Da pintura verbal à pintura imagética: ou sobre o funcionamento da autoria na tradução intersemiótica

Priscila Cavalcante do Amaral

UFRGS

 

O presente estudo problematiza a questão da ilustração enquanto narrativa imagética que traduz o texto verbal, e configurasse a partir dareflexão sobre o processo de autoria na tradução intersemiótica. Assim, tomo como base para essa empreitada a teoria discursivapêcheuxtiana, e os estudos filosóficos de Michel Foucault.  Tal problemática revelou-se no momento em que fui fisgada pela asserção deDupont-Escarpit (1999, p.23): “Es, pues innegable que la ilustración, no sólo está ligada al texto, sino que este le es necesariamenteanterior” –  e algumas questões logo se impuseram para mim, tais como: se a ilustração  apresenta-se como a transformação de um signoverbal em um signo pictórico, portanto, o resultado de um processo de leitura-interpretação, como pensar a autoria, uma vez que ao lerestamos interpretando, isto é, estamos produzindo gestos no nível do simbólico? Ou Ainda: Não seria a ilustração uma nova versão, umnovo texto com base no anterior? Haveria uma ambiguidade constitutiva na ilustração quanto à leitura? E quanto à leitura da imagem e aleitura do texto verbal levariam ao mesmo efeito? O que caracteriza a autoria nessas condições? Diante dessas indagações, na tentativade articular teoria com análise, elegi como materialidade de observação o livro: “Chapeuzinho Vermelho e outros contos por Imagem” deRui Oliveira (ilustrador). As imagens presentes na obra são adaptações (traduções) dos contos, diria (re)contos  de Fadas. Neste livro tem-se a narrativa verbal, (re)escrita por Luciana Sandroni seguida da narrativa imagética, permitindo ver o trabalho do ilustrador-autor sobre ostextos escritos. Assim, guiada por esses questionamentos e amparada no corpus acima apresentado teço algumas reflexões, mesmo quetemporárias.