Goa e mais de duzentas mulheres e demais cristãos da terra, assim como a artilharia e demais apetrechos.
Com a retirada portuguesa, o arquipélago passou para o controle dos sultões Mahra.
A ilha continuou a servir de ponto de aguada aos portugueses, tendo nela permanecido sempre um ou dois missionários. Alguns dos cristãos no local foram catequizados por São Francisco Xavier aquando da sua passagem para a Índia (1542), que descreveu a ilha como "(...) terra desamparada e pobre, não crescendo nela nem trigo, nem arroz, nem milho, nem vinha, nem fruta: é muito estéril e seca".
Entre 1540 e 1541 foi descrita por D. João de Castro, que registou: "(...) em todo o circuito da ilha não há porto nem outra alguma estância onde possa algum navio invernar seguramente". Em suas águas várias embarcações naufragaram, sendo a mais famosa o galeão Santo António, em 1601, sob o comando do capitão Manuel Pais da Veiga, tendo como piloto Aleixo da Mota.
Em termos económicos, os portugueses extraíam poucas matérias-primas, essencialmente o "sangue de dragão" (seiva de dragoeiro) e aloe, este último utilizado como adstringente e purgante intestinal.
“ Verás defronte estar do Roxo estreito / Socotorá, com o amaro Aloe famosa. ”
Isle de Zocotorá
Alain Manesson Mallet (1630-1703)
“Description de l’ Univers”, 1ª edição alemã, 1685
Gravura: 97 x 145 mm
Mapa de Socotorá, ilha ao largo do Corno de África, no Oceano Índico, que pela lógica faz parte de África, mas que pertence ao Iémen, com profundas ligações históricas ao Aden.
De particular interesse para os colecionadores o facto de ter sido impresso a partir de uma placa de cobre quebrada faltando parte do canto superior esquerdo. De realçar a excelente decoração com galeões e outros navios combatendo em redor da ilha.