#Eunãomereçoserestuprada. Como, mediante o manifesto, a mulher se representou discursivamente em duas fanpages do Facebook

Pricilla Farina Soares

UCPel

 

 

Os sujeitos se colocam na sociedade através do discurso e das relações de poder que ocorrem por meio da formação e reafirmação destes discursos. Em março de 2014 o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou uma pesquisa na qual 65% dos entrevistados acreditavam que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Posteriormente, a pesquisa foi corrigida e o Instituto afirmou que a porcentagem seria de 26%. A divulgação gerou polêmica nos sites de redes sociais e um manifesto intitulado #Eunãomereçoserestuprada surgiu na internet. A intenção do presente trabalho foi analisar as fotografias publicadas em duas das fanpages mais curtidas do Facebook, ambas com o nome original do manifesto - #Eunãomereçoserestuprada- e debater a colocação da mulher no discurso, por intermédio das ideias de Foucault, através dos pronomes pessoais “eu” e “nós” – não mereço (mos) ser estuprada(s)-, apresentando-as como sujeitos ativos e donas do seu dizer, inserindo-as no contexto. Em contraponto também foram analisadas algumas outras imagens veiculadas nas próprias fanpages, onde há a isenção da mulher, por ela mesma, através do uso das expressões “as mulheres”, “ninguém”, “nenhuma” e “elas” - merece(m) ser estuprada(s). Como afirmou Foucault, o discurso se combate com o discurso, e este é marcado pela busca do poder, do controle daquilo que enuncia. Por isso a análise girou em torno da representação discursiva dos cartazes/imagens e a ruptura das formas gerais de dominação do que o autor chama de corpos dóceis, no qual foi percebido que a maioria das imagens publicadas usou os pronomes “eu” e “nós”, trazendo em parte o que Foucault chamou de apoderamento do discurso.