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Biografia -Miguel Torga 



Poesia

Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima,

É ver que na vindima

De cada sonho

Fica a cepa a sonhar outra aventura...

E que a doçura

Que se não prova

Se transfigura

Numa doçura

Muito mais pura

E muito mais nova...



Aos poetas



Somos nós

As humanas cigarras!

Nós,

Desde os tempos de Esopo conhecidos.

Nós,

Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas

Da fábula burguesa da formiga.

Nós, a tribo faminta de ciganos

Que se abriga

Ao luar.

Nós, que nunca passamos

A passar!...


Somos nós, e só nós podemos ter

Asas sonoras,

Asas que em certas horas

Palpitam,

Asas que morrem, mas que ressuscitam

Da sepultura!

E que da planura

Da seara

Erguem a um campo de maior altura

A mão que só altura semeara.


Por isso a vós, Poetas, eu levanto

A taça fraternal deste meu canto,

E bebo em vossa honra o doce vinho

Da amizade e da paz!

Vinho que não é meu,

mas sim do mosto que a beleza traz!


E vos digo e conjuro que canteis!

Que sejais menestreis

De uma gesta de amor universal!

Duma epopeia que não tenha reis,

Mas homens de tamanho natural!

Homens de toda a terra sem fronteiras!

De todos os feitios e maneiras,

Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!

Crias de Adão e Eva verdadeiras!

Homens da torre de Babel!


Homens do dia a dia

Que levantem paredes de ilusão!

Homens de pés no chão,

Que se calcem de sonho e de poesia

Pela graça infantil da vossa mão!



Livro de Horas


Aqui diante de mim,

eu, pecador, me confesso

de ser assim como sou.

Me confesso o bom e o mau

que vão ao leme da nau

nesta deriva em que vou.


Me confesso

possesso

das virtudes teologais,

que são três,


e dos pecados mortais,

que são sete,

quando a terra não repete

que são mais.


Me confesso

o dono das minhas horas

O dos facadas cegas e raivosas,

e o das ternuras lúcidas e mansas.


E de ser de qualquer modo

andanças

do mesmo todo.





Me confesso de ser charco

e luar de charco, à mistura.

De ser a corda do arco

que atira setas acima

e abaixo da minha altura.


Me confesso de ser tudo

que possa nascer em mim.

De ter raízes no chão

desta minha condição.

Me confesso de Abel e de Caim.


Me confesso de ser Homem.

De ser um anjo caído

do tal céu que Deus governa;

de ser um monstro saído

do buraco mais fundo da caverna.


Me confesso de ser eu.

Eu, tal e qual como vim

para dizer que sou eu

aqui, diante de mim!


Ajuda


Porque o amor é simples,

Vale a pena colhê-lo.

Nasce em qualquer degredo,

Cria-se em qualquer chão.

Anda, não tenhas medo!

Não deixes sem amor o coração!


- Miguel Torga, in 'Diário (1945)'


Chuva


Chove uma grossa chuva inesperada,

Que a tarde não pediu mas agradece.

Chove na rua, já de si molhada

Duma vida que é chuva e não parece.


Chove, grossa e constante,

Uma paz que há-de ser

Uma gota invisível e distante

Na janela a escorrer.


 no livro  - Poesia Completa I)


Bucólica


A vida é feita de nadas;

De grandes serras paradas

À espera de movimento;

De searas onduladas

Pelo vento;

De casas de moradia

Caídas e com sinais

De ninhos que outrora havia

Nos beirais;

De poeira;

Da sombra de uma figueira;

De ver esta maravilha:

Meu Pai a erguer uma videira

Como uma Mãe que faz a trança à filha.



Poema Melancólico a não sei que Mulher


Dei-te os dias, as horas e os minutos

Destes anos de vida que passaram;

Nos meus versos ficaram

Imagens que são máscaras anónimas

Do teu rosto proibido;

A fome insatisfeita que senti

Era de ti,


Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,

Conto as desilusões no rol do coração,

Recordo o pesadelo dos desejos,

Olho o deserto humano desolado,

E pergunto porquê, por que razão

Nas dunas do teu peito o vento passa

Sem tropeçar na graça

Do mais leve sinal da minha mão...


in 'Diário VII'


Recomeça…


Se puderes

Sem angústia

E sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar e vendo

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças…


(12 de agosto de 1907 - 17 de janeiro de 1995)


Inverno


Apagou-se a fogueira.

