Pontos de Deriva na Discursivização da Educação Profissional

Gláucia da Silva Henge

UFRGS/IFRS

 

O Ministério da Educação lançou uma série de materiais de divulgação referentes à comemoração do centenário da “Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica” durante o ano de 2009, tomando como marco um decreto que, assinado por Nilo Peçanha em 1909, fundaria em cada capital da república brasileira uma “escola de aprendizes artífices”. Assim, nestes cem anos a história de escolas profissionalizantes seria contada, recontada e não-contada de diferentes formas, sob diferentes nomes (liceus industriais, escolas industriais e técnicas, escolas técnicas federais, centros federais de educação tecnológica, até chegar aos atuais institutos federais de educação, ciência e tecnologia). O objetivo deste estudo, portanto, é investigar as relações entre língua e história que sustentam, contradizem, deslocam, enfim, os sentidos que circulam/reproduzem/transformam o sujeito da educação profissional em nosso país. Para tanto, analisaremos aqui um dos cartazes referentes à comemoração e estabeleceremos algumas relações possíveis entre seus elementos e os discursos que o constituem. No cartaz, encontram-se três elementos significantes: duas fotografias da década de 70, com jovens atuando no Setor de Audiovisual e no Laboratório de Soldagem, com uma breve legenda cada, e o enunciado “Tradição e modernidade: ao longo de 100 anos, a Rede Federal retomou o rumo da evolução, atendendo as demandas da sociedade, sem, entretanto, esquecer as experiências e as lições do passado.” Como significar este conjunto? Como relacionar esses elementos ao efeito discursivo naturalizado que os remete a “educação profissional”? Estas são algumas das questões discutidas neste trabalho.