Curadoria da Informação: tecendo redes entre a memória e o esquecimento

Caroline Foppa Salavagni

UFRGS

 

 

Com o desenvolvimento da tecnologia digital e a possibilidade cada vez maior da participação ativa dos sujeitos na construção da notícia, o papel do jornalista tem sido discutido, questionado e, especialmente, transformado ao longo das últimas décadas. Recentemente, a partir de um conceito recuperado do Direito Romano e da Arte, esse profissional começa a assumir uma nova função, especialmente no meio digital: a de curador da informação. A curadoria gira em torno de um trabalho de seleção, organização e apresentação; diríamos, então, que o sujeito jornalista constitui-se ainda mais em mediador da informação. Essa nova realidade surge a partir de condições de produção específicas, tendo na abundância ou no excesso de informação e de dados sua base. O sujeito leitor, que também pode ser ele mesmo curador, especialmente a partir das redes sociais, vive ao mesmo tempo a experiência da deriva nesse mar de informações. O jornalista, assim, ocupa a posição de filtrar e (re)apresentar o conteúdo que, para além de um trabalho de edição, surge como algo mais refinado, especializado. Nesse processo, convém analisar não só os produtos, mas especialmente o trabalho de curadoria em si, como um trabalho de construção de arquivo, no qual há uma tensão constante entre a memória e o esquecimento. Mesmo com um mundo de informações à disposição, o sujeito disperso continua a experimentar a necessidade de unidade, tanto na posição de leitor quanto na posição de jornalista. Sendo assim, o trabalho de curadoria no campo da comunicação parece funcionar como mais uma forma de tentativa de controle do discurso e da memória, ao mesmo tempo em que, com toda tecnologia e informação à disposição, aquilo que parece estar esquecido, tem a chance de ser recuperado.