Que frio na lareira

Do coração!

Neva

Na solidão

Da vida.

E o vento traz e leva

Um recado de eterna despedida.

Amor! Amor!

Sei ainda o teu nome redentor,

Chamo ainda por ti a cada hora!

Arde outra vez em mim

Como ardias outrora,

Nos dias de ventura,

Não me deixes assim

Nesta algidez de morte prematura.



Diário XIII - Miguel Torga


Agenda


Folheio a vida

Num calendário velho.

Dias riscados, como contas pagas.

Domingos de repouso,

Segundas de trabalho

Sábados de cansaço,

Sem nenhum sentido.

No abismo do nada,

O nada, apenas.

Quem sofreu nestas páginas vazias,

Tão frias,

Tão serenas?



diário X

1968


Sísifo


Recomeça....

Se puderes

Sem angústia

E sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.


E, nunca saciado,

Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar e vendo

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças...


A Terra


Também eu quero abrir-te e semear

Um grão de poesia no teu seio!

Anda tudo a lavrar,

Tudo a enterrar centeio,

E são horas de eu pôr a germinar

A semente dos versos que granjeio.


Na seara madura de amanhã

Sem fronteiras nem dono,

Há de existir a praga da milhã,

A volúpia do sono

Da papoula vermelha e temporã,

E o alegre abandono

De uma cigarra vã.


Mas das asas que agite,

O poema que cante

Será graça e limite

Do pendão que levante

A fé que a tua força ressuscite!


Casou-nos Deus, o mito!

E cada imagem que me vem

É um gomo teu, ou um grito

Que eu apenas repito

Na melodia que o poema tem.



Terra, minha aliada

Na criação!

Seja fecunda a vessada,

Seja à tona do chão,

Nada fecundas, nada,

Que eu não fermente também de inspiração!


E por isso te rasgo de magia

E te lanço nos braços a colheita

Que hás de parir depois...

Poesia desfeita,

Fruto maduro de nós dois.


Terra, minha mulher!

Um amor é o aceno,

Outro a quentura que se quer

Dentro dum corpo nu, moreno!


A charrua das leivas não concebe

Uma bolota que não dê carvalhos;

A minha, planta orvalhos...

Água que a manhã bebe

No pudor dos atalhos.


Terra, minha canção!

Ode de pólo a pólo erguida

Pela beleza que não sabe a pão

Mas ao gosto da vida!


Natal


Foi tudo tão pontual

Que fiquei maravilhado.

Caiu neve no telhado

E juntou-se o mesmo gado

No curral.


Nem as palhas da pobreza

Faltaram na manjedoira!

Palhas babadas da toira

Que ruminava a grandeza

Do milagre pressentido.

Os bichos e a natureza

No palco já conhecido.


Mas, afinal, o cenário

Não bastou.

Fiado no calendário,

O homem nem perguntou

Se Deus era necessário…

E Deus não representou.


In: Diário do poeta,1950 


De tanto olhar o sol


De tanto olhar o sol,

queimei os olhos,

De tanto amar a vida enlouqueci.

Agora sou no mundo esta negrura.

À procura

Da luz e do juízo que perdi.


Quase um poema de amor


Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor.

E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

A nossa natureza

Lusitana

Tem essa humana

Graça

Feiticeira

De tornar de cristal

A mais sentimental

E baça

Bebedeira.


Mas ou seja que vou envelhecendo

E ninguém me deseje apaixonado,

Ou que a antiga paixão

Me mantenha calado

O coração

Num íntimo pudor,

--- Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor



Súplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 

E que nele posso navegar sem rumo,

Não respondas

Às urgentes perguntas

Que te fiz.

Deixa-me ser feliz

Assim,

Já tão longe de ti como de mim.


Perde-se a vida a desejá-la tanto. 

Só soubemos sofrer, enquanto 

O nosso amor 

Durou. 

Mas o tempo passou, 

Há calmaria... 

Não perturbes a paz que me foi dada. 

Ouvir de novo a tua voz seria 

Matar a sede com água salgada.


Serão


Lento, o poema

Vai ardendo e abrindo

Na fogueira.

E ponho-me a cantá-lo

Sonolento:

Lume alentejano

De lenha de azinho;

Calor do calor...

O sol da charneca,

Depois de ser tronco,

Depois de ser rama,

Depois de cortado,

Depois de secar

À própria torreira,

Ainda a brilhar

No céu da lareira!


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