O jogo de forças na/da autoria colaborativa

Gláucia da Silva Henge

UFRGS

Tomar a autoria como gesto de interpretação permite conceber o texto como espaço discursivo heterogêneo, palco do trabalho da memóriae protagonizado pelas determinações de sujeitos revestidos da função-autor. Assim, propomos aqui a discussão da noção de autoriacolaborativa, partindo da materialidade constituída pela enciclopédia virtual “Wikipédia” enquanto verbetes redigidos por diferentesindivíduos e intermediados pelos recursos do ciberespaço. Considerando que o autor é uma função determinada pelas condições deprodução de sua época, e que pode corresponder a formações imaginárias distintas, a mecanismos de produção de discursos distintos, amodos de repetição e silenciamento também distintos, temos na autoria colaborativa uma problematização das relações travadas no fio dodiscurso na busca de um efeito de unidade. Pela imagem do wikipedista, enquanto lugar discursivo a ser ocupado por sujeitos em suafunção-autor, deparamo-nos, então, com sujeitos determinados de modos diferentes, oriundos de relações de poder travadas fortementenos níveis econômico, cultural, educacional, moral, político e tecnológico. Esse jogo de forças se materializa nos discursos que mobilizamsentidos possíveis a partir das regionalizações da ideologia; daí, a ampla possibilidade de gestos de interpretação suscitarem conflitos, osquais emergem como mecanismos de edição: alteração, reversão, acréscimos ou ainda vandalismo/exclusão;  que nada mais são do queconfrontos discursivos funcionando no jogo de forças de regulação e acomodação dos sentidos no texto.