Diário de Classe: a ciranda dos sentidos no discurso pedagógico

Ana Cristina Franz Rodrigues

UFRGS

 

Ancorado no referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa, este trabalho tem por intento discorrer sobre as noções de memória, deslizamento e incompletude. Para tanto, utilizaremos como dispositivo de análise uma charge retirada da comunidade virtual Diário de Classe, no site de relacionamentos Facebook. Esta página foi criada por estudantes da rede pública do interior de Santa Catarina e tem a finalidade de denunciar e discutir os problemas do sistema educacional, sobretudo de sua própria escola. Deste modo, ao nos depararmos com o corpus de análise foi possível perceber que há um movimento contínuo e circular na memória do discurso pedagógico, que funciona tal qual uma ciranda (FERREIRA, 2008) a qual possui um ritmo compassado e lento, provocando, portanto, um deslizamento dos sentidos, mas, ao mesmo tempo, seus passos retornam ao mesmo ponto, suscitando efeitos de paráfrase nos discursos dos alunos. Sobre isso, Pêcheux (1995) aponta o acontecimento discursivo como um atravessamento vertical na memória que desestabiliza os sentidos que estavam aparentemente “cristalizados” por força do pré-construído. No entanto, os sentidos que foram desacomodados podem sofrer, igualmente, uma estabilização, pois conforme Pêcheux (1995, p. 53) o acontecimento, ao se chocar com a memória, provoca “um jogo de força que visa manter uma regularização pré-existente com os implícitos que ele veicula, confortá-lo como ‘boa forma’, estabilização parafrástica negociando a integração do acontecimento, até absorvê-lo e eventualmente dissolvê-lo”. Por fim, compreendemos que o Diário de Classe atravessado por um discurso tecnológico representa o acontecimento discursivo e, desse modo, desacomoda os sentidos engessados do discurso pedagógico. Porém, a charge divulgada na página mostra que há uma necessidade de permanência dos mesmos, indicando que os sentidos estão cadenciados entre a movência e o retorno.