473)A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO GEOTÉCNICO EM ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO E TURÍSTICO

A Importância do Monitoramento Geotécnico em Áreas de Risco Geológico e Turístico

Recentes eventos como o desabamento de um bloco rochoso nos cânions de Capitólio, em Minas Gerais, tragédia que ceifou dez vidas, expõem a urgente necessidade de monitoramento e avaliação de riscos em áreas turísticas de relevância geológica. Embora tais desastres sejam frequentemente classificados como imprevisíveis, profissionais da engenharia geotécnica e geologia apontam que, com estudos adequados e tecnologias modernas, é possível identificar sinais precoces de instabilidade e prevenir desastres.

Como engenheiro geotécnico com experiência em mapeamento e soluções para áreas de risco, destaco que o tombamento de blocos rochosos, como o ocorrido em Capitólio, é parte de processos naturais de evolução da paisagem. No entanto, ao combinarmos mapeamento de fraturas, monitoramento geotécnico e avaliação periódica, é plenamente viável mitigar riscos para as populações que frequentam tais regiões.

Entendendo o Fenômeno

O tombamento de blocos rochosos está relacionado à presença de fraturas naturais no maciço rochoso, que são ampliadas por processos de intemperismo físico, químico e biológico. No caso de Capitólio, a dinâmica das águas da represa de Furnas, associada às variações sazonais no nível do lago e à infiltração de água nas fraturas, acelerou o processo de instabilidade. Esse fenômeno é agravado pela presença de vegetação e pela ação constante das ondas no reservatório, que contribuem para a erosão das estruturas rochosas.

Em meus trabalhos, frequentemente me deparo com situações semelhantes, onde a simples observação das condições superficiais é insuficiente para identificar riscos. São necessárias análises aprofundadas, que incluem mapeamentos detalhados e monitoramento instrumental, como piezômetros e inclinômetros, aliados a inspeções visuais regulares.

Medidas Preventivas

Mapeamento de Riscos: Avaliações geotécnicas devem ser realizadas periodicamente, especialmente antes e após épocas chuvosas. Identificar áreas com risco iminente ou alto permite a implementação de medidas corretivas como contenção ou desmonte controlado.

Monitoramento Contínuo: Utilização de tecnologias como drones, escaneamento a laser e sensores geotécnicos para identificar movimentos nas formações rochosas. Isso possibilita a detecção de mudanças estruturais antes que se tornem críticas.

Educação e Conscientização: Informar populações locais e turistas sobre os riscos associados a determinados locais é fundamental. Sinalizações e controle de acesso devem ser priorizados em áreas identificadas como perigosas.

Minha Contribuição

Ao longo da minha carreira, participei de vários projetos envolvendo soluções de contenção em regiões montanhosas e monitoramento de encostas em áreas urbanas e rurais. Um dos exemplos mais significativos foi o tratamento de tirantes e consolidação em maciços rochosos para a construção da barragem da Usina de Serra da Mesa, em Goiás. Essa experiência me ensinou a relevância do trabalho preventivo e a necessidade de incorporar dados históricos e imagens comparativas para a tomada de decisão.

Além disso, imagens de casos anteriores de contenção e desmonte demonstram como intervenções geotécnicas podem prevenir desastres semelhantes ao de Capitólio.

Desafios e Oportunidades

O Brasil possui legislação específica, como a Lei nº 12.608/2012, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. No entanto, há uma concentração de recursos em áreas urbanas, deixando as regiões turísticas e rurais em segundo plano. Isso abre um campo promissor para a colaboração entre especialistas, órgãos públicos e a iniciativa privada, visando ampliar o alcance do monitoramento geotécnico.

Como engenheiro apaixonado pela área, acredito que compartilhar nosso conhecimento é essencial para evitar tragédias futuras. A combinação de estudos aprofundados, tecnologias inovadoras e conscientização pública pode transformar a maneira como tratamos os riscos geológicos no Brasil.