“Nós perdemos para isso?” – Entre “isso” e “aquilo”: Análise de uma carta e sua repercussão (Olimpíadas de 2016)

Evandro Oliveira Monteiro

UFRGS

 

Seguindo a perspectiva teórica da Análise do Discurso francesa, este trabalho tem como corpus quatro textos que estão interligados não só pelo tema comum – a realização das Olimpíadas no Brasil em 2016 e os protestos neste país em 2013 – mas também porque fazem remissões entre si, pois trata-se de: (1) uma coluna do jornalista Neil Steinberg, publicada no jornal norte-americano Chicago Sun-Times, e (2) sua chamada de capa, (3) o  pronunciamento do atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, concedido à rádio CBN RJ como réplica à coluna, e (4) a tréplica do jornalista ao prefeito. Começamos analisando os efeitos de sentido que o pronome demonstrativo “isso” desencadeia a partir do enunciado “Nós perdemos para isso?”, presente no texto 2 (capa do Chicago Sun-Times – 24 de julho). Logo em seguida, buscamos mostrar as outras vozes inscritas no texto 1 (carta simulada ao Comitê Olímpico Internacional questionando se a organização já estaria arrependida por ter escolhido o Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016 devido ao "caos" que teria tomado conta da cidade durante as manifestações desse ano). No terceiro texto, ao analisarmos a construção dos comentários do prefeito do Rio sobre a matéria norte-americana, nos deparamos com um novo pronome demonstrativo: “aquilo”. Nesse contexto, decidimos explorar a dêixis nos textos 3 e 4, observando seu funcionamento não apenas demonstrativo. Durante nosso trabalho, identificamos, ainda, a construção de um leitor imaginário (ou leitor virtual, nas palavras de Orlandi, 1993) que, de acordo com Borba (2010), é o leitor para o qual o produtor do discurso imagina dirigir seu texto, mas não corresponde necessariamente, ao leitor real. Por fim, concluímos que os dêiticos e todas as vozes presentes em “excesso” nos discursos seguem a formação discursiva do estereótipo. Elas os tornam suscetíveis a interpretação, mas sempre direcionando a conclusões “pré-moldadas”, baseadas, segundo De Nardi (2007), em “já-ditos engessados”.