Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, mais conhecido como Augusto dos Anjos, nasceu em 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d'Arco, situado no município de Cruz do Espírito Santo, na Paraíba, Brasil. Considerado um dos poetas mais singulares e complexos da literatura brasileira, sua obra se destaca pelo uso inovador de linguagem, marcada por uma visão pessimista e filosófica da existência. Sua poesia é permeada por temas científicos, metafísicos e existenciais, desafiando os padrões poéticos de sua época.
Augusto dos Anjos nasceu em uma família tradicional do interior da Paraíba. Seu pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, era um intelectual autodidata que cultivava o gosto pelos estudos e pelas ciências, influenciando fortemente a formação do jovem poeta. A mãe de Augusto, dona Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, era conhecida por seu temperamento afetuoso e religioso, o que contrabalançava o rigor intelectual do pai.
Desde cedo, Augusto dos Anjos foi introduzido ao mundo da literatura e dos estudos clássicos. Ele lia com frequência autores como Victor Hugo, Charles Darwin, Schopenhauer, e Spinoza, cujo pessimismo e questionamento existencial viriam a marcar profundamente sua obra futura.
Com a morte da mãe quando ele tinha 13 anos, Augusto sofreu um golpe emocional significativo. Esse evento trágico pode ter contribuído para a natureza melancólica de sua visão de mundo e de sua poesia, marcada pela obsessão com a morte, a decomposição e a efemeridade da vida.
Aos 17 anos, em 1901, Augusto dos Anjos ingressou na Faculdade de Direito do Recife, uma instituição importante que também formou outros grandes nomes da literatura brasileira, como Castro Alves e Tobias Barreto. Embora tenha concluído o curso de direito em 1907, ele nunca se entusiasmou pela advocacia. Ao invés disso, preferiu seguir a carreira de professor, lecionando literatura e gramática em escolas na Paraíba, no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Minas Gerais.
Durante sua formação no Recife, Augusto entrou em contato com as ideias científicas e filosóficas que marcariam sua obra, especialmente o determinismo, o positivismo, e o darwinismo, além de suas leituras de Comte, Darwin, Lamarck, e Haeckel. Essas influências, que colocavam a ciência como uma das chaves para o entendimento do ser humano e do universo, passaram a permear sua poesia, que muitas vezes utilizava termos biológicos e médicos para refletir sobre a condição humana e o destino trágico da existência.
Em 1912, Augusto dos Anjos publicou seu único livro de poemas, intitulado "Eu", que teve tiragem inicial de apenas 1.000 exemplares. A recepção da crítica e do público na época foi ambígua, pois sua obra destoava radicalmente das correntes dominantes, como o Parnasianismo e o Simbolismo, que ainda exerciam forte influência no cenário literário brasileiro.
A poesia de Augusto dos Anjos é marcada por uma estética incomum, onde a linguagem formal se mistura com termos científicos e filosóficos para expressar uma visão de mundo profundamente pessimista e materialista. Seus versos abordam de forma direta temas como a decadência do corpo, a finitude humana, e a inevitabilidade da morte. Poemas como "Versos Íntimos", "O Lamento das Coisas", e "Psicologia de um Vencido" exemplificam sua abordagem única, que combina uma visão brutal da existência com um lirismo de forte impacto emocional.
Um dos aspectos mais singulares da obra de Augusto dos Anjos é a forma como ele explorou a ciência e a biologia para abordar questões filosóficas. Ele frequentemente utiliza imagens da decomposição física e dos processos biológicos para discutir a morte e a impermanência da vida, algo inédito na poesia brasileira. Termos como "protoplasma", "vermes", e "putrefação" aparecem em seus poemas de maneira chocante para a época, refletindo a influência de pensadores como Schopenhauer e Darwin.
Em 1910, Augusto dos Anjos casou-se com Ester Fialho, e o casal teve dois filhos. Buscando melhores oportunidades profissionais, ele mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a lecionar em escolas públicas. No entanto, a saúde física e emocional de Augusto sempre foi frágil, e ele enfrentava dificuldades financeiras.
Em 1914, ele assumiu a direção do Grupo Escolar de Leopoldina, em Minas Gerais, onde passou seus últimos meses de vida. Sua saúde, já debilitada, agravou-se, e Augusto contraiu pneumonia, doença que lhe foi fatal. Ele faleceu em 12 de novembro de 1914, aos 30 anos, deixando para trás uma obra poética curta, mas profundamente marcante.
Se em vida Augusto dos Anjos não obteve o devido reconhecimento por sua obra, após sua morte, sua poesia passou a ser redescoberta e valorizada. Com o passar dos anos, ele foi sendo cada vez mais compreendido como um autor à frente de seu tempo, cuja obra dialogava com o existencialismo, o modernismo e a poesia metafísica. Seu uso inovador da linguagem, que unia ciência e poesia, influenciou gerações de escritores brasileiros.
O livro "Eu" teve várias reedições ao longo do século XX, sendo constantemente revisitado e analisado pela crítica literária. Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira foram alguns dos poetas modernistas que reconheceram a originalidade e importância de Augusto dos Anjos. Hoje, ele é considerado um dos grandes poetas da literatura brasileira, frequentemente estudado e reverenciado tanto por críticos quanto pelo público.
Augusto dos Anjos deixou uma marca indelével na poesia brasileira. Sua obra é um testemunho das angústias existenciais de um tempo de mudanças, onde o pensamento científico e a tradição literária se encontravam em choque. Seu pessimismo extremo, sua visão sombria da existência e sua capacidade de transpor para a poesia temas como a morte e a deterioração física o tornaram um autor único.
Seu único livro, "Eu", transcendeu seu tempo e continua a ser uma das obras mais influentes e estudadas da poesia brasileira, reconhecida por sua profundidade filosófica e sua forma inovadora. Mesmo tendo vivido apenas 30 anos, Augusto dos Anjos deixou um legado literário de imenso valor, que continua a inspirar leitores e estudiosos ao redor do mundo.
Entre os poemas mais conhecidos de Augusto dos Anjos, destacam-se:
"Versos Íntimos"
"Psicologia de um Vencido"
"O Lamento das Coisas"
"Monólogo de uma Sombra"
"Vandalismo"
A obra de Augusto dos Anjos é um convite a refletir sobre a condição humana, a mortalidade e a busca por sentido em um mundo marcado pela transitoriedade.