Classicismo

Surgido na Itália do século XVI, o Classicismo foi um movimento resultante do Renascimento. Enquanto manifestações renascentistas se espalharam por diversos âmbitos sociais, como política, ciência, religião e artes, na literatura o Classicismo foi o representante dessa estética.

Também conhecido como Seiscentismo ou Literatura Renascentista, esse movimento cultural revisita temas da Antiguidade Clássica. Sendo assim, como o próprio nome sugere, Classicismo é um resgate de elementos que marcaram a Grécia e Roma antigas.


Essa ressignificação dos clássicos greco-romanos teve uma grande importância na Europa. Além disso, Portugal desempenhou um papel fundamental na difusão do Classicismo, visto que alguns dos autores mais notáveis dessa estética literária são lusitanos.




Diferentemente do homem medieval, que se voltava essencialmente para as coisas do espírito, o homem do século XVI, sob o ideário do classicismo, voltou-se para a realidade concreta e acreditava em sua capacidade de dominar e transformar o mundo que o cercava.


Leonardo da Vinci 

Dante Alighieri

Boccaccio

 Contexto histórico 

O contexto histórico que estimulou o surgimento do Renascimento foi marcado por uma série de acontecimentos, como as navegações e os descobrimentos, no final do século XV; a formação dos Estados modernos; a Reforma Protestante, em 1517; a Revolução Comercial, iniciada no século XV; o fortalecimento da burguesia comercial, entre outros acontecimentos que acentuaram o declínio da Idade Média, dando origem à Era Moderna.

Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos principais intelectuais do Renascimento. 

O interesse pela cultura clássica já vinha ocorrendo desde o final do século XIII, na Itália, onde escritores e intelectuais, como Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio, chamados humanistas, liam e traduziam autores latinos e gregos.

Dante Alighieri, autor de Divina Comédia, criou a medida nova, modo de se fazer poemas a partir de versos decassílabos, deixando para trás as redondilhas medievais, que passaram a ser categorizadas como “medida velha”. Ainda nesse contexto de surgimento dos ideais humanistas na literatura, teve papel de destaque o poeta italiano Petrarca, que se tornou referência na composição de sonetos ao publicar 350 poemas, a maior parte sonetos, em seu Cancioneiro.

O soneto italiano, difundido por Petrarca, é uma forma fixa que consiste de quatro estrofes, dispostas da seguinte forma: a primeira e a segunda possuem quatro versos; a terceira e a quarta, três versos. Nesses sonetos, Petrarca cantava o amor platônico, restrito ao plano das ideias, por Laura, sua musa. Boccaccio destacou-se pela escrita da obra em prosa intitulada Decameron, conjunto de narrativas curtas e picantes que retratavam criticamente a realidade europeia.

Essas transformações, iniciadas pelos humanistas no século XIII, foram intensificando-se e, gradualmente, propiciando o clima ideal para que, no século XVI, surgisse o classicismo. Esse importante movimento artístico floresceu em um contexto histórico de profundas transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas, momento em que a fé medieval foi substituída pela razão; o cristianismo, pela mitologia greco-latina; e o teocentrismo, pelo antropocentrismo.

Classicismo em Portugal

O classicismo em Portugal, assim como o desenvolvido em outros países da Europa, valorizou temáticas neoplatônicas, vinculadas à concepção de amor teorizada por Platão na Grécia Antiga, segundo a qual o amor se concretizaria somente no plano das ideias, e não a partir da matéria carnal. Porém, em razão do forte contexto de navegações e de expansões territoriais vivido por Portugal no período do classicismo, esse movimento artístico no país valorizou, sobretudo, o aspecto nacionalista, já que os grandes feitos nacionais, como as conquistas do povo português, foram exaltados na poesia épica de Luís Vaz de Camões.

Pioneiro do classicismo em Portugal, Sá de Miranda nasceu em Coimbra, em 1481, e morreu em Amares, interior do território português, em 1558. Fez Direito na Universidade de Lisboa e frequentou a Corte até 1521, data em que partiu para a Itália. Regressou a Portugal em 1526, depois de grande convívio com escritores e artistas italianos.

Foi o responsável por introduzir o verso decassílabo em Portugal, ou seja, o verso constituído por dez sílabas métricas. Além disso, foi pioneiro na composição de sextinas, tercetos e oitavas, influenciando muitos outros poetas.

No soneto ao lado, escrito ao modo petrarquiano, com rimas ABBA nos dois quartetos, o poeta expressa a voz de um eu lírico que, tendo da sua amada apenas um retrato como lembrança, dirige-lhe a interlocução, sem, no entanto, obter resposta. Assim como em outros sonetos do autor sobre temática amorosa, nota-se nesses versos a presença do amor platônico, o qual só tem existência espiritual.

SONETO 17


Este retrato vosso é o sinalao longe do que sois, por desamparodestes olhos de cá, porque um tão clarolume não pode ser vista mortal.
Quem tirou nunca o sol por natural?Nem viu, se nuvens não fazem reparo,em noite escura ao longe aceso um faro?Agora se não vê, ora vê mal.
Para uns tais olhos, que ninguém esperade face a face, gram remédio foraacertar o pintor ver-vos sorrindo.
Mas inda assim não sei que ele fizera,que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.Falando que fará? Que fará rindo?

Luís Vaz de Camões

Considerado o mais importante escritor de língua portuguesa, Camões foi o nome mais expressivo do classicismo português. Por serem muito escassos os documentos referentes à vida de Luís Vaz de Camões, estima-se que ele tenha nascido ou em 1524 ou em 1525, em Lisboa, capital de Portugal. Teria cursado Artes no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Ainda jovem, ingressou na carreira militar, tendo servido em Marrocos, onde perdeu o olho direito. Morreu em 1580, em situação de extrema pobreza. Para saber mais sobre a vida e a obra desse autor português, leia: Luís Vaz de Camões.