O (des)controle do dizer: discurso, memória e autoria

Gláucia da Silva Henge

PPG Letras/UFRGS

IFRS – Câmpus Canoas

 

 

Considerando que os conceitos, noções e formas de análise do quadro teórico da AD constituem pontos de apoio para se interrogar a estrutura e o funcionamento das novas tecnologias (ORLANDI, 2012, p. 69), somos levados a refletir acerca do quanto o digital é, atualmente, sem sombra de dúvida, constitutivo de nossa forma-histórica contemporânea e regula, de diferentes modos, a relação sujeito/sentido pela escrita. Desta forma, o dispositivo teórico-analítico da AD permite-nos pensar modos de significação do conhecimento e da discursivização dos saberes no espaço digital, já que hoje os sites de busca, blogs, páginas institucionais, enciclopédias online, repositórios de publicações técnico-academicos, etc. já se tornaram a fonte por excelência  para pesquisas, formulação e circulação do conhecimento.  Esta presença marcante do digital em sua relação com o saber exige que se investigue o quanto o “procedimento tecnológico, com sua temporalidade, e os efeitos sobre o sujeito (...) constituem o processo e são parte da estrutura/funcionamento da falha (...) afetada assim pela relação material ideologia/inconsciente” segundo Orlandi (2012, p.81). Para tanto buscamos investigar o procedimento “essencialmente” digital da autoria colaborativa tal qual se apresenta hoje, por exemplo, na enciclopédia virtual “Wikipedia” mundialmente acessada. As redes discursivas estabelecidas na materialidade do texto levam-nos a investigar o processo de autoria colaborativa, pois sendo a autoria um gesto de interpretação, o texto do verbete é um espaço discursivo heterogêneo, no qual não há trabalho de um único sujeito, mas sim, de conjuntos de sujeitos que, inscritos em diferentes formações discursivas, negociam os sentidos pelos gestos de interpretação e dão o efeito de aparente neutralidade e suposto caráter enciclopédico (HENGE, 2009, p.132). Essa negociação, entretanto, não se dá discursivamente apenas entre os revisores como mostramos em pesquisa anterior, mas sim, se dá digitalmente através da análise automatizada e da categorização dos pontos de “conflito” através de etiquetas “sinalizadoras”, o que redimensiona a relação autoria/memória/sujeito no espaço virtual.