Ao Instrutor de Voo

No que diz respeito à prática de voo da parte prática do curso, trata-se, efetivamente, de uma preparação básica de pilotagem aérea, que é também a condição “sine qua non” para a obtenção de uma habilitação técnica que permitirá ao iniciante alcançar a essência da própria atividade aérea - ser piloto de avião.

Ao exercer total domínio sobre um “engenho” que percorre um meio ambiente, até então desconhecido por seus novos discípulos, o instrutor de voo acaba sendo “idolatrado” e até imitado por boa parte deles.

Segundo a ciência pedagógica, as qualidades ou atributos que caracterizam a eficiência profissional do professor/instrutor estão fundamentalmente assentadas sobre três elementos básicos: as atitudes pessoais, o cabedal de conhecimentos e a habilidade na comunicação (ou poder de comunicação).

Ao instrutor de voo, por seu lado, em razão das características e das peculiaridades do exercício da pilotagem aérea, além desses elementos básicos, há também que se acrescentarem outras tantas qualidades e atributos essenciais ao exercício da instrutoria, como: iniciativa, organização, autoconfiança, autodisciplina, autodomínio, senso crítico, disciplina intelectual etc.

Por isso mesmo, é imperioso que o instrutor de voo, desde os primeiros contatos com seus pilotos-alunos, use de toda a sua sensibilidade para identificar o perfil psicológico e os traços de personalidade mais marcantes dos seus instruendos, bem como saiba descrever, com precisão, as reações psicomotoras e psicológicas (de fundo emocional) dos mesmos.

É importante ressaltar que todo esse conhecimento do instrutor de voo sobre o piloto-aluno deve ser visto como um autêntico paradigma, na medida em que, descrevendo nas fichas de avaliação de participação os traços de personalidade, as reações psicomotoras e o comportamento psicológico apresentados pelo piloto-aluno, em cada missão de voo, o trabalho do instrutor de voo, além de ser reconhecido e valorizado, permitirá melhor orientar o piloto-aluno a superar as suas próprias dificuldades, bem como permitirá a ele, instrutor, refletir sobre a aplicação da melhor técnica de ensino, isto é, associar os dados observados e optar pela aplicação uma nova técnica para tornar a instrução mais eficiente.

Diante dessa complexidade, invariavelmente, antes de iniciar uma missão de instrução, o instrutor de voo tem a obrigação de preparar o piloto-aluno com o briefing.

É também durante a realização do briefing que o instrutor deverá motivar, estimular e persuadir o piloto-aluno a agir com convicção, firmeza e confiança nas situações emergenciais, de modo a vencer o medo e o stress, que são reações altamente inibidoras e causadoras de insucessos não só na instrução mas na prática, podendo vir a ser responsáveis pela ocorrência de acidentes aéreos.

Não menos importantes, também, deverão ser os comentários finais do instrutor de voo e as recomendações ao piloto-aluno, por ocasião do término do debriefing. O debriefing deve ser interpretado como uma crítica, no sentido pedagógico, ou seja, como englobando “os comentários e a avaliação dos pontos positivos e negativos de um desempenho”.

Para facilitar o instrutor nesse trabalho, ele mesmo deve fazer as devidas anotações imediatamente após a encerramento do voo. Essas anotações devem seguir uma ordem cronológica, para que não haja esquecimento de pontos importantes, pois estes servirão de base para o preenchimento detalhado e preciso da Ficha de Avaliação do Aluno na Prática de Voo e para os comentários no debriefing.

Nenhuma anotação deverá ser feita durante o voo para não estressar o piloto-aluno nem deixá-lo preocupado com o seu próprio rendimento, pois na fase inicial da instrução aérea sua autocrítica ainda é muito falha.

É importante, também, que o instrutor de voo faça da Ficha de Avaliação do Aluno na Prática de Voo uma ferramenta pedagógica e não um rotineiro registro das missões que foram realizadas, tampouco um relatório confidencial com alusões que venham a ferir moralmente a pessoa do piloto-aluno. A maneira pela qual uma ficha é preenchida poderá, inclusive, mostrar muito mais os defeitos ou a inabilidade do instrutor de voo do que mesmo o comportamento e o rendimento do piloto-aluno. Daí a importância das anotações imediatamente após o voo, principalmente se o instrutor for voar seguidamente com diferentes alunos. O ideal seria que o instrutor de voo, ao encerrar cada missão, fizesse o debriefing e, a seguir, preenchesse a ficha de avaliação do aluno.

Ressalte-se que o instrutor de voo deverá ter em mente que as fichas de avaliação do aluno, na prática de voo, são documentos importantes e que seu preenchimento requer uma cuidadosa e sucinta descrição de cada missão realizada, onde são fatores determinantes a ordenação das idéias, a objetividade, a clareza e a exatidão.

Por tudo isso, será muito mais proveitoso para cada piloto-aluno que o instrutor de voo faça o seu debriefing antes de ir voar com um outro aluno, fazendo, nesse intervalo de voos, as devidas anotações para posteriormente transferi-las, respectivamente, para as fichas de cada um dos seus alunos no encerramento de sua jornada de instrução.

Por fim, é altamente importante que, nos primeiros contatos com seus alunos, o instrutor de voo procure conscientizá-los de que o aprendizado da pilotagem aérea é um processo contínuo e gradual e que exige regularidade/dedicação no voo durante o aprendizado. São esses elementos-chave que lhes proporcionarão o desejado e necessário progresso na instrução.