Francisco de Sá de Miranda (1481-1558) nasceu em Coimbra, doutorou-se em Direito na Universidade de Lisboa e frequentou a Corte até 1521, data em que partiu para Itália.
Regressou a Portugal em 1526, depois de um convívio com escritores e artistas italianos que iriam influenciá-lo grandemente. Fruto dessa viagem, trouxe para Portugal uma nova estética, introduzindo o soneto, a canção, a sextina, as composições em tercetos e em oitavas e os versos de dez sílabas.
Além de composições poéticas várias, escreveu a tragédia Cleópatra, as comédias Estrangeiros e Vilhalpandos, e algumas Cartas em verso, sendo uma delas dirigida ao rei D. João III, de quem era amigo. Faleceu em Amares, no Minho, na quinta para onde se retirara por não se ter adaptado à vida da Corte.
Estudou Gramática, Retórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz, onde possivelmente terá estudado Luís de Camões. Frequentou depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de Leis alcançando o grau de doutor em Direito, passando de aluno aplicado a professor considerado e frequentando a Corte até 1521, datando-se de então a sua amizade com Bernardim Ribeiro, para o Paço, compôs cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, impresso em 1516, publica treze poesias do Doutor Francisco de Sá. Os seus versos, à maneira dos trovadores da época, já revelam o carácter do homem e a vivacidade e cultura do seu espírito. Sá de Miranda começou imitando os poetas do Cancioneiro General de Hernan Castillo, impresso em 1511, glosando, em castelhano, os motes ou cantigas de Jorge Manrique e de Garcia Sanchez. Nunca abandonou as formas tradicionais da redondilha, antes e depois de conhecer e aceitar a escola italiana, e de introduzir em Portugal o verso decassílabo.
A poesia
Para Sá de Miranda, a poesia não era uma ocupação para ócios de intelectual ou de salões, como para os poetas que o antecederam, mas uma missão sagrada. «O poeta é como um profeta, deve denunciar os vícios da sociedade, sobretudo da Corte, o abandono dos campos e a preocupação exagerada do luxo, que tudo corrompe, deve propor a vida sadia em contacto com a «madre» natureza, a simplicidade e a felicidade dos lavradores.»
A sua linguagem era elíptica, sóbria, densa, forte, trabalhada, hermética, difícil de entender e às vezes demasiado dura. Mesmo assim, Sá de Miranda foi o escritor do século XVI mais lido depois de Camões. A sua verticalidade e a sua coerência impuseram-se.
Sá de Miranda concebeu as primeiras comédias clássicas portuguesas (Estrangeiros e Vilhalpandos), cuja recepção pelo público, habituado aos autos (de Gil Vicente sobretudo), não foi das melhores.
Sá de Miranda deixou uma importante obra epistolográfica e uma série de éclogas, entre outros textos. A sua obra foi publicada postumamente, em 1595.
Influenciou decisivamente escritores seus contemporâneos e posteriores, como António Ferreira, Diogo Bernardes, Pero Andrade de Caminha, Luís de Camões, D. Francisco Manuel de Melo ou ainda, mais recentemente, Jorge de Sena, Gastão Cruz e Ruy Belo, entre outros, manifestando alguns textos destes autores nítida intertextualidade com textos mirandinos, sobretudo com o tão conhecido soneto «O Sol é grande, caem co'a calma as aves».
Antecipou temáticas como a dos conflitos do eu, de maneira um pouco semelhante ao que faria Fernando Pessoa, como nos versos:
Comigo me desavim,Sou posto em todo perigo;Não posso viver comigoNem posso fugir de mim.