Claudia Medeiros

São Paulo, 17.08.2020

Lua Minguante

Idade da Lua: 28. 2 dias

Oi Tiago tudo bem?


Vai aqui um esboço:

Acordei pensando em três palavras que são:

Deserto, desertar e autofagia.

Acho que temos lidado com uma forma estranha de seca nos últimos meses, em todos os sentidos.

Bordei um tecido antes da pandemia com a palavra DESERTO. Na época já queria fazer essa ligação, deserto-desertar mas não continuei.

A seca dos sentidos, dos encontros, do clima me remeteu de novo a palavra desertar, como possibilidade de fuga, de saída e de saúde. Estamos cada um em seu quadrado, quase impossibilitados do contato pessoal e com a natureza.

Para quem se confinou nas grandes cidades, como eu, fomos jogados para dentro, dentro de casas e apartamentos, dentro de si, dividindo pensamentos em telas em encontros virtuais e/ou com nossos próprios fantasmas.

Então pensei, nesse auto-consumo, consumir-se a partir de um ponto onde a única natureza que nos resta somos nós mesmos nos consumirmos, daí vem a terceira palavra, autofagia.

Fiz uns testes de conjugação abaixo, como disse acordei com esses três conceitos e gostaria de ativá-los por áudio e talvez vídeo.

Conjuguei desertar:

Futuro do Pretérito

Eu desertá-lo-ia

Tu desertá-lo-ias

Ele desertá-lo-ia

Nós desertá-lo-íamos

Vós desertá-lo-íeis

Eles desertá-lo-iam


Estamos todos ligados por redes de luz, virtuais, luzes azuis de celular, cérebros com cérebros, corpo virtual, corpo narcísico, corpo voyeur. Tenho dançado nas horas de maior angústia em frente a ruína que nos assola, do desconforto dos noticiários e assim conjuguei: zoom.


Comecei a fazer musica de celular, áudios desde que o atual presidente venceu as eleições e tenho dançado desde que entramos em confinamento. Esse é o esboço por hora.


Claudia Medeiros