Melissa Stabile

Tem algo, lá fora, que não me deixa sair

Não o vejo

Mas, sei que pode me machucar

Melhor ficar


O movimento do diafragma nos indica que ainda estamos vivos

inalar, exalar, inalar, exalar…

movimento contínuo

sempre


É necessário respirar


Liberdade, seja qual for, é inalienável

sem ela, paramos de respirar

Voluntariamente, abrimos mão de parte dela 

Dimensões de trânsito foram reduzidas

foi necessário- 

para que nós, e outros, continuássemos a respirar


As paredes, às vezes, parecem encolher

Às vezes parecem aumentar

Me comprimem

Tenho que dilatar o espaço entre elas


O inverno está denso lá fora


 A apneia tenta me tomar


Melhor respirar 


Sinto o raio de sol 

Seu calor, me conforta


Alguém bagunçou a ampulheta,

os grãos de areia quase não mais caem

melhor preencher o tempo

Corria tão  rápido… 

agora não mais


Os cardeais (pontos)

Também me parecem bagunçados…

Avisto outras ilhas 

O que se passa nestes outros territórios?

Não me parece pior ou melhor, apenas outro

Percebo que lá, o resguardo, também é necessário

Mas, podemos nos combinar 

Eu vou te ajudar

E me ajudar


Este inverno precisa passar


Tiro meus óculos,

Enxergo, com nitidez, apenas os detalhes 

é o que consigo fazer agora...

Narrativas sem ter para quem contar

Vistas e soltas apenas por mim

Agora é assim

Continuo a respirar


Basta respirar

Basta respirar...


Em meu perímetro reduzido 

o jardim me pareceu algo para eu cuidar

As plantas, seres que respiram 

não tem diafragma para movimentar 

Nutrir e cuidar de outros seres…

irão se desenvolver,  tomar aquele espaço 

Me acompanham 

Continuo a respirar


Algumas  não se adaptaram 

pararam de respirar

Agora, só suas histórias...

Tantos pararam de respirar...


Continuo a mover meu diafragma

Não posso parar

É necessário respirar 


Basta respirar 

Basta respirar