Thiago Barbalho

Ourobolos

Pra chegar até minha terra, vou voando.

Lá, no subúrbio da capital nordestina do Brasil onde nasci, minha mãe está em casa, assando bolos pra vender.

Com suas mãos pensantes, minha mãe mistura e cozinha os frutos da terra pra serem devorados.

Nós somos também frutos da terra. A terra nos assa e nos consome.

De pernas pro ar, habitamos espaços de desconfinamento.

De pernas pro ar, livres de função, categorias, produtividade, controle, futuro.

Quando caminhamos no vento, cada um no seu canto, unimos nossos corpos em arcos coloridos.

Quando minha mãe faz e vende bolos, atualiza a experiência simultânea de prazer e beleza que somos capazes de produzir uns em direção aos outros. Por desespero e insubmissão.

O mundo é ele mesmo um arco fechado em si que, ao ser compartilhado, fertiliza sua potência. Cruel e colorido, o real se consome em espanto e prazer.

No centro do mundo, o abismo é doce.

O mundo é circular e engole a si mesmo.

Somos sugados pro buraco com nossos corpos apoiados nos prazeres.

Tudo o que temos são boias salva-vidas.

créditos do trabalho:

adriana ciudad (colômbia), aaron kawai (japão), awá mirindju (aldeia awá porungawa dju-sp), bárbara marques (valença-rj), daniel barros (são paulo-sp), fátima barbalho (parnamirim-rn), liana das neves (são paulo-sp), katia melo (são paulo-sp), marcio santiago (são roque-sp), max pereira (natal-rn), michel scherer (reino unido), rackel de queiroz (são paulo-sp), rita vidal (são paulo-sp) e vinicius mariano (são paulo-sp)