Francesco Petrarca

Francesco Petrarca foi um intelectual, poeta e humanista italiano, famoso, principalmente, devido ao seu romanceiro. 

Nasceu a 20 Julho 1304 (Arezzo, Itália)

Morreu em 19 Julho 1374 (Arquà Petrarca, Itália)

Além de poeta, Petrarca também era um estudioso dedicado. Ele resgatou muitos textos antigos, incluindo obras de autores romanos como Cícero e Virgílio, contribuindo para o renascimento do interesse pela literatura clássica.Petrarca era conhecido por suas peregrinações pela Europa, buscando manuscritos antigos e procurando a sabedoria dos sábios da época. Suas viagens e encontros com outros intelectuais influenciaram profundamente seu pensamento e suas obras.Seu impacto na literatura e no pensamento renascentista foi imenso. Sua abordagem poética e filosófica do amor e da busca pelo conhecimento moldaram a estética e a mentalidade do período, influenciando gerações futuras de escritores e pensadores.

 Sumário biográfico 


Francesco Petrarca, conhecido como Petrarca, foi um poeta e humanista italiano do século XIV, amplamente considerado o pai do movimento literário conhecido como "Petrarquismo". Os seus escritos, especialmente a sua poesia lírica, expressavam uma gama diversificada de sentimentos que ecoavam a própria experiência pessoal e as características da sua época.

Um dos sentimentos centrais encontrados na obra de Petrarca é o amor. Ele foi profundamente influenciado pela figura de Laura, uma mulher idealizada e inatingível que se tornou a sua musa inspiradora. Através dos seus sonetos e canções, Petrarca explorou os altos e baixos desse amor platónico, revelando uma mistura de paixão ardente, angústia, desejo e melancolia. Os seus versos delicados e imagens vívidas evocavam a intensidade das suas emoções, estabelecendo um padrão para a poesia amorosa subsequente.

Além do amor, Petrarca também abordou o tema da solidão e da busca pelo significado do ser. Por viver numa época de turbulência política e instabilidade social, ele enfrentou o desafio de encontrar um propósito maior na vida. Essa inquietação interior e a sensação de isolamento ecoam nas suas obras, refletindo as suas dúvidas existenciais e a busca incessante por um sentido mais profundo.

Paralelamente, Petrarca experimentou um intenso conflito interno entre a sua devoção à vida religiosa e o seu amor pela poesia e pelo mundo secular. Essa tensão entre o sagrado e o profano permeia muitos dos seus escritos, revelando uma alma dividida entre a espiritualidade e os prazeres terrenos. Esse embate íntimo é retratado através de um rico simbolismo e metáforas, alimentando a profundidade emocional dos seus versos.

Em suma, os sentimentos de Francesco Petrarca, expressos na sua poesia lírica e nos seus escritos, são marcados pela intensidade do amor, pela solidão existencial e pelo conflito interior. A sua capacidade de capturar a complexidade das emoções humanas e transmiti-las com eloquência estabeleceu o seu legado como um dos poetas mais influentes e importantes da literatura italiana e europeia.




Sumário biográfico por Fernanda R-Mesquita


DONNA, CHE LIETA COL PRINCIPIO NOSTRO



Senhora minha, que tão leda estaisCom o princípio de tudo, e o merecestePor essa vida santa que viveste,E em sédia gloriosa vos sentais,
Ó rara e portentosa entre as demais,Ora, no Olhar que tudo vê celeste,Vê o meu amor e a pura fé que vesteDe lágrimas choradas versos tais.
E sente um coração tão fiel na terraQual o é no céu agora, e que não tendeA mais de ti que ao Sol dos olhos teus.
E pois, para vencer a dura guerraQue neste mundo só a ti me prende,Roga que eu vá depressa a estar nos céus.

O soneto Petrarquiano é um tipo de poema lírico que segue a estrutura estabelecida pelo poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374), considerado um dos maiores escritores do Renascimento. Petrarca é conhecido por sua coletânea de sonetos intitulada "Canzoniere", na qual expressa seus sentimentos amorosos e suas reflexões sobre a condição humana.

O soneto Petrarquiano é composto por 14 versos, divididos em dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Geralmente, segue a métrica do decassílabo, ou seja, cada verso possui dez sílabas poéticas. A rima é organizada de forma estruturada, seguindo o esquema ABBA ABBA CDE CDE ou ABBA ABBA CDC DCD.

Em termos temáticos, o soneto Petrarquiano é fortemente marcado pelo amor e pela paixão. O poeta expressa seus sentimentos em relação a uma pessoa amada, geralmente inatingível ou distante, criando uma atmosfera de idealização. A linguagem utilizada é caracterizada pela expressão de emoções intensas e pelo uso de metáforas e imagens vívidas.

Uma das características notáveis do soneto Petrarquiano é a divisão do poema em duas partes distintas. Os quartetos apresentam um tema ou uma situação, enquanto os tercetos trazem uma mudança de tom, uma reflexão ou uma conclusão sobre o assunto abordado anteriormente. Essa estrutura permite ao poeta explorar diferentes aspectos de suas emoções e pensamentos, criando um contraste entre as estrofes.

Ao longo dos séculos, o soneto Petrarquiano influenciou muitos poetas e escritores, tornando-se um modelo amplamente adotado na literatura. Diversos autores, como William Shakespeare e Elizabeth Barrett Browning, utilizaram essa forma poética para expressar seus próprios sentimentos e ideias.

Fernanda R-Mesquita



ITE, RIME DOLENTI, AL DURO SASSO



Oh, vai, verso dolente, à pedra duraQue o meu caro tesouro em terra esconde,E chama quem do céu inda responde,Se bem que o corpo esteja em tumba escura.
Diz-lhe que vivo exausto de amargura,De navegar sem já saber por onde,Salvando apenas sua esparsa frondeDe perder-se na morte que se apura,
Sempre arrazoando dela, viva e morta,Como se viva e já feita imortal,Para que o mundo a reconheça e ame.
E que lhe praza ser quem me confortaNo instante que se apressa. Venha e, qualEstá no céu, a si me leve e chame.

ITALIA MIA



Itália minha, se o falar não valeDessas chagas mortaisQue o belo corpo assim te dilaceram-Praz-me que meus suspiros sejam quaisTibre, Arno e Pó esperam.Que, grave e triste, aqui, eu me não cale.Reitor celeste: ao malVieste piedoso combater na terra:Volta, Senhor, a teu país dilecto.Perfeito que és, completo,Vê por quão leves causas crua guerra.E os peitos a quem cerraMarte soberbo e fero,Abre-os, ó Pai, desfeitos em doçura,Ao som de quanto é veroEm minha voz que só de Ti se apura.
E vós, a quem fortuna o freio há dadoDe terras tão formosas,De que a piedade em vós se vai delindo:A que vem cá tanto estrangeiro armado?Porque é que o verde pradoDe sangue bárbaro se vai tingindo?Derros vos iludindo,Sois como cegos, pois que amor contaisQue existe, ou lealdade, em venais peitos.Ao imigo sujeitosMais estareis quanto o comprardes mais.Ó águas diluviaisColhidas em desertoPara inundar os nossos campos breves!Quem poderá estar certoAo dar a mão a quem tem pés tão leves?
Bem próvida a natura quando alteouEntre nós e os tudescosDos fortes Alpes o limite duro.Mas a vontade estulta em gigantescosEsforços se empenhouE trouxe-os como sarna ao corpo puroOu dentro ao mesmo muroFeras selvagens e a virtuosa greiQue delas, por melhor, será dolente:Sendo isto procedenteDessas, ó dor maior, tribos sem lei,Às quais, como direi, Mário rasgou o flancoQual a memória inda não stá exangue:Quando, no último arranco,Águas bebiam que já eram sangue.
César eu calo, que sangrento o verdePelas encostas fezDas veias dels por nosso ferro abertas.Ora não sei de que astro a rispidezPerante o céu nos perde,Se não são culpas vossas mais que certas,Vontades tão despertasPara gastar do mundo a parte bela.De quem será juízo ou é pecado,Se o povo desgraçadoÉ quem de aflito por vós paga aquelaGente que nos flagela,E detestável mais,Que as almas vende a troco de áureo peso.Eu falo pra que ouçais,Não por ódio de alguém, ou por desprezo.
Que mais necessitais que alguém vos proveOs bárbaros enganosQue alçando os dedos com a morte brinquem?Pior é a tortura do que o são os danos.E o vosso sangue choveMais amplamente em ódios que vos trinquem.No madrugar se afinquemOs vossos pensamentos: vereis claroQuem será caro a quem se tem por vil.Nosso sangue gentilÉ derramado por um esforço ignaro.Fazeis ídolo raroDe um nome sem sentido:Que o furor desta gente só repousaNo seu pensar perdido:Pecado é nosso e não natural cousa.
Esta terra não é que andei primeiro?Não é este o meu ninhoEm que criado fui tão docemente?Pátria não é da fé e do carinho,A madre em cujo seioDorme quem me gerou, foi meu parente?Por Deus, que a vossa menteDisto se mova, e pios contempleisAs lágrimas do povo dolorosoQue só de vós repousoAinda espera: e quanto vos mostreisQue para el viveis, logo contra o furorDas armas tomará em fúria absorto,Pois que o antigo valorNo coração da Itália não está morto.
Mirai, senhors, como o tempo voaE foge a doce vidaE a morte espreita já por sobre o ombro.Estais ora aqui: pensai nessa partida,Quando alma nua aproa,E solitária, ao duvidoso assombro.Cruzando neste combroDeveis depor no val ódios malignos,Os ars contrários à vida serena;E se o tempo em dar penaAos outros vós gastais que a actos mais dignosOu das mãos ou dos signos, O vosso ser se entregueE a mais honesto estudo se converta. Que a vida aqui sossegueE que a celeste estrada seja aberta.Canção, tuas razõesDiscretamente e com cautela digas,Pois que te hás-de ir por entre altiva gente que é presa por dementeDe usanças miseráveis, tão antigas, Do vero sempre imigas. Entrega teus apelosAos animosos poucos que o bem praz. E, se puders movê-los,A eles grita, como eu grito: Paz!

(Tradução de Jorge de Sena)