João Guimarães Rosa (1908 – 1967) foi um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, conhecido por sua linguagem inovadora e pela profundidade das suas obras, que exploram o sertão brasileiro, suas gentes, e a complexidade da condição humana. Nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, Guimarães Rosa desde cedo demonstrou talento para as línguas e um fascínio pelas histórias do sertão, que viriam a ser temas centrais na sua literatura.
Formou-se em Medicina pela Universidade de Minas Gerais em 1930 e chegou a exercer a profissão de médico no interior mineiro, onde teve contato direto com a realidade sertaneja que tanto inspiraria os seus escritos. Mais tarde, ingressou na carreira diplomática, servindo em países como a Alemanha, onde viveu durante a Segunda Guerra Mundial, e a França. Essa experiência internacional e o profundo interesse por línguas (chegou a estudar e falar várias) enriqueceram ainda mais o seu repertório literário.
A sua estreia na literatura ocorreu com o livro de contos "Sagarana" (1946), que já revelava o seu estilo único e o seu domínio da narrativa, misturando o erudito e o popular, o regional e o universal. No entanto, foi com o romance "Grande Sertão: Veredas" (1956) que Guimarães Rosa alcançou o auge da sua carreira, sendo amplamente aclamado pela crítica e consolidando-se como um dos maiores nomes da literatura brasileira. O livro, narrado em primeira pessoa pelo jagunço Riobaldo, é uma profunda reflexão sobre o bem, o mal, o destino, e a existência, ambientada no sertão mineiro.
Além de "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa escreveu outras obras marcantes, como "Corpo de Baile" (1956), uma coletânea de novelas, e "Primeiras Estórias" (1962), um livro de contos que reforça o seu talento para retratar o sertão e a alma humana com profundidade e lirismo.
A sua escrita é conhecida pela inovação linguística, recriando o português brasileiro com uma liberdade poética que desafia as normas gramaticais tradicionais e enriquece a narrativa com neologismos, regionalismos e uma sintaxe peculiar. Esse estilo único o coloca ao lado de outros grandes inovadores da literatura mundial.
Guimarães Rosa faleceu em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras, vítima de um infarto. A sua obra continua sendo estudada e admirada por sua riqueza, complexidade, e por seu retrato singular do Brasil profundo e da condição humana.
1937: 1º Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Magma
1937: Segundo lugar no Prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio, pelo livro Contos
1946: Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, pelo livro Sagarana
1956: Prêmio Machado de Assis, Prêmio Carmen Dolores Barbosa e Prêmio Paula Brito, todos pelo livro Grande sertão: veredas
1961: Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra
1963: Prêmio do Pen Club brasileiro, pelo livro Primeiras estórias
1966: Recebimento da Medalha da Inconfidência e da condecoração da Ordem de Rio Branco"
Os trabalhos mais famosos de Guimarães Rosa são Grande Sertão – Veredas, Sagarana e Corpo de Baile.
Grande Sertão – Veredas foi transformado em minissérie pela Rede Globo durante os anos 1980. Dirigido por Walter Avancini, ela contou com os atores Tony Ramos (Riobaldo), Bruna Lombardi (Diadorin) e Tarcísio Meira (Hermógenes).
Em 2014, Grande Sertão foi roteirizado para os quadrinhos por Eloar Guazzelli e desenhado por Rodrigo Rosa, ganhando o Troféu HQ Mix de melhor adaptação para os quadrinhos.
Guimarães Rosa morreu apenas três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras.
Pouco antes de falecer, Guimarães foi indicado ao prêmio Nobel de literatura.
Guimarães Rosa manteve uma cadernetinha no bolso durante um bom tempo. Consta que na época em que exercia a profissão de médico, costumava anotar frases, expressões e ditos populares, material que mais tarde serviria como matéria-prima para seus livros.
Após passar em concurso público para o Itamaraty, começou a exercer a carreira diplomática em Hamburgo, na Alemanha. O curioso é que Guimarães viveu justamente a época de ascensão do nazismo naquela país.
Como diplomata, ele e sua esposa protegeram diversos judeus das forças nazistas. Em reconhecimento, o Estado de Israel homenageou ambos com o nome de um bosque localizado nas encostas que dão acesso à cidade de Jerusalém.