"Brasil, um país do futuro": um enunciado entre a memória e o esquecimento

Diego Vieira Braga

UCPel/PPGL/LEAD

 

 

Os esforços que vêm resultando em uma intensa projeção internacional do Brasil desde a última década também foram responsáveis por reacender discussões em torno da imagem enunciativa que funcionaria a partir do enunciado "Brasil, um país do futuro". Considerando-o constitutivo da história das ideias sobre o País, propomos um exercício de Análise de Discurso de orientação pêcheuxtiana, de modo a expor movimentos de interpretação e efeitos de sentidos produzidos com a remissão ao enunciado em um pronunciamento da Presidenta da República, Dilma Rousseff. Ao recobrarmos reflexões como a de Orlandi (2012) sobre gestos de interpretação e de Castoriadis (1987) sobre desenvolvimento como significação imaginária, mostramos que no discurso da Presidenta o enunciado é associado a uma ideia específica de desenvolvimento e que, na tentativa de desconstruir a suposta imagem negativa sobre o País evocada pelo enunciado, Dilma perpetua tal representação, logo o sentido, em uma mesma direção (política). Isso porque a memória que emerge em sua referência apresenta o traço ideológico típico do desenvolvimento visado em uma formação social capitalista, que não corresponde expressamente à abordagem de Stefan Zweig ao escrever “Brasil, um país do futuro”. Em nosso gesto analítico, o enunciado-título refere uma memória distinta exatamente porque a obra não consiste em um mero ensaio visionário a respeito da inerente transformação do Brasil em potência econômica, mas no reconhecimento de um modo de significar o social pela convivência pacífica que contrastava à tensão beligerante que envolvia grande parte do mundo no espaço-tempo de sua formulação (1941). Portanto, o protagonismo internacional brasileiro não se daria unicamente pelo potencial econômico, ainda que seja esse o consenso ao qual o discurso de Dilma se filia. Para nós, o enunciado se encontra entre a memória da representação cristalizada no imaginário social e o esquecimento dos sentidos que concernem à concepção humanística zweiguiana.