Tatuagem: um gesto de significação na própria carne

Naiara Souza da Silva

UCPEL

 

 

A presente proposta resulta do interesse em analisar o corpo e seu funcionamento à medida que ele, enquanto objeto teórico-analítico, conquistou um espaço de estudo importante nos últimos anos. Assim como a língua, o corpo também significa tendo a sua materialidade, manifestando sua organização, sua constituição e sua movência de sentidos dentro de um espaço-tempo específico em que ganha corporeidade. Nesse caminho, pensamos o corpo como lugar de inscrição do sujeito que se deixa falar e ocultar pelo/no corpo. Dentre os processos que permitem o sujeito subjetivar-se a partir de seu corpo, focamos o estudo na tatuagem como um gesto de significação na própria carne. O sujeito, através da tattoo, num processo de textualização do seu corpo, grava no tecido da pele o seu desejo, a sua interpretação e a sua interpelação, no tempo. Nessa instância, direcionar o nosso olhar analista à escrita corporal é uma arte de ler, interpretar e desvendar o funcionamento dessa linguagem gravada na pele, transformada num texto que relaciona corpo, discurso, escrita e subjetividade. Para tanto, buscamos na Análise do Discurso (AD), de filiação pecheuxtiana, os respaldos fundamentais para trabalhar o funcionamento discursivo da tatuagem, enquanto texto repleto de significações, e seus efeitos de sentido materializados no corpo do sujeito. Trabalhamos com um arquivo constituído por imagens públicas de mulheres famosas tatuadas que circulam ou circularam na internet a partir do século XXI. Em síntese, o objetivo é compreender como funciona o processo de (re)significação da tatuagem, na sociedade contemporânea, se os sentidos que emergem do interdiscurso (re)aparecem na superfície da pele dos sujeitos como um texto que deve ser pensado em suas condições sócio-históricas, produzindo efeitos de sentido próprios a determinadas condições estéticas, ideológicas e políticas.