DIÁRIO DE CLASSE: A PRESENÇA-AUSÊNCIA DOS SENTIDOS E O TRABALHO DA AUTORIA

Ana Cristina Franz Rodrigues

UFRGS

 

A partir do referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa, este trabalho tem por objetivo, mobilizar as noções de interpretação, leitura e autoria em textos verbais e imagéticos retirados da comunidade virtual Diário de Classe, a qual se encontra na rede social facebook. Esta página é organizada por uma estudante da rede municipal de Florianópolis (SC), que se destina a debater e denunciar as barbáries do ensino público atual, sobretudo da sua própria escola.  Ao debruçar-me sob o corpus de análise, foi possível perceber, tanto nos fragmentos escritos pela autora da página, quanto nos comentários de seus leitores, certas marcas discursivas, que aos serem articuladas à língua, através dos sinais de pontuação, ou ícones gráficos, próprios dos usuários da internet, promoveram a movência dos sentidos, ou, ainda, o deslocamento e o silenciamento dos mesmos. Segundo Granthan (2009), certos usos de pontuação, tais como as reticências ou o ponto de interrogação podem incidir em uma presença-ausência dos sentidos, ou seja, podem significar ou omitir dizeres, ainda que não seja por meio de palavras. Portanto, os sentidos serão acionados através do trabalho de interpretação do sujeito-leitor, o qual estará determinado tanto pela ideologia quanto pelo inconsciente. É por essa via que compreendemos a instauração da autoria, nesse jogo de significâncias atravessadas ideologicamente, em que o sujeito-autor procura amarrar os sentidos para seu leitor, costurá-los de modo a criar um efeito-fecho, como se não houvesse nada mais a ser dito